D. João da Silva

4.º Conde de Portalegre

 

JOÃO DA SILVA IV. Conde de Portalegre naceo em a Cidade de Toledo no anno de 1528 sendo filho de D. Manrique da Silva Commendador de Guadalerça na Ordem de Calatrava, Regedor de Toledo, Mestre Sala da Emperatriz D. Izabel, e de Filippe II. e de D. Brites da Silveira, que de Portugal passou por Dama da Emperatriz D. Izabel quando se foi despozar com Carlos V. filha de Martim da Silveira Senhor de Terena, e de D. Caterina de Azambuja, que teve por Pais a Diogo de Azambuja Commendador de Cabeço de Vide, primeiro Capitão, e Conquistador de Safim, do Conselho dos Serenissimos Reis D. João o II. e D. Manoel, e a D. Leonor Botelho. Da fecunda arvore dos Silvas foi este Heroe pomposo ramo, que serve de ornato a Bibliotheca Lusitana por nacer de Mãe Portugueza. No primeiro crepusculo da idade deu claros argumentos de talento perspicas para comprehender as sciencias natural inclinação para cultivar as Musas, e prudente juizo para exercitar os maiores lugares assim militares, como politicos. Depois de ser Gentilhomem da boca de Filippe Prudente, e de seu filho o Principe D. Carlos, e militar algum tempo em a Praça de Orão foi mandado por aquelle Monarcha com o caracter de Embaxador Ordinario à Magestade delRei D. Sebastião de quem recebeo estimaçoens dignas da reprezentação da sua pessoa. A este Principe acompanhou na jornada, que fez ao Santuario de Guadalupe onde se avistou com seu Tio Felippe segundo, e assistio na infeliz batalha de Alcaser com D. Theodozio Duque de Barcellos da qual sahio ferido de huma bala em o braço esquerdo, que lhe ficou para sempre lezo. Restituido à liberdade como tivesse formado huma Junta Filippe Prudente para se tratar da sucessão de Portugal, a qual se compunha do Cardial D. Gaspar de Quiroga Arcebispo de Toledo, D. Luiz Fernandes Manrique IV. Marquez de Aguilar, e D. Antonio de Menezes, e Padilha Presidente de Ordens, foi D. João da Silva nomeado entre tão graves Ministros onde mostrou as prudentes maximas do seu juizo. Resoluto Filippe a passar armado a Portugal em o anno de 1580. o acompanhou já com o titulo de Conde de Portalegre, que herdara por morte de D. Alvaro da Silva avò de sua mulher, e juntamente o honorifico lugar de Mordomo mòr dos Reis de Portugal com o qual assistio em as Cortes celebradas em a Villa de Thomar no anno de 1581. Querendo aquelle Monarcha, que sucedesse ao Duque de Medina, e Sidonia em o governo do Estado de Milão, e não se effeituando, o nomeou Presidente do Conselho de Ordens de Castella de cujo emprego se escuzou ao Secretario Matheos Vasquez com o pretexto de ser aquella incumbencia totalmente contraria ao seu genio. Sendo Commendatario da Obraria em a Ordem de Calatrava, e Capitão General de Portugal com jurisdição em as Ilhas nos Assores, como o Archiduque Cardeal Alberto passasse do governo de Portugal para o dos Paizes Baixos, resoluto Filippe Prudente à imitação de que tinhão feito D. Sebastião, e D. Henrique nomear sinco Governadores para tratar de todos os negocios pertencentes a Portugual, e entre os quatro, que erão D. Miguel de Castro Arcebispo de Lisboa, D. Francisco Mascarenhas Conde de Santa Cruz, D. Duarte de Castello-branco Conde do Sabugal Meirinho mòr do Reino, e Miguel de Moura Escrivão da Puridade foi eleito o Conde de Portalegre, que entre Varoens tão illustres por sangue, e prudencia se distinguio pela sua grande capacidade. Dezejando acabar tranquillamente a vida, e preparar-se para a eternidade deixou todos os lugares, e retirado a Toledo lhe servio de tumulo o seu mesmo berço fallecendo nesta Cidade no anno de 1601 . Foi cazado com D. Filippa da Silva Condessa proprietaria de Portalegre, Senhora das Villas de Gouvea, S. Romão Moimenta, Valerim, e das Ilhas de S. Nicoláo, e S. Vicente filha unica de D. João da Silva, e Neta de D. Alvaro da Silva III. Conde de Portalegre Mordomo mòr da Caza Real de Portugal, e do Conselho de Estado, de cujo consorcio nacerão D. Diogo da Silva V. Conde de Portalegre: D. Manrique da Silva . Conde de Portalegre, primeiro Marquez de Gouvea Mordomo mòr da Caza Real; e Conselheiro de Estado: D. Alvaro da Silva Commendador de Torrova da Ordem de Calatrava: D. João da Silva Capellão mòr delRei Filippe III. e do Conselho Geral do Santo Officio; e D. Filippe da Silva Commendador de Terrova Gentilhomem da Camara de Filippe IV. Vicerei, e Capitão General de Catalunha. Foi instruido em todo o genero de erudição, e muito elegante, e discreto na Poesia vulgar sendo hum dos principaes collegas da Academia de que era Presidente o Duque de Alva D. Fernando de Toledo. Mostrou igual animo na prospera, e adversa fortuna conservando no coração, e no aspecto inalteravel serenidade ainda com aquelles  que lhe eram pouco afectos. Regulou as maximas politicas pelos dictames Evangelicos. Foi igualmente religioso para com Deos, como fiel para o seu Principe.

 

Das virtudes de que se ornou o seu espirito, são illustres pregoeiros Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 1. p. 597. col. 1.magni ingenii, perfecissimae eloquentiae, solertis judicii, miraeque in exponendis coram, aut per litteras animi sensibus, prudentiae, & urbanitatis fama clarus. Masseo Vit. del P. Soar. cap. 22.  Nulla meno insigne per 1' ampiezza de suoi stati, che per la sublimità de suoi talenti Iusto Lipsius Epist. Cent. ad Italos et Hispan.  Epist. 8. ad Antonium Covarruvias  escrita em Lovaina a 13 de Outubro de 1592. Illud in litteris tuis et novum, et jocundissimum de Viro Principe Ioanne Silva Comite Portalegrensi: quem non amicum solùm litteris, sed etiam nobis significas, rarum in illustribus illis hodie bonum. Atque is, quod meas etiam ad te miserit, quàm me devinxit? Si ocasio est, significa: et non moris diris que causa, sed ex pectore, pectus hoc illi dona. Salazar, i Castr.Hist. Gen. de la Caz. de Silva liv.4. cap. 16. Tuvo gran conocimiento de las Cosas de la antiguidad, y trató la lengua Castellana con mayor dulçura, y propriedad, que otro de los sabios de su tiempo, como se reconoce por diferentes papeles suyos que tienen su nombre, por otros que sin el le reconocen por su author.  Mendoça  Viridar. Sacr. et prophan. erudit. lib. 6. Orat. 20. Surculus mihi videtur hujus silvae felicissimus Illustrissimus Comes qui à Lusitania in Hispaniam propagatus, iterumque ab Hispania in Lusitaniam traductus utrumque solum, et Hispanum, et Lusitanum decoravit: et sicut inter Hispanos Proceres unus inventus est, qui Legatione apud augustissimum Regem Lusitaniae Sebastianum fungeretur; ita ò plane dignissimus inter Lusitanos Summates extitit, qui non solùm tergeminis, sed quatergeminis in Lusitania honoribus clareret. Nam et Comes fuit Portalegrensis, et supremus Lusitanae militae Praefectus, & maximus in domo regia Oeconomus, & aequissimus totius Regni Gubernator: cujus facta singularia libens in aures darem, nisi adhuc viva, ut recentia omnium ob oculos versarentur Cabrera Hist. de Filip. 2. liv. 13. cap. 5. p. 1125. e cap. 6. p. 1138 . Herrera Conq. de los Assor. liv. 3. pag.140. e 141. e na Hist. Gen. del mundo.  ,Part. 3. liv. 10. cap. 23. D. Agostin. Man. Suces. del Rein. de Portug. fol. 19.

 

Addicionou.

 

Terceiro livro da Guerra de Granada  escrita por D. Diogo de Mendoça do Conselho do Emperador Carlos V. seu Embaxador em Roma, e Veneza, Governador, e Capitão General de Toscana. Foi publicada esta addição por Luiz Tribaldos de Toledo Chronista mór de Indias  o qual a fol 100 da Impressão de Lisboa por Giraldo da Vinha 1627. 4. diz. El Conde de Portalegre D. Iuan da Silva con su gran juizio fue quien primero, y aun quien solo reparó en que faltava al fin deste libro tercero un buen pedaço de la historia: reparó, y reparola, haziendo una Epitome de la falta con tanta gallardia, y modestia como pudiera el proprio D. Diego de Mendoça porque en este genero de eloquencia y en suma gentileza, y cortezia fueron entre si tan parejos quanto superiores en de aquella edad. En pocos exemplares se halla esta addicion, si bien dignissima de que la lean todos. Nesta Historia acrecentada por D. João da Silva está impressa no principio huma Introdução sua à mesma Historia

 

Instrução que fez a seu filho D. Diogo da Silva quando o mandou para assistir na Corte. M. S. 1 Fallando desta obra o discreto Lourenço Gracian Criticon Part. 1. Crise II. Aqui está la juiziosa y grave instrucion del prudente Iuan de Vega a su hijo quando le embiava a la Corte. Realço esta misma instrucion que nó la comentó muy a lo Senor y Portuguez, que es quanto dezirse puede el Conde de Portalegre en semejante ocazion de embiar otro hijo a la Corte. Es grande obra, dixo el Cortezano, y sobrado grande, pues es solo para grandes Personages. e Part. 3. Crise 12. Y las hojas de la Instrucion, que dió Iuan da Vega a su hijo commentada, ó realçada por el Conde de Portalegre.

 

Cartas escritas a elRei, Archiduque, e outros Ministros sobre materias politicas. Escritas em lingua Castelhana que chegão ao numero de Quarenta. Conservãose na Livraria do Excellentissimo Duque de Lafoens que foi do Emminentissimo Cardial de Souza como tão bem.

 

Varias Poesias. M. S. Começão por este Soneto.

Quien eres hombre di ? soi tu hechura. Para que te hè criado ? para amarte &c

 

Cartas diversas escritas a varias Pessoas.

 

M. S.  Este Volume conservava com grande estimação D. Ieronimo Mascarenhas Bispo de Segovia, como escreve Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 1 . pag. 597 col. 2.

 

Dell' Unione del Regno di Portugallo a la Corona di Castiglia  Istoria.Genova por Girolamo Bartoli 1589. 4.  traduzida em Castelhano pelo Doutor Luis de Bavia Capellão delRei Catholico em a Real Capella de Granada.  Barcelona por Sebastian de Cormellas 1610. Esta obra que sahio com o nome de Ieronimo Franchi onestagio Cavalleiro Genovez he atribuida por muitos authores a D. João da Silva Conde de Portalegre sendo o mais empenhado nesta opinião Lourenço Gracian Criticon  :Part. 2. Crise 4. fallando das pennas dos Escritores diz. Las que parecian de unas aves eran de otras, con la que passó plaza del Conestagio en la Union de Portugal con Castilla, que bien mirada se hali no ser suya, si nó del Conde de Portalegre para deslumbrar la mas atenta prudencia.