20-3-2008

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George Buchanan (cont.)

(1506 - 1582)

 

 

Em Coimbra, os mestres João da Costa, Diogo de Teive e George Buchanan formavam um grupo coeso. Amigos de há muito, comungavam nos mesmos ideais e praticavam idênticos modos de vida, dedicando-se ao estudo, ao ensino e ao convívio. Todos tinham ideias liberais e simpatizavam com a reforma luterana, sabendo embora que essa simpatia nunca poderia ser manifestada em Portugal. Sem eles saberem, estava em marcha a espada da Inquisição.

Em 17 de Outubro de 1549, o Cardeal Infante D. Henrique (1512-1580), Inquisidor-mor do Reino,  deu ordens a Brás de Alvide, fidalgo do desembargo do Rei, para se deslocar a Paris, e procurar Fr. Duarte, residente no Mosteiro de S. Agostinho. Deveriam ambos averiguar da vida e costumes dos portugueses e estrangeiros que tinham vindo ensinar na Universidade de Coimbra. Ouviriam o Padre Fr. João Pinheiro, da Ordem de S. Domingos, e as testemunhas que este referisse; Fr. Duarte interrogaria e Brás de Alvide seria o escrivão.

O interrogatório das testemunhas teve início em de 22 de Novembro de 1549. Foram ouvidos o referido Padre Fr. João Pinheiro, Mestre Diogo de Gouveia, Joanes Ferrarius (Giovanni Ferreri) Piemontês, Simon Symson, Joanes Talpinus (Jean Talpin), Mestre Álvaro da Fonseca, Mestre Sebastião Rodrigues. Os três estrangeiros testemunharam em latim. A última testemunha foi ouvida a 21 de Dezembro.

Os testemunhos repetem os mesmos assuntos e concentram-se nos três mestres de Coimbra: Teive, Costa e Buchanan. Eram tidos por luteranos, não respeitavam os jejuns e abstinências prescritos pela Igreja Católica, e comiam carne no Advento e na Quaresma. Buchanan afirmara que Santo Agostinho defende que Cristo está na hóstia apenas em modo de sinal. E também se dizia em Paris que Buchanan, antes de ser preso e fugir da Escócia, comera com outras cinco pessoas o cordeiro pascal à maneira dos judeus.

Vieram os autos para Lisboa e foram concluídos com a ordem de prisão dos três mestres em 1 de Agosto de 1550, subscrita pelo Cardeal Infante, pelo Bispo do Porto e pelo Bispo de Angra.

Mestre João da Costa foi preso em Lisboa, onde se encontrava. A prisão dos outros dois foi determinada ao deputado da Inquisição, Jorge Gonçalves, que se dirigiu a Coimbra onde pediu ao Bispo que os chamasse ao Paço, o que foi feito a 10 de Agosto. Os presos aguardaram no Paço, enquanto era feita uma busca nos aposentos de Teive e de Buchanan, em especial, nos seus livros e arcas. Foram apreendidos diversos livros e levado o dinheiro que estava nas arcas. Buchanan pediu que os seus haveres fossem entregues a Mestre Nicolas de Grouchy, o que lhe foi consentido.

Note-se que os autos da devassa não referem a apreensão de quaisquer manuscritos. Onde estariam os poemas de Buchanan? Não interessaram aos funcionários da Inquisição ou já teriam sido postos antes em bom recato? A verdade é que toda a criação poética de Buchanan não é vista nem achada no processo da Inquisição.

Os dois presos foram confiados a um Rui Dias, para que os entregasse nos Estaus, sede da Inquisição, em Lisboa, o que este fez em 15 de Agosto de 1550.

A Inquisição foi muito diligente e, logo no dia 18, iniciaram-se os interrogatórios, que foram em número de onze:

 

1.º 18 de Agosto

2.º 21 idem

3.º 23 idem

4.º 1 de Setembro

5.º 6 idem

6.º 17 idem

7.º 15 de Outubro

8.º 12 de Dezembro

9.º 7 de Janeiro de 1551

10.º 15 de Maio

11.º Idem.

 

Entre o 3.º e 4.º interrogatórios, figura no processo a defesa escrita do réu, em latim; uma segunda defesa, mais curta (4 páginas) está entre o 4.º e 5.º interrogatórios.

Entretanto, em Coimbra, caiu como uma bomba a prisão dos quadros superiores do Real Colégio. A notícia espalhou-se rapidamente, correndo em Salamanca o boato de que tinham sido presos todos os professores. Foi um golpe duro para o prestígio da instituição, que nunca mais recuperou, até que, em 1555, o Colégio foi entregue aos Jesuítas.

Quem ficou muito impressionado e também pesaroso, foi o Professor Martín de Azpilcueta de Navarra (1492-1586), professor de Direito Canónico em Coimbra, considerado já na altura um velho venerando, muito prestigiado.  Com a liberdade que o seu prestígio lhe dava, pegou da pena e queixou-se amargamente do acontecido em carta dirigida à Rainha D. Catarina (Anexo 1). Esta iniciativa teve certamente influência na brevidade com que o processo de Buchanan foi conduzido.  Martín de Azpilcueta era uma boa alma e amigo dos três presos, por quem tinha consideração, embora fosse estritamente católico. Poucos anos antes, Buchanan escrevera para ele um poema para inserir no prólogo de um seu manual, que mais tarde foi reproduzido em outros livros, embora já sem indicação do seu autor:

 

Relectio c. novit. non minus sublimis quam celebris de iudicijs, pronunciata coram frequentissimo, eruditissimo ac maxime illustri auditorio in inclyta Lusitaniæ Conimbrica, per Martinum ab Azpilcueta Iureconsultum Navarrum, nunc eius in sacra facultate canonum Primarium functionis gymnasiam, decenio vero ante eodem munere in plæclarissima Salmantica functum. In inclyta Conimbrica, Ioannes Barrerius et Iohannes Aluarez regii typographi excudebant, 1548

GEORGII BUCHANANI in insigni bonaru, artium collegio apud inclytam Conimbricam professoris primarii. Aliud.

Macte animi, venerande senex, qui pectore sancto,

Abdita secreti reseras penetralia Juris:

Et veras recludis opes: vitiique rebevis

Sæpe renascentem resecas rationibus herbam.

Non tu Dictæo mendacia callidus antro

Auctoremque Jovem fingis, lucove Capeno

Avia nocturnæ simulas commercia Nymphæ:

Nec tripodas Phœbi mentita oracula fundis:

Sed liquida veri puris de fontibus unda

Pectora nostra rigas; moresque in prava fluentes

Corrigis, et iustis legum compescis habenis,

Spes nimias, animosque feros moderamine flectis.

Pontífices tu persauros, dominumque potentis

Ausoniæ, regesque doces discrimine certo

Nosse modum Juris, flexique obliqua doloso

Exigis ad canones interpres commodus æquos.

Ergo velut dubiis Phœbea oráculo rebus

Aut Libycas sortes, aut Dodoneæ petebant

Templo inopes veri, trepidoque instante tumultu:

Sic cum perplexis mentes ambagibus error

Implicat, et iuris sinuoso tramite fallit

Semita, tu dubios regis, errantesque reducis,

Confirmas trepidos, revocasque in cœca ruentes,

Et mala ne serpant rabiosæ semina litis

Ante caves: et iustitiæ præceptor inermis

Áurea compositis instauras secula bellis.

 

Noutro livro:

Enchiridion siue Manuale confessariorum et pœnitentium ... iampridem sermone Hispano compositum / Autore Martino ab Azpilcueta ... ; quamplurimis aliis locupletatum & reformatum, nunc autem denuo recognitum, et multis locis emendatum, apud Iuntas, Apud Petrum Dehuchinum, 1579 Venetiis, 452, [64] f. ; 4º

DUO EPIGRAMMATA ILLORUM DUORUM INSIGNIUM VIRORUM, quos Regia Maiestas ex Gallia Conymbricam magnis honorariis duxit, primis Authoris operibus ante triginta annos Conymbricæ adiecta.

Alterum illius eruditissimi qui tunc insignis collegii bonarum artium Conymbricensis professor era Primarius.

Esta edição pode ser vista aqui.

 

 

Buchanan não hesitou em confessar tudo o que lhe pediam os inquisidores. Que tivera simpatias pelas doutrinas luteranas, que não respeitara com e sem motivos os jejuns e abstinências prescritos pela Igreja Católica. Que lhe parecia de facto que Santo Agostinho favorecia a doutrina dos luteranos por dizer que na Eucaristia estava o corpo de Cristo apenas em sinal e assim o dissera a diversas pessoas. Negou que tivesse comido o cordeiro pascal com judeus, e disse que na sua terra não havia judeus.

Como já referi, as poesias e os escritos de Buchanan não vieram à baila no processo. Porém, a certa altura, confirmou a sua acusação aos Franciscanos de que estavam convictos que o simples facto de endossarem o hábito lhes trazia a salvação eterna, por mais pecados que cometessem.

Em relação aos chamados Apóstolos (os Jesuítas), censurava certos costumes deles, mas sobretudo o de angariarem rapazinhos muitos novos contra o parecer de outras Ordens.

No processo, Buchanan não acusou ninguém, mas também não foi pressionado pelos inquisidores para o fazer (apenas nos interrogatórios de 6 e 17 de Setembro lhe perguntaram se conhecia alguma pessoa que andasse apartada da “nossa santa fé”, ou fosse “contra a Santa madre Igreja”, ao que ele respondeu negativamente.)

Foi, sem dúvida, um processo sui generis em que não foram ouvidas testemunhas, nem de defesa, nem de acusação. A acusação de Buchanan foi feita pelas testemunhas ouvidas em Paris em 1549, mas estes depoimentos não se encontram no processo dele, mas sim no processo n.º 9510, de Mestre João da Costa.

Na sua defesa, acentua repetidas vezes o seu amor próprio:

 

 

Ita enim vixi ut pauci admodum eo tempore me notiores fuerunt Lutetiæ.

 

……………………………………………….

…multa præterea hic criminosa esse video quæ in Gallia ne suspitionem quidem criminis habent.

 

Pois eu vivi de tal modo que naquele tempo poucos em Paris seriam mais conhecidos do que eu.

…………………………………………………..

…constato que aqui são consideradas criminosas muitas acções que em França não despertam sequer qualquer suspeita de crime.

 

 

 

Um ponto da sua defesa esteve em perigo de prolongar o processo por mais tempo. A certa altura ele afirmava que, no final de 1543, o Papa Paulo III anunciara uma Bula de perdão para todos os que se quisessem reconciliar com a Igreja e que ele de boa vontade tinha aproveitado desse perdão. Os inquisidores desenvolveram esforços e chamaram testemunhas para saber de tal perdão, mas sem resultado; de tal modo que, em 15 de Maio de 1551, já Buchanan pedia que o despachassem com misericórdia, porque não queria usar do dito perdão. Afinal o perdão não era de 1544, mas sim de 1535 e não era do Papa mas sim do Rei de França, Francisco I e não constava que Buchanan dele se tivesse aproveitado. O documento relativo a tal perdão vem transcrito em francês antes da sentença.

A sentença da Inquisição e abjuração em forma têm a data de 29 de Julho de 1551. Foi aceite a “reconciliação” de Buchanan com a Igreja Católica e determinada a sua estadia num  mosteiro durante um período ao parecer dos inquisidores, onde se ocuparia de “exercícios virtuosos e coisas necessárias para a sua salvação”.

Buchanan foi mandado para o Mosteiro de São Bento de Xabregas e aí começou a escrever a sua versão latina dos Salmos. Em 13 de Dezembro de 1551, o Cardeal Infante D. Henrique despachou a sua libertação, decisão que comunicou aos inquisidores em 28 de Janeiro de 1552. Buchanan foi libertado no último dia de Fevereiro deste ano, que era bissexto, portanto, a 29 de Fevereiro.

Ou por verdade ou a fingir, Buchanan deu a entender que gostaria de ficar em Portugal e, por isso, o Rei deu-lhe algum dinheiro para as suas despesas, enquanto ele não tinha colocação. Mas quando apareceu um navio de Creta com destino a Inglaterra, ele aproveitou logo a ocasião para sair de Portugal. Não ficou ali muito tempo, porque já se encontrava em França no início de 1553. Aliás, era enorme a sua ânsia de voltar a França como se constata do poema (com 92 versos) que na altura escreveu, que se transcreve parcialmente:

 

 

 Desiderium Lutetiæ 

 

Formosa Amarylli, tuo jam septima bruma
      Me procul aspectu, jam septima detinet æstas;
      Sed neque septima bruma nivalibus horrida nimbis,
      Septima nec rapidis candens fervoribus æstas
      Exstinxit vigiles nostro sub pectore curas.
     
Tu mihi mane novo carmen, dum roscida tondet
      Arva pecus, medio tu carmen, solis in æstu,
      Et cum jam longas præceps nox porrigit umbras;
      Nec mihi quæ tenebris condit nox omnia, vultus
      Est potis occultare tuos; te nocte sub atra
      Alloquor, amplector, falsaque in imagine somni
      Gaudia sollicitam palpant evanida mentem,
      At cum somnus abit, curis cum luce venatis

      Tecta miser fugio, tamquam mihi tecta doloris

      Semina subjiciant, et solis mœstus in agris,

      Qua vagus error agit feror, et deserta querelis
      Antra meis, silvasque et conscia saxa fatigo.
      Sola meos planctus. Echo miserata gementi
      Adgemit, et quoties suspiria pectore duco,
      Hæc quoque vicino toties suspirat ab antro.
      Sæpe super celsæ prærupta cacumina rupis
      In mare prospiciens, spumantia cœrula demens
      Alloquor, et surdis jacto irrita vota procellis.

       ......................................................................

 

            

 

 

 

Buchanan estava finalmente livre. Na sua autobiografia, reconhece que não fora maltratado, os frades não eram nec inhumanis nec malis, sed omnis religionis ignaris, isto é,  nem maus nem desumanos, mas totalmente ignorantes de toda a espécie de religião.

Chegado a França, exprime a sua alegria noutro poema, ao mesmo tempo que começa a dizer mal de Portugal:

 

Adventus in Galliam

 

Jejuna miseræ tesqua Lusitaniæ

Glebæque tantum fertiles penuriæ,

Valete longum! At tu beata Gallia

Salve, bonarum blanda nutrix artium,

Cœlo salubri fertili frugum solo,

Umbrosa colles pampini molli coma,

Pecorosa saltus, rigua valles fontibus,

Prati virentis picta campos floribus,

Velifera longis amnium decursibus,

Piscosa stagnis, rivulis, lacubus, mari;

Et hinc et illinc portuoso littore

Orbem receptans hospitem, atque orbi tuas

Opes vicissim non avara impertiens;

Amœna villis, tuta muris, turribus

Superba, tectis lauta, cultu splendida,

Victu modesta, moribus non aspera,

Sermone comis, patria gentium omnium

Communis, animi fida, pace florida,

Jucunda, facilis, Marte terrifico minax,

Invicta, rebus non secundis insolens,

Nec sorte dubia fracta, cultrix numinis

Sincera, ritum in exterum non degener:

Nescit calores lenis æstas torridos,

Frangit rigores bruma flammis asperos,

Non pestilentis pallet, Austri spiritu

Autumnus æquis temperatus flatibus,

Non ver solutis amnium repagulis

Inundat agros, et labores eluit.

Ni patrio te amore diligam, et colam

Dum vivo, rursus non recuso visere

Jejuna miseræ tesqua Lusitaniæ,

Glebasque tantum fertiles penuriæ.

 

Chegada a França

 

Descampados estéreis da mesquinha Lusitânia,

E glebas só férteis em penúria,

Um adeus para sempre!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tradução de A.C. Ramalho (1988b)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nesta altura da sua vida, Buchanan sentiu um desejo que podemos considerar natural, de se vingar do País, onde se sentira tão maltratado. Compõe então um poema contra D. João III, pondo a ridículo os muitos nomes que ele usava:

 

 

In Polyonymum

 

Lusitanicus unus es mare ultra et

Citra Algarbicus Indicusque Arabsque,

Persicus Guineusque et Africanus

Congusque et Manicongus et Zalophus;

 Nec tuis titulis abest superbis

Aethiops nimio perustus æstu,

Nec circum triplicem refusus orbem

Cunctarum Oceanus parens aquarum;

Nec portus neque merx neque insula ulla est,

Lucelli unde levis refulget aura,

Quæ te non titulo augeat. Tot ergo

Cui sunt nomina, nonne iure Regem

Multis nominibus vocabo magnum?

Sed Rex nominibus tot ille magnus,

Si belli furor aut mare æstuosum

Occludat piperariam tabernam,

[Famam fenore pransitabit emptam]

Versuram faciet vel esuribit.

 

Contra Poliónimo

 

 

Só tu és o Lusitânico; d’Além e d’Aquém Mar, o Algárbico; e o Indico e o Arábico, o Pérsico e o Guinéu e o Africano; do Congo, do Manicongo e do Zalofo. E aos teus títulos soberbos não falta o Etíope tostado pelo demasiado calor, nem o Oceano, pai das águas todas, que banha três continentes.

E não há porto nem mercadoria nem ilha qualquer, de onde brilhe a aura dum pequeno lucro, que não se junte ao teu título. Por isso, a quem possui tantos nomes não chamarei, de direito. Rei, por muitos nomes, grande?

Mas o famoso Rei, grande por muitos nomes, se o furor da guerra ou o mar tempestuoso lhe fecharem a loja da pimenta, comerá a sua fama comprada a juros, pedirá emprestado ou passará fome.

 

 

Tradução de A.C. Ramalho (1988b)

 

 

Outra tradução:

AO POLY-ÓNIMO

 

Tu és o incomparável Lusitano

O Algarvio d’aquém e d’além mar:

O Árabe, o Índico, o Persa e o da Guiné;

Grande senhor de terras africanas:

Do Congo e Manicongo e de Zalopho!

 

Coroando teus títulos soberbos,

Chamam-te ainda o Etíope queimado

Do sol intensamente abrasador,

E o grande Pai das águas tormentosas

- Do velho Oceano que se abraça ao mundo.

 

Não há empório algum ou ilha ou porto,

Onde uma brisa de ganância sopre,

Por mais que seja, por mais leve,

Que tarde vir juntar-se a tantos títulos.

 

Não devo, pois, com a maior razão

Ao dono de tão grandes apelidos,

Chamar o Grande Rei dos muitos nomes?

 

Se porém algum dia, ao Rei dos nomes,

A guerra ou o mar, em fúria s’inflamando,

Lhe fecharem a tenda da pimenta,

 

Bem pode alimentar-se dessa fama

Mercadejada em terras d’além mar…

Fará pesadas dívidas,

Ou morrerá de fome.

 

(De Manuel Gonçalves Cerejeita (1888-1977), O Renascimento em Portugal, 1.º vol. Clenardo e a sociedade portuguesa, 4.ª ed. revista, Coimbra Editora, Coimbra, 1974-1975, pag. 159.)

 

 

Certamente esta atitude é algo injusta. Anos antes, ele havia composto outro poema em homenagem ao mesmo Rei D. João III, que foi inserido no livro do seu colega Diogo de Teive, Commentarius de rebus in India apud Dium gestis anno salutis nostræ M.D.XLVI (Coimbra: Joannes Barrerius and Joannes Alvarus, 1548):

 

 

Ad eundem invictissimum Regem de hoc Commentario Georgius Buchananus

 

Cum tua sceptra Asiæ gens Europæque timeret,

      Et tremeret fasces terra Lybissa tuos: :

Jamque jugi pattens Indus : Nec turpe putaret

      A domino Ganges poscere iura Tago:

Inque tuis Phœbus regnis oriensque cadensque

      Vix longum fesso conderet axe diem ;

Et quæcumque vago se circumvolvit Olympo,

      Luceret ratibus flamma ministra tuis:

Gaudebat tibi devictus, sibi redditus orbis,

      Nosse suos fines, iustitiamque tuam.

Una aberatque oberatque tuis Mors sæva triumphis.

      Carpere victricem scilicet ausa manum.

Et comes huic tenebris nisa est oblivio cæcis

      Fortia magnanimum condere facta ducum:

Donec Apollineis se Tevius induit armis:

      Et spolia e victa Morte superba tulit:

Victurisque iubet chartis iuvenescere vitæ

      Prodiga pro patriæ pectora laude suæ:

Proque ævi paucis, quos Mors præciderat, annis

      Reddit ab æterna posteritate decus.

Jure ergo invictus Rex es quando omnia vincens

      Acceavit titulis Mors quoque victa tuis.

 

 

Jorge Buchanan ao mesmo Rei invencível sobre este Comentário

 

        Temiam os povos da Ásia e da Europa o teu ceptro, e tremia a terra líbia ante os símbolos do teu poder.

        Já o Indo, submisso a teu jugo, e o Ganges não consideravam vergonhoso pedir leis ao Tejo, seu senhor.

        E Febo que nasce e morre nos teus reinos, mal os percorre num longo dia, em seu carro fatigado.

        E quanta chama gira no vago Olimpo circundante, brilhava para serviço dos teus navios.

        A ti submisso, a si restituído, o Orbe alegrava-se de conhecer os seus limites e a tua justiça.

        Só a Morte cruel faltava e se opunha aos teus triunfos, ousando reprimir a tua mão vencedora.

        E com ela o Esquecimento, seu companheiro, que se vale das cegas trevas para esconder os feitos dos magnânimos chefes.

        Mas eis que Teive se reveste das armas de Apolo e arranca à Morte vencida os soberbos espólios.

        E manda que nas suas páginas imorredouras volte a juventude aos corações pródigos da própria existência, pela glória da pátria.

        E em troca dos poucos anos de vida que a Morte ceifara, paga-lhes com a honra de eterna posteridade.

        De direito, pois, és invencível, ó Rei, quando, apesar de vencedora de todas as coisas, a Morte vencida se juntou aos teus títulos.

 

Tradução de A.C. Ramalho (1988b)

 

 

Ainda no âmbito da sua vingança, Buchanan foi buscar um assunto no qual nem sequer tinha razão. Como é sabido, para além dos cristãos-novos judaizantes, dos luteranos e dos apóstatas, bruxos e blasfemos, a Inquisição perseguia também os sodomitas, isto é, pedófilos e pederastas. Enquanto o primeiro grupo podia ir parar à fogueira, os sodomitas "safavam-se" geralmente com uns anos de exílio no Brasil. Então Buchanan generaliza dizendo que Portugal colonizou o Brasil com sodomitas. Claro que isso não é verdade, nem pouco mais ou menos. Para além disso, os sodomitas também era exilados para Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Domingos Maurício Gomes dos Santos (Padre Jesuíta, 1896-1978) estraga tudo na sua monografia (pag. 294) ao fazer sua a afirmação de antisemitismo, dos que consideravam que os sodomitas eram sobretudo judeus. Tal afirmação não tem qualquer fundamento, basta consultar os processos da Inquisição.  Isso mesmo assinala o Prof. A.C. Ramalho (1988b, pag. 113).

Suponho que a publicação de todos os poemas gozando com Belchior Beliago (sete!) deve ser incluída neste programa de vingança contra Portugal e os portugueses. Nem o assunto, nem a forma justificavam uma tão grande divulgação.

 

 

BRASILIA

 

Africa deseritur, miles mendicat egenus,

Vi sine tuta fugax oppida Maurus habet.

Accipit obscœnos Brasilia fusca colonos,

Quique prius pueros foderat, arva fodit,

Qui sua militibus tollit, dat rura cinædis,

Jure sub adverso nil bene Marte gerit.

 

BRASIL

 

Africa is deserted, the needy soldier begs;

Without struggle the Moor, prone to flight, holds safe the towns,

Dark Brazil takes on the obscene settlers.

And he (i.e., the clergy) who formerly defiled the boys, defiles the fields,

And he (i.e., João) who takes away land (in Morocco) from his own soldiers,

                                                            gives it (in Brazil) to the perverts;

Nothing goes well in war when right is on the other side.

 

Tradução de A.A. Williamson

 

 

 

In colonias brasilienses, vel sodomitas a Lusitanis missos in Brasiliam

 

 

Descende cœlo turbine flammeo

Armatus iras, Angele, vindices,

        Libidinum jam notus ultor

        Exitio Sodomæ impudicæ.

 

En rursus armis quod pereat tuis

Lustrum Gomorrhæ suscitat semulum

        Syrum propago, et exsecrandæ

        Spurcitiæ renovat palæstram.

 

Pars ista mundi, quam sibi propriam

Sedem dicavit mollis amœnitas

        Luxusque, sub fœdis colonis

        Servitium tolerat pudendum.

 

Abominandis arsit amoribus

Strigosus æstu, pauperie et fame,

        Glandis vorator, virulentum

        E raphanis redolens odorem.

 

Quem, rere, ponet nequitiæ modum

Frenis libido libera? et insolens

        Humanioris ferre victus

        Illecebras meliore cœlo?

 

O Christiani infamia nominis!

O fœda labes et nota temporum!

        O turpium turpisque causa, et

        Exitus, et pretium laborum!

 

Ignota rostris verrimus æquora,

Gentes quietas sollicitavimus

        Terrore belli, orbisque pacem

        Miscuimus misero tumultu.

 

Per ferrum et ignes et mare naufragum

Secreta rerum claustra refregimus,

        Ne deesset impuris cinædis

        Prostibulum Veneris nefandæ.

 

Gens illa nullos mitis in hospites,

Et ora victu assueta nefario,

        Portenta conspexit Cyclopum

        Sanguinea dape fœdiora.

 

Nunc Scylla sævos exsere nunc canes,

Nunc nunc Charybdis vórtice spumeo

        Convolve fluctus, et carinas

        Flagitiis gravidas resorbe.

 

Aut hisce tellus in patulos specus,

Ætherve flammis perde sequacibus

        Turpes colonos, Christianæ

        Dedecus opprobriumque terræ.

 

 

 

 

 

 

 

Come down from the sky in flaming whirlwind, armed, angel, with avenging anger, long since known as the scourge of lust in the destruction of Sodom the wicked city.

 

 

 

 

May it perish once more at thy hands! The progeny of the Syrians calls up a sacrificial offering to rival Gomorrah, and it renews an arena for accursed and unspeakable filthiness.

 

 

 

That part of the world which a gentle and temperate exuberance has

consecrated as its own seat and proper place suffers a shameful servitude

under the rule of these disgusting settlers.

 

 

Thin from the heat, poverty, and hunger, he has burnt with abominable desires,

a glutton for acorns, stinking of the powerful smell of horseradish.

 

 

What limit to wickedness, say you, does unbridled lust set for itself, unused to the enticements of a more humane way of living under a better sky?

 

 

 

 

O shame of the Christian name! 0 shameful decline and sign of the times!

O vile cause of villainous men, both the outcome and the prize of their

labours.

 

 

  

We swept unknown waters with our prows; we went after peaceful peoples with the terror of war, and we stirred misery and tumult into the peace of the world.

 

 

 

 

 

 

 

 

Those people [i.e., the Brazilians], hospitable to no guests, and shores accustomed to an unspeakable diet [i.e., human flesh], have looked upon sights more disgraceful than the bloody feasts of the Cyclops.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tradução parcial de A.A. Williamson

 

A 4.ª estância tem a tradução de Philip Ford (2000) - ver Bibliografia

 

Em França, foi regente de cadeira durante dois anos no Colégio de Boncourt. Depois foi contratado pelo Marechal Charles du Cossé, Conde de Brissac, como preceptor de seu filho Timoléon, então com doze anos de idade.

Mais ou menos por esta altura, faleceu seu irmão Patrick, a quem dedicou um epitáfio. Escreveu também um poema para António de Gouveia, espírito livre, que nunca se atreveu a vir para Portugal; era considerado “excellent Poete, grand Philosophe, et savant Jurisconsulte”.

Transcrevem-se ainda dois célebres poemas de Buchanan: Calendæ Maiæ e a tradução de uma muito conhecida quadra grega.

Quando Jean Nicot regressou de Portugal e o seu nome foi dado à substância do tabaco, fez uma poesia em que já reprovava o tabaco, a que Catarina de Médicis queria ligar o seu nome.

 

 

De Nicotiana falso nomine Medicæa appellata (herbe médicée)

 

Doctus ab Hesperiis  rediens Nicotius oris

          Nicotianam rettulit,

nempe salutiferam cunctis languoribus herbam,

          prodesse cupidus patriæ.

at Medice Catharina, ×άθαρμα luesque suorum,

          Medea sæculi sui,

ambitione ardens, Medicææ nomine plantam

          Nicotianam adulterat:

utque bonis cives prius exuit, exuere herbæ

          honore vult Nicotium.

At vos auxilium membris qui quæritis ægris,

          abominandi nominis

a planta cohibete manus, os claudite, et aures

          a peste tetra occludite.

Nectar enim virus fiet, panacea venenum,

          Medicæa si vocabitur.

 

Sobre o Tabaco, erradamente chamado herbe médicée

 

O culto Nicot, regressando das terras ocidentais, trouxe de volta o tabaco (Nicotiana), sem dúvida uma planta para curar todas as doenças, tão ansioso estava ele por ser útil ao seu País. Mas Catarina de Médicis,  a escória e o flagelo do seu povo, a Medeia da sua geração, fervendo de ambição, adultera a planta do tabaco com o nome de herbe médicée. E, tal como tirou aos seus súbditos os seus bens, assim também quer privar Nicot da honra que o liga a esta planta. Mas vós, que procurais ajuda para os vossos membros doentes, não ponhais as vossas mãos nessa planta de nome azarado, fechai as vossas bocas, e os vossos ouvidos à imunda peste. Pois o néctar tornar-se-á peçonha e o remédio veneno, se o nome vier dos Médicis.

 

 

 

Patricio Buchanani fratri

 

Si mihi privato fas indulgere dolori,

      Ereptum, frater, te mihi jure fleam:

Nostra bonis raros cui protulit artibus ætas,

      Et nivea morum simplicitate pares.

At si gratandum lætis est rebus amici

      Gratulor immensis quod potiare bonis.

Omnia quippe piæ vitæ et sinceriter actæ

      Præmia securus non peritura tenes.

 

 

 

TO HIS BROTHER, PATRICK BUCHANAN. 
 
 
If it be right to give a fee-grief scope, 
Well may I weep thee, brother, torn apart, 
With whom in culture few indeed could cope, 
Or in thy snowy purity of heart : 
But, if to gratulate on good be part 
Of friend, I thee congratulate in this : 
That dreadless now thou boldest where thou art 
The meed eterne of holy life in bliss. 

 

 

Tradução de Quatercentenary Studies

 

 

Ad Antonium Goveanum

 

Si quicquam, Goveane, fas mihi esset

Invidere tibive, Teviove,

Et te nostro ego Tevio inviderem,

Et nostrum tibi Tevium inviderem.

Sed cum me nihil invidere sit fas

Vel tibi, Goveane, Teviove,

Si fas est quod amor dolorque cogit,

Vobis imprecor usque et imprecabor,

Uterque ut mihi sed cito rependat

Hoc pravum ob facinus malumque pœnas:

Te mi Tevius invidere possit.

Tu possis mihi Tevium invidere.

Ambobus mihi si frui licebit,

Cœlum Diis ego non suum invidebo,

Sed sortem mihi Dii meam invidebunt.

 

 

Para António Gouveia

 

Se me fosse lícito, ó Gouveia, privar-te a ti ou a Teive de alguma coisa,

Privar-te-ia a ti do nosso Teive;

E, ao nosso Teive, de ti.

Mas, como me não seja lícito, ó Gouveia,

Privar de nada, nem a ti nem a Teive,

Se é lícito fazer aquilo a que amor e dor obrigam,

Uma e outra vez vos peço

Que ambos sem tardar venhais castigar-me

Por este depravado acto e má acção:

Vindo Teive privar-me de ti e vindo tu privar-me de Teive.

Se puder gozar da companhia de ambos,

Não serei eu que inveje aos deuses o seu céu…

Eles é que invejarão a minha sorte.

 

Tradução de D. Maurício G. Santos

 

 

 

Calendæ Maiæ

 

Salvete, sacris deliciis sacræ
Maiæ Calendæ, lætitiæ et mero,
        ludisque dicatæ iocisque
            et teneris Charitum choreis.
Salve, voluptas et nitidum decus

anni recurrens perpetua vice,
        et flos renascentis iuventæ,
            in senium properantis ævi.
Cum blanda veris temperies novo
illuxit orbi, primaque sæcula
        fulsere flaventi metallo
            sponte sua sine lege iusta,
talis per omnes continuus tenor
annos tepenti rura Favonio
        mulcebat, et nullis feraces
            seminibus recreabat agros.
Talis beatis incubat insulis
felicis auræ perpetuus tepor
        et nesciis campis senectæ
            difficilis querulique morbi.
Talis silentum. per tacitum nemus
Levi susurrat murmure spiritus
        Lethenque iuxta obliviosam
            funereas agitat cupressos.
Forsan supremis cum Deus ignibus
piabit orbem, lætaque sæcula
        mundo reducet, talis aura
            æthereos animos fovebit.
Salve, fugacis gloria sæculi,
salve, secunda digna dies nota
        salve, vetustæ vitæ imago
            et specimen venientis ævi.

 

 

The First of May

 

Hail! Sweetest day,

Day of all pure delight;

Whose gracious hours invite

To mirth and song and dance,

And wine, and love’s soft glance.

Welcome! With all thy bright hours bring

Of quickened life and beauty’s dower –

The certain heritage of Spring.

In thee each year doth hoary Time

Renew the glories of his prime!

        When, still rejoicing in her birth,

Spring brightened all the new-made earth,

And in that happy golden age

Men knew no lawless passion’s rage,

Thy train of joys embraced the year;

Soft breezes wooed the untilled field,

Its blessings all unforced to yield.

        Even in such mildest atmosphere

Forever bask those happy Isles,

Those blessed plains that never know

Life’s slow decay or poisoned flow.

        Thus ‘mid the still abodes of death

Should steal the soft air’s softest breath,

And gently stir the solemn wood

That glooms o’er Lethe’s dreamless flood.

        And, haply when made pure of stain

By cleansing fire, the earth renewed

Shall know her ancient joys again,

Even such mild air shall o’er her brood!

 

        Thou crown of the world’s failing age,

Of life’s sad book one happy page.

Hail!| sweetest day – memorial bright

Of early innocent delight,

And sure pledge of the coming day

When it shall be eternal May.

 

Tradução de

MacMillan, D., George Buchanan, A Biography

E Græco

 

Qui te videt beatus est,

      Beatior qui te audiet

Qui basiat, semideus est,

      Qui te potitur est Deus.

 

Do Grego

 

Quem te vê é feliz,

Mais feliz é quem te ouve,

Quem te beija é semideus,

Quem te possui é Deus.

 

Durante os cinco anos em que esteve ligado ao Conde de Brissac, residiu alternadamente em França e Itália. Depois disso, e após um longo exílio, voltou à Escócia em 1561. Dez anos mais tarde, o seu pupilo Timoléon de Cossé foi morto no cerco de Mucidan; em sua memória Buchanan compôs o mais ambicioso dos seus poemas, de Sphera, um tratado sobre a astronomia de Ptolomeu, planeado para cinco livros, dos quais nunca completou os últimos dois.

Na Escócia, foi bem recebido na corte da jovem Rainha Mary, onde trabalhou na tradução de textos de espanhol para francês, latim ou inglês. Era também tutor da Rainha, que com ele lia todas as tarde um texto de Tito Lívio.

À chegada à Escócia, tornou-se protestante, e membro da Igreja Reformada da Escócia. Em 1563 era membro da Assembleia e em 1567, Moderator, a mais alta posição na Igreja. Apesar disso, as suas relações com a Rainha (católica) permaneceram então cordiais, como se verifica destes epigramas que lhe dedicou:

 

 

AD MARIAM SCOTIAE REGINAM. 
 
Do quod adest: opto quod abest tibi: dona darentur 
        Aurea, sors animo si foret æqua meo. 
Hoc leve si credis, paribus me ulciscere donis : 
        Et quod abest, opta tu mihi: da quod adest. 
 
  
 
 
I give you what I have, 
      I wish you what you lack ; 
And weightier were my gift 
      Were fortune at my back. 
 
Perchance you think I jest ? 
      A like jest then I crave : 
Wish for me what I lack, 
      And give me what you have.
 

Tradução da biografia de Peter Hume Brown (1890)

 

 

AD EANDEM
 
Invida ne veterem tollant oblivia morem, 
        Haec tibi pro xenio carmina pauca damns 
Sunt mala; sed si vis, poterunt divina videri; 
        Nam nunc quod magno venditur ære bonum est. 
 
 
 
A good old custom should not cease ; 
      Receive these songs, then, as of old. 
Poor stuff ? But good or bad is now 
      Just what things fetch in weight of gold. 
 

Tradução da biografia de Peter Hume Brown (1890)

 

Em 1566 foi nomeado Principal do Colégio de S. Leonardo, na Universidade de St. Andrews. Também por essa altura saiu a edição completa da sua tradução dos Salmos, em edição de Christopher Plantin, Antuérpia, após uma primeira edição parcial, em Paris, em 1556. Na edição de Plantin, figura a dedicatória à Rainha Mary:

 

GEORGII BUCHANANI PARAPHRASIS
IN PRIMUM LIBRUM PSALMORUM

AD MARIAM ILLUSTRISSIMAM SCOTORUM REGINAM
GEORGI BUCHANANI EPIGRAMMA

 

 

Nympha, Caledoniæ quæ nunc feliciter oræ

Missa per innumeros sceptra tueris avos,

Quæ sortem antevenis meritis, virtutibus annos,

Sexum animis, morum nobilitate genus,

Accipe (sed facilis) cultu donata Latino 

Carmina, fatidici nobile regis opus.

Illa quiddem, Cirrha procul et Permesside lympha, 

Pæne sub arctoi sydera nata poli. 

Non tamen ausus eram male natum exponere fœtum,

Ne mihi displicant quæ placuere tibi. 

Nam quod ab ingenio domini sperare nequibant,

Debebunt genio forsitan illa tuo.

 

 

 

 

 

 

TO MARY 
 
MOST ILLUSTRIOUS QUEEN OF SCOTS. 
THE EPIGRAM OF GEORGE BUCHANAN. 
 
Lady, whose happy lot it is to wield 
The Scottish sceptre handed down to thee 
By an innumerable ancestry 
Thou to whose worth thy royal lot must yield, 
Who, in a soul by dauntless valour steeled, 
Thy sex excell'st, whose virtues would agree 
With riper years, in whom nobility 
Rarer than all thy kindred is revealed, 
 
Deign to accept these songs of kingly seer, 
Born in their Latin guise 'neath Northern Sky 
Remote from Cirrha and Castalian spring. 
And yet my ill-born offspring dared not I 
Expose to death lest thence I should appear 
Displeased with what to thee did pleasure bring: 
For what the author's wit may not bestow 
Haply the songs will to thy genius owe. 

 

Tradução de: Quatercentenary Studies

 

 

Ainda em 1567, foi publicado em Paris o seu livro de poemas, com Elegias, Silvas e Hendecassílabos.

Ainda em 1567, deu-se a morte de Darnley, o marido da Rainha, de quem era primo direito, e com quem ela havia casado em 29 de Julho de 1565. Três meses mais tarde, a Rainha casou com o Conde de Bothwell, protestante, que passava por ter sido o assassino de Darnley. Buchanan inverteu a sua posição em relação à Rainha e acusou-a com severidade no texto chamado Detectio Mariæ, sive de Maria, Scotorum regina, totaque ejus contra Regem conjuratione, fedo cum Bithuelio adulterio, nefaria in maritum crudelitate et rabie, horrendo insuper et de terrimo eiusdem parricido: plena et tragica plane historia (ver aqui). Em 1568, ele acompanhou o (mais tarde) Regente Conde de Moray a Londres para fazer a acusação contra ela à Rainha Elizabeth.

Logo a seguir, Mary foi deposta e presa em Loch Leven Castle e mais tarde em Inglaterra. Seu filho foi coroado como James VI (1567-1603), ficando o homem forte da Escócia, James Stewart, Conde de Moray, como Regente.  Buchanan foi nomeado tutor do Rei, cargo que desempenhou de 1570 a 1578. Como é evidente, a criança não gostava dele, até porque ele nessa altura era muito severo. Neste período, compôs ele duas importantes obras em prosa: De Jure Regni apud Scotos, um tratado sobre os limites do poder da monarquia, impresso em Edinburgh no ano de 1579 e, mais tarde, Rerum Scoticarum Historia, a história da Escócia. Estas obras foram consideradas na Escócia demasiado liberais e, por isso, foram proibidas.

Buchanan faleceu a 28 de Setembro de 1582.

Também a Igreja Católica teve o cuidado de banir a sua obra em 1581. A decisão foi repetida pelo Papa Sisto V em 1590 e Pelo Papa Clemente VII em 1596.

Das Obras Completas, existem duas edições, a primeira de 1715, publicada por Thomas Ruddiman em Edinburgo em 2 volumes, e a segunda em 1725, por Burman, em Lyon.

 

Outros poemas de George Buchanan, aqui                         

 

 

Anexo 1

 

Carta do Dr. Martim de Azpilcueta Navarro para a Rainha D. Catarina . 8 de Setembro de 1550

 

Señora,

Este peregrino encarcelado en su estudio, este dia jucundo del nacimiento de la virgen y madre suplica muy humildemente al amparo de los peregrinos, que es la Reyna Dona Catalina nuestra soberana señora, que se apiade dessos peregrinos maestros, que de aquí los llevaran presos, no para que las culpas, si las tienen tales, no sean castigadas, sino para que, si son tales, quales acá dizen, sean livrados presto y con su infamia continuada, non se acabe de infamar esta universidad vuestra Real, que aosadas, hora que esta ya harto manchada, con el augmento, que habían dado en Salamanca, deziendo y escribiendo a diversas tierras que han prendido a toda la universidad; aunque creo, que me habran dexado a mi fuera.

Aviso a V.A.  que la universidad ha recebido muy gran daño por todolos quatro cantones de España y aun por hartos de fuera della  porque nunca oy yo que en una sola vez, se prendiesen tres maestros lientes de una universidad por erejes, como selo dixe yo al inquisidor, que aca vino, que es mi oyente y señor antiguo.

Aviso mas a V. A. que este daño nengun otro remédio tiene sino procurar, que essos maestros, si no tienen culpas, o no tan graves, vuelvan aca a enseñar, como solian, por algunos meses y esto cumplia ala honra de los mesmos, Como selo escribo a mastre Nicolas, que es hijo dalgo, y compañero del Escocez rogándole mucho, que me crea, que cumple mucho ala honra de bucannano y suya, que se estén aca hasta navidad para restituir se la honra a si y a nos. Esto no es de los presos

Aviso mas a V. A. que algún dia respondió este peregrino a los de la inquisitión de Castilla  digo del consejo, que non havian de prender ni publicar por culpado de eregias a gran letrado renombrado, hasta tanto, que el mal por otra via secreta no pudiesse ser curado. Por el daño, que se haze a los, que ligeramente juzgan que algún camino de verdad llieva lo, que un gran letrado affamado afirma, poniendo se a peligro de prisión y aun porque los mismos letrados reciben mejor la corretión antes, que pierdan la honra, etc. Y pareció les bién

Bién se soberana señora, que he ido ado(nde) no me han llamado, y que mis ignorantias son poco utilies, pido perdón de la necedad que en esto he cometido por la buena voluntad y amor, que tengo ala universidad de Coimbra y su buena fama, y porl desseo que me queda de que todos los grandes letrados con grande y buena fama, serviessen mucho a la fuente de las letras IESV CHo por quen V.V. A.A. vivan in æternum, Amen.

La Real mano de V.A. muy humildemente veso

 

Martim

 

Sobrescrito:   A La Reyna

 

Torre do Tombo – Cartas missivas – maço 3, n.º 337

 

De: Mário Brandão, Alguns documentos respeitantes à Universidade de Coimbra na época de D. João III, pags. 38. Coimbra, 1937

 

 

 

Bibliografia

 

 

OBRAS CONSULTADAS

 

 

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Online: https://opacplus.bsb-muenchen.de

 

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Anonym, George Buchanan (1506-1582), Political Thought and History in Early Modern Europe and the Atlantic World

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Buchanan, George,  Rudimenta grammatices Thomae Linacri ex anglico semone in Latinum versa, interprete Georgio Buchanano Scoto, Parisiis, ex officina Roberti Stephani, 1533.

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Buchanan, George, De Iure Regni Apud Scotos Dialogus

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Buchanan, George, DE MARIA SCOTORUM REGINA (1571) DE MARIA SCOTORUM REGINA, TOTAQUE EIUS CONTRA REGEM CONIURATIONE, FOEDO CUM BOTHUELIO ADULTERIO, NEFARIA IN MARITUM CRUDELITATE ET RABIE, HORRENDO INSUPER & DE EIUSDEM PARRICIDO: PLENA & TRAGICA PLANE HISTORIA

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