14-11-2008

 

Concelho de Tondela

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Freguesias de

Barreiro de Besteiros

Campo de Besteiros

Caparrosa

Castelões

Dardavaz

Ferreiroz do Dão

Silvares

 

      M E M Ó R I A S    P A R O Q U I A I S - 3

 

Prossigo a transcrição das Memórias Paroquiais de algumas das freguesias do concelho de Tondela.

O texto do questionário pode ser visto na última parte desta página.

Mais uma vez peço a quem encontrar incorrecções na transcrição, muito agradeço mas comunique.

 

 

BARREIRO DE BESTEIROS

 

 

A freguesia do Barreiro que confina com o Bispado de Coimbra e primeira do Bispado de Viseu pelo Poente, tem seu princípio em um lugar chamado Vale,  este é que dá o nome ao Vale de Besteiros assim chamado pelas Bestas de que usavam, e com elas se defendiam dos Romanos, Godos e Mouriscos, a quem presentaram batalhas com tais armas; e ainda muitos curiosos as guardam para memória.  Este lugar Vale é o primeiro da freguesia que começa e se divide do Bispado de Coimbra por um rio chamado Esporão que tem sua origem na Serra da Estaca, fundo da do Caramulo, caminho da Estrada que vai para Aveiro. Consta a freguesia de dez lugares, e a póvoa do Tarrastal junto à ponte da Várzea ; tem duzentos e dezanove fogos, seiscentos e trinta e uma pessoas maiores, e menores, noventa e nove. Tudo isso é Província da Beira, Bispado, Comarca e Provedoria de Viseu, Termo de Tondela.

Tem três senhorios: os Condes de Atouguia, de que se pagam foros em parte desta freguesia ao Real Celeiro, e dois prazos de que se paga, além dos foros do Natal, razão de seis, um de todas as novidades à Casa da Torre de Figueiredo das Donas, e à casa do Doutor Tomás Marques Pimenta, de Vilar, cujos prazos e fazendas foram de Luis de Azevedo Lobo, natural do lugar de Arnosa desta freguesia, descendentes de Lopo Fernandes de Azevedo e sua mulher Brites Afonso que ambos com seu filho Manuel de Azevedo, instituíram a Capela de S. Sebastião de Castelões, Matriz desta Igreja com obrigação de cento e cinquenta Missas cada ano, ao que obrigaram a metade da Ramira, junto à Cortiçada, com seus foros e rações, umas fazendas no Linheiro, e dois outros casais em Múceres, quase tudo em Falorca, e um quintal no Casal que hoje se presume usufruir Gonçalo Coelho com outros bens, tanto porque Luis de Azevedo, ausentando-se para Lisboa onde agora tem um Neto por nome, Doutor Luis Ferreira de Araújo e Azevedo, que administra e percebe a parte dos frutos dos ditos casais, com a obrigação das Missas; e no tempo da ausência, o dito Luis de Azevedo deixou por Procurador a um Avô do tal Gonçalo e utilizaram-se dos seus bens ele e seus herdeiros por o verem ausente na distância de cinquenta léguas, que é o que dista daqui à cidade de Lisboa, como porque, deixando-o por Procurador, foi chamando os bens seus, foi fazendo novos prazos em si, e hoje se acha senhor dos bens do Quintal e Cortiçada, com grande dano da Capela.

Está esta freguesia situada junto à Serra do Caramulo, tem Igreja Anexa à do Salvador de Castelões, e é Curato dos mais rendosos deste Bispado: o seu orago é Nossa Senhora da Natividade, e se festeja a oito de Setembro. Tem cinco altares, o Maior, o do Menino, o de Santo António e S. Sebastião, ambos no mesmo, o de S. João Baptista, em Capela à parte; porque se divide do corpo da Igreja com umas bem lavradas colunas que aguentam todo o corpo da Igreja, que é magnífica; e tem no tecto nove linhas, com nove ordens de forro. Sujeita ao Vigário de Castelões que o apresenta, e à obrigação da Capela Maior, e residência está obrigado o Comendador Rodrigo António, filho de Pedro de Figueiredo, de Lisboa, de cuja Comenda dá alguma porção ao Cura. Tem esta Capela de S. João que está incorporada na Igreja, uma Irmandade Ilustre e antiga, que o festeja no seu dia, com aniversário no seguinte, e festa da Degolação a 29 de Agosto. Este lugar do Barreiro é o mais populoso de toda a freguesia, pois conta perto de cem vizinhos; e tem uma Capela particular no meio com a invocação de Santa Ana; o lugar das Pousadas, uma da Senhora da Conceição; o Tourigo, outra de Santo Amaro; o Vale, outra de S. Domingos; o Borralhal, outra de S. Simão, ainda outra de S. Tiago; a Corveira, outra de S. Pedro; a Tojosa, outra de Santo Estêvão; e cada povo sustenta a sua.

Tem mais uma Ermida tão sumptuosa como se fosse Igreja no sítio da Ribeira, entre o lugar do Barreiro e Tojosa, com sua Irmandade sem número; tem três altares todos privilegiados para todas as Missas que neles in perpetuum se celebrarem por qualquer Irmão, Irmã ou Confrade da dita Irmandade. Sua invocação é a Senhora do Rosário. Antigamente se chamou Senhora do Verde, ao depois, Senhora da Ribeira, por nela estar situada; até que, promulgando-se por algum Religioso Domínico, a devoção do Rosário, este lhe mudou os títulos antigos para este que hoje tem. É tão antiga que não se sabe sua origem: alguns querem ficasse dos Mouros, muitos afirmam que dos Godos; porém só o forro parece ser de algum poderoso, que antes desta Paróquia, tinha por sua aquela Ermida, tanto pelos bens adjacentes, como porque esta Ermida, pelo decurso do tempo, tem sido acrescentada por três vezes e ultimamente, haverá menos de dez anos, mandando-se ladrilhar, se acharam junto ao púlpito que hoje tem, os ossos de um defunto, donde se mostra que era senhor dela, que ali se mandou sepultar, antes de haver Paróquia. O Domingo depois do dia de S. Tiago se faz nela um vodo a que concorre não só toda a freguesia mas ainda alguns moradores das circumvizinhas e Bispado de Coimbra, sem que se saiba seu princípio. Celebra-se debaixo de dois carvalhos tão imemoráveis, como o vodo e Capela, sem se saber a causa por que foi instituído; só consta por tradição ser por algum especial favor que a Senhora fez a esta freguesia. O que se tem experimentado é que, tendo crescido tanto o número dos fregueses, e com ele o dos pecados, nunca nesta freguesia houve gafanhosa, pulgão, ou geral queima de videiras, ficando tanto junto à Serra, onde as trovoadas mais ofendem: nem pedra, nem ponta de trovoada aqui se têm experimentado, só haverá menos de dois anos, em umas casas de João Luis de Almeida, do lugar de Corveira, Brasileiro que há poucos veio do Brasil, caiu um Cristo que, dando pelo prechal da casa, caiu ao canto da mesma, deixando intacta uma louça que ali tinha, e a ele, e seus sobrinhos que todos ali estavam deitados de noite, e ao mesmo tempo: o que tudo se atribui a milagre da Senhora pelo voto antigo do vodo, em que se dão muitas esmolas a pobres, e às confrarias, e Irmandades da Igreja, e outras devoções de fora, de que percebem bons rendimentos. Tem esta Ermida na porta principal em uma pedra, que está no meio do portal, quando se entra à mão esquerda, umas letras que se diz serem mouriscas, para mostrar sua antiguidade, que constando só de quatro, tem os caracteres seguintes:                  

   

donde se vê e prova a sua antiguidade: a ela concorre todos os sábados do ano muito número de fiéis e todos os primeiros domingos de cada mês, vai a procissão da Igreja com toda a freguesia; celebra-se a sua festa principal por conta da confraria no primeiro domingo de Maio, com o singular Título da Rosa, e a da Irmandade no primeiro domingo de Outubro com o Título do Rosário, e no dia seguinte Aniversário pelos defuntos irmãos. Mostra-se haver neste sítio algum tempo povoação, pelas pedras, telhas e tijolos, que por ali se acham. É muito milagrosa e se lhe oferecem muitas mortalhas e muitos milagres de cera: e no dia dos Santos de 1755, que eu no seu Altar disse Missa, estando antes fazendo Doutrina aos Meninos, se viu que a dita imagem estava suando como lágrimas que corriam, talvez pedindo a seu amado Filho (como creio) livrasse esta freguesia do Terramoto; e assim se experimentou; pois sendo tantos os balanços da terra, que até as lajes mármores se desuniam, e caíam as pedras e telhas das casas nas freguesias circumvizinhas, nesta se experimentou a mínima ruína com o patrocínio da Senhora, como creio e o tenho julgado.

Dista esta freguesia quase cinco léguas da cidade de Viseu, sua cabeça: serve-se do correio de Tondela, que dista légua e meia dela, e é o mesmo que vai de Coimbra para Viseu. Sua Paróquia está dentro do mesmo lugar do Barreiro.

Os frutos desta freguesia são: centeio, milho, feijão, azeite, mel, boleta de carvalho e sobro, e castanha; seu clima mui temperado, águas excelentes, abundante de árvores de espinho, e mais frutas, maxime nos lugares que estão na raiz da serra do Caramulo, e seus confins que se acham regados com as copiosas águas da mesma serra, que fazem deliciosa e agradável à vista os muitos prados que com elas se regam neste País.

Sua caça são lebres, coelhos, perdizes e algumas vezes se caçam javalis que arruínam as searas; também não faltam lobos que infestam o gado; e alguns há térreos ainda mais danosos. 

 

Esta serra do Caramulo que tem seu princípio no Vale do Trigo, estrada de Aveiro, assim de Pipas como de Bestas, e passageiros para o Porto, e fenece onde se chama Ribamá, junto ao Solar de Figueiredo das Donas ou S. Pedro do Sul; terá neste território nove léguas de comprido mais ou menos, e desta freguesia até ao rio Vouga, terá de largo quatro léguas. No distrito desta freguesia correm quatro rios que nela nascem: o primeiro chamado Esporão ou Rio Mau, que a divide do Bispado de Coimbra como acima se disse; o segundo que nasce do alto da serra chamado o Cabreiro, que junto com os nascentes do Ribeiro Maior, e outro Regato que nasce junto do lugar de Jueus, chamado Ninho do Corvo, formam um rio que passa junto ao lugar do Barreiro; o terceiro, tendo o seu nascimento bem ao pé do Caramulo, e na raiz do seu outeiro, vem dar ao lugar da Tojosa sem outra mistura (porque este não quer ser bastardo) e distância de meio quarto se junta com o do Barreiro, que alegremente de companhia, unindo-se com o quarto, que nascendo da mesma serra, passa junto à Igreja de Castelões, qualquer deles o mais irado que se ver pode, sem esperanças de se aquietarem, e como achem companheiros como o do Pego Longo no fim do distrito desta freguesia, começam a tecer as pazes correndo com menos ira neste chamado – Crins em distância de uma légua dos seus nascimentos e mais que de duas para diante, dando-se cabalmente as mãos de amigos, se misturam com o Dão, que benignamente os recebe e contratados todos, fazem sua foz no Mondego, que ainda que na aparência pareça diverso e mui pacífico sem ósculo de traição, qual outro Judas, vai morrer à Figueira.

Há nesta serra, ou no distrito que descrevo, muita criação de gado vacum e de sela – lã – muito fértil de ervas para gados, coelhos e perdizes; mas se caçam com muito custo pelo inculto do sítio.  Estes tais rios nascem sem nome, e são muito naturais de Bogas, Barbos, Bordalos, e uns inocentes a que chegamos mais vezes chamados Ruivalos. Há também algumas Trutas, mas raras, e poucas vezes se vêem cá lampreias; e para satisfazer ao terceiro interrogatório juntamente com este.

Digo que a naturalidade dos rios é muito boa, assim o mostram as contínuas regadas de suas veigas – com as muitas ervas que produzem para pasto de todos os gados que há nesta freguesia: assim eles não foram tão importunos nos seus enchentes que tirando nesta terra a melhor substância, como ladrões, a vão sepultar nas áreas do campo de Coimbra, ambiciosos de o fazer mais largo, e retrocedendo as mesmas com a nossa terra, capazes de alagar a cidade e pôr em termos a ponto de negar sua passagem a barcos e gente.

Enquanto correm neste distrito, usam todos comummente de suas águas. E todos correm para o nascente entre Sul. Nunca deixam de manar de sorte que ainda na maior esterilidade, sempre os moradores desta freguesia e outras moem nos seus moinhos, e outros, pão, para sua casa e família. Em todos eles há moinhos, lagares de azeite, pisões, e os engenhos que cada um intentar. Todos têm suas pontes de pau e alguns de pedra: oxalá foram todos!

E porque me ocorre uma memória que me dizem não vai descrita na freguesia do Guardão, a meterei aqui, visto estar no rio, no princípio do rio, que do Caramulo vem a este lugar da Tojosa; e é que junto ao seu princípio, entre a Póvoa do Cedrozo = lugar das Laceiras = está em um ermo uma fonte memorável pelo artifício que tem lavrado e com seus letreiros para cuja fábrica há várias opiniões; porque uns dizem fora fábrica dos romanos, outros dos Mouros que assistiam muito nestas terras e aqui tiraram muitos metais especialmente ouro, prata, estanho, de que deixaram grandes tesouros, de que muitos se têm aproveitado, e o mostram os fossos e muitos indícios que nesta freguesia se admiram, e nas circumvizinhas, abrindo-se brechas em pedras mármores, que eles sem dúvida por artes diabólicas faziam. Donde se têm alguns aproveitado, e de outras coisas que se têm achado neste distrito: outras se acham sem nada. Sendo que o mais certo sobre a dita fonte é que certa pessoa nobre dos confins da Serra da Estrela por fugir ao rigoroso do castigo que seus crimes mereciam, veio para este deserto e serra; como fazia habitação junto àquela fonte, quis eternizar sua memória com a fábrica dela, e com os caracteres e letreiro que nela deixou; não sei mais coisa de memória desta freguesia, só sim que foi habitada dos Mouros e o mostram as aparências de uns círculos que se acham sobre o lugar de Tojosa, em três outeiros:  o primeiro chamado a Cabeça, outro, a Fervença, junto ao porto do Crasto, outro defronte onde chamam a Panasqueira, que todos têm indícios de terem sido murados: ou fosse dos Mouros, ou dos Cristãos, que para se defenderem subiam a estes sítios e neles habitavam o que mais creio;  e por verdade fiz de recomendação do Reverendo Padre Caetano Ferreira de Almeida esta descrição, que com ele aqui, como Cura desta Igreja, assinei, e eu Padre Manuel Antunes da Veiga que o escrevi.

O B.c Manuel Antunes  da Veiga

O Padre Cura, Caetano Ferreira de Almeida.

 

 

CAMPO DE BESTEIROS

 

 

Ex.mo e Rev.mo Senhor,

 

Por via do Rev. Arcipreste deste distrito recebi a carta circular de V. Ex.ª Reverendíssima com o interrogatório em que me ordena responda ao que nele se pergunta e pelos seus números, e o que a eles posso responder é o seguinte:

1. Primeiramente esta minha freguesia de Santa Eulália está sita na Província da Beira, Bispado e Comarca de Viseu, termo deste Concelho de Besteiros.

2. Esta terra da minha freguesia e todo o concelho que a apresenta é de Sua Majestade Fidelíssima que Deus guarde.

3. Tem esta freguesia cento trinta e um fogos que são de Sacramento quatrocentos e trinta, e menores sessenta e cinco, por todos fazem quatrocentos noventa e cinco pessoas.

4. Esta freguesia está situada em um vale, junto pelo norte a uma serra onde se acha a freguesia de Santa Maria do Guardão e dele se avista a mesma freguesia, a de Santiago, Castelões, e Guardão que distam dela um quarto de légua.

5. Esta freguesia está no termo de Besteiros, seu concelho, cuja cabeça é a vila de Tondela; tem oito lugares, cujos nomes são os seguintes: Fermentelos, que tem dezasseis vizinhos = Ribeiro tem vinte e dois vizinhos = Fundo de Aldeia tem nove vizinhos = Eira (escrito Eyra) [1] tem dezoito vizinhos =  Arrifana tem trinta e dois vizinhos =  Bispos tem cinco vizinhos = Sameiro tem sete vizinhos = Ribeira tem trinta vizinhos.

6. A Igreja desta freguesia está fora de povoado, os lugares de que se compõe, os seus nomes estão ditos no número supra.

7. O orago desta freguesia é Santa Eulália; a Igreja tem quatro altares, que vêm a ser : o altar mor em que está o Sacramento, e a Imagem da Padroeira;  pela parte do Evangelho, tem a imagem de Cristo Crucificado, da parte da Epístola tem a imagem de S. Francisco Xavier; o segundo é o colateral da parte do Evangelho onde estão colocadas as imagens do Menino Jesus, São Sebastião, Santo André e Santo António= o terceiro altar é da parte da Epístola onde está a imagem da Senhora do Rosário; desta mesma parte está o altar de S. Francisco de Assis, de que é Administrador António Luis Bandeira Pereira, desta freguesia.

8. O Pároco desta freguesia tem o título de Abade, cuja Abadia é da apresentação do Padroado Real, tem de renda duzentos e cinquenta mil réis.

9. Não tem Beneficiados nem há memória que os tivesse.

10. Não há na freguesia Conventos alguns de Religiosos nem de Religiosas.

11. Não tem hospital.

12. Não tem Casa de Misericórdia.

13.Tem esta freguesia as ermidas seguintes: Nossa Senhora do Campo que fica fora do povoado, como também outra Ermida do Santo Cristo do Calvário, que ambas são dos fregueses, e a da Senhora da Pena, de que é administrador Manuel de Matos. No limite da freguesia dentro do Povoado, são as seguintes: no lugar de Fermentelos, a Capela do Bom Jesus que é dos Cónegos Regulares de Santo Agostinho de Santa Cruz de Coimbra = a Capela de S. José que é do Reverendo Paulino de Figueiredo e de seus irmãos, no lugar de Arrifana, a Capela da Senhora do Desterro de que é administrador Doutor Pedro de Sequeira, de Castelo Branco.= No lugar da Ribeira, a Capela de S. Brás, que é dos moradores do mesmo lugar.

14. À sobredita Capela da Senhora do Campo concorre romagem a oito de Setembro, também nos quartos domingos de cada mês.

15. Os frutos que esta freguesia produz em maior abundância é milho grosso e vinho.

16. Esta freguesia está sujeita ao Doutor Juiz de Fora deste Concelho de Besteiros, em cujo distrito se acha.

17. Este número fica respondido no número supra.

18. Desta freguesia saiu um Gaspar Ribeiro que floresceu em letras na Companhia de Jesus onde tomou a roupeta, e faleceu. Luis de Figueiredo Bandeira serviu na Praça de Armas e depois foi Governador de Sagres no Reino do Algarve, e seu filho António Bandeira Pereira serviu de Capitão de Couraças na Província de Trás os Montes, seu neto Gonçalo Pires Bandeira Pereira foi Brigadeiro do Regimento de Dragões de Aveiro, este serviu nas guerras próximo geradas, neto e Pai serviram nas outras, foram naturais e Senhores do Paço do Sameiro desta freguesia, todos Fidalgos da Casa de Sua Majestade Fidelíssima.

19. A oito de Setembro se faz uma feira nesta freguesia, junto à Ermida da Senhora do Campo, que só tem um dia, e é franca.

20. Não tem correio, serve-se do correio de Viseu, que passa distante desta freguesia uma légua.

21. Dista da cidade cabeça deste Bispado que é Viseu três léguas, e de Lisboa quarenta e três léguas.

22. Não tem privilégios nem coisa alguma digna de memória.

23. Não tem lagoa ou fonte célebre em si, ou perto dela.

24. Não fica em porto de mar, mas sim no sertão.

25. Não é murada nem nunca o foi.

26. Não padeceu ruína alguma pela grandeza de Deus no terramoto.

27. Como esta freguesia está situada em um vale, não tenho que responder ao que se procura saber das serras.

28. No que respeita aos rios, passa por esta freguesia o rio Criz que tem o seu nascente em a Serra de Fornelo em distância de duas léguas e se mete no rio Dão em distância de três léguas, é rio pequeno, não é caudaloso, para dar peixes. Corre sempre, não é navegável, corre de norte ao poente, a maior abundância de peixes que produz são bordalos e bogas. É comum. Para se passar tem uma ponte de pedra nesta freguesia, chamada a da Tabuaça. Estas são as qualidades deste rio, sem outras mais.

Esta a informação que posso dar a V. Ex.ª Reverendíssima, cuja pessoa o seu Criado, por muitos e felizes anos.

 

Santa Eulália, 21 de Março de 1758

 

O Abade, Fernando de Almeida de Novais de Resenegraces

 

[1] Difícil de identificar esta povoação. Será a actual Eiras de Castelões?

 

 

CAPARROSA

 

 

Com observância  da ordem Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Bispo da Cidade de Viseu, com a qual se declara à [2] o que contém esta freguesia de S. Miguel de Caparrosa.

 

Está esta freguesia de S. Miguel de Caparrosa sita no cimo do concelho de Besteiros, distante duas léguas da vila de Tondela que é cabeça do concelho, donde há Juiz de fora, e distante da cidade de Viseu duas léguas e meia; e da cidade de Lisboa, quarenta e cinco léguas. É esta vigararia do Padroado Real e é Comendador desta Comenda o Almirante-Mor de Lisboa; e a renda que tem esta vigararia são quarenta mil réis, que lhe paga o Comendador e mais as rendas que tem do Pé do Altar, será quarenta mil réis, uns anos pelos outros.

Tem esta freguesia cento e setenta vizinhos; e tem pessoas de Sacramento, quinhentos;  está esta Igreja fora dos lugares, tem esta Igreja quatro altares, no altar mor está a Confraria do Senhor e a Confraria de S. Miguel que é orago da Igreja e em outro altar está a Confraria de Nossa Senhora do Rosário, no qual tem uma Capela do orago de S. Brás, onde se diz Missa; outro lugar de Caparrosinha tem uma Capela de Nossa Senhora da Conceição, outro é o lugar de Caparrosa não tem Ermida, que está vizinho à Igreja; tem outro lugar que chamam Souto Bom que está em uma serra pela parte do poente, tem uma Capela de S. Frutuoso, na qual se diz Missa e nesta serra a caça que há são coelhos e perdizes e nesta serra nasce um rio que rega as terras de toda a freguesia e no dito rio há muitos moinhos, porém não moem se não de inverno, porque de verão se queda o rio, não tem água alguma, não há pontes, só dois pontões, um de pedra e outro de pau. Não tem esta freguesia Beneficiados nem Conventos de Religiosos nem Religiosas, nem hospital, nem Casa de Misericórdia, e as Ermidas que tem não concorre lá gente se não no dia do orago do santo. Os frutos que se lavram nesta freguesia são milho, centeio, trigo, vinho e algum azeite, nem há feira alguma nesta freguesia, nem há Correio se não o que vai de Viseu para Lisboa, nem há Privilégios nem antiguidades, nem outras coisas dignas de memória; nem fontes com particularidades algumas; nem minas de ouro, nem metal, nem esta freguesia tem torres, nem muros alguns; nem esta freguesia padeceu ruína alguma no terramoto de setecentos cinquenta e cinco. E não há memória que nesta freguesia florescessem ou dela saíssem alguns homens insignes em letras, virtude  ou armas.

E é o que de presente se acha nesta freguesia de S. Miguel de Caparrosa, termo da vila de Tondela e Bispado de Viseu, de que se dá conta no dia 14 de Junho de 1758.

O Vigário, Francisco   [3]

 

[2] Palavra ilegível

[3] Sobrenomes ilegíveis

 

 

CASTELÕES

 

 

Notícia da Terra e Freguesia do Santíssimo Salvador de Castelões na forma dos interrogatórios.

 

1.º No mais fértil, abundante e delicioso do Vale de Besteiros, está situada a Terra e Freguesia do Santíssimo Salvador de Castelões, que não é cabeça de concelho ou julgado, mas uma das que se compreendem no concelho de Besteiros, da Província da Beira Alta, Bispado e Comarca da Cidade de Viseu.

2.º Esta Freguesia, como todo o Concelho de Besteiros, é de Sua Majestade Fidelíssima e não tem donatário.

3.º Tem esta Freguesia no presente ano de mil setecentos cinquenta e oito, trezentos setenta e seis vizinhos; pessoas de Sacramento, mil cento e trinta e quatro; menores, cento trinta e oito.

4.º Está situada em vale e dela não se descobrem mais povoações do que os lugares de Quintal, Casal e Ribeiro.

5.º Não tem Termo seu próprio, porque, como acima se disse, é do concelho de Besteiros, mas compreende em si os lugares, quintas e póvoas que vão no número sexto na forma do interrogatório.

6.º A Paróquia está fora de Povoações, Lugares, Póvoas e Quintas dela, são os seguintes: Coelhoso, Póvoa das Corgas da Cortiçada, Cortiçada, Póvoa do Linheiro, Múceres, Falorca, Póvoa do Sobreirinho, Casal, Ribeiro, Costa, Figueiral, Outeiro, Vila de Rei, Quinta de Caselhos, Quinta do Souto,  Póvoa da Ladeira, Póvoa das Fontainhas, Quintal, Quinta do Telhado, Quinta da Cruz.

7.º O Orago desta Freguesia é o Santíssimo Salvador de Castelões, e tem a Igreja quatro altares: o do Santíssimo, Nossa Senhora do Rosário, S. João e de S. Sebastião, que é do Bacharel Luis Ferreira de Araújo, da cidade de Lisboa, com algumas Missas de obrigação. Não tem nave alguma, tem uma única Irmandade do Santíssimo Salvador.

8.º O Pároco desta Igreja é Vigário, de apresentação da Casa Real. É Comenda da Ordem de Cristo [4], de que ao presente é Comendador o Fidalgo Rodrigo António de Figueiredo, da cidade de Lisboa, bem conhecido pelas suas virtudes, e ilustre nascimento. Terá esta Comenda de rendimento cada ano com a entrega da Senhora do Barreiro, nunca menos de novecentos mil réis, e dali para cima algum excesso não pequeno.  Ao Passal se lhe dá de côngrua anualmente quarenta mil réis, quatro alqueires de trigo, quatro almudes de vinho, e quatro arráteis de cera para os gastos da Igreja, porção assaz limitada, atento o rendimento e o incrível trabalho de tão grande Freguesia.

9.º Não tem esta Igreja Beneficiados.

10.º Não há no distrito dela Convento algum.

11.º Não tem Hospital.

12.º Não há Casa de Misericórdia.

13.º Tem esta Freguesia as Ermidas seguintes, pelos lugares dela: o Coelhoso tem a Capela de Santa Margarida, a Cortiçada a Capela de S. Francisco, Múceres, a Capela de S. Tomé. O Figueiral, a Capela de S. Simão. Vila de Rei, a Capela de S. António, e cada uma delas com sua Confraria administrada pelo povo. Fora do lugar de Vila de Rei está a Capela de S. Francisco, que é de Pedro Eduardo Cardoso; e ali vizinha está uma Capela arruinada, que é de José Correa da Silva de Morais Tenreiro, Fidalgo da Casa de Sua Majestade, da cidade de Lamego, e era assistente na cidade do Porto. Na Quinta de Caselhos está a Capela de Nossa Senhora da Ajuda, de que é administrador António Luis Bandeira Pereira, Fidalgo da Casa de Sua Magestade. Na Quinta do Couço está a Capela da invocação de Santo António, de que é administrador Gaspar Homem de Almeida e Taenza Cardoso. No sítio da Ramila, limite do lugar de Coelhoso, está a Capela de Nossa Senhora da Piedade, de que é administrador Carlos de Figueiredo, do lugar de Figueiral. No lugar de Quintal, está a Capela de Nossa Senhora da Conceição, de que é administradora a Irmandade de S. Francisco da Igreja de Santa Eulália de Besteiros.  Foi instituída pelo Desembargador Francisco Pessoa de Carvalho do mesmo Quintal, com Missa quotidiana; tem bastante renda e do acréscimo se casam cada ano duas moças pobres, naturais desta Freguesia, na forma do seu testamento.

14.º A romaria mais frequentada que tem esta freguesia  é a da Capela da Senhora da Piedade, aonde concorrem quotidianamente os Povos das vizinhanças dela, e nas mais, não é tão frequente a visitação, excepto nos dias em que se festejam as invocações de cada uma delas.

15.º Os frutos de que mais abunda esta Freguesia são vinhos, em partes generoso,  em outras de menos verdade, milho grosso, cevadas, mediano azeite, frutas em grande quantidade de toda a casta, assim de espinho como das mais, especialmente peras, tanto de Verão como de Inverno, e de gosto excelente.

16.º Está esta Terra sujeita ao Juiz de Fora do Concelho de Besteiros, apresentado por Sua Majestade.

17.º Não é esta Freguesia cabeça de Concelho, nem nela há behetria, mas consta que nela existira a Honra da Quinta do Telhado.

18.º Virtudes.

Foi natural do lugar de Vila de Rei, desta Freguesia, e filho de pais nobilíssimos, o Padre Jerónimo Vogado, da Companhia de Jesus; entrou no Colégio de Coimbra , de dezanove anos no de mil quinhentos noventa e cinco. Ocupou vários empregos na sua Religião e andou nas Missões de Angola muitos anos, onde fez muitos milagres. Em todas as ocupações que teve, foi exemplar. Foi Provincial da sua Religião da Província de Portugal: o que consta de um caderno de letra antiga de mão, cujo título diz: Relação das Virtudes, Vida e Morte do Piíssimo Varão, o Padre Jerónimo Vogado, da Companhia de Jesus, escrita pelo Padre Gaspar de Gouveia, da mesma Companhia, por ordem do Padre Francisco de Taenza, Provincial da mesma Religião da Província de Portugal, cujo caderno conserva em seu poder Gonçalo Coelho de Almeida e Castro, morador na sua casa do Quintal com muita veneração pelo conteúdo nele e ser seu parente.

 

Letras

§ 1.º O Licenciado Lopo Fernandes de Azevedo foi natural do lugar do Quintal e senhor desta casa, e da maior parte da Honra do Telhado, Fidalgo da Casa Real, Corregedor da Província da Beira, antes de haver divisão de Comarcas. Foi o que fez a oração na entrada do Senhor Rei D. João III, com a Rainha D. Catarina, a primeira vez que entrou em Santarém.

§ 2.º Foi natural do mesmo lugar do Quintal o Padre Frei Aires de Azevedo, da Ordem de S. Domingos, Mestre em Teologia e Provincial da sua Religião, e era irmão do sobredito Licenciado Lopo Fernandes.

§ 3.º O Reverendo Padre Pedro Nunes Cardoso meio irmão dos dois acima, foi natural do lugar do Quintal e Capelão da Rainha D. Leonor.

§ 4.º O Doutor Pedro Nunes foi também natural do lugar do Quintal, desta Freguesia, Desembargador da Casa da Suplicação e Juiz do Crime, e o mais insigne Matemático, que conheceu este Reino. Foi Mestre do Infante D. Luis, filho do Senhor Rei D. Manuel.

§ 5.º O Doutor Diogo Nunes, seu irmão, parentes dos acima mencionados, foi natural do dito lugar do Quintal e Desembargador da Suplicação.

§ 6.º Foi também natural do mesmo lugar do Quintal, o Doutor Lopo de Barros de Azevedo, que faleceu sendo Provedor de Miranda, e Senhor da Casa do Quintal, e segundo neto de Laurindo Lopes Fernandes, Corregedor da Beira, Senhor da mesma casa.

§ 7.º Foi natural do lugar de Vila de Rei o Doutor Manoel de Almeida de Castelo Branco, colegial de S. Pedro, Lente de Direito na Universidade de Coimbra, Deputado do Santo Ofício, Cónego em Viseu e Braga.

§ 8.º  Foi natural do mesmo lugar de Vila de Rei, Frei Diogo de Castelo Branco, Monge de S. Bernardo e teve vários empregos na sua Religião, e também foi na mesma cronista.

§ 9.º O Doutor Gonçalo Bandeira Maldonado foi natural da Quinta dos Caselhos desta Freguesia, Desembargador na Relação da cidade do Porto.

§ 10.º Francisco Cardoso Ferreira foi natural do lugar de Vila de Rei, desta Freguesia. Foi Mestre em Artes pela Universidade de Coimbra, insigne Pregador, e como tal pregou na Capela Real. Foi Vigário do Santíssimo Salvador de Castelões, desta Freguesia.

§ 11.º O Doutor Francisco Pessoa de Carvalho foi natural do lugar de Quintal, desta Freguesia e Desembargador da Relação da Cidade do Porto.

 

Armas

§ 1º Foi natural do lugar de Quintal, desta Freguesia e filho do Corregedor Laurindo Lopes Fernandes de Azurdo, Gaspar de Azurdo, e foi Feitor e Alcaide-Mor da Feitoria de Cotta no Ceilão, e serviu com estremado valor em várias armadas da Índia.

§ 2.º Luis de Figueiredo Bandeira foi natural da Quinta de Caselhos desta Freguesia. Serviu esta Coroa no Estado da América. Foi Governador de Sagres, no Reino do Algarve, Fidalgo da Casa Real e Governador de Bragança, na patente de Tenente General.

§ 3.º Da mesma Quinta de Caselhos desta Freguesia, foi natural seu filho António Bandeira Roseira, Fidalgo da Casa Real, ocupou o posto de Capitão de Infantaria paga.

§ 4.º Filho deste e natural da mesma Quinta foi Gonçalo Pires Bandeira Pereira, fidalgo da Casa Real serviu na guerra da Liga com o posto de Capitão de Cavalos.  Foi Comissário Geral da Cavalaria em Catalunha: voltando ao Reino, foi Ajudante Geral na Província do Alentejo; e depois Coronel em o Minho de um Regimento de Cavalaria, que depois veio para a Beira, de onde a [5] de Dragões e Brigadeiro dos Exércitos de Sua Majestade, em cujo emprego faleceu.

§ 5.º Foi natural da Vila de Rei desta Freguesia, António de Alvellos e Abreu, que serviu na guerra da Aclamação. Foi Capitão de Infantaria e Mestre de Campo pago, emprego que teve até que  faleceu.

§ 6.º Foi natural da Quinta e honra do Telhado, desta Freguesia, José Correia e Morais. Serviu nas guerras da Aclamação. Foi Capitão de Cavalos e bem valente.

§ 7.º Foi natural do Quintal, desta freguesia, José Homem Cardoso. Serviu nas guerras da Aclamação; foi Capitão de cavalos, de muita satisfação.

§ 8.º  Do lugar de Casal, desta Freguesia, foi natural António de Saldanha e Almeida; serviu nas mesmas guerras. Foi Capitão de Infantaria pago, e homem de muito valor.

§ 9.º  Foi natural do lugar de Quintal, desta Freguesia, Francisco Pacheco Mascarenhas; serviu nas guerras da Aclamação, ocupando os postos de Capitão de Infantaria, e de Cavalos. Foi Governador das praças de Mourão e Campo Maior, Mestre de Campo e Tenente General de Artilharia, e achou-se em muitas empresas com valor distinto. Foi professo na Ordem de Cristo com promessa de [5], e comenda de duzentos mil réis. Foi Fidalgo da Casa Real.

§ 10.º Foi natural da Quinta da Cruz, desta Freguesia, Tristão Carneiro Mascarenhas; serviu na guerra da Liga com muito zelo e ocupou vários postos; e faleceu em o de Tenente General de Artilharia na cidade de Elvas.

§ 11.º Foi natural do lugar de Múceres desta Freguesia Manuel Simões, que, saindo pobre e miserável da sua terra, se embarcou para Angola, onde serviu esta Coroa com estimados serviços. Foi Capitão Mor do Rio das Pedras, e Governador das praças de Cambambe e Massangano; e Mestre de Campo do dito Reino de Angola. Deu algumas batalhas com as vezes de General, que venceu com muito valor e fortuna.

 

19. Tem esta Freguesia uma Feira em dia de Corpo de Deus, no lugar do Quintal; é livre e dura só o mesmo dia.

20. Não há correio nela, porém serve-se do de Tondela, que é o mesmo da cidade de Viseu.

21. Dista esta Freguesia e lugares dela da capital do Bispado, que é a cidade de Viseu, quase quatro léguas, e de Lisboa, capital do Reino, quarenta e duas léguas.

22. Ao presente, não tem esta terra e freguesia privilégios alguns particulares das outras. Mas tem muita nobreza e casas antigas mais que em outra parte do concelho de Besteiros; e entre todos há tradição constante, que nela houve muitos Infanções nos tempos antigos; e que aos Cidadãos de Lisboa deverão os privilégios, que tinham os Infanções de Besteiros.  Solan. A Valle, Index Generalis ad Pegam, tom. 2 verbo Nobilitas, pel mihi 340 col. 2.ª verbo Infanções. [6]

23. Não há nesta Freguesia Lagoa ou Fonte célebre.

24. Não há rio navegável ou porto de mar.

25. Não há nesta freguesia lugar com muros, ou praça, ou fortificação alguma, nem nela ou seu distrito, castelo; mas sim há no lugar do Quintal uma torre antiquíssima, que não tem em pé nem a terça parte; é o solar do apelido do Quintal; desta casa, e torre descende muita nobreza, e os Guestais de Elvas, e é senhor dela Gonçalo Coelho de Almeida e Castro do Quintal, Monteiro-Mor da Comarca e morador na sua casa do Quintal.

26. Não padeceu esta Freguesia defeito algum do terramoto no ano de mil setecentos cinquenta e cinco, nem consta que o tivesse em algum tempo.

27. Vai compreendido nos mais interrogatórios por não haver coisa digna de menção.

 

Não há nesta Freguesia serra alguma por estar toda situada em vale, e por isso se não responde os interrogatórios.

 

A respeito dos rios

 

1.Tem esta terra um rio que nasce de várias fontanheiras da Serra do Caramulo, fora desta freguesia, junto dos lugares de Cadraço e Paredes, que são da freguesia de Santa Maria do Guardão.

2. Não é caudaloso; mas percorre todo o ano.

3. Entra nele o rio do lugar de Múceres, por baixo do mesmo lugar, e o da Cortiçada.

4. Não é navegável, nem capaz de navegação.

5. É de curso arrebatado, ma maior parte da sua extensão.

6. Corre de Poente ao Nascente.

7. Os peixes que cria são bordalos desde o seu nascimento. Em o lugar da Cortiçada e dali para baixo, cria bogas e barbos, com algumas enguias, e de todos com grande abundância.

8. Algumas pescarias costumam fazer os vizinhos que comummente são de mão, por ser arrebatado de Inverno, ordinariamente são pescarias de pouca consideração.

9. As pescarias são livres, porém as prezas ou hurdas pescam-nas seus donos, ou outros com sua licença, por ser para isso preciso abrirem-lha.

10. As margens são muito cultivadas, que com o benefício das águas produzem bastantes frutos, com que correspondem ao trabalho dos lavradores.  Os arvoredos que têm são parreiras, que dão vinho em grande abundância.

11. Não há notícia de que as suas águas serão de alguma virtude.

12. O nome que tem nesta Freguesia é o Rio de Castelões, que o nome dele se não consta que em algum tempo tivesse outro; mete-se no rio Criz.

13. Não se sepulta no mar, mas sim entre no rio Criz, como acima dissemos, no sítio chamado Tarrastal, freguesia da anexa do Barreiro.

14. Tem este rio com o de Múceres mais de sessenta açudes, que todos cedem em benefício de [5] e regarem as suas margens; mas ainda que os não tivessem, não podia ser navegável por ter descidas fragosas e estas desde a Serra do Caramulo.

15. Tem uma ponte de cantaria no sítio do lugar do Ribeiro, logo por cima da Igreja de Castelões; e outra  de pau, no sítio da Lavandeira, junto ao lugar da Cortiçada.

16. Tem este Rio vinte rodas de moinhos actuais, e um lagar de azeite por baixo das Eiras, do lugar do Quintal. O de Múceres, que se mete nele, dezoito rodas, que continuadamente moem, e um lagar de azeite no cimo do mesmo lugar.

17. Não há memória de que em algum tempo, nem no presente, se tirasse ouro de suas areias.

18. Usam os povos de suas águas na forma que eles fizeram entre si desde tempos antigos e suas justiças; e não pagam pensões os que as têm suas próprias; e os que as não têm, ou as pedem, ou para as terem pagam uma limitada pensão.

19. O Rio de Castelões terá pouco mais de uma légua de curso até se meter no rio Criz; passa junto dos lugares da Costa, Ribeiro e Cortiçada desta Freguesia, e o da Corveira da Anexa de Nossa Senhora do Barreiro.

20. Não há coisa alguma mais notável que se possa dizer.

 

O Vigário,

Diogo Soares Craesbeck de Melo

 

[4] Existem na Torre do Tombo os seguintes tombos da Comenda de S. Salvador de Castelões:

      a) Tombo de 1607, sendo comendador Nuno Pessoa de Aragão OC-CT (Ordem de Cristo-Convento de Tomar) 220

      b) Tombo de 1658 - 1660, sendo comendador Rui de Figueiredo de Alarcão - TC (Tombo da Comenda) 151

      c) Tombo de 1776, sendo comendador D. Pedro da Câmara de Figueiredo Cabral, gentil-homem da Câmara de Infante D. Pedro - TC 152.

[5] Palavra ilegível

[6] Manuel Álvares Solano do Vale, Index Generalis, locupletissima Gnomologia earum rerum, quae per XIV. Tomos ad Ordinationes Regias Lusitani Regni in lucem hucusque editos a doctissimo, numquamque satis laudando ejusdem Regni Doctore D. Emmanuele Alvares Pegas continentur, seu odorifer succus omnes resolutive resolutiones tum ejusdem authoris, tum amplissimorum, dissertissimorumque statuum hujus Regni Decisiones continens. Tomus Primus ibi  apud eumdem Typog. 1740. ; fol. Tomus Secundus.  ibidem  per eumdem Typog. 1741. ; fol.

 

 

DARDAVAZ

 

 

Resposta aos interrogatórios dispostos e  contidos no folheto incluído pertencente à Igreja e freguesia de Dardavaz, Bispado de Viseu.

 

1.º Esta sobredita Igreja e freguesia fica na Província da Beira, do Bispado referido e Comarca de Viseu, termo da vila de Tondela, Arciprestado de Besteiros.

2.º É de Sua Majestade Fidelíssima que apresenta a mesma Igreja.

3.º Tem cento trinta e quatro vizinhos. Pessoas maiores, trezentas e noventa, menores, sessenta.

4.º Está situada a Igreja e o povo de Dardavaz em um vale, donde somente se avista e descobre parte da freguesia do Barreiro e a Serra do Caramulo; fica imediata à mesma freguesia do Barreiro, e dista da sobredita serra légua e meia, pouco mais ou menos.

5.º e 6.º A Paróquia está fora do lugar, não muito distante; compreende sete povoações, posto que pequenas, a saber: Dardavaz, que tem trinta e oito vizinhos; = Várzea do Homem tem quinze = Outeiro de Baixo treze = Outeiro de Cima onze = Póvoa da Sardinha, oito = Chancela, seis = Alvarim, trinta e nove = Há mais a Póvoa chamada do Lobo que somente tem dois moradores.

7.º Desta sobredita Igreja, o orago é Nossa Senhora da Natividade. Tem quatro altares = o Altar Maior = de Nossa Senhora do Rosário = o de S. Brás e o da Família Sagrada, que agora de novo se erigiu. Não tem Irmandades mais do que a de Nossa Senhora  de Guadalupe.

8.º O Pároco é Abade e tem Coadjutor, foi lotada a mesma Igreja em quatrocentos mil, de que se retirou a 3.ª para a Patriarcal.

9.º Não tem beneficiados.

10.º , 11.º, e 12.º . Não tem Conventos, nem Hospital, nem finalmente Casa da Misericórdia.

13.º e 14.º . Tem o lugar de Dardavaz uma Ermida de S. Sebastião que fica fora do mesmo povo, em pequena distância = o povo da Várzea uma Capela da Sagrada Transfiguração de Cristo Nosso Senhor = a mesma Capela está imediata ao povo = Tem o povo de Outeiro de Baixo outra Capela que é do Morgado daquele Povo, e está imediata às suas casas. = O Outeiro de Cima tem uma Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, que tem a sobredita Irmandade que administra, e a festeja todos os anos a quinze de Agosto. = Tem o lugar de Alvarim uma Capela de S. Romão, que está entre as duas partes em que o mesmo povo se divide; ali se celebra a Festa aos nove de Agosto em todos os anos, e de várias partes concorrem, não somente nesse dia, mas também em diversos dias do ano a visitar e celebrar Missa, ao mesmo glorioso Mártir, aclamando-o milagroso contra os cães desatinados e raivosos. Nas mais Capelas e Ermidas desta freguesia se solenizam as festas e concorrem os povos nos dias das invocações das mesmas Ermidas e Capelas. Adverte-se que a Capela que está no lugar do Outeiro de Baixo é dedicada à Puríssima Conceição  da Virgem Senhora Nossa e se celebra em o dia oito de Dezembro a sua festa.

15.º Os frutos de que mais abunda esta terra são: centeio, milho e vinho; também tem mediano azeite e feijão.

16.º Está sujeita e é governada pelo Juiz de fora do concelho de Besteiros e pelo Corregedor e Provedor da Comarca de Viseu.

17.º, 18.º e 19.º - Não tem coisa alguma do que nestes interrogatórios se perguntam.

20.º Não tem correio, serve-se do correio de Viseu, que passa pela vila de Tondela todos os domingos de manhã, e volta de Coimbra nas sextas feiras, de tarde ou à noite, saindo da dita cidade nas quintas feiras.

21.º Dista quatro léguas da cidade capital do Bispado, e de Lisboa, cidade capital do Reino, quarenta e quatro, pouco mais ou menos.

22.º É esta Igreja muito antiga, pois não me [7] do seu princípio e fundação o que bem mostra em muitas sepulturas que da parte de fora da porta principal e no adro se vêem abertas em pedras muito duras e inteiras, se acham abertas e outros mais vestígios da sua antiguidade; pois muito antigas as Igrejas de Treixedo e de Vila Nova da Rainha, sua anexa, finalmente a de Mouraz, foram obrigados a vir assistir os Reverendos Párocos das ditas Igrejas e os Clérigos das mesmas freguesias à Procissão que se faz nesta em dia Corpus Christi, como claramente se vê das Constituições deste mesmo Bispado.

23.º, 24.º e 25.º - Carece do que nestes interrogatórios se pergunta.

26.º Não padeceu ruína alguma no Terramoto.

27.º Não há mais coisa memorável.

 

Pela Várzea do Homem, desta freguesia passa o Rio Crins, que aí tem uma ponte com três arcos, muito bem feita e segura, que dá passagem franca para toda a qualidade de carruagens. Deste rio darão mais distinta e individual notícia as relações das outras freguesias donde traz o seu privilégio e aumento, dilatando-se no espaço das mesmas terras.

 

Aos mais interrogatórios se não responde, por não haver nesta terra as propriedades e qualidades que se procuram saber.

 

Dardavaz, Julho 12, de 1758

 

O Abade, António de Figueiredo e Abreu.  

 

[7] Palavra ilegível

 

 

FERREIROZ DO DÃO

 

 

1. Província da Beira, Comarca e Bispado da Cidade de Viseu, termo da mesma Cidade, freguesia de S. Cristóvão, anexa à de S. Miguel de Papízios, vizinhos tem sessenta e cinco.

2. Está situada em um alto entre o Rio Dão e o Rio Pavia, dela se não descobre povoação alguma, não tem também serra, mais do que uns montes ao pé.

3. É termo da Cidade de Viseu, tem juiz espadano sujeito ao Juiz de fora de Viseu.

4. A Igreja está no cimo do lugar, seu orago é S. Cristóvão, tem três altares: o principal, do orago, os dois, um da Senhora da Ajuda e outro de S. Sebastião. A Igreja é lisa, há também uma Irmandade de S. Sebastião.

5. O Pároco se chama Cura, apresentado pelo Doutor Abade da Igreja Matriz de Papízios.

6. Nada.

7. Nada.

8. Os melhores, por mais abundantes, frutos da terra são: milho, vinho, azeite, feijões.

9. Está sujeita às justiças da cidade de Viseu.

- É natural da caça de coelhos e perdizes, por ter muitos montes despovoados.

- Há gados de cabelo e menos ovelhas, por serem os montes de matos agrestes.

- Pelo pé desta terra são: do oriente com o Rio Dão, o qual vem das partes da Senhora da Lapa; é rio caudaloso em tempo de inverno, corre manso para o Mondego. É rio natural de peixes, nele há muitos moinhos e acima deste lugar tem uma ponte de cantaria com cinco arcos.

- Da parte do poente, pelo pé desta serra corre o rio Pavia, o qual corre e tem a sua origem na cidade de Viseu, da qual quatro léguas corre para o rio Dão, no qual se mete por baixo deste lugar.

- Corre mais arrebatado de todos, é natural de peixes nele, ao pé deste lugar; há uma ponte de cantaria ainda nova com três arcos.

- As margens dele se cultivam no limite desta freguesia; dão muito centeio, feijões e azeite, como também as do rio Dão.

- Mais abaixo da parte do poente, ainda limite deste lugar, corre para o rio Dão, outro rio chamado rio Dinha, corre mais arrebatado que o Pavia. É natural de peixes e nele há moinhos; corre da serra do Caramulo, do pé da Senhora do Crasto, morre no Rio Dão ainda no limite deste lugar.

 

E não há mais que dizer aos mais interrogatórios, e por verdade me assinei.

Ferreiroz, 14 de Agosto de 1732

O Padre Manuel Marques Ramos, Cura

 

 

SILVARES

 

 

Por mandado do Senhor Doutor Provisor, eu, abaixo assinado, respondo o seguinte:

1. Primeiramente, há nesta Província da Beira, Bispado e Comarca de Viseu, um lugar chamado Silvares que tem vinte e um vizinhos, e outro, que chamam Carvalhal, que tem catorze vizinhos, ambos da freguesia de Nossa Senhora da Natividade de Silvares.

2. Estão situados na serra do Apóstolo S. Barnabé, deles se descobre mais de dez léguas de comprido e largo, para  a parte do nascente, e muitas povoações.

3. Seu concelho se chama Besteiros.

4. Sua Paróquia está no mesmo lugar de Silvares, cujo orago é o Nascimento de Nossa Senhora. Tem três altares: o principal é do Santíssimo Sacramento, do orago, o segundo da Senhora e Santo Amaro e o terceiro de Santo António.

5. O Pároco se chama Cura, é apresentado alternativamente pelos Vigários de S. Tiago e Caparrosa. Tem de renda em dinheiro oito mil reis, em pão, trinta alqueires, em trigo, dois alqueires, em vinho, dois almudes, de cera, sete arráteis, tudo pago alternativamente pelas Comendas de S. Tiago e Caparrosa.

6. Tem no adro de fronte do altar e fora dos lugares uma Ermida de S. Barnabé, em cujo dia acodem alguns romeiros e há feira feita por coisa de três ou quatro horas, pouco mais ou menos e na roda do ano vêm à dita Ermida muitas pessoas em romagem.

7. A melhor abundância dos frutos dos dois povos é centeio e algum milho grosso. Estão sujeitos aos Juízes ordinários do dito Concelho de Besteiros.

8. Estes dois povos têm grandes privilégios dos senhores Reis antigos, que Deus haja, concedidos às suas pessoas e bens, por serem caseiros do Real Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.

9. Chega a estes dois lugares e povos com um terço de légua de comprido e menos de largo, a Serra que chamam do Caramulo, nesse sítio chama-se Serra da Urgueira, [8], tudo deixa muita parte a El Rei nosso Senhor  cujo foro se chama Reguengo, dá pastos para gados e dá algum centeio, traz caça de perdizes e coelhos.

10. Há nestes dois povos alguma criação de vacas, cabras e ovelhas.

11. Tudo o mais que se pergunta não se acha neste território de minha residência, principalmente das fontes e rios de nome porque disto é muito falto; que só tem dois corgatos que quase se não divisam: um deles tem três moinhos,  e outro tem sete moinhos, sem serem de maquia, pois não moem se não na força do inverno.

E por verdade, fiz esta que assinei.

Silvares, 28 de Agosto de 1732.

O Padre Cura, Jacinto João Homem

 

[8] Frase ilegível