20-4-2010

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JOSÉ ANASTÁCIO DA CUNHA (cont.)

(1744 - 1787)

 

TEXTOS CONSULTADOS

 

Lista do Auto-de-fé, de 11 de Outubro de 1778, no Pátio da Inquisição, em Lisboa – MS – BNP, Cod. 8042, fls. 44-47

 

José Anastácio da Cunha,  Princípios mathemáticos para instrucção dos alumnos do Collegio de São Lucas, da Real Casa Pia do Castello de São Jorge, Coimbra : Of. de António Rodrigues Galhardo, 1790

Online: http://purl.pt/13843/3

Online: http://gdz.sub.uni-goettingen.de/dms/load/img/?IDDOC=510906

 

Composições poéticas do Doctor Joseph Anastasio da Cunha, Tipografia Carvalhense, Lisboa, 1839

Online: http://books.google.pt

 

Principes Mathématiques de feu Joseph-Anastase da Cunha, traduits littéralement du Portugais, par J. M. d’Abreu, à Bordeaux, de l’Imprimerie d’André Racle

Online: http://books.google.pt

 

Cyrillo Volkmar Machado, Collecção de memorias relativas às vidas dos pintores, e escultores, architetos, e gravadores portuguezes, e dos estrangeiros, que estiverão em Portugal, seguidas de notas dos Dr. J.M. Teixeira de Carvalho e Dr. Virgílio Correia, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1922.

Online: www.archive.org  

 

João Pedro Ferro, O processo de José Anastácio da Cunha na inquisição de Coimbra (1778),  introd., transcrição e notas de Joäo Pedro Ferro, Palas Editora, 1987.

 

Maria Benedita Brando Albino, A expressão da sensibilidade nas “Obras Poéticas”, de José Anastácio da Cunha, Tese de licenciatura à Faculdade de Letras de Lisboa, 1957, 149 fol.

 

Biblioteca Nacional, José Anastácio da Cunha : (1744-1787) : matemático e poeta / Biblioteca Nacional ; org. Subcomissão de Lisboa para a Exposição de Homenagem a José Anastácio da Cunha, 1987, 152 pags.              

João Pedro Ferro, Cronologia, pags. 11 – 19

João Pedro Ferro, José Anastácio da Cunha (1744 – 1787) , pags. 25 – 38

Luis Saraiva, Alguns apontamentos sobre a produção poética de José Anastácio da Cunha, pags. 61 - 67

 

Anastácio da Cunha : 1744-1787 : o matemático e o poeta : actas / Colóquio Internacional ; coord. Maria de Lurdes Ferraz, José Francisco Rodrigues, Luís Saraiva ; org. Comissão de Lisboa de Homenagem a Anastácio da Cunha, Lisboa, INCM, 1990, Estudos Gerais, Série Universitária

 

Hernâni Cidade, A obra poética do Dr. José Anastácio da Cunha : com um estudo sobre o anglo-germanismo nos proto-românticos portugueses, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1930

 

Em homenagem a José Anastácio da Cunha / [org.] Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Univ. de Coimbra, 1989, 111 pags. : 

J. Tiago de Oliveira, Jozé Anastásio, o geómetra exilado no interior, pags. 55 – 77

Enrico Giusti, Universidade de Florença, Quelques réflexions sur les “Princípios » de Da Cunha, pags. 87-110

 

M. Castro Nunes, D. Frei Manuel do Cenáculo e José Anastácio da Cunha, in Bicentenário da morte de Anastácio da Cunha : matemático e poeta / [org.] Universidade de Évora, 1988, 269 p., pags. 258-269

 

Maria Fernanda Estrada, José Anastácio da Cunha: Vida e Obra, 1.º vol. pags. 99-129, in José Anastácio da Cunha / org. Universidade do Minho... [et al.], 2006, 2 vols. 1o v.: O tempo, as ideias, a obra. - XXII, 348 p. . - 2o v.: Os inéditos. - XI, 126 p.

  

Obra literária / José Anastácio da Cunha ; ed. Maria Luísa Malato Borralho, Cristina Alexandra de Marinho, Porto, Campo das Letras, 1.º vol., 2001, 2.º vol., 2006

 

António José Saraiva, Oscar Lopes, História da literatura Portuguesa, 5.ª edição, Porto Editora, 1967.

 

José Vicente Gonçalves, Relações entre Anastácio da Cunha e Monteiro da Rocha (1773-1786), in Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, tomo XXI, 1976-77, pags. 37-63.

 

The Gentleman’s Magazine and Historical Chronicle, Volume XLII for the year MDCCLXXII, by Sylvannus Urban, Gent. , London, pags. 519-520

Online: http://books.google.pt

 

Jacinto Almeida do Prado Coelho (1920-1984), Problemática da história literária, 2.ª ed., Lisboa, Ática, 1972.

 

João Gaspar Simões (1903-1987), História da Poesia Portuguesa: das origens aos nossos dias acompanhada de uma antologia, 3 vol., Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1955-1959

  

Inocêncio Francisco da Silva (1810-1876) e outros, Diccionario Bibliographico Portuguez: estudos applicaveis a Portugal e ao Brasil, Imp. Nacional, 1858 – 1958, tomo II, 446-457 e tomo IX, 332-336.

Online: http://books.google.pt

 

Fernando Pessoa, Páginas de estética e de teoria e crítica literárias, Textos estabelecidos e pref. por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, 2.ª ed. , Lisboa, Ática, 1973.

 

Hernâni Cidade (1887-1975), Lições de cultura e literatura portuguesas, 4.ª Ed., Coimbra Editra, 1959

 

Aquilino Ribeiro, Anastácio da Cunha, o Lente Penitenciado, Liv. Bertrand, Lisboa, 1940

Online: http://cvc.instituto-camoes.pt/index.php?option=com_docman&task=view_cat&gid=59&Itemid=69

 

Lista do Auto da Fé de 11 de Outubro de 1778 (truncado)

Online: http://digitarq.dgarq.gov.pt/default.aspx?page=regShow&ID=4499425&searchMode=

 

Lista das pessoas, que saíram no Acto da Fé em 11 de Outubro de 1778, e penitências, que tiveram (Manuscrito)

Há duas listas com os mesmos penitentes e redacções diferentes.

Online: http://almamater.uc.pt

 

O Instituto, vol. V – 1857, Notas ao Ensaio sobre principios de mechanica, obra posthuma de José Anastacio da Cunha

Online: http://bdigital.sib.uc.pt/institutocoimbra/UCBG-A-24-37a41_v005/UCBG-A-24-37a41_v005_item1/index.html

 

António Baião, Episódios dramáticos da Inquisição Portuguesa, Porto, Renascença Portugueza, 1919, 2.º vol., pags. 82-100

Online: www.archive.org

 

Teophilo Braga, História da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza, Porto, Chardron, 1898, Tomo III, pags. 611-636

Online: www.archive.org

 

António José Teixeira, Questão entre José Anastasio da Cunha e José Monteiro da Rocha, in O Instituto, vol. 38, 1891

Online: http://bdigital.sib.uc.pt/institutocoimbra/UCBG-A-24-37a41_v038/UCBG-A-24-37a41_v038_item1/index.html

 

António José Teixeira, Ultimos instantes de José Anastasio da Cunha, in O Instituto, vol. n.º 43, 1896

Online: http://bdigital.sib.uc.pt/institutocoimbra/UCBG-A-24-37a41_v043/UCBG-A-24-37a41_v043_item1/P919.html 

 

António José Teixeira, Questão entre José Anastácio da Cunha e José Monteiro da Rocha, Jornal litterario: periodico quinzenal destinado a artigos de litteratura, Coimbra, 1869, Pags. 97 105 125 129 139 147 156 165

Online: http://books.google.pt

  

Teófilo Braga, Filinto Elísio e os Dissidentes da Arcádia, Porto, Lello & Irmão, 1901

Online: www.archive.org

 

Projecto Vercial

Online: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/cunha.htm

  

Camilo Castelo Branco:

O Doutor Botija, Noites de insónia n.º 9

Online: http://www.gutenberg.org/files/28155/28155-h/28155-h.htm

Resposta de José Anastácio da Cunha, Noites de insónia n.º 10

Online: http://www.gutenberg.org/files/28201/28201-h/28201-h.htm

Auto da Fé a rir, Noites de insónia n.º 11

Online: http://www.gutenberg.org/files/28206/28206-h/28206-h.htm

 

Camilo Castelo Branco, Curso de Literatura Portugueza, Lisboa, 1875-1876, 2 vols.

Online: www.archive.org

 

Marquês de Resende, Pintura de um outeiro nocturno, Academia Real das Sciências, Lisboa, 1868.

Online: http://books.google.pt

 

Francisco de Borja Garção Stockler, Ensaio histórico sobre a origem e progressos das Mathematicas em Portugal, Paris, P.N. Rougeron, 1819.

Online: http://books.google.pt

 

Collecção de poesias inéditas dos melhores auctores  portugueses, editada por José Balbino de Barbosa e Araújo, 1.º vol., 1909.

Online: http://books.google.pt

 

Jaime Carvalho e Silva, Índice de trabalhos

Online: http://www.mat.uc.pt/~jaimecs/index.html

 

José Anastácio da Cunha – Lista de textos de João Filipe Queiró

Online: http://www.mat.uc.pt/~jfqueiro/jacunha.html

 

Luis Filipe Queiró, José Anastácio da Cunha, um matemático a recordar 200 anos depois, in Boletim da Sociedade Portuguesa de Matemática, 29, Setembro 1994, 1-18

Online: http://www.mat.uc.pt/~jfqueiro/cunha.pdf

 

Jaime Carvalho e Silva, José Anastácio da Cunha, uma tragédia eterna

Online: http://www.mat.uc.pt/~jaimecs/pessoal/acunha.html

 

João Filipe Queiró, Duas ou três histórias da História da Matemática, in Gazeta de Matemática, 138, p. 13-24, January 2000

Online: http://www.mat.uc.pt/~jfqueiro/morgado5.pdf

 

Jaime Carvalho e Silva, A cultura das Matemáticas em Portugal nos séculos XVII e XVIII

Online: http://www.mat.uc.pt/~jaimecs/livrogt/3parte.html

 

Jaime Carvalho e Silva, Vicente Gonçalves e a História da Matemática em Portugal, Conferência proferida na sessão de homenagem a José Vicente Gonçalves que teve lugar no Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra no dia 4 de Dezembro de 1996, in Boletim da SPM,  1997, nº 37, pg. 47-55  

Online: http://www.mat.uc.pt/~jaimecs/pessoal/vg.html

 

João Filipe Queiró, Minas: da teoria à prática, Recensão  «Ensaio sobre as Minas, de José Anastácio da Cunha,  (Leitura, introdução e notas de Maria Fernanda Estrada)», in Boletim da SPM nº 30, p. 79-80, December 1994.

Online: http://www.mat.uc.pt/~jfqueiro/MINAS.pdf 

 

Jaime Carvalho e Silva, A história da Matemática e o ensino da Matemática

Online: http://www.mat.uc.pt/~jaimecs/pessoal/histmatprogr1.html

 

Jaime Carvalho e Silva, A história da Matemática no ensino da Matemática

Online: http://www.mat.uc.pt/~jaimecs/mhist.html

 

P. Youschkevitch A., . J. A. da Cunha et les fondements de l'analyse infinitésimale. In: Revue d'histoire des sciences.1973, Tome 26 n°1. pp. 3-22.

Online: http://www.persee.fr/articleAsPDF/rhs_0151-4105_1973_num_26_1_3310/article_rhs_0151-4105_1973_num_26_1_3310.pdf

 

P. Youschkevitch A., . C. F. Gauss et J. A. da Cunha.. In: Revue d'histoire des sciences. 1978, Tome 31 n°4. pp. 327-332.

Online: http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/rhs_0151-4105_1978_num_31_4_1595

 

F. Gomes Teixeira, Sobre uma questão entre Monteiro da Rocha e Anastácio da Cunha, in Annaes Scientificos da Academia Polytecnica do Porto, Volume I, 1905, pags. 7-15

Online: www.archive.org

 

Pedro Vilas Boas Tavares, Da reforma à extinção: a Inquisição perante as “Luzes” (dados e reflexões) in  Revista da Faculdade de Letras “Línguas e Literaturas”, Porto, XIX, 2002, pags 171-208

Online: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4763.pdf

 

Luis A. de Oliveira Ramos, A irreligião filosófica na província vista do Santo Ofício pelos fins do Século XVIII (tentativa de exemplificação)

Online: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2108.pdf

 

Luis A. de Oliveira Ramos, Sobre os ilustrados da academia de Coimbra, in Estudos em homenagem a João Francisco Marques, II, p.311-326, 2001.

Online: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2877.pdf

 

Luis A. de Oliveira Ramos, Portugal e a Revolução Francesa (1777-1834), in Revista da Faculdade de Letras : História, 07, 1990, p.155-218

Online: http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/8911/2/2218.pdf

 

Maria Luísa Malato Borralho, Teodoro de Almeida: Entre as histórias da História e da Literatura», Sep. Estudos em Homenagem a João Francisco Marques, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2001, 219-220;

Online: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2833.pdf

 

António Ferreira de Brito, Universidade do Porto, Faculdade de Letras, Voltairofobia e voltairofilia na cultura portuguesa dos séculos XVIII e XIX : os tempos e modos, Revista Intercâmbio, 1990, pags. 9-40

Online: http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/9257/2/5576000064260.pdf

 

Anastácio Joaquim Rodrigues, Principios Mathematicos de Joze Anastacio da Cunha”, in O investigador Portuguez em Inglaterra, vol. V, n.º XX, Fevereiro de 1813, p. 536

 

Anastácio Joaquim Rodrigues, “Reflexoens em defeza dos Principios mathematicos do Dr. José Anastasio da Cunha censurados no Revisor de Edinburgo em Novembro de 1812”, Correspondência, in O investigador Portuguez em Inglaterra, vol. VII, n.º XXV, Julho de 1813, pp. 21-45

 

José Manuel de Abreu, “Notas de João Manoel de Abreu sobre varios lugares da censura dos Redactores do Edimburgo aos Principios Mathematicos de Joze Anastacio da Cunha, para servirem de Supplemento ao Prologo da segunda edição dos mesmos Principios”, Sciencias, in O investigador Portuguez em Inglaterra, vol. VIII, n.º XXX, Dezembro de 1813, pp. 235-249; idem, n.~XXXI, Janeiro de 1814, pp. 442-455; idem, n.º XXXII, Fevereiro de 1814, pp. 612-623.

 

Francisco Borja Garção-Stockler, Ensaio histórico sobre a origem e progressos das Mathemáticas em Portugal, Paris, 1819

Online: http://books.google.com

 

 

 

 

POESIAS DE JOSÉ ANASTÁCIO DA CUNHA

 

 

Índice:

 

Sonetos:

Copado, alto, gentil Pinheiro Manso

Oh, como tu quem de Anjo a formosura

Em ti mil graças sempre estão chovendo

Ondeados, lindíssimos cabelos,

Vão-se os leves instantes, vão-se as horas

Contra o poder de vossas mãos, senhora,

 

VERITATI SACRUM

A noite sem sono

O abraço

Traduções:

Monólogo de Alzira - Voltaire

Deo, Optimo, Maximo - Alexander Pope

 

 

 

Copado, alto, gentil Pinheiro Manso;

Debaixo cujos ramos debruçados

Do sol ou lua nunca penetrados,

Já gozei, já gozei mais que descanso...

 

Quando para onde estás os olhos lanço,

Tantos gostos ao pé de ti passados

Vejo na fantasia retratados,

Tão vivos, que jamais de ver-te canso!

 

Ah! deixa o Outono vir; de um jasmineiro

te hei-de cobrir, terás cópia crescida

De flores, serás honra deste outeiro.

 

E para te dar glória mais subida,

No meu tronco feliz, alto Pinheiro,

O teu nome escreverei de Margarida.  

 

 

 

         Oh, como tu quem de Anjo a formosura
E as expressões de Serafim tivera!
         Cada instante iguais provas de ternura
E glória igual à que me dão te dera.

 

         Do nosso Amor, em mim resplandecera
Como em ti a intensíssima luz pura,
         E ouvir da tua boca a conjectura
De que em Amor m’ excedes não temera.


         Vem de todo para este peito teu!
Vem por estes teus Olhos contemplar
Com que mimo me dizes: —
Não és meu?

 

         E ouvindo-te a ti mesma pronunciar
Meu Bem, eu não sou tu? tu não és eu?
Vê se menos do que amas posso amar.

 

Em ti mil graças sempre estão chovendo;

          Se falas, graças mil se estão ouvindo:

         Mil graças nessa boca se estão rindo,

         Graças mil nesses olhos se estão vendo.

 

Umas beijam-te as mãos; outras, correndo

         A teus mimosos pés, te vão seguindo;

         Umas por tuas faces vêm subindo,

         Outras por teus cabelos vêm descendo.

 

Não são só Três as Graças! Milhões delas

         Que te acompanham a gentil figura

         Ficam, postas em ti, sendo mais belas.

 

Já quis contá-las; mas achei loucura,

         Que é reduzir a número as Estrelas

         Contar as graças nessa formosura.

 

 

Ondeados, lindíssimos cabelos,
         Um rosto encantador, enamorado,
         Em cada face um pomo sazonado
         Das purpúreas flores são modelos.

 

Um meigo coração que faz ter zelos
         Ao coração mais terno e sossegado;
         Uma voz carinhosa, um doce agrado,
         Um riso natural, uns dentes belos.


Tudo possui Marfida! Oh! quem pudera,
         Doces prisões rompendo do segredo,
         Explicar-te a paixão que na alma impera.

 

Enfim, voltar-se a voz... mas, oh! que medo,

         De mais um desengano que me espera,

         Mais imóvel me deixa que um rochedo.

 

Vão-se os leves instantes, vão-se as horas
         Que vivo sempre em tristes esperanças;
         Sem que tuas injustas esquivanças
         Deixem de ser de mim perseguidoras.


Diz, alma gentil, porque demoras
         Minha sorte feliz? porque descansas?
         Acaso tens de mim desconfianças?
         Inda a firmeza de meu peito ignoras?


Ah! quão louco te ilude o pensamento...
         Mas para que não julgues que te engano,
         Escuta meu sincero juramento:


“Se eu deixar de te amar, se for tirano,
         Contra mim seja o Céu, Mar, Terra e Vento
         Conspirados por ti, sempre em meu dano”.

 

 

Contra o poder de vossas mãos, senhora,

         Quem há-de resistir? Se basta vê-las

         Para morrer de amor, por gosto, nelas;

         Para vos declarar por vencedora.

 

A mesma Natureza se enamora

         De tão formosas mãos, de mãos tão belas;

         E, se eu sou digno de jurar por elas

         Juro que outras iguais não faz já agora.

 

Por elas deixa Amor da Mãe os braços,

         E, beijando-as, os férreos passadores

         Nelas vos põe já feitos em pedaços.

 

Pois acha vossas mãos mais superiores,

         Mais suaves farpões, mais doces laços

         Para prender, para matar de amores.

 

 

 

               VERITATI SACRUM

 

Filha dos Céus! Verdade augusta e santa!
Mãe das Virtudes, seu arrimo e base,
Mérito de quem te ama e recompensa!
Ouve-me……………………………………………

…………………………………………………………..
Meus ardentes suspiros, minhas vozes.
Do mais alto dos céus que eterna habitas,
Um dos brilhantes, majestosos raios
Que a cabeça te cercam descer vejo
Rompendo espessas nuvens tenebrosas.
Meus sentidos penetra e a alma toda
Me inunda de perene claridade.
Eu vejo a maior parte dos humanos
Que ou vegeta ou delira. Sim, vegeta
Dos míseros mortais a maior parte.

À mesa, ao baile, à ópera, à assembleia,
Atrás dos outros vai como as ovelhas.
Obra maquinalmente e disso que obra
Nem sequer faz ideia, ao seu discurso
Exercício não dá, nem que o tem sabe.
Tristes! Nunca os seus olhos brilhar viram
De teu preclaro fogo um leve raio.
Cheia…………………………………………………....
……………………………………………………………..
Ao menos na loucura que os agita
Mais pacíficos são e mais humanos
Os que a gente vulgar chama filósofos:
Inda que os vês com furioso aspecto
E lançando dos olhos vivo fogo,
Quais do bom tempo andantes cavaleiros,
Bravo mantenedor, bravo padrinho,
E venham da outra parte os que vierem:
Não te assustes, que a guerra é de palavras
Somente; e o mais que fazem os bons homens
E c’os seus gritos atroar a abóbada
De uma classe, e, a poder de feros murros
E sonoras palmadas espantosas,
Quebrar banco, cadeira e tudo quanto
Ao pé deles se achou, e a mais não passam.
Ah! de tão estrondosos e altos feitos
Produza a Natureza um cantor digno
E também para vós haja um Cervantes
……………………………………………………………..

…………………. cabalistas e mil outras
Diferentes espécies de fanáticos,
Cuja imensa e vã turba flutuando
Vejo no vasto mar de tantos séculos...
………………………………………………………….
Ó António José doce e faceto!

Tu que foste o primeiro que pisaste
Com mais regular soco a cena lusa,
o povo de Lisboa mais sensível
Foi na plateia aos teus jocosos ditos
Que……………………………………………….
………………………………………………………
Ó Bosques! Ó lugares solitários,
Onde criado fui longe da corte,
Longe do seu tumulto e seus enganos
Sentado à vossa verde, fresca sombra,
Respirei sempre um ar sereno e puro,
Nunca de maus vapores carregado.
A Preocupação fera e potente
Nunca imprimir se viu na vossa areia
o imperioso pé; nunca me lembra
Que a sombra do seu corpo agigantado
Roubar-nos fosse as luzes da verdade.

Permite que te of’reça o sangue e a vida
Quando preciso for, e aceita, em tanto,
De um coração que a ti também consagro,
Liberi sensi in semplici parole.

 

 

 

            A NOITE SEM SONO

 

Imagem!, não por destra mão pintada,
Ou em precioso mármore lavrada,
Mas por mãos da Virtude e Formosura
Numa alma impressa, aos Deuses graças, pura!
Imagem que o meu Bem agora ausente,
Ofereceis aos olhos meus presente;
Causa única da minha Distracção,
Minha doce e mais séria ocupação!
No sono, a noite, ou no ocupado dia,
Sempre desta sua Alma companhia,
Desta sua Alma, para amar nascida,
Contigo ao menos sempre, sempre unida,
A cuja vista a mais severa Pena
Do semblante enrugado o amor serena;
Do teu Resplendor cego, já não vejo
Da fortuna outros dons, nem os desejo.
Quanta me dá suave recompensa
Sua mais que belíssima Presença!

Virtude, Graça, Engenho, Amor, Pureza,
E em que grau! — quase excedem a beleza!
A Beleza, que só converteria
o duro gelo em fogo, a noite em dia.

 

Oh, olhos! Oh, luz lânguida e divina,
Que o mais sublime e puro amor me ensina!
Que ao estúpido Mopso não agrada,
Pelo desprezo seu melhor louvada!
De olhos vulgares pode o movimento
Desejos acender por um momento;
Olhos vulgares matarão de Amores,
Vida e Amor dão vossos resplendores.
Olhos! em cuja doce claridade
A Alma exala a Celeste suavidade!
Olhos, Olhos!... oh céus!, vós que os fizestes,
Vós o nome dizei que então lhes destes!

 

Oh, Imagem! Princípio da atracção,
Que invencível me leva o Coração!
Leva-o - ou ele mesmo alvoraçado
Voa para o seu Bem mais que adorado!
Quantas vezes pergunto, estupefacto,
Se és da Virtude ou do meu Bem retrato.
E uma voz dentro d’Alma, não sei donde:
Pois não é tudo o mesmo? — me responde.
Tu, que a Virtude amado tens, sem vê-Ia,
Vê no teu Bem agora quanto é bela.

Começa a dar-te a paga merecida,
Benigno o céu, de urna inocente vida.
Do céu murmurar deixa o Vulgo rude:
Vê na Virtude o prémio da Virtude.

  

Voz íntima, e por certo mais que humana,
Se o Céu aos Inocentes não engana,
Como de me enganar posso ter susto,
Se me prova tal voz que o Céu é justo?.. .
Voz! quanto mais te escuto, mais me animas
A amar o Bem mais a Alma me sublimas.
Original desta Imagem encantadora,
Que do Sono me está privando agora,
Objecto amabilíssimo, inefável,
Cada dia, hora, instante, mais amável
Se hoje em sonhos não queres ser amada,
Voe a ti toda esta Alma arrebatada!
A força aumenta da Atracção possante:
Goza, de todo goza o teu Amante
E unidos ambos... — Oh!... e estás tão perto,
Meu Bem!... Deliro, ou sonho ou’stou desperto?
Ambos unidos em mimoso Laço,
Faces, bocas unidas... Ah! que faço?...
E ar... Quando que a abraço me parece,
A mim me abraço e em Ar se desvanece!
Mas que duvido com Abraço estreito
Cingir-me!... diz não és seu, meu Peito?

 

Oh, meu encanto! — Oh, diz-me: esquecida
Poderás ser ainda além da vida?
Pode do tempo a mão pungente e dura
Na minha Alma apagar tua figura?
Se altas montanhas entre nós se erguerem,
Largos Rios com ímpeto correrem...
Se espessas Selvas nunca penetradas,
Campinas cruelmente dilatadas,
E outras Selvas depois, outras Campinas,
Famintas feras e Nações ferinas
Entre nós estender Fado tirano...
Se bramar entre nós todo o Oceano,
Se entre nós se meter inexorável
Da Terra a Curva Espádua impenetrável...
Dize, meu Bem, dize-o tu só: e há-de,
Em toda a inteira angústia da saudade,
Perfeita angústia, angústia sem mistura,
Ensopada em mortífera amargura!,
Há-de a Imagem, que está também gravada
Na fantasia mais que namorada,
Fugir-me?... Oh! Julgas tu que há-de somente
Começar a apagar-se levemente?
Deixará tua falta de a avivar
Cada vez mais, por mais m’ atormentar?
Cada vez mais co’a fria, negra mão,
Deixará de apertar-me o Coração?
Se só lembrada faz que uma Alma forte,
Afeita há muito a desprezar a morte,
Treme, gela e desmaia espavorida,
Pode deixar de me matar, sentida?

Ou se talvez então mais ocupado
Em adorar-te, quanto mais lembrado,
A tua imagem todo unido, absorto,
E a tudo o mais cego, insensível, morto,
Me correra o tempo docemente,
Quase sem advertir que estás ausente?

 

Ah! Eu vejo a Alma ansiada que flutua,
Entre a Imagem presente e a ausência tua!
Quando aquela consola, esta atormenta,
Devora-me uma, a outra me alimenta.
Qual vencerá?... Sois justos, Céus Supremos?
Se o sois, ah! nunca, nunca o saberemos.

Vai voando o vulgar, grosseiro Amor,
Qual Borboleta vã, de flor em flor:
Vê Luz, e a ela namorada corre
Goza-a queimando-se, e em gozando-a morre.
Chama que consumindo resplandece
E co’alimento que queimou, fenece.
De gozar só tem vida na esperança:
Que muito que se extinga assim que alcança?
Quem abrasa do Vulgo o Coração
Não é Amor: feros desejos são.
Da espécie são do sono, sede ou fome,
Nem merecem de Amor o Sacro nome.
Não, não merecem. — Neles nascimento
Tem dos tormentos o pior tormento.

 

Os loucos, torpes, vis infernais zelos,
Dize: capazes somos nós de tê-los?

Oh! que mal sabe o Vulgo dos Amantes
Quanto do que é Amor estão distantes!...
Amor! Nome suavíssimo e Sagrado,
Pelo Vulgo à loucura e ao vício dado!
O Amor profanam por diversos modos, .
Ou ao menos o ignoram quase todos.
Uns o pintam Rapaz, Cego, Frecheiro;
Tirano outros, ou vil Interesseiro:
E os poucos bons que extática Amizade
O crêem, quanto inda distam da verdade!
Divina Força, Espírito Celeste,
Que só de te sentir poder me deste!
Se para aliviar o Coração
Da pesada, suavíssima opressão,
Pudera com palavras explicar-te
Ou nos suspiros e olhos meus pintar-te;
Se conhecer-te o mundo vão pudera,
Para a Virtude atrás de ti correra!
Mas oh! quem sem virtude pode ver-te?
Quem sem sentir-te pode conhecer-te?

Ah! do meu Bem no angélico Semblante,
Com que glória o admiro radiante!
Amor d’espécie mais sublime e pura,
Respira quanto em sua formosura
A minha Alma contempla quase louca:

Face atractiva e atractiva boca,
Rosto que encanta, afável ou sisudo,
Olhos, palavras, movimentos, tudo!
Pode esquecer-nos nunca aquele dia,
Em que por mais que humana simpatia,
Sentimos nossas Almas atraídas
E para sempre, para sempre unidas?
Tosca, estreita Palhoça afortunada,
Em que a nossa união foi celebrada!
Tosca, estreita Palhoça!, em ti contemplo
De todo o Mundo o mais Augusto Templo!
Que mais augusto e esplêndido Aparato?
Que mais solene e respeitável Acto?
Oh Céu!...(Diz, meu Bem, do Céu não vias
A mão em tudo quanto em nós sentias?)
Sim; nosso Amor o Céu nela aprovou,
As mãos e Almas o Céu nos enlaçou.
Pergunte o Vulgo vão que Amor jurámos,
Que fé? — Demos as mãos e suspirámos.
Querer prender do Instinto a Liberdade
Com promessas: ridícula vaidade!
Os loucos juramentos dos humanos
São cruéis, mas fraquíssimos Tiranos.
Amor, se o Mundo vis prisões lhe tece,
Sacode as asas e desaparece.
Jurar?... e o quê? Qualquer de nós não via
Tão claro no outro quanto em si sentia?
Cheio de Amor, admiração, respeito,
Quando a mão me tomou e a uniu ao peito,

Não via (oh, Céus!) não via a Luz divina,
Que de dentro da Forma cristalina,
De glória enchendo quanto a rodeava,
A virtude, que a anima, derramava!
Não via absorto a afável Majestade,
O Amor, Amor angélico!, a verdade?

 

Goza, meu Bem, enquanto a Sorte avara
Com tanta Crueldade nos separa;
Goza do alívio que nos concedeu
De dizer com certeza: — É minha! É meu.
E se é força que até ao fim da vida
Tão injusta distância nos divida,
Morramos, quando grato aos Deuses for,
Nalgum transe suavíssimo de Amor.
Viveremos então (a Alma o afirma,
E inda mais o Amor nosso o confirma)
Livres de todo o humano, injusto laço,
Num sempre estreito, amante, eterno abraço.

 

 

                          O ABRAÇO


          “Alta rocha, sustém-me, que esmoreço!
De amor não sei se estou para expirar...
Como me anseia!... Enquanto em vão faleço
Co’a Noite quero aqui desabafar.

 

         Oh, meu... Oh, meu Amor! onde fugiste?

Onde estou eu agora, e aonde estava?
A Alma começa a conhecer que existe,
Que até agora sabia só que amava.

 

         Não estive num Mar quase afogado,
De inefável, Angélica ternura?
Respiro apenas: inda estou cercado
De estranha, grossa névoa de Luz pura
...


         De Amor prodígios inda não ouvidos,
Que absorto sinto e que entender não sei!
Solta-se-me a Alma dos mortais sentidos,
Ou acordo de um sonho?... Ah! não sonhei.

 

         Não, não sonhei: que estes teus braços vejo
Inda na acção de te abraçar pasmados.
Não sonhei, não: que inda o Celeste beijo
Gozo nos lábios mais que namorados.

 

         Sinto estalar-me docemente o peito
Co’os ímpetos de um Coração que é teu;
Coração que em Amor se viu desfeito,
Na doce vizinhança desse meu.

 

          Oh!, guarda, Mundo vão, tua riqueza:
Que vale o Ouro e Jóias que conténs?
À vista da Virtude e da beleza,
Que vale o que da sorte chamam bens?

 

         Mortais, que ou da Fortuna os grossos mares

Com risco vosso e alheio mal cortais,
Ou do vão fanatismo nos Altares
Ensanguentado incenso vil queimais;


         Interesseiro vulgo dos Amantes
Só de si realmente namorados
E quantos, ou de maus, ou de ignorantes,
Atrás dos Vícios correm desgarrados!

 

         Se é certo que só vista a formosura
Da virtude emendara os Viciosos,
Oh! do Mundo e de Vós para ventura,
Vede o meu Bem — e sede virtuosos!

 

         O feio, o negro fumo, o leve vento
Da glória, que cuidais no Mundo achar,
Vereis desvanecer-se num momento,
À vista da de ouvi-la e a contemplar.

 

         Pompas do Mundo, gostos tão buscados,
Que recreio encontrar em vós podemos,
Se um n’outro sempre, sempre embelezados
Excepto nós, do Mundo nada vemos?

 

         Se aqueles que o sublime, o só louvável
Gosto de gosto dar nunca sentiram,
De nossos castos mimos a inefável
Suprema glória viram! — Ah! Se a viram!...

 

         Mas não; porque debalde esperaria
Nosso amor abrandar Almas tão duras;
E aprovação completa encontraria
Entre os Anjos e inteligências puras.

 

         E não crês tu que um Coro de Amorosos
Serafins sempre nos rodeia e ouve,
Com os gentis Espíritos ditosos
De alguns Amantes como nós, se os houve?

 

         Se os houve!... Oh! cuidas tu que se acharia,

Ou no Mundo ou do Mundo nos anais,
Quem milagrosamente saberia
Tanto e tão gentilmente amar jamais?

 

         Não vês inda de gosto sufocados
E um no outro nossos peitos esculpidos?
Não sentes nossos Rostos tão chegados
E ainda mais os Corações unidos?

 

         Oh, mais, mais do que unidos! Tu fizeste,

Doce encanto!, que eu fosse mais que teu!
Lembra, lembra-te quando me disseste:
— Meu bem! Eu não sou Tu? Tu não és Eu?

 

         Faz de duas vizinhas gotas de água
Uma só a invencível atracção:
Forma Amor em celeste, ardente frágua
De nossos Corações um Coração.

 

         Mesma vontade, mesmo pensamento,
Mesmos desejos, mesmo terno ardor;
Somos, enfim, (que glória e que portento!)
Não dois Amantes — mas um mesmo Amor!

 

         Oh, glória incompreensível! Quem me dera
Palavras dignas do que amor me influi!
Ou as tuas, meu Bem! E então dissera
Quanto num breve abraço amor inclui!

 

         Num breve abraço! Oh, céus!, e porquê breve?
Sois bons, e até à morte não durou?
Tudo podeis, e a opor-se há quem se atreve
A vossa mão, que as Almas nos ligou?

 

         Ímpias Leis e Costumes dos humanos!

Que um inocente abraço embaraçais,
Tão diverso dos gostos vis, mundanos,
Como de pejo as faces não corais?

 

         Só de abraçar-te a glória aos Céus, e ao Fado

Peço, para antes e depois que expire.
No seio da Virtude reclinado,
A que mais glória quererão que aspire?

 

         Sim, do terrestre corpo libertados,
Viver, enfim (que Amor, que o diz, não mente)
De Deus no seio iremos abraçados
Doce, estreita, contínua e eternamente!”

 

         Isto dizia um tão perfeito Amante,
Que nem tempo presente nem passado,
Nem mostraram ainda semelhante
Fábulas de Poeta namorado.

 

         No golfão de tão grata Eternidade
Com a Contemplação se submergiu
Embebido na quase Realidade,
Até que a Aurora ao Sol a porta abriu.

 

         O misérrimo, o triste Amante mal sonhava
Que, de dentro da horrenda Escuridão
De uma nuvem infernal, já levantava
Sobre... ele a Desventura cruel mão.

 

         Todo o seu gosto, que empregado tinha
No agrado do seu Bem, todo o perdeu.
Perdeu a glória de dizer: — É minha,
Só se aviventa com dizer:
Sou teu.

 

 

 

 

TRADUÇÕES

 

 

 

 

ACTE TROISIÈME.

SCENE I.

ALZIRE.

 

 

Mânes de mon amant, j'ai donc trahi ma foi!

C'en est fait, et Gusman règne à jamais sur moi !

L'Océan, qui s'élève entre nos hémisphères,

A donc mis entre nous d'impuissantes barrières ;

Je suis à lui, l'autel a donc reçu nos vœux,

Et déjà nos serments sont écrits dans les cieux!

toi qui me poursuis, ombre chère et sanglante,

A mes sens désolés ombre à jamais présente,

(Hier amant, si mes pleurs, mon trouble, mes remords,

Peuvent percer ta tombe, et passer chez les morts ;

Si le pouvoir d'un Dieu fait survivre à sa cendre

Cet esprit d'un héros, ce cœur fidèle et tendre,

Cette âme qui m'aima jusqu'au dernier soupir,

Pardonne à cet hymen où j'ai pu consentir!

Il fallait m'immoler aux volontés d'un père,

Au bien de mes sujets, dont je me sens la mère,

A tant de malheureux, aux larmes des vaincus.

Au soin de l'univers, hélas! où tu n'es plus

Zamore, laisse en paix mon âme déchirée

Suivre l'affreux devoir où les cieux m'ont livrée ;

Souffre un joug imposé par la nécessité;

Permets ces nœuds cruels, ils m'ont assez coûté.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

VOLTAIRE

Alzira, Acto III, Cena 1

 

Meu morto amante! enfim pude ser falsa

À fé que te jurei – Não tem remédio

E a Gusmão para sempre estou sujeita!

Esse mar, que entre os nossos hemisférios

Se levanta, separação baldada,

Enfim, para nós foi: sou sua; os votos

Ouviu o templo enfim, e estão escritos

Já lá nos céus os nossos juramentos!

Oh tu, que me não deixas, oh! Querida

Ensanguentada sombra! Oh! Sombra sempre

Presente a meus sentidos lastimados!

Caro Amante! se podem minhas lágrimas.

A perturbação minha, meus remorsos

Penetrar teu sepulcro, e à morada

Chegar dos mortos; se há um Deus que possa

Fazer viver depois de feito em cinza

Aquele espírito tão heróico, aquele

Coração tão fiel e mavioso,

Aquela Alma que até o derradeiro

Suspiro me quis bem – este Consórcio

Me perdoa, em que enfim consentir pude.

Sacrificar-me era forçoso às ordens

De um Pai que tenho, ao bem dos meus Vassalos,

Cuja Mãe sou; a tantos desgraçados,

Ao pranto dos vencidos, ao sossego

De um mundo, onde (ai de mim!) já tu não vives!

Zamora, deixa que esta alma, que rasgar-se

Está sentindo, siga em paz o horrível

Dever ao qual os céus me condenaram!

Cede à necessidade; e estes laços

Cruéis permite – assaz me tem custado.

 

 

 

 

 

 

 

 

Alexander Pope

 

The Universal Prayer   

 

   

Father of All! in every Age,

In every Clime ador'd,

By Saint, by Savage, and by Sage,

Jehovah, Jove, or Lord!

  

Thou Great First Cause, least Understood!

Who all my Sense confin'd

To know but this, — that Thou art Good,

And that my self am blind:

   

Yet gave me, in this dark Estate,

To see the Good from Ill;

And binding Nature fast in Fate,

Left free the Human Will.

  

What Conscience dictates to be done,

Or warns me not to doe,

This, teach me more than Hell to shun,

That, more than Heav'n pursue.

 

What Blessings thy free Bounty gives,

Let me not cast away;

For God is pay'd when Man receives,

T' enjoy, is to obey.

    

Yet not to Earth's contracted Span,

Thy Goodness let me bound;

Or think Thee Lord alone of Man,

When thousand Worlds are round.

 

Let not this weak, unknowing hand

Presume Thy Bolts to throw,

And deal Damnation round the land,

On each I judge thy Foe.

  

If I am right, oh teach my heart

Still in the right to say;

If I am wrong, Thy Grace impart

To find that better Way.

  

Save me alike from foolish Pride,

Or impious Discontent,

At ought thy Wisdom has deny'd,

Or ought thy Goodness lent.

  

Teach me to feel another's Woe;

To hide the Fault I see;

That Mercy I to others show,

That Mercy show to me.

  

Mean tho' I am, not wholly so

Since quicken'd by thy Breath,

O lead me wheresoe'er I go,

Thro' this day's Life, or Death:

  

This day, be Bread and Peace my Lot;

All else beneath the Sun,

Thou know'st if best bestow'd, or not;

And let Thy Will be done.

  

To Thee, whose Temple is all Space,

Whose Altar, Earth, Sea, Skies:

One Chorus let all Being raise!

All Nature's Incense rise!

 

 

Alexander Pope

 

 

Deo, Optimo, Maximo

 

 

 

Pai de tudo, adorado em toda a idade,

               Dos pólos ao Equador,

Por bárbaros, por Santos e por Sábios,

               Jove, Jehovah, Senhor!

 

Grande, primeira Causa, e a mais oculta,

               Em cujo alto, imenso pego

Submergida, a minha alma só conhece

               Que tu és bom, e eu sou cego!

 

O Bem e o Mal a distinguir me ensina

               Em tão grande escuridade:

Se a Natureza ao Fado prendes, deixa

               Livre ao Homem a Vontade.

 

Tudo aquilo que dita a consciência

               Oh!, faz-me apetecível

Mais do que o Céu; e tudo o que proíbe

               Mais que o mesmo Inferno horrível.

 

Nunca eu enjeite as Bênçãos que da tua

               Mão liberal receber:

Pois Deus se paga quando o homem aceita;

               Gozar é obedecer.

 

A minha mente não encerres neste

               Globo ou torrão limitado;

Nem do Homem só, Senhor, o julgue, vendo-me

               De mil Mundos rodeado.

 

Não presuma esta mão fraca, ignorante

               Os teus Coriscos vibrar;

E, cuidando que são teus Inimigos;

               Homens, Nações condenar.

 

Minha Alma, se Eu vou bem, no Bem persista

               Por tua graça ajudada;

Se vou errado, oh! Conhecer me faz

               Essa que é melhor Estrada.

 

Por mais que o teu Amor outorgue ao Homem

               Ou lhe negue o teu Saber,

Livra-me tanto da vaidade néscia,

               Como do Ímpio Desprazer.

 

Ensina-me a sentir o Mal alheio,

               A alheia falta ocultar,

E a Clemência  que Eu use c’o meu próximo

               Comigo a queiras usar.

 

Vil sou, mas não em tudo; pois me alenta

               O teu sopro. Oh! Tu me guia

Na passagem qualquer que for da Vida

               Ou da Morte, neste Dia.

 

Sustento e Paz hoje me dá, de quanto

               O Sol banha com a luz sua.

Se é melhor que mo dês ou não, bem sabes:

               Faça-se a vontade tua.

 

A Ti, pois, cujo Templo é todo o Espaço,

               Terra, Mar e Céus o Altar,

Todo o Ser forme um Coro, toda se erga

               A Natureza a incensar.