10-8-2012

O GRANDE DELATOR

 

Diogo Nunes, médico, do Seixal

 

Apanhado nas malhas da Inquisição, Diogo Nunes seguiu as regras do jogo; tratou de denunciar tudo e todos, família, amigos, conhecidos e até perfeitos desconhecidos apenas conhecidos de vista. De facto, engana-se sucessivamente nos nomes e chega a identificar os acusados apenas pela descrição física. Como é que é possível pensar que se possam fazer confidências de convicções religiosas deste modo?

Note-se no entanto que neste caso, é o próprio réu que mantém a iniciativa, não a Inquisição. Nunca mais acaba de fazer as suas denúncias. Para além daqueles em que a denúncia dele é que dá origem à sua prisão, tem também o cuidado de fazer denúncias também em relação àqueles que acabam de ser presos.

Uma parte razoável das denúncias não tem interesse para a Inquisição: é o caso dos defuntos e dos ausentes no estrangeiro, nomeadamente os residentes em Espanha que, embora vizinhos, estavam fora do alcance dos Estaus.

Entre os truques dele, tem interesse a protecção de sua prima Maria Madalena, casada com Francisco Leitão, a quem chama sempre Maria Teresa; de qualquer modo, ela estava ausente e fora do Reino.

Mais tarde, deve ter ficado perturbado com a longa prisão e fez asneira quando quis dar lições sobre o judaísmo aos Inquisidores com uma longuíssima perlenga de 80 páginas. Deixou-os extremamente desconfiados, pois aquilo não era coisa que ele pudesse ter aprendido da sua avó analfabeta, como dizia. Acabou por ser reconciliado, mas ficou preso muito tempo e depois desterrado para o Lavradio. É que um facto repetido e essencial  no procedimento da Inquisição era a humilhação dos réus, não toleravam aqueles que persistiam em manter a cabeça erguida.

Note-se no processo a referência a muitos cristãos novos fugidos para o estrangeiro, em especial para Espanha.

  

fls.1 img. 1 – Processo n.º 2361 de Diogo Nunes, cristão novo, médico, natural da cidade de Lisboa e residente no Seixal termo da vila de Almada

fls. 5 img. 9 – 5-7-1702 – Mandado de prisão; vem indicado como morador na Picheleria, da cidade de Lisboa.

fls. 7 img. 15 – 3-8-1702 – Entregue nos Estaus pelos familiares João Baptista e Belchior dos Reis.

fls. 7 v img. 14 – 3-8-1702 – Planta do cárcere

fls. 8 img. 15 – 3-8-1702 – O notário João Cardoso certifica que no livro quarto dos decretos de prisão figura um assento datado de 29 de Abril de 1694, decretando a prisão de Diogo Nunes, cristão novo, médico, filho de Manuel da Costa, natural da cidade de Lisboa.

 

CULPAS:

 

fls- 9 – img. 17 – Depoimento de 18-2-1694 – sua prima pelo lado materno, Josefa Maria – Pr. n.º 11703, casada com Bento de Sousa- Há 9 anos em casa do pai do réu, Manuel da Costa.

fls. 10 img. 19 – Dep. de 4-3-1694 – Catarina Josefa, casada com António Cardoso do Amaral – pr. n.ºs 11694 e 17286 – Há 6 anos, na Picheleria, em casa da mãe do réu

fls. 13 img. 25 - Dep. de 21-3-1696 – António Soeiro da Silva, Alcaide do geral do Juiz de Fora em a vila de Avis - não aparece o processo -  há cinco anos em Lisboa em casa do pai do réu.

fls. 15 v img. 30 – Dep. de 2-4-1696 – Simão da Silva, tendeiro, natural da cidade de Portalegre e morador na vila de Alter do Chão – Pr. n.º 6309, de Évora – há 3 anos e 3 meses, em Lisboa, em casa do pai do réu.

fls. 18 img. 35 – Dep. de 19-9-1702 – Brites da Silva de Sequeira, filha de Afonso Rodrigues, natural de Portalegre e moradora em Lisboa – Pr. n.º 4540 - há cerca de 10 anos, em Lisboa, em casa de Catarina Maria casada com Gaspar de Sousa, médico.

fls. 19 img. 37 – Dep. de 30-8-1702 –sua irmã  Catarina Maria, casada com Gaspar de Sousa, médico – Pr. n.º 4543 – Há cerca de 14 anos, em casa de Josefa Maria, então solteira, depois casada com Bento de Sousa.

fls. 20 v img. 40 – Dep. de 9-9-1702 – sua irmã Catarina Maria – Pr. n.º 4543 – há 13 para 14 anos, em casa de Manuel da Silva Ferreira.

fls. 22 img. 43 – Dep. de 20-9-1702 – Violante de Sequeira, filha de Afonso Rodrigues, natural de Portalegre e residente em Lisboa – Pr. n.º 2788 – há dez ou doze anos, em casa de Catarina Maria, irmã do réu, na Picheleria.

fls. 23 img. 45 – Dep. de 9-10-1702 – Gaspar de Sousa, médico, seu cunhado, natural de Cascais e residente em Lisboa – Pr. n.º 4555 – há 9 ou 10 anos, em Alcochete, na casa da residência do deponente.

fls. 25 img. 49 – Dep. de 13-10-1702 – Gaspar de Sousa, médico, seu cunhado – Pr. n.º 4555 – há cinco para seis meses, em Azeitão, da banda de além, em sua casa,

fls. 26 img. 51 – Dep. de 16-10-1702 – seu irmão João da Costa, soldado do terço de D. Rodrigo de Lencastre – Pr. n.º 549 – Há sete para oito anos, em casa dos pais do deponente.

fls. 27 v img. 54 – Dep. de 25-9-1702 – José Nunes Chaves, mercador, natural de Londres e residente em Lisnoa – Pr. n.º 138 – há 8 anos em Coimbra, no tabuleiro da ponte da mesma Cidade.

fls. 28 v. img. 56 – Dep. de 11-10-1702 – Isabel Garcia, casada com Jose Nunes Chaves, natural e residente em Lisboa – Pr. n.º 544 – Há 13 para 14 anos em casa dela ou na de Manuel da Silva Ferreira.

fls. 30 img. 59 – Dep. de 30-10-1702 – Ana Teresa, solteira, filha de António Cardoso do Amaral, natural e residente em Lisboa– Pr. n.º 156 – há três meses em sua casa.

fls. 31 img. 61 – Dep. de 23-10-1702 – José Peres, natural da vila de Sousel e residente na de Alter do Chão – Pr. n.º 388 A, de Évora – há seis anos em Lisboa, em casa do pai do réu

fls. 33 img. 65 – Dep. de 27-11-1702 – Inês Mendes, casada com Francisco da Costa Pessoa, natural e moradora em Lisboa – Pr. n.º 5094 e 5094-1 – há oito para nove anos, em casa do pai do réu.

fls. 34 v img. 68 – Dep. de 14-12-1702 – sua irmã Filipa Maria, natural e moradora em Lisboa – Pr. n.º 4549 – há pouco mais de um ano, na vila de Azeitão, em casa de sua irmã, Catarina Maria.

fls. 36 img. 71 – Dep. de 8-1-1703 – Maria da Conceição, solteira, filha de Manuel Leitão, confeiteiro, moradora em Castelo Branco –Pr. n.º 11504 – há cerca de 11 anos, indo de passeio em Castelo de Vide.

fls. 38 v img. 76 – Dep. de 8-1-1703 – João Soares Leitão, irmão da anterior – Pr. n.º 529 – há 5 anos em Azeitão, em casa de Gaspar de Sousa.

fls. 40 img. 79 – Dep. de 13-1-1703 – Mariana de Chaves, solteira, filha de João Rodrigues de Valença, natural da cidade do Porto e moradora na de Lisboa. – Pr. n.º 4554 – há 7 anos, em sua casa.

fls. 41 v img. 82 – Dep. de 20-3-1703 – D. Inês Maria Teles, casada em segundas núpcias com André Ramos Seixas, merceeiro –Pr. n.º 536 – Há 10 anos, na sua casa, em Lisboa.

fls. 43 img. 85 – Dep. de 29-3-1703 – José Francisco, espingardeiro, natural de Portalegre e residente em Lisboa- Pr. n.º 1883, de Évora – há oito anos ou pouco mais, na sua casa junto da Igreja da Vitória.

fls. 44 v img. 88 – Dep. de 30-4-1703 – Josefa de Valença, casada com Leandro Cardoso, ourives de ouro, natural da cidade do Porto e moradora na de Lisboa – Pr. n.º 547 – há dez ou onze meses, na casa dela confitente.

fls. 46 img. 91 – Dep. de 15-5-1703 – António de Mesquita, médico, casado com Guiomar Maria Henriques, natural da vila de Loulé e residente em Lisboa – Pr. n.º 153 – há 12 anos, em Coimbra, em casa de Pedro Vilhena Viegas.

 

fls. 50 img. 99 – 22-8-1702 – Inventário

Não tem bens de raiz, móveis tem seis tamboretes novos de moscóvia que os houve fiados à razão de treze tostões cada um. Tem um baú de moscóvia novo, que também tomou fiado por 4 400 ou 4 600 réis.  Tem um gomil e uma bacia de estanho, que também tomou fiado e valerão 27 ou 28 tostões. Tem um bufete de pau de caixa de açúcar, tinto em preto que valerá 2000 ou 2200 réis. Tem uma mesa de pinho que valerá 5 ou 6 tostões. Tem um catre que valerá 4000 reis, mas dele está ainda devendo 2000 réis e um candeeirinho que valerá uma pataca.

Tem cerca de 25 a 30 livros, uns da sua profissão de medicina, outros históricos e todos poderão valer 12 ou 15 mil réis. Tem alguma roupa e outras coisas para uso da sua pessoa.

Deve a um homem da Beira, de quem não sabe o nome, 22 000 reis de pano de linho. A ele réu apenas lhe devem umas vinte ou trinta visitas que fez no lugar do Seixal.

Não tem mais que declarar.

 

fls. 52 img. 103 – 7-8-1702 – Confissão

O réu tem 32 anos.

Denuncia sua avó materna Catarina Godinho (1662 - Pr. n.º 6501, de Évora), já falecida. Há dezassete ou dezoito anos, ela doutrinou-o nos preceitos judaicos e desde então ficou sempre convencido da verdade da Lei de Moisés.

Há 15 ou 16 anos em casa de sua tia materna Guiomar Nunes ou Guiomar Mendes (1664 – Pr. n.º 2684) e marido Manuel da Silva Ferreira (1693 – Pr. n.º 3962), a irmã deste, Catarina Josefa (1693 – Pr. n.º 11694), e os seus primos, filhos daqueles, António da Silva (1694 – Pr. n.º 11715), Amaro da Silva  (1695 – Pr. n.º 4599), Josefa Maria (1694 – Pr. n.º 11703) e Maria Madalena (1694 – Pr. n.º 3946 – o réu diz Maria Teresa o que é falsidade), solteiros, e todos se declararam como seguidores da Lei de Moisés.

Há 12 ou 13 anos em casa do mesmo seu tio, com António Soeiro, de Avis, meirinho da correição.

Há 13 ou 14 anos na mesma casa de seu tio, com Simão da Silva, solteiro (1695 – Pr. n.º 6309, de Évora), não sabe de onde é natural mas mora em Alter do Chão, filho de André da Silva, médico (1648 – Pr. n.º 3779, de Évora).

Há 9 anos, mais ou menos, na cidade de Leiria, em casa de Carlos Castelhano (1696 – Carlos Gomes -  Pr. n.º 941), com o mesmo.

Todas estas denúncias se referem a datas anteriores às dos respectivos processos em que os delatados já haviam sido reconciliados. Eram pois confissões feitas com muita prudência, que o réu não manteve até ao fim.

 

fls. 59 img. 117 – 4-9-1702 – Genealogia.

 

Chama-se Diogo Nunes, tem 32 anos de idade e é cristão novo.

Pais: Manuel da Costa, solicitador de causas (ainda vivo)  e Maria Madalena (falecida)(1664 - Pr. n.º 7019, ainda solteira)

Avós paternos: só sabe o nome da avó Maria Henriques (Loba) (1656 - Pr. n.º 4179)   (Avô – João da Costa Brandão) (1655 - Pr. n.º 7336 e 1660 -  7336-1)

Avós maternos: António Nunes e Catarina Godinho (1662 - Pr. n.º 6501, de Évora), já falecidos em Lisboa

 

Pelo lado paterno, tem 4 tios e duas tias: Jerónimo da Costa, Francisco dos Reis, Pedro da Costa, Branca Henriques e Maria Henriques

Jerónimo da Costa (1656 - Pr. n.º 7340), faleceu solteiro em Lisboa

Francisco dos Reis, falecido, não sabe se deixou filhos

Pedro da Costa (1656 – Pr. n.º 144),  faleceu solteiro, sem filhos

Branca Henriques ou Branca da Costa - (1656 - Pr. n.º 4795), solteira, sem filhos

Maria Henriques (1703 - Pr. n.º 6480), casada com João Coelho (Negrão), mas este está ausente do Reino; não têm filhos; ela faleceu na prisão, meio ano depois de presa.

 

Pelo lado materno, tem um tio e uma tia, Francisco Rodrigues ou Francisco Nunes e Guiomar Nunes

Francisco Nunes (1663 - Pr. n.º 2689), não sabe se é vivo ou morto, casou com Maria Rebela e tiveram

Francisco Nunes – não sabe se é casado ou solteiro ou se tem filhos – ausente com seus pais nas partes do Norte

Josefa  Maria– idem, idem.

 

Guiomar Mendes ou Guiomar Nunes (1664 - Pr. n.º 2684), casou com Manuel da Silva Ferreira (1693 - Pr. n.º 3962), estão ausentes em Castela. Tiveram:

António da Silva (1694 - Pr. n.º 11715)  – ausente em Roma, Religioso de S. João de Deus

Amaro da Silva (1695 – Pr. n.º 4599)  – cirurgião no Estado da Baía, casado não sabe com quem

Maria Madalena (1694 – Pr. n.º 3946 – o réu diz Maria Teresa), casada com Francisco Leitão (1702 - Pr. n.º 2102), ausentes em Castela; têm filhos, mas não sabe os nomes

Josefa Maria (1694 – Pr. n.º 11703), casada com Bento de Sousa, ausentes em Roma; têm filhos pequenos de que não sabe o nome

Clara, solteira, ausente com os pais no Reino de Castela

 

Nos processos aparece mais uma tia materna, Violante Mendes – (1664 – Pr. n.º 2830), que ele não declarou na genealogia.

 

O Réu tem 5 irmãos, sendo 3 irmãos e 2 irmãs:

Bento da Costa, casado não sabe com quem, ou se tem filhos, ausente no Reino de Castela

João da Costa, (1702 - Pr. n.º 549) soldado-infante, solteiro sem filhos

Alexandre de Sousa, solteiro, sem ofício, de 19-20 anos

Catarina Maria (1702 - Pr. n.º 4543)  casada com o médico Gaspar de Sousa (1702 - Pr. n.º 4555), não têm filhos.

Filipa Maria (1702 - Pr. n.º 4549), solteira, de 17 anos, mora no Lagar do Sebo

 

Ele é casado em segundas núpcias com Isabel da Conceição, (1703 - Pr. n.º 4691)  de que não tem filhos; do primeiro casamento tem uma filha chamada Paula.  

É baptizado e crismado. Soube dizer bem as orações do catecismo.

Saiu do Reino para Espanha, onde esteve na cidade de Ayamonte, em Redondela, Santa Bárbara e outras localidades. Estudou em Coimbra, morou em Lisboa e mora agora no Seixal.

 

fls. 65 img. 129 – 5-9-1702 – Mais confissão

Há 15 para 16 anos em casa de Manuel da Silva Ferreira, marido de sua tia Guiomar, com a irmã deste Catarina Josefa, os quatro mais velhos filhos deles, e ainda seus irmãos Catarina Maria e Bento da Costa, 9 pessoas ao todo.

Há 14 para 15 anos, em Lisboa, na casa dele confitente, com seu cunhado Gaspar de Sousa, médico, casado com sua irmã Catarina Maria.

Também há 14 para 15 anos, na casa dos pais dele confitente, com seu cunhado Gaspar de Sousa, e seus irmãos, Catarina Maria e Bento da Costa.

Há 6 para 7 anos, na vila de Serro, do Reino de Castela, com 3 nacionais daquele País.

Há 5 para 6 anos ou pouco mais, na vila de Cartaya, do Reino de Castela, com três nacionais daquele País.

Na mesma altura, na vila de Lepe, Reino de Castela, com António Lopes, natural do Reino do Algarve, sua mulher Maria de la Peña e um filho de ambos, de nome Simão.

Há 13 para 14 anos, na vila de Santa Bárbara, Reino de Castela, com Bartolomeu Freire Lobo, que dizia ser natural do Reino do Algarve e mulher Maria da Costa.

Há 6 para 7 anos, em Ayamonte, Reino de Castela, com Luis Tinoco, filho de Francisco Tinoco, médico e um irmão do mesmo, chamado também Francisco Tinoco.

No mesmo tempo, no lugar de Cartaya, com Manuel Dias Brandão, natural do Reino do Algarve.

Há 12 para 13 anos, em Lisboa, em casa de José Coelho, com este, sua irmã Isabel Garcia (1702 – Pr. n.º 544), e o marido desta, José Nunes Chaves (1693 – Pr. n.º 138).

Há 13 para 14 anos, em Lisboa, em casa de Afonso Rodrigues de Sequeira (1667 – Pr. n.º 5310 e 1703 – Pr. n.º 5310-1) e mulher Maria Vieira da Silva, com as filhas destes, Violante da Silva e Sequeira (1702 – Pr. n.º 2788) e Brites da Silva de Sequeira (1702 – Pr. n.º 4540), o primo destas, de nome Luis e ainda uma filha de Francisca da Silva, irmã de Maria Vieira da Silva. A declaração é muito confusa, e não é esclarecida pela genealogia dos processos da Violante e da Brites: “… e com Luis, primo das mesmas, cristão novo e solteiro então, não lhe sabe o nome do Pai, e a mãe se chamava Brites ou Maria de Sequeira, segundo o que lhe parece, e com uma filha de Francisca da Silva, irmã da dita Maria Vieira, e não sabe que tenha outra filha, então solteira, naturais todos segundo ouviu da Província do Alentejo…” Para aumentar a confusão uma nota à margem do Inquisidor, diz: “Concluída esta comunicação na sessão de 3 de Novembro, acrescentando estar presente Simão de Sequeira, tenente de cavalos, irmão do dito Luis.”

Há treze para 14 anos, na cidade de Lisboa, em casa de Manuel da Silva Ferreira, esteve com este, com Brites de Sequeira, Violante de Sequeira, Luis e filha de Álvaro Gracia de Sequeira, António e Maria da Silva, Josefa Maria, Maria Teresa (é Maria Madalena), Catarina Josefa e com os irmãos dele confitente, Catarina Maria e Bento da Costa.

 

fls. 74 v img. 148 – 9-9-1702 – Mais confissão

Há treze para catorze anos, na cidade de Lisboa, em casa de Manuel da Silva Ferreira, com seus irmãos, Bento da Costa e Catarina Maria, com José Nunes, tratante e com José Coelho, mercador, a irmã deste, Isabel Garcia e ainda os seus primos António da Silva e Amaro da Silva, Josefa Maria e Maria Teresa (é Maria Madalena) e com Catarina Josefa, irmã do dono da casa, Manuel da Silva Ferreira.

Há 11 para 12 anos, na cidade de Coimbra, em sua casa, com o seu companheiro Baltasar Soares (1702 - Pr. n.º 4002, de Évora), filho de um médico de Alter do Chão,  e sobrinho de Constança Garcia que é irmã do pai dele e primo de José Coelho e de Isabel Garcia, e com António Pinto Correia (1703 - Pr. n.º 8686 e 8686 A, de Évora), médico, não sabe se é casado ou solteiro, filho de um letrado de Arraiolos, chamado Mateus Pinto Correia e com um irmão dele chamado Cristóvão Pinto Correia.

Há dois ou três meses, em Azeitão, o seu cunhado Gaspar de Sousa, médico, disse-lhe que em Génova, Fr. Bento da Luz, antigo Religioso de Missa Paulista e hoje casado naquela cidade que era protestante da Lei de Moisés.

Também há poucos meses, em Azeitão, o mesmo seu cunhado Gaspar de Sousa lhe disse que em Génova, Fr. Bento da Luz lhe dissera que seu irmão, também Paulista, Fr. Manuel da Luz era protestante em Liorne.

 

fls. 78 img. 155 – 11-9-1702 – Mais confissão

Há 15 anos, pouco mais ou menos, em casa de seu cunhado Gaspar de Sousa, com três irmãos do mesmo, Bento de Sousa, casado com Josefa Maria, com Maria Baptista, solteira, e com Filipa Nunes, na altura solteira e hoje casada não sabe com quem, todos naturais da vila de Cascais e ausentes na Corte de Roma, com Paula Nunes, mãe de todos eles, também ausente na Corte de Roma, com dois irmãos dele confitente, Bento da Costa e Catarina Maria.

Na mesma altura, mais ou menos, em casa de seu cunhado Gaspar de Sousa, com este e os mesmos seis antes referidos e ainda os quatro primos dele confitente António da Silva, Amaro da Silva, Maria Teresa (é Maria Madalena) e Josefa Maria, todos os 12 se declararam como seguidores da Lei de Moisés.

Pouco depois da comunicação anterior, em Alcochete, em casa de seu cunhado, Gaspar de Sousa, com ele e seus três irmãos Bento de Sousa, Maria Baptista e Filipa Nunes, a mãe destes, Paula Nunes e os dois primos dele confitente, Amaro da Silva e António da Silva.

Há 14 anos, na vila de Alcochete, na casa de seu cunhado Gaspar de Sousa, com os referidos na anterior comunicação e ainda Josefa Maria, Maria Teresa (é Maria Madalena), Catarina Josefa e Manuel da Silva Ferreira.

Há 14 para 15 anos, em casa de D. Branca da Gama (1698 – Pr. n.º 940), casada não sabe com quem (!), filha de Gaspar Gomes Figueiró, com a mesma e com seus primos António da Silva, Amaro da Silva, Maria Teresa (é Maria Madalena) e Josefa Maria e ainda com Manuel da Silva Ferreira. Um absurdo não conhecer o nome do marido da anfitriã!...

Na mesma altura, em casa da mesma D. Branca da Gama, com a mesma e os irmãos dele confitente Bento da Costa e Catarina Maria e com os primos António da Silva, Amaro da Silva, Maria Teresa (é Maria Madalena) e Josefa Maria e ainda com Manuel da Silva Ferreira.

Há 14 para 15 anos, na cidade de Lisboa, em casa de Manuel da Silva Ferreira, com Francisco Leitão, casado com sua prima Maria Madalena (que ele continua a chamar Maria Teresa) e com o irmão deste Manuel Leitão (1702 – Pr. n.º 8810).

Há 14 ou 15 anos também, em casa do mesmo Manuel da Silva Ferreira, com este, com Francisco Leitão e Manuel Leitão e com os seus primos António da Silva, Amaro da Silva, Maria Teresa (é Maria Madalena) e Josefa Maria.

Há 11 para 12 anos, em Coimbra, em casa de Francisco de Matos Lobo, Médico, filho de João de Matos Lobo e de Maria Henriques, natural e morador no Reino do Algarve, com o mesmo e Francisco de Chaves, Médico, filho de Henrique Rodrigues, com António de Mesquita, Médico (1703 – Pr. n.º 153), casado com a filha do médico Samuda (Velho), com Pedro de Vilhena Vilhegas (1703 – Pr. n.º 11110), natural segundo lhe parece de Beja, onde é morador, com José Pinto, natural e morador em Beja e com José Nunes, médico, de Vila Nova de Portimão. 

Esta denúncia é totalmente absurda: o réu apenas os conhece de nome e, no entanto, relata um encontro deles todos juntos em casa de um colega.

Há 14 para 15 anos em casa de seu pai, Manuel da Costa, viúvo, com o mesmo.

Há 14 para 15 anos, na casa do mesmo seu pai, Manuel da Costa, com ele e seus dois irmãos, Bento da Costa e Catarina Maria.

 

fls. 86 img. 171 – 14-9-1702 – Mais confissão

Há doze para treze anos, em casa de Inês Maria Teles (1702 – Pr. n.º 535), meia irmã de seu cunhado Gaspar de Sousa, filha do Capitão Lopo de Sousa e viúva de Manuel Pinheiro da Costa, com a mesma e um filho dela, António Pinheiro da Costa (1702 – Pr. n.º 10102 – relaxado).

 

fls. 88 img. 175 – 18-9-1702 – Mais confissão

Há 16 para 17 anos, em casa de seu tio materno Francisco Nunes (1663 – Pr. n.º 2689), com a mulher deste Maria Rebela, agora ausentes nas partes do Norte,  com os filhos destes, Francisco Nunes e Josefa Maria, fora do Reino com seus pais e com seu primo Amaro da Silva.

Há 9 para 10 anos, na cidade de Leiria, em casa de um Carlos que é Castelhano (Carlos Gomes ou Carlos del Valle – 1696 – Pr. n.º 941), com seu irmão Bento da Costa e dois mercadores que não identifica, mas apenas os descreve fisicamente:

- um que vendia baetas em Leiria, espigado de corpo, alvarinho de cara, magro, nariz agudo e cara comprida, o cabelo corredio e negro, que teria então 25 para 36 anos.  O Inquisidor anotou ao lado “Parece Joaão Rodrigues Ferreira” e na verdade o testemunho (!) foi para o processo n.º 8266, instaurado em 1704;

- outro que era baixo, de corpo refeito, de cara redonda e calvo do rosto, e cabelo pequeno, não se lembra da cor dele, nem se era corredio ou anelado. Na margem, o Inquisidor anotou “Parece ser Pedro Rodrigues Alpalhão” (1704 – Pr. n.º 2796).

Rectifica a última comunicação feita na confissão de 5 de Setembro, no sentido de dizer que, além dos treze indicados, estava também presente Elvira de Sequeira, cristã nova já defunta, irmã inteira de Brites de Sequeira e de Violante de Sequeira.

A mesma Elvira de Sequeira estava presente na penúltima comunicação efectuada no mesmo dia 5 de Setembro.

 

fls. 92 v img. 184 – 19-9-1702 – Mais confissão

Há seis para sete anos na vila de Redondela, no Reino de Castela, com cinco pessoas naturais e moradoras no Reino de Castela, mais Maria Rodrigues, natural da cidade de Lisboa e Tomás de Castilho (1702 – Pr. n.º 4557 – o réu diz Tomás Francisco Luis), casado com Branca de Alvarado,  residente em Lisboa.

Há treze para catorze anos, em Lisboa, na casa de Pedro António, casado com uma filha de José Manem, o qual está ausente nas partes do Norte, supõe que em Marselha.

Haverá treze para catorze anos, em Lisboa, em casa de Manuel da Silva Ferreira, com o mesmo e com Pedro António, com seus primos António da Silva, Josefa Maria, Maria Teresa (é Maria Madalena), com Catarina Josefa.

 

fls. 96 img. 191 – 26-9-1702 – Mais confissão

Há 16 anos em Lisboa, em casa de seu pai, com sua mãe, Maria Madalena, cristã nova, já defunta (1661 – Pr. n.º 7019) e com Frei Bento da Luz e seu irmão Frei Manuel da Luz.

 

fls. 98 img. 196 – 2-10-1702 – Mais confissão

Rectifica a comunicação de 5 de Setembro, que já modificara de 13 para 14 pessoas na sessão de 18 do mesmo mês, no sentido de que também ali se encontrava Paulo, irmão de Isabel, filhos ambos de Álvaro Garcia (1702 – Pr. n.º 11506).

 

fls. 100 img. 199 – 9-10-1702 – Mais confissão

Há três para quatro anos, em Santa Bárbara, Reino de Castela, com Manuel Rodrigues, casado com uma irmã da mulher de Diogo Navarro, natural de Lagos, no Reino do Algarve.

 

fls. 102 img. 203 – 16-10-1702 – Mais confissão

Há 10 para 11 anos na cidade de Coimbra, em casa de António Marques, hoje médico, filho de João Marques, natural de Beja e residente em Aljustrel, com o mesmo e Manuel Marinho, Advogado, filho de um letrado velho de Beja, morador nesta cidade, e com Manuel Henriques, então estudante de medicina e hoje mercador, natural e morador na cidade de Beja.

 

fls. 104 img. 207 – 17-10-1702 – Mais confissão

Há 11 para 12 anos, pouco mais ou menos, na cidade de Lisboa, na casa dos pais de Tomé de Suneca, às Pedras Negras, com o mesmo.

Há 11 para 12 anos, na cidade de Lisboa à Madalena, em casa de Vicente Manem, filho de José Manem, natural desta cidade e ausente em Marselha.

Há 12 para 13 anos, em Lisboa na casa de Manuel, João e José, irmãos entre si, espingardeiros, por alcunha os Gradizes, filhos não sabe de quem, naturais de Portalegre e residentes em Lisboa, com os mesmos.

 

fls. 108 img. 215 – 19-10-1702 -  Mais confissão

Há nove para dez anos, na cidade de Lagos, do Reino do Algarve, em casa de João de Matos, casado com sua segunda tia Leonor Maria Henriques, com ele, três filhos e duas filhas dos mesmos, de nome, Leonor, Joana, João, Luis e do mais novo não recorda o nome.

Há 10 para 11 anos, na Universidade de Coimbra, em casa de Domingos Moreira, Médico em Vila Nova de Portimão, com ele e com Francisco Martins, Médico na vila de Alcochete, não sabe de quem é filho, mas é natural de Montemor-o-Novo.

 

fls. 111 img. 221 – 21-10-1702 – Mais confissão

Há 11 para 12 anos, em Lisboa, em casa de D. Inês Maria Teles, com duas irmãs ou meias irmãs dela, filhas do falecido Capitão Lopo de Sousa, de nome Brites (1702 – Pr. n.º 9030) e Joana (1702 – Pr. n.º 541) e com António Pinheiro da Costa (1702 – Pr. n.º 10102), filho da dona da casa.

 

fls. 113 img. 225 – 23-10-1702 – Mais confissão

Há sete para oito anos, em Ayamonte, Reino de Castela, em casa de Manuel Francisco (à margem: em Portugal se chamava Manuel Lopes Samora), casado com D. Beatriz de Alvarado (1702 – Pr. n.º 8441), com eles e com seus filhos, José Francisco de Alvarado, solteiro, sem ofício, Branca de Alvarado (1702 – Pr. n.º 4539), casada com Tomás Francisco Luis (é Tomás de Castilho), residente em Lisboa, Beatriz de Alvarado (enganou-se no nome, é Leonor Inácia de Alvarado – 1702 – Pr. n.º 3604), solteira, de 15 anos,  residente em Lisboa, Diogo de Alvarado, agora ausente nas Índias de Castela, Teresa de Alvarado (1705 – Pr. n.º 5278, de Évora), casada não sabe com quem, moradora em Vila Nova de Portimão, Reino do Algarve e Maria de Alvarado, solteira, residente em Vila Nova de Portimão, com sua irmã Teresa.  Mais tarde acrescentou que também estava presente Belchior de Alvarado, também filho dos mesmos, casado em Ayamonte não sabe com quem.

 

fls. 115 v img. 230 – 26-10-1702 – Mais confissão

Há 10 para 11 anos, em Lisboa, no Lagar do Sebo, em casa de Clara Rodrigues (1702 – Pr. n.º 4544), casada com “Martinho Rodrigues, mouro baptizado” (é Martinho Mascarenhas – 1703 - Pr. n.º  8811 – foi relaxado), com ela e duas irmãs da mesma, chamadas Mariana, solteira (1702 – Pr. n.º 4554) e Josefa Dias, casada com um ourives de ouro de quem não sabe o nome (é Josefa de Valença – 1702 – Pr. n.º 547).

 

fls. 118 img. 235 – 27-10-1702 – Mais confissão

Há 12 para 13 anos, em Lisboa e em casa de Afonso Rodrigues (1667 – Pr. n.º 5310 e 1703 – Pr. n.º 5310-1, com duas filhas do mesmo, Violante de Sequeira (1702 – Pr. n.º 2788) e Brites de Sequeira (1702 – Pr. n.º 4540) e ainda uma outra irmã delas chamada Elvira de Sequeira, agora já falecida, e ainda com Manuel, João e José, irmãos entre si, espingardeiros, por alcunha os Gradizes, filhos não sabe de quem, naturais de Portalegre e residentes em Lisboa e uma irmã destes de que não sabe o nome, nem se é casada ou solteira e que deve ter agora 30 anos; e ainda duas filhas de Rodrigo de Sequeira tirador de ouro de quem não sabe o nome nem se são casadas ou solteiras e onde moram.

Há 11 para 12 anos em Lisboa, detrás de São Julião, numa Travessa aos Chapeleiros, em casa de D. Paula, viúva não sabe de quem e ouviu que era filha de um Alferes ou de um Capitão e não sabe o nome da mãe.

Há 11 para 12 anos em Lisboa, na Rua dos Cabides, em casa de uma Dona Maria casada com um algibebe que foi degredado para Marzagão e irmã inteira da D. Paula, antes referida.

 

fls. 121 img. 241 – 30-10-1702 – Mais confissão

Há 11 anos pouco mais ou menos, na Universidade de Coimbra, em casa de José de Chaves Henriques (1703 – Pr. n.º 8433), estudante de Cânones, não sabe se é casado ou solteiro, nem de quem é filho,  nem onde nasceu, e com seu irmão Diogo de Chaves Henriques (1703 – Pr. n.º 1488, de Coimbra), médico, não sabe se é casado ou solteiro, "e estando todos [n.º total dos presentes] por ocasião de falarem na Lei de Moisés entre práticas se declararam e deram conta, a saber ele confitente e os ditos  F. e F., como criam e viviam na dia Lei de Moisés, com intento de nela se salvarem, e por observância da mesma Lei, disseram não comer toucinho, lebre e coelho, nem peixe de pele e não passaram mais".

 Há 11 para 12 anos, em Lisboa, debaixo dos Arcos do Rossio, achou-se com Manuel Henriques, médico, casado não sabe com quem nem de quem seja filho, natural segundo lhe parece da Província do Alentejo e morador na vila da Covilhã.

Há 11 para 12 anos, na Universidade de Coimbra, no Outeiro das Parvoíces, achou-se com Manuel Vieira, médico, não sabe se é casado ou soteiro e de quem é filho, parecendo-lhe que é natural de Cabeço de Vide, onde foi filho de um ferrador.

No mesmo tempo, na Universidade de Coimbra, indo passeando para a Fonte do Sidral, na companhia de Manuel Vaz de Paiva (1702 – Pr. n.º 10173, de Évora), médico, natural e morador na vila de Moura, não sabe de quem é filho.

No mesmo tempo, na Universidade de Coimbra, em o Quebra Costas, com Manuel Soares, médico, não sabe de quem é filho, natural e morador em Elvas. Deve ser Manuel Soares Brandão (1702 – Pr. n.º 2110), embora este seja natural de Avis e o depoimento não tenha sido transcrito no seu processo.

No mesmo tempo, na Universidade de Coimbra, em casa de Manuel Gonçalves, médico, não sabe de quem seja filho, natural e morador na vila de Borba.

Há 12 anos na cidade de Lisboa, nas hortas junto das casas do Conde de Castelo Melhor, se achou com António Cardoso do Amaral, de quem sempre ouviu dizer que era cristão velho, casado com Catarina Josefa (1693 – Pr. n.º 11694), não sabe de quem é filho, nem de onde é natural, mas “morador nesta cidade onde vive de esmolas, e de ordinário estava em casa dele confitente, comendo as suas sopas; e estando ambos sós, lhe disse ele confitente que era observante da Lei de Moisés, ao que o mesmo lhe respondeu que tinha a mesma observância e crença, acrescentando que sabia varrer as casas às avessas, por observância da mesma Lei, fazendo acção com a mão como se varria, porém como o dito António Cardoso do Amaral seja cristão velho, não sabe se disse o sobredito por tirar dele alguma coisa e querer saber em que Lei vivia e ele confitente fez juízo de que o dito António Cardoso do Amaral dizia o sobredito pelo experimentar e por saber dele em que Lei vivia, e mais não disse…” A Inquisição não incomodou o António Cardoso do Amaral que no processo da mulher é referido como cristão-velho, mas prendeu a filha de ambos, Ana Teresa, de 17 anos (1702 – Pr. n.º 156).

 

fls. 126 img. 251 – 3-11-1702 Mais confissão

Mais uma vez rectifica a última comunicação da confissão de 5 de Setembro, dizendo que, no ajuntamento referido, além de Luis de Sequeira, estava também Simão de Sequeira, irmão dele, Tenente de Cavalos das tropas desta Corte e não sabe se é casado ou solteiro.

Há 10 para 11 anos, na Universidade de Coimbra e na casa de Henrique de Chaves, estudante legista, irmão inteiro de Francisco de Chaves, médico, natural e morador na cidade de Lisboa.

Há onze para doze anos, na cidade de Lisboa à Calçadinha de Nossa Senhora da Palma, em casa de Miguel Lopes Montesinhos (1703 – Pr. n.º 2260), filho de Rodrigo Lopes Montesinhos (emendado pelo Inquisidor, o réu tinha dito Manuel), já falecido, então solteiro, não sabe se hoje já é casado. Foi preso e faleceu no cárcere em 29-8-1705, com 30 anos de idade.

Há seis para sete anos, em Ayamonte, Reino de Castela, em casa de D. João Marrochim, Administrador que foi do Estanco do Tabaco, viúvo não sabe de quem, natural da cidade de Madrid. Um filho deste, Frei Francisco de la Penha Marrochim, foi preso em 1719 por solicitação (1719 - Pr. n.º 11590).

Há seis para sete anos, em Ayamonte, Reino de Castela, em casa de D. Simão de la Penha, agora já falecido, com sua esposa D. Paula Maria, não sabe de quem seja filha, e com D. António de La Penha, irmão inteiro do referido Simão de La Penha, casado com Maria Domingues, com D. Maria, irmã inteira da dita D. Paula Maria, viúva não sabe de quem, naturais de Málaga e residentes em Ayamonte,

Há 11 para 12 anos, na cidade de Lisboa, à Calçadinha de Nossa Senhora da Palma, que vai para casa do Conde de S. Vicente, em casa de André Lopes, filho de Francisca Lopes e com um contratador a quem não sabe o nome, natural do Reino de Castela e morador em Lisboa.

 

fls. 131 img. 261 – 6-11-1702 – Mais confissão

Há 11 para 12 anos, na Universidade de Coimbra, em casa de André Leitão Avilez, então solteiro, estudante de Medicina, não sabe se agora é casado, natural do Reino do Algarve, entende que morador em Tavira, com o mesmo.

Na mesma época, na Universidade de Coimbra, em casa de João Lobato, Médico, não sabe de quem seja filho, se é casado ou não, natural e morador em Évora, “não sabe que fosse preso ou apresentado, se achou com o mesmo, estando ambos sós, por ocasião de falarem na Lei de Moisés entre práticas se declararam e deram conta como criam e viviam na dita Lei com intento de nela se salvarem, a saber ele confitente e o dito João Lobato e por observância da mesma Lei, disseram não comiam as sobreditas coisas, e não passaram mais”.

Aqui a redacção começa a estar deficiente, pois falta a referência à dieta judaica (“não comiam carne de porco, coelho, lebre, nem peixe de pele”)..

Na mesma altura, na Universidade de Coimbra, com Miguel Lopes de Leão (1702 – Pr. 2112), Advogado, não sabe com quem é casado, nem de quem seja filho, natural e morador na cidade de Lisboa ao Terreiro do Paço, se achou com o mesmo…

Há 12 para 13 anos, na cidade de Lisboa, na Rua Nova do Almada, em casa de Francisco de Cárceres, segundo lhe parece, cristão novo, filho do médico Galego João ou Fulano de Cárceres, natural e morador na mesma rua, e estando ambos sós…

Há 11 para 12 anos, em Lisboa, em casa de Rafael Rodrigues, sem ofício, que vivia solteiro em casa de sua mãe Maria Lopes, segundo lhe parece numa Travessa à Cutelaria por cima de uma atafona, natural do Reino de Castela, e estando ambos sós (o réu e Rafael Rodrigues)…

Há 6 para 7 anos, em Ayamonte, Reino de Castela, em casa de Manuel Soares, mercador, casado com D. Catarina, irmã de Francisco Tinoco, médico, não sabe de quem seja filho, natural do Reino do Algarve e morador na mesma cidade de Ayamonte e “não sabe que fosse preso ou apresentado, se achou com o mesmo, e estando ambos sós, por ocasião de falarem na Lei de Moisés entre práticas se declararam e deram conta, a saber ele confitente e o dito Manuel Soares, como criam e viviam na dita Lei com intento de nela se salvarem, e não passaram mais”. A versão das confissões já está mais simplificada.

Haverá 12 anos, pouco mais ou menos, em casa de Patrício de Sunica, na cidade de Lisboa, que então vivia com seus pais às Pedras Negras, cristão novo, sem ofício, irmão inteiro de Tomé de Sunica, e, estando ambos sós…

Há 6 para 7 anos, na cidade de Ayamonte, Reino de Castela, em casa de Mariana, segundo lhe parece, viúva do Médico Francisco Tinoco, natural das partes do Reino do Algarve e morador na dita cidade de Ayamonte, estando ambos sós, ele e a dita Mariana…

 

fls. 137 img. 273 – 7-11-1702 – Mais confissão

Há 15 para 16 anos, na cidade de Lisboa, em casa de José Pinto, cristão novo, então solteiro, sem ofício, filho de Valério da Fonseca Pinto (1667 – Pr. n.º 11339), Advogado, e não sabe o nome da mãe, natural da cidade de Lisboa e ausente no Reino de Castela. É irmão inteiro de Diogo Pinto da Fonseca (1686 – Pr. n.º 1746) que se suicidou no cárcere da Inquisição em 23 de Maio de 1687, e, condenado depois, foi queimado em estátua no auto da fé de 21 de Agosto de 1689. Disse que na ocasião referida, se encontrou com o dito José Pinto e quatro irmãos inteiros deste, a saber, Jorge Pinto, Simão Pinto, Violante e Joana, todos naturais de Lisboa e ausentes no Reino de Castela, e estando todos seis…

Há 15 para 16 anos, na cidade de Lisboa e Calçada que vai do Rossio para o Colégio, em casa de António Ximenes, cristão novo, então solteiro e estudante de gramática, não sabe de quem seja filho, se achou com o mesmo e um irmão dele, João Alves Barrosa, também estudante de gramática e estando os três…

 

fls. 141 img. 281 – 10-11-1702 – Mais confissão

Há 15 para 16 anos, na cidade de Lisboa, em casa de António Lopes Samora, solteiro, sem ofício, estudante de Gramática, filho de Manuel Francisco ou Manuel Lopes Samora e de D. Beatriz de Alvarado, natural desta cidade, depois do que se ausentou para o Reino de Castela com os ditos seus pais, hoje não sabe onde vive, antes ouviu que era defunto, se achou com seu pai Manuel Francisco ou Manuel Lopes Samora e estando os três…

Há 15 ou 16 anos, em Lisboa, em casa de António da Gama (1698 – Pr. n.º 11394, de Évora), natural de Lisboa e residente no Algarve, em Faro, não lhe lembra o nome da mulher nem de quem seja filho, com ele e com um irmão do mesmo, chamado Diogo da Gama, Capitão de Infantaria na vila de Moura, e estando todos três… 

O processo de Évora foi transcrito no documento da Inq. de Lisboa PT/TT/TSO-IL/028/CX1623/16249.  Em 1698 fora preso um irmão inteiro de ambos, Álvaro Machado Pinto (1698 –Pr. n.º 8831) que morreu no cárcere em 26 de Abril de 1699; condenado depois ele, “sua memória e fama”, foi queimado em estátua no auto da fé de 2 de Março de 1704. 

Há 6 para 7 anos, na cidade de Ayamonte, do Reino de Castela, em casa de Diogo de Soares, solteiro, sem ofício, filho de Manuel Soares e de D. Catarina, natural e residente em Ayamonte, se achou com o mesmo, e com um primo do dito Diogo Soares, chamado José Soares, filho de uma irmã do dito Manuel Soares, solteiro, natural e morador na cidade de Faro ou Lagos, e estando todos três…

Há 6 para 7 anos, em Ayamonte, em casa do dito Manuel Soares, se achou com Manuel Nunes Tinoco, segundo julga, cristão novo, filho de uma irmã do médico Francisco Tinoco, que da cidade de Lagos foi para Ayamonte, natural da cidade de Lagos onde é morador ou em Portimão, e estando ambos sós…

Há 11 para 12 anos, na Universidade de Coimbra, em casa de João Gomes da Mata, estudante de Leis, solteiro, hoje não sabe se é casado e de quem é filho, mas ouviu que era sobrinho de João Gomes de Moura, natural de Lisboa e morador em Carnide, e estando ambos sós…

Há seis para sete anos, na vila de Lepe, do Reino de Castela, em casa de D. João de Campos, cristão novo, sem ofício, viúvo não sabe de quem, que aparenta ter 70 anos de idade e vive em casa de uma sua sobrinha casada com D. João Valasco, estanqueiro, natural do Reino do Algarve, se achou com o mesmo…

Há 6 para 7 anos na cidade de Ayamonte, em casa de D. Francisco Hibarra, viúvo não sabe de quem, nem de quem seja filho e representa ter 60 anos, natural segundo lhe parece da Corte de Madrid e residente na cidade de Ayamonte, e estando ambos sós…

Há 15 para 16 anos, adiante de São Cornélio, aos Olivais, na quinta de José de Brito, cristão novo, contratador, que toureia de cavalo, casado com D. Francisca da Gama, segundo lhe parece, não sabe de quem seja filho, se achou com o mesmo e com a dita sua mulher e ainda com Álvaro Machado, solteiro, sem ofício, não sabe de quem seja filho, mas é da família dos Gamas, e estando os quatro…

Há 10 para 11 anos, na cidade de Lisboa, em casa de Francisco da Costa Pessoa (1664 – Pr. n.º 5386 e 1702 – 5386-1), achou-se com um seu filho natural chamado Francisco, solteiro, sem ofício, e estando ambos sós…

Há 15 para 16 anos, na cidade de Lisboa, em casa de Francisco da Costa Pessoa, se achou com um filho do mesmo de que agora não lhe lembra o nome meio irmão de Francisco que acaba de mencionar, solteiro, com alporcas no pescoço, e era baixo, calvo da cara e magro no dito tempo, e poderá ser de 35 ou 40 anos de idade, e estando ambos sós…  Este filho de Francisco da Costa Pessoa era António Tavares da Costa (1702 – Pr. n.º 9112) que Diogo Nunes voltará a denunciar em 20-12-1702 e foi relaxado no auto da fé de 6 de Novembro de 1707.

Há 12 anos, em casa de José Coelho Chaves, filho de Baltasar de Chaves, morador em Lisboa na Rua Nova, se achou com o mesmo e com sua mulher e prima co-irmã, de quem se não lembra o nome, mas que é filha de um médico de Alter, irmão de Constância Garcia, natural de Alter do Chão e moradores em Lisboa, com José Nunes Chaves (1693 – Pr. n.º 138), e com Manuel Nunes Chaves (1671 - Pr. n.º 2383 - 1703 - Pr. n.º 2383-1), pai do José Nunes Chaves e ainda duas mulheres filhas ou da obrigação de Diogo Nunes Pereira; e estando todos oito…

 

fls. 148 img. 295 – 13-11-1702 – Mais confissão

Há 12 para 13 anos, na cidade de Lisboa, em casa de Álvaro de Sequeira, cristão novo, então solteiro e hoje não sabe se é casado, filho de Rodrigo de Sequeira ou Silveira, natural de Lisboa e morador na Rua Nova junto às colunas das Carrancas, e ainda é parente do Samuda, e se achou com o mesmo…

Há 15 para 16 anos, na cidade de Lisboa, e em casa de Manuel Lopes Samuda (é Samuel Lopes Samuda), Médico, se achou com dois filhos do mesmo, a saber, João Esteves Henriques (1703 – Pr. n.º 8337), então sem ofício, e solteiro, não sabe se hoje é casado, e com Violante ou Clara (é Guiomar Maria – 1703 – Pr. n.º 8247), casada com o médico António de Mesquita (1703 - Pr. n.º 153), e estando todos três…

Haverá de 11 para 12 anos, na cidade de Lisboa, em casa de Manuel Lopes Samuda (é Samuel Lopes Samuda), Médico, se achou com três filhos do mesmo, a saber, Manuel Lopes Samuda (é Manuel Samuda de Leão – 1703 – Pr. n.º 7178), Pedro Lopes (1703 – Pr. n.º 2792), estudante e com Joana, segundo lhe parece (o Inquisidor anota que é Guiomar Maria – Pr. n.º 8247, mas também poderia querer dizer Clara – Processo n.º 25 ou Custódia – Pr. n.º 1390), e estando todos quatro…

Há seis para sete anos, na cidade de Ayamonte, reino de Castela, em casa do Médico Francisco Tinoco, se achou com dois filhos do mesmo, a saber, Pantaleão Dias, que vive de sua fazenda, natural de Lagos e morador em Vila Nova de Portimão e João, que, segundo lhe parece foi para Sargento do Socorro a Ceuta,  natural de Lagos e não sabe onde mora, ambos solteiros, e estando todos três…

Há seis para sete anos, na cidade de Ayamonte, Reino de Castela, em casa de António da Paz, mercador, viúvo não sabe de quem, não sabe de quem seja filho e representa 50 anos de idade, e com Jorge Paz, solteiro, ourives de prata, e com Francisco da Paz, que no dito tempo estudava Filosofia na Universidade de Évora, os dois últimos sobrinhos direitos do primeiro, e estando todos quatro…

Há seis para sete anos, na cidade de Ayamonte, Reino de Castela, em casa de António da Paz, mercador, de quem agora acabou de dizer, se achou com uma sobrinha do mesmo chamada Clara ou Francisca, casada com D. Luis Tinoco, tratante e guarda da aduana, e estando ambos…

Há seis para sete anos, na cidade de Ayamonte, Reino de Castela, em casa de D. Manuel de Leão, casado (não lhe lembra o nome da mulher), natural das partes de Sevilha, e estando ambos sós…

Há cinco para seis anos na cidade de Ayamonte, Reino de Castela, em casa de D. Manuel de Leão, de quem acaba de dizer,  se achou com dois filhos do mesmo, João e Francisco de Leão, solteiros, filhos mais velhos do dito Manuel de Leão, naturais não sabe donde, e moradores em Ayamonte, e estando todos três…

Há cinco para seis anos na cidade de Ayamonte, Reino de Castela, em casa de D. Manuel de Leão, se achou com um sobrinho do mesmo chamado Pascoal da Rosa, solteiro oficial de passamanes, filho de António da Rosa, tratante, não sabe o nome da mãe, natural da cidade de Lisboa e morador em Ayamonte, e estando ambos sós…

Há cinco para seis anos na cidade de Ayamonte, Reino de Castela, em casa de Diogo Mendes, casado não sabe com quem, nem de quem é filho, natural de Lisboa segundo lhe parece e morador em Ayamonte, se achou com o mesmo e estando ambos sós…

Há seis para sete anos, na cidade de Ayamonte, Reino de Castela, em casa de Diogo Garcia, casado com uma irmã do dito Manuel de Leão, segundo lhe parece, não sabe de quem é filho, se achou com o mesmo e estando ambos sós…

Há cinco para seis anos na cidade de Ayamonte, Reino de Castela, em casa de Diogo Garcia, de quem acaba de dizer, se achou com um filho do mesmo chamado João Garcia, solteiro, sem ofício, natural não sabe donde, e estando ambos sós…

Há seis para sete anos, na vila de Lepe, e casa de D. António de La Penha, se achou com Francisco Garcia, casado ou apalavrado de presente com uma sua prima de quem não sabe o nome, e irmão do Diogo Garcia de quem antes disse, e estando ambos…

Há seis para sete anos, na cidade de Ayamonte, Reino de Castela, em casa de Diogo Garcia, se achou com D.Manuel de Husmanes, casado não sabe com quem, nem de quem seja filho e representa 50 anos de idade, e estando ambos sós…

Há oito para nove anos, na vila de Lepe, Reino de Castelo, e casa de D. Gonçalo de Amadir, filho de um calafate, segundo ouviu dizer, e não sabe o nome da mãe, natural de Ceuta, e morador na vila de Lepe, onde é Médico, se achou com o mesmo…

 

fls. 156 v img. 312 – 14-11-1702 – Mais confissão

 

GENEALOGIA DA FAMÍLIA LAGUNA

 

Francisco Lopes Laguna, já defunto, casou primeiro com Feliciana Henriques  e depois com Leonor da Fonseca (1703 – Pr. n.º 2104), em estátua no auto da fé de 19-10-1704

Do 1.º casamento teve:

- Isabel Henriques (1702 - Pr. n.º 542), que casou com Simão Rodrigues Nunes (1702- Pr. n.º 4559) e teve 7 filhos

- Leonor (1702 – 2379), casada com Jorge Rodrigues Dias(1702 – Pr. n.º 4781)

- Feliciana (1712 – Pr. n.º 1253)

- Ana (1712 - Pr. n.º 9099)

- Brites

- Francisca

- Melchior (1712 - Pr. n.º 9097)

- Francisco Lopes Ferreira (1712 - Pr. n.º 9341)

- Francisca Lopes (1702 - Pr. n.º 4542), que casou com Domingos Lopes Ferreira e tiveram dois filhos,

 - Francisco

 - Graça Henriques (1702 – Pr. n.º 532)

Do 2.º casamento:

- Manuel Lopes Laguna (1703 - Pr. n.º 2111 e Pr. n.º 13313) em estátua no auto da fé de 19-10-1704

- Diogo Lopes Laguna (1703 - Pr. n.º 2099) em estátua no auto da fé de 19-10-1704

- Nuno Lopes

- Maria Henriques (1702 - 1947), casada com Manuel Gomes Vilhena (1703 - Pr. n.º 5474), com 4 filhos, Violante, Gaspar, Leonor e Ana, ambos em estátua no auto da fé de 19-10-1704

- Filipa Henriques

- Branca Henriques (1702 - Pr. n.º  527), casada com João Tavares Pacheco (1702 - Pr. n.º 13102), com uma filha chamada Ana – o marido em estátua no auto da fé em Évora 22-3-1705 

- Violante Henriques (1702 - Pr. n.º 4556), casada com António Henriques (1704  - Pr. n.º 16063), sem filhos - o marido em estátua no auto da fé em Évora 22-3-1705

- Ana Henriques (1702 - Pr. n.º 157), casada com Gaspar Henriques (1702 – Pr. n.º 151), com 3 filhos, Leonor, Josefa e Maria

Nota: a encarnado, os que tiveram processos, estando ausentes do País.

 

Há treze para catorze anos, na cidade de Lisboa, em casa de Francisco Lopes Laguna, se achou com um filho do mesmo, Manuel Lopes Laguna (1703 - Pr. n.º 2111 e Pr. n.º 13313), natural e morador na mesma cidade e estando ambos…

Há 14 para 15 anos, na cidade de Lisboa, em casa de Francisco Lopes Laguna, se achou com uma filha do mesmo chamada Brites Lopes Laguna, irmã inteira de Manuel Lopes Laguna (é meia irmã, por ser do 1.º casamento), natural e moradora na mesma cidade e estando ambos…

No mesmo tempo, na cidade de Lisboa, em casa de Francisco Lopes Laguna, se achou com uma filha do mesmo chamada Violante Lopes Henriques (1702 - Pr. n.º 4556), então solteira e estando ambos… 

Há 13 para 15 anos (sic), na cidade de Lisboa, em casa de Domingos Lopes Ferreira, contratador, natural das partes da Beira e morador na mesma cidade, se achou com o mesmo e com sua mulher Francisca Lopes Laguna (1702 - Pr. n.º 4542), irmã de Violante Lopes de quem acaba de dizer e estando todos três…

Há 12 para 13 anos, na cidade de Lisboa, ao Lagar do Sebo, por baixo das casas onde ele confitente morava e nas em que assistia Manuel segundo lhe parece Fernandes, cristão novo, que fazia sabonetes, polvilhos e cheiros, filho de Inês Fernandes e com a mesma Inês Fernandes, e com a mulher do dito Manuel Fernandes, de quem agora não lhe lembra o nome, e com uma irmã do dito Manuel Fernandes, chamada Maria, segundo o que lhe parece, então solteira, naturais não sabe donde, mas moradores na cidade de Lisboa, e estando todos cinco…

Há 14 anos, pouco mais ou menos, na cidade de Lisboa, em casa do dito Francisco Lopes Laguna, se achou com os ditos seus filhos e genro, Manuel, Brites, Violante, Francisco Lopes Laguna, Domingos Lopes Ferreira, e estando todos seis… Lembra-se agora que também estava presente uma mulher moça de 23 anos, irmã ou parenta de José Nunes Chaves, segundo lhe parece,  a qual se declarou com ele confitente e com as ditas pessoas.

Há 4 anos, pouco mais ou menos, na vila de Serro, Reino de Castela, em casa de D. Francisco Martim de Vila Diogo, cirurgião, casado não sabe com quem, nem de quem seja filho, que representa ter 50 anos de idade, natural do Reino da Galiza segundo ouviu dizer, se achou com o mesmo e estando ambos…

Há 4 para 5 anos, na dita vila de Serro, Reino de Castela, em casa do dito D. Francisco Martim de Vila Diogo, se achou com um irmão deste chamado D. Félix, também cirurgião, e com a esposa deste chamada D. Catarina de Arnedo, e com um cunhado do dito D. Felix de quem lhe não lembra agora o nome, mas é tratante na vila de Mértola, e vivia em casa de um genro chamado Francisco de Mesquita, cara comprida, trigueiro e magro, estatura meã, cabelo curto corredio, e com a mulher do mesmo chamada Mariana segundo lhe parece, e estando todos cinco…

Há seis para sete anos, na vila de Lepe, Reino de Castela em casa de André Navarro, casado com D. Beatriz Navarro, não sabe de quem sejam filhos, com D. Manuel Navarro, harpista e músico e com D. José Navarro, sem ofício, estes dos dois filhos de André Navarro e esposa, e estando todos cinco…

 

fls. 163 img. 325 – 15-11-1702 – Mais confissão

Há 11 para 12 anos, na Universidade de Coimbra, em casa de José Ribeiro, cristão novo, médico,  filho de um letrado de Beja, irmão inteiro de Manuel Marinho, letrado, natural e morador em Beja, e estando ambos sós…

Há 11 para 12 anos, na Universidade de Coimbra, em casa do dito José Ribeiro, se achou com um irmão deste chamado João Ribeiro, segundo lhe parece, cristão novo, médico, então solteiro e hoje não sabe se é casado, natural e morador na cidade de Beja e estando ambos  sós…

Há 6 para 7 anos, na vila de Lepe, Reino de Castela, em casa de D. João Valasco, cristão novo, Alferes na cidade de Tavira e estanqueiro de tabaco na mesma vila de Lepe, onde é morador e casado com D. Beatriz de Arnedo, filha, segundo lhe parece de um ourives de prata, e estando ambos sós…

Há 3 anos, na mesma vila de Lepe, em casa do dito D. João Valasco, se achou com a mulher do mesmo D. Beatriz de Arnedo, irmã inteira de D. Catarina Arnedo, mulher do cirurgião D. Félix e com uma filha dos mesmos chamada D. Guiomar Arnedo, solteira, e estando todos três…

Há 6 para 7 anos, na cidade de Ayamonte, em casa de D. Francisco de Arnedo, segundo lhe parece cristão novo, recebedor das alcavalas do trigo, casado com uma irmã do dito D. João Valasco, de quem agora acaba de dizer, a quem não sabe o nome, se achou com o mesmo e com a dita sua mulher e com um irmão do dito D. Francisco de Arnedo,  chamado  D. António de Arnedo, barbeiro, então solteiro, e outro irmão D. Manuel de Arnedo, também solteiro, e estando todos …

 

fls. 167 img. 333 – 15-11-1702 – Mais confissão

Há 4 para 5 anos, na vila de Castillego, reino de Castela, se achou em casa de Luis Bernal, cristão novo, mercador,  que representa ter 50 anos de idade, casado com Mariana, irmã de D. Beatriz Navarro, da qual tem dito em suas confissões,  e estando os três…

Há 10 para 11 anos, na cidade de Beja, em casa de Francisco Soares, advogado, não sabe se é casado ou solteiro, nem de quem seja filho, se achou com o mesmo e suas duas irmãs chamadas Leonor e Maria, uma solteira outra casada com os Patinhos de Beja, segundo o que ouviu dizer, e estando todos quatro…

Francisco Soares da Silva foi preso em 1703 e reconciliado no  auto da fé em Évora em 2 de Dezembro de 1712. Mais tarde foi preso em 1720 (1703 – Pr. n.º 10233), transferido para Lisboa,  e absolvido em 1723 no âmbito das célebres denúncias de Francisco de Sá e Mesquita. Os dois processos estão juntos. A denúncia de Diogo Nunes foi a primeira a atirá-lo para a cadeia.

Há 6 para 7 anos, na vila de Cartaya, Reino de Castela, em casa de Manuel Rodrigues, cristão novo, sacador de aguardente e tendeiro, casado com Joana, não sabe de quem é filho, se achou com o mesmo, com a mulher dele e um filho de ambos chamado António Rodrigues, e estando todos quatro…

 

fls.171 img. 341 – 17-11-1702 – Mais confissão

Há 6 para 7 anos, na vila de Redondela, Reino de Castela, em casa de Luis Peres, estanqueiro, se achou com um cunhado do mesmo chamado Francisco de Castilho, cristão novo, tratante, solteiro, não sabe de quem é filho, natural do Reino de Castela e morador em Sevilha, e estando ambos sós…

Há 6 para 7 anos, na vila de Lepe, Reino de Castela, em casa de D. João Valasco, se achou com D. João Pipino, tratante, solteiro, cristão novo segundo lhe parece, não sabe de quem seja filho, entende que natural e morador na cidade de Sevilha, e estando ambos sós…

Há 5 para 6 anos, na dita vila de Redondela e casa de Luis Peres,  ou de sua cunhada D. Maria, onde então estava o dito Luis Peres, se achou com uma filha de Manuel Dias Brandão, que de presente é estanqueiro em Cartaya, e de uma irmã de D. Catarina de Vitória, e é casada a filha do sobredito Manuel Dias Brandão com um boticário de Tavira onde é moradora, e entende ser natural da cidade de Faro, e estando ambos com um irmão ou primo do dito boticário, a quem não sabe o nome nem o ofício, era moço trigueiro, de cabelo corredio, de baixa estatura, nem gordo nem magro, entende ser natural do Reino do Algarve e morador em Tavira, e também com o dito boticário de que não sabe o nome, nem de quem é filho, e estando todos quatro…

Há 17 anos, pouco mais ou menos, na cidade de Lisboa, em casa de João ou Joanilho, de quem lhe não lembra o sobrenome,  e lhe chamavam o pintor, entende que era  solteiro, cristão novo, natural do Reino de Castela, morador naquele tempo a S. Nicolau, reconciliado depois pelo Santo Ofício, e com duas irmãs do mesmo chamadas as "pintoras", de quem não sabe os nomes, mas que foram reconciliadas pelo Santo Ofício na mesma altura que seu irmão, uma delas casada com Pedro Pinheda, e a outra não sabe com quem, ao presente todos moradores em Sevilha, e estando todos quatro…

Há 3 para 4 anos, no lugar de Santa Bárbara, Reino de Castela, em casa de João Rodrigues, cristão novo, ferrador, casado com uma Castelhana de quem não sabe o nome, natural da vila de Serpa,  e estando ambos sós…

Há 3 para 4 anos, no lugar de Santa Bárbara, Reino de Castela, em casa de Bartolomeu Gonçalves Cortez, cristão novo, lavrador, casado com uma Castelhana de quem não sabe o nome,  natural da vila de Calhanhas, Reino de Castela, e estando ambos sós…

Há 3 para 4 anos, no dito lugar de Santa Bárbara, e em casa de Bartolomeu Freire Lobo, se achou com um filho do mesmo chamado Francisco, solteiro, tratante, natural de Mértola, e estando ambos sós…

Há 3 para 4 anos, no dito lugar de Santa Bárbara, em casa de Manuel  Neto, cristão novo, lavrador e arrieiro, casado com Isabel Guisada, não sabe de quem seja filho, com o mesmo e sua mulher e estando todos três…

Há 7 para 8 anos, na cidade de Ayamonte, em casa de D. António de Resende, solteiro, não sabe de quem seja filho, natural e morador em Cádis, e estando ambos sós…

Há 12 para 13 anos, na cidade de Lisboa, em casa de Manuel da Silva Ferreira, se achou com João Leitão (1702 – Pr. n.º 529), segundo primo dele confitente, irmão inteiro de Manuel e Francisco Leitão,  natural das partes do Alentejo e morador na vila de Castelo Branco e estando ambos sós…

Há 12 para 13 anos, na cidade de Lisboa, em casa de Manuel da Silva Ferreira, se achou com o mesmo e com uma irmã deste, chamada Catarina Josefa,  e com quatro filhos do mesmo, chamados Amaro e António da Silva, Josefa Maria e Maria Teresa (é Maria Madalena), e o dito primo segundo João Leitão, de quem acaba de dizer, e estando todos oito…

 

fls. 178 img. 355 – 23-11-1702 – Mais confissão

Há 7 para 8 anos, na cidade de Ayamonte, em casa de Santos Nogueira, mercador, cristão novo, não sabe de quem seja filho e representa ter 60 anos, de estatura meã, todo branco de cabelo, não sabe de onde seja natural, mas entende que é deste Reino, e estando ambos sós…

Há 7 para 8 anos, na cidade de Ayamonte, em casa de António Francisco, mercador, não sabe de quem seja filho, natural do Reino de Castela não sabe donde, e estando ambos sós…

Há 7 para 8 anos, na cidade de Ayamonte, em casa de Manuel Rodrigues, solteiro, cristão novo, filho do Sagalo,  natural não sabe de onde, e estando ambos sós…

Há 5 para 6 anos, na vila de Cartaya, em casa do médico D. Francisco de Leão, se achou com três filhos deste, a saber, D. António de Leão, D. Brites e D. Margarida, naturais da cidade de Granada, e estando todos quatro…

Há 3 para 4 anos, no lugar de Paymogo, terra do Duque de Medina Sidonia, Condado de Niebla, em casa de Isidoro Rodrigues, cristão novo, solteiro, barbeiro, filho de um ferreiro, se achou com este e com um irmão mais velho dele, de que não sabe o nome, nem sabe donde sejam naturais, e estando todos três…

Há 2 para 3 anos, no dito lugar de Paymogo e casa de Manuel Rodrigues, Monteira de alcunha, cristão novo, oficial de justiça no dito lugar, casado com uma serrana de quem não sabe o nome, nem de quem seja filho, mas é tio dos Arnedos de quem tem dito em suas confissões, e estando ambos sós…

Há dois para 3 anos, no lugar de Santa Bárbara, que será de 200 para 300 vizinhos, em casa dele confitente, se achou com um Médico, filho de um mercador, que segundo lhe parece assiste na vila de Moura e foi reconciliado, e o dito Médico é de mediana estatura, cara redonda, calva e representa ter  28 para 29 anos e com um irmão do mesmo, Advogado, mais velho, cara comprida, alva, nariz comprido, cabelo corredio, naturais e moradores na dita vila de Moura, onde são bem conhecidos, e estando todos três…

Há 11 para 12 anos, na Universidade de Coimbra, se achou com um estudante de Leis, natural e morador na cidade de Beja, de boa estatura, negro do rosto com sinais de bexigas,  nem muito gordo nem muito magro, amigo de Pedro de Vilhena e de António Marques, da mesma cidade de Beja, e não tem mais confrontações, só tem o cabelo crespo e negro e estando ambos sós…

Há 11 para 12 anos, na Universidade de Coimbra, na rua do Quebra-costas, se achou com um estudante de Arraiolos, que aprendia Medicina, segundo lhe parece, e era filho de um estalajadeiro da mesma vila, preto de cara, nariz comprido e cabelo negro, nem magro nem gordo e de boa estatura, e era amigo de António Pinto e Cristóvão Pinto, de Arraiolos,  e estando ambos sós…

Há 11 para 12 anos, na Universidade de Coimbra, em casa de Pedro de Vilhena, se achou com Vicente Nunes, cristão novo, estudante de Leis,  não sabe de quem seja filho, natural segundo parece, da cidade de Beja, e estando ambos sós…

Disse mais que ouvira a sua avó Catarina Godinho, que nas partes do Norte, entende que em Tolosa de França, viviam publicamente profitentes da Lei de Moisés,  D. Catarina, mulher de António Covilhas, relaxados por esta Inquisição, como também o filho dos mesmos Rodrigo Covilhas, e outrossim lhe disse Luis Peres  que na cidade de Londres viviam professores da Lei de Moisés, D. Manuel de Husmanes e sua mulher e família, e a dita sua avó lhe disse também que o tio dele confitente Francisco Nunes Henriques  e os filhos deste chamados Francisco Nunes, Josefa Maria dos Serafins e a mãe dos mesmos Maria Rebela  eram profitentes da Lei de Moisés nas partes do Norte.

 

fls. 184 img. 367 – 14-12-1702 – Mais confissão

Há 15 para 16 anos, na cidade de Lisboa, em casa de Henrique, de quem lhe não lembra o sobrenome,  cristão novo, então solteiro e hoje casado com uma de três irmãs que moravam na escada das casas em que ele vivia na Rua das Mudas e eram três irmãs castelhanas, não sabe de quem seja filho, nem donde seja natural e pudera ser do Reino de Castela, por falar alguma coisa de castelhano, se achou com o mesmo e estando ambos sós…

Há cinco anos, na vila de Redondela, Reino de Castela, na casa de António da Silva, cristão novo, sapateiro, solteiro segundo lhe parece, não sabe de quem seja filho, natural da cidade de Tavira, segundo lhe parece, se achou com o mesmo e estando ambos sós…

Há cinco anos, no lugar de Villa Blanca, Reino de Castela, em casa de Domingos Mangano, cristão novo, cirurgião, então solteiro e hoje casado não sabe com quem, nem de quem é filho, natural das partes de Itália, se achou com o mesmo e estando ambos sós…

Há 3 para 4 anos, na vila de La Puebla, Reino de Castela, em casa de António Peres, Médico, se achou com um filho do mesmo que é bastardo e se chama Manuel Peres, barbeiro, casado não sabe com quem, natural de Mértola, e morador na vila de La Puebla, e estando ambos sós…

Há 12 para 13 anos, na cidade de Lisboa em casa de Carlos de S. José, cristão novo, então estudante e hoje não sabe que ofício tem, nem se é casado, e é filho de um fanqueiro da fancaria, de quem lhe não lembra o nome nem o nome da mãe, natural da cidade de Lisboa e nela morador por detrás da Sé, onde se faziam academias, se achou com o mesmo e estando ambos sós…

Há 12 para 13 anos, na cidade de Lisboa, em casa de João Baptista, filho do dito fanqueiro e irmão inteiro do Carlos de S. José, natural e morador na cidade de Lisboa, por detrás da Sé, onde se faziam academias, se achou com o mesmo e estando sós…

 

fls. 189, img. 377 – 15-12-1702 – Mais confissão

Há um ano, no lugar de Azeitão ou melhor na aldeia de Vila Freixe, e na casa de Manuel de Andrade, cristão novo, casado a primeira vez com Maria Leitoa e a segunda não sabe com quem, de mais de 50 anos, se achou com o mesmo e estando ambos sós…

Há um ano, em Azeitão em Aldeia Nogueira, em casa de Inês Viana, que ouviu dizer ser cristã nova, casada com Matias Cordeiro, se achou com a mesma e estando ambos sós…

Há 16 anos, pouco mais ou menos, na cidade de Lisboa e terreiro do Colégio de Santo Antão dos Padres da Companhia, se achou com António Correia Florim, então estudante e hoje não sabe que ofício tenha, cristão novo, filho não sabe de quem, alto, magro, corado da cara e, estando ambos sós…

 

fls. 193 img. 385 – 16-12-1702 – Mais confissão

Há 16 para 17 anos, na cidade de Lisboa, na casa da Comédia do Marques de Cascais, se achou com Jorge, segundo lhe parece, da Costa, cristão novo, que no dito tempo abria as casas para ver as comédias, então solteiro, hoje não sabe se é casado,  filho de um tal fulano da Costa, que às vezes também abria as casas, e havia, segundo ouviu, saído nesta Inquisição, de fogo revolto,  e não sabe o nome da mãe, e estando ambos sós…

No mesmo tempo, e também nas casas queimadas das Comédias, que são do Marques de Cascais, se achou com Pedro da Costa, cristão novo, que tem uma lojinha de fitas e retrós na Rua Nova, não sabe se é casado ou solteiro, irmão do Jorge da Costa de quem acabou de dizer, e, estando ambos sós…

Há 6 para 7 anos, na vila de Lepe, Reino de Castela, se achou com D. Francisco de Rodes, cristão novo, tratante, não sabe com quem é casado nem de quem seja filho, natural das partes de Sevilha, e estando ambos sós…

 

fls. 196 img. 391 – 20-12-1702 – Mais confissão

Há 8 meses, mais ou menos, na cidade de Lisboa, na Rua das Mudas, na casa de Brites de Alvarado, se achou com três filhos da mesma,  a saber José, Branca e Brites, e com uma moça de 16 anos e um rapaz de 17, que lhe disseram serem da família dos Lagunas, e estando todos seis…

Há oito meses, na cidade de Lisboa, em casa de Francisco da Costa Pessoa, se achou com um filho do mesmo que é bastardo e se chama António da Costa (1702 – Pr. n.º 9112-foi relaxado), cristão novo, de quem tem dito em suas confissões e estando sós…

Há 14 para 15 anos, na cidade de Lisboa, em casa dele confitente, se achou dom D. Maria Moroa Pinheira Quatrim, viúva de um capitão de cavalos no Alentejo, não sabe de quem seja filha, natural das partes do Alentejo, moradora na cidade de Lisboa, onde faleceu, e estando ambos sós…

Há oito meses pouco mais ou menos, na cidade de Lisboa, ao jogo da pela, em casa de Clara Dias (é Clara Rodrigues de Chaves – 1702 – Pr. n.º 4544), cristã nova, casada com um mouro baptizado que entende se chama Martinho (é Martinho Mascarenhas – 1703 – Pr. n.º 8811), se achou com a mesma e duas irmãs, desta, chamadas Josefa (1702 – Pr. n.º 547) e Mariana Dias (1702 – Pr. n.º 4554), das quais tem dito em suas confissões, com um filho que é solteiro e vive em casa de sua mãe, e é ourives do ouro  (é José de Chaves, anotou o Inquisidor – 1702 – Pr. n.º 4700; 1705 – Pr. n.º 4700-1), que representa ter 17 para 18 anos, de meã estatura, nem magro nem gordo, e estando todos cinco…

Há 12 para 13 anos, na cidade de Lisboa em casa de Diogo Lopes Crasto, cristão novo, advogado,  já defunto, natural e morador na mesma cidade, e estando sós…

Há 13 para 14 anos, na cidade de Lisboa, em casa de Francisco Lopes Valério, cristão novo, advogado, já defunto, viúvo não sabe de quem, nem de quem seja filho, nem donde é natural, morador na cidade de Lisboa, se achou com o mesmo e estando ambos sós…

Há 11 para 12 anos, na Universidade de Coimbra, na casa de João Galvão, cristão novo, estudante de Leis, não sabe se é casado ou solteiro, nem de quem seja filho, natural e morador na Província do Alentejo, entende que na cidade de Elvas, se achou com o mesmo e estando ambos sós…

Há 11 para 12 anos, na Universidade de Coimbra, na casa de Manuel Fernandes Português, então estudante de Leis, não sabe se é casado ou solteiro, nem de quem seja filho, natural e morador no Alentejo, entende que nas partes de Serpa, se achou com o mesmo e estando ambos sós…

Há 16 para 17 anos, na cidade de Lisboa e casa de Manuel da Silva Ferreira, se achou com o mesmo e quatro filhos deste, a saber, António e Amaro da Silva, Josefa Maria e Maria Teresa (é Maria Madalena), e com Isabel da Silva, filha do médico André da Silva, casada não sabe com quem, natural das partes do Alentejo e moradora em Alter do Chão, e estando todos sete…

 

fls. 202 img. 403 – 2-1-1703 – Mais confissão

Há 3 para 4 anos. no lugar de Paymogo, condado de Niebla, na casa de António da Cruz, cirurgião, casado não sabe com quem, nem de quem é filho, e representa ter mais de 40 anos de idade, se achou com o mesmo e com um filho deste chamado Francisco da Cruz, aprendiz de cirurgião, solteiro, natural da vila de Vidigueira, e morador no dito lugar de Paymogo e estando todos três…

Há 11 para 12 anos, na vila de Alcochete, indo passeando e falando na rua da mesma vila, com Manuel Coelho, sem ofício, não sabe se é solteiro ou casado, filho de um velho de que não lembra o nome e é já defunto, irmão de João Coelho, contratador, que se ausentou para Castela e era este casado com uma tia dele confitente chamada Maria Henriques, natural e morador o Manuel Coelho na cidade de Lisboa, sendo homem de 40 anos, de estatura alta e corpulenta, e mal visto, se achou com o mesmo e estando ambos sós…

Há 11 para 12 anos, na cidade de Lisboa, às Pedras Negras e na mesma rua, se achou com Francisco Coelho, contratador, quase cego, casado não sabe com quem e irmão inteiro do dito Manuel Coelho, natural e morador às Pedras Negras, e estando ambos sós…

 

fls. 205 img. 409 – 10-1-1703 – Mais confissão

Há 14 para 15 anos, na Universidade de Coimbra, em casa de Francisco Soares, cristão novo, estudante de Leis, no dito tempo, solteiro, não sabe de quem fosse filho e é moço magro, alvo de cara e bastante estatura, e quando passou a Sereníssima Rainha da Grã Bretanha pela dita Cidade de Coimbra, que deu o último em Janeiro, apresentou o dito Francisco Soares umas postilas falsas, dadas em outro ano, por cuja causa foi preso de ordem do Reitor Rui de Moura Teles, e que foi solto à instância do General da Artilharia da Beira, o Visconde de Barbacena, e estando ambos sós…

Há 13 para 14 anos, na Universidade de Coimbra e casa do Ilustríssimo Senhor Bispo-Conde João de Melo, se achou com Manuel Baptista, cristão novo, químico, e como tal o obrigaram a se ir formar à Universidade na Faculdade de Medicina, solteiro e hoje poderá ser de 60 anos, desdentado, e falava francês e outras línguas, que ensinava a um sobrinho do dito Ilustríssimo Senhor Bispo Conde, chamado D. Luis de Melo, Maltês, natural não sabe donde e morador na cidade de Lisboa, onde ouviu o prenderam por moliciário, na ocasião em que o fizeram ao Irmão João dos Cadernos,  e estando ambos sós…

Há 8 meses, na cidade de Lisboa e no Terreiro do Paço. em casa de Francisco da Costa Pessoa, se achou com a segunda mulher deste, com quem havia casado há pouco, a quem não sabe o nome nem de quem seja filha (anotou o Inquisidor: é Inês Mendes – 1702 – Pr. n.º 5094; 1708 – Pr. n.º 5094-1) e com uma irmã desta de quem também não se lembra o nome (anotou o Inquisidor: é Maria de Campos – 1702 – Pr. n.º 1945) que estava então doente, com o tio dele confitente e cunhado Gaspar de Sousa, e estando todos quatro…

 

fls. 209 img. 417 – 6-2-1703 – Crença

É a sessão prevista no n.. XI, Tit. VII do Livro II, que indica as perguntas a fazer ao réu.

Diogo Nunes disse que fora há 18 anos que se apartara da fé católica, com os ensinamentos de sua avó Catarina Godinho.

As perguntas e as respostas são as que resultam da lógica de quem quer mostrar-se arrependido.

No final, o Inquisidor disse: “Foi-lhe dito que suas confissões têm ainda muitas faltas e diminuições, as quais são não dizer de todas as pessoas com quem comunicou a dita crença, nem todas as cerimónias que fez em observância da mesma Lei e de que há informação nesta Mesa, do que tudo se presume com grande fundamento não estar verdadeiramente arrependido de todo o seu coração de ter vivido na dita crença, antes de mostra continuar nela, encobrindo e sendo fautor de hereges, e não declarando todas as mais cerimónias que há feito, não se presumindo esquecimento, antes que o faz com muito dolo e malícia…”

 

A admoestação do Inquisidor sugere bastante má vontade em relação ao réu. A arguição era inclusive falsa, porque ele tinha denunciado praticamente todas as pessoas que o tinham acusado a ele. Entendo que aqui estava em causa outra coisa. O réu era um “pulha”, mas um pulha de cabeça erguida, não estava humilhado nem amarfanhado como os Inquisidores queriam que estivessem todos os réus. Nas suas confissões, fora ele que tomara as iniciativas. Isso era muito desagradável para os Inquisidores.

 

fls. 213 img. 425 – 12-2-1703 – Mais confissão

Há um ano, no lugar de Azeitão, em casa de seu cunhado Gaspar de Sousa, se achou com seus dois irmãos, João da Costa, (1702 - Pr. n.º 549), soldado infante e Filipa Maria (1702 - Pr. n.º 4549), cristãos novos, solteiros, e estando todos três…

Há oito meses, pouco mais ou menos, na cidade de Lisboa, em casa de Catarina Josefa, se achou com uma filha da mesma chamada Ana (1702 – Pr. n.º 156), e estando ambos sós…

Há nove meses pouco mais ou menos, na cidade de Lisboa, ao Lagar do Sebo, em casa dele confitente, se achou com seu irmão Alexandre de Sousa, cristão novo, solteiro, natural e morador esta cidade. e estando ambos sós…

Há nove meses, pouco mais ou menos, em Azeitão, em casa de Inês Viana, se achou com três filhos da mesma e de seu primeiro marido, a quem não sabe o nome, a saber: Domingos Viana, solteiro, sem ofício, de estatura comum, magro de cara, preto e bexigoso, e Joana e Maria, segundo lhe parece, uma será de 16, a outra de 18 anos, naturais e moradores em Azeitão com seu padrasto Matias Cordeiro e estando todos quatro…

Em seguida, faz o réu uma declaração sobre cerimónias dos judeus, parecendo querer dizer que tem vastos conhecimentos do assunto e termina: “E outrossim untar o guçe da porta com o sangue do cordeiro na Páscoa dos Judeus, e assistir em todos os anos à renovação do templo como Deus ia com sua Mãe Santíssima assistir de Nazareth a Jerusalém, e outras mais cerimónias que lembrando-lhe as virá depor nesta Mesa”.

Há seis anos, feitos no mês de Novembro passado em casa dos pais dele confitente, se achou com o mesmo seu pai, Manuel da Costa, e seus irmãos, Catarina Maria, Filipa Maria, João da Costa e Alexandre de Sousa, e seu cunhado Gaspar de Sousa, e estando todos sete…

Volta a falar das cerimónias judaicas, mas desta vez, citando o Evangelho de S. Mateus, em Latim:

Scitis quia ab antiquis quia dictum est diliges proximum tuum et odio habebis inimicum tuum (Mateus, 5, 43)

e ainda:

Quare discipuli tui transgrediuntur traditionem seniorum non enim lavant manus suas cum panem manducant? (Mateus, 15,2)

 

fls. 219 img. 437 – 16-7-1703 – O Notário João Cardoso faz o processo concluso.

 

fls. 220- img. 439 – Assento da Mesa

Foi tomado por unanimidade. Visto o Réu “satisfazer a quase toda a prova da justiça que contra ele havia; e outrossim dizer em suas confissões de muitas pessoas seus conjuntos e não conjuntos, com os quais não estava indiciado; e assentar na crença de seus erros e judaísmo por que foi preso, ele seja recebido ao grémio e união da Santa Madre Igreja, e vá ao Auto público da fé na forma costumada. Que ele ouça sua sentença e abjure seus heréticos erros em forma; e tenha cárcere e hábito penitencial a arbítrio favorável; e incorreu na sentença de excomunhão maior de que será absoluto in forma Ecclesiæ; e na confiscação de todos os seus bens para o Fisco e Câmara Real…”

 

Em situação normal, este Assento encerrava o processo. Mas o réu Diogo Nunes lembrou-se de complicar as coisas; de certo modo, queria ser ele a dizer quando é que o processo estava concluído. Pediu Mesa e fez uma declaração de… 80 páginas! Quis mostrar os conhecimentos que tinha e relatar o que sabia sobre cerimónias do judaísmo. É um texto impossível  de resumir (fls. 222 a 262), com várias citações latinas em cada página, em geral do Antigo Testamento,  e certamente ter-lhe-ão facultado uma Bíblia para consulta.

Uma situação recorrente na Inquisição é que, ao fim de um ano de prisão, quase todos os réus aparentam ter já um parafuso a menos, ou mesmo vários. Infelizmente para eles, o Regimento apenas previa a loucura total e era omisso em relação à loucura parcial ou intermitente.

 

No final da longa exposição dos costumes e  cerimónias da fé judaica, terão ficado dúvidas ao Inquisidor sobre a realidade da sua conversão à fé católica e o documento termina: “Perguntado não obstante os ditos fundamentos que diz teve para seguia dita Lei de Moisés, vivendo tantos anos erradamente  na crença da mesma, em que Lei crê de presente e espera salvar sua alma.

“Disse que ele cria bem e verdadeiramente na Lei de Cristo, desde o tempo que disse nesta Mesa se apartara da lei de Moisés e que não tinha para si outra coisa em contrário, e por ela havia dar a vida até à última gota de sangue, e suposto que esta Mesa não julgue dos interiores, pelo menos fundado no que diz Santo Agostinho, se deve presumir estar mui arrependido:  palavras são do Santo: verbum quod foris sonat, est signum illius quod intus latet.”  (A citação é de Santo Tomás de Aquino, mas Diogo Nunes também não podia acertar em todas.)

Foi-lhe dito que nesta Mesa há informação e ele réu tem confessado voluntariamente que persuadido com o ensino de sua avó Catarina Godinho se apartou da Fé de Cristo Senhor nosso, e se passara à crença da Lei de Moisés e que por observância da mesma Lei, jejuava e guardava o dia grande do mês de Setembro e guardava os sábados de trabalho como se fossem dias santos com candeeiros limpos e torcidas lavadas, rezando a oração do Padre Nosso sem dizer Jesus no fim não comendo (comida) proibida, e que era cerimónia da dita Lei de Moisés ungir os defuntos com unguentos, metendo-lhe oferta na boca, e outras mais cerimónias que constam de suas confissões e declarações, desejando ele declarante fazê-las; a crença dos quais erros lhe durara a ele declarante até ao tempo que principiou a fazer sua confissão nesta Mesa em os sete dias do mês de Agosto de mil setecentos e dois, dizendo havia comunicado a crença dos ditos erros com seus Pais, irmãos e mais pessoas, de quem disse em suas confissões, dizendo outrossim a forma com que fazia e desejava fazer as cerimónias da mesma Lei, alegando a causa por que se faziam, persuadido do que leu na Bíblia sagrada, e em Goneth; as quais confissões têm muitas faltas, inverosimilidades e contradições a despeito das ditas declarações e não dizer a esta Mesa a quem ensinou a dita crença como nela há informação;  não sendo de crer que lhe ensinasse a dita crença sua Avó Catarina Godinho, como diz em sua confissão, não sendo doutrina nem ciência alguma para o poder fazer, sendo ele declarante  pessoa que já então ter ciência que depois adquiriu com o estudo que fez na Escritura sagrada e em Goneth. com que enganosamente se persuadia não ser ainda vindo o Messias e durar ainda a crença da Lei de Moisés,  por cuja doutrina assim aprendida é por sem dúvida procurasse ensiná-la a outras pessoas, o que entendeu e aprendeu pela lição dos livros, para os encaminhar no que lhe parecia certo, e doutrinar nos que, seguindo a dita Lei de Moisés, não tinham dela tanto conhecimento; nem sendo admissível nem de crer que a admoestação que lhe foi feita nesta Mesa fora bastante causa para a sua conversão, porque suposto, as doutrinas que tinha e sabia para observar a dita Lei eram necessários mais eficazes auxílios, os suficientes para se apartar dela, e seguir, como deve, só a de Cristo Senhor nosso, em que deve viver, e perseverar como verdadeiro Católico, e filho da Igreja; de que tudo se deixa ver, e presumir querer ainda perseverar na danada crença da lei de Moisés para melhor encaminhar e dirigir a outras pessoas a observarem a mesma Lei; pelo que de novo o admoestam com muita Caridade, da parte de Cristo Senhor nosso, abra os olhos da alma, e deixando quaisquer respeitos humanos que o podem impedir, trate somente do remédio da sua alma, confessando inteiramente a verdade de suas culpas, e a quem instruiu e ensinou na crença da dita Lei, deque há informação nesta Mesa, declarando o verdadeiro Autor do seu judaísmo e a verdadeira ocasião que teve para se fazer senhor com a sua ciência dos lugares da Escritura, repetindo os mais deles formalmente, não impondo porém a si nem a outrem, testemunho falso, por ser o que lhe convém para descargo de sua consciência, salvação de sua alma, e bom despacho de sua causa, e poder ser tratado com a misericórdia que a Santa Madre Igreja costuma conceder aos bons, e verdadeiros confitentes; e por dizer que não era de mais lembrado, e que tinha dito tudo quanto se lhe oferecia, e que não tinha outra alguma coisa que pudesse declarar nesta Mesa, porque a  tê-lo o confessava como há feito nas mais ocasiões, porque só a salvação de sua alma respeita, e não a outra alguma coisa, e sendo outra vez admoestado em forma, foi mandado a seu Cárcere, sendo-lhe primeiro lida esta sessão, que por ele ouvida, e entendida, disse estar escrita na verdade e assinou com o dito Senhor Inquisidor”.

 

Diogo Nunes tinha caído numa ratoeira: os seus conhecimentos da Lei de Moisés e da Bíblia, revelavam que havia tido professores bem mais sabidos do que a sua Avó. Os Inquisidores já não acreditavam no arrependimento dele, não havia nele provas de humildade, indispensáveis para sair com vida e alguma saúde daquela casa.

 

fls. 264 img. 527 – 5-9-1703

O Notário José Coelho faz o processo concluso para que “nele se tome assento em mesa sobre a última confissão e declarações que fez e que se envie ao Conselho”.

 

fls. 266 img. 531 – 5-9-1703 – Assento da Mesa

A maior parte dos Inquisidores e Deputados foram de opinião que se mantivesse a sentença no sentido da reconciliação, mas que, depois da sua sentença, “visto ter o réu tanta doutrina na Lei de Moisés pelas Escrituras” deveria receber instrução espiritual no cárcere da penitência ou no sítio que o Santo Ofício indicasse. Os Deputados D. Nuno Álvares Pereira de Melo e D. João de Sousa, foram de opinião que o réu tivesse reclusão pelo espaço de um ano, em que seria instruído por Padres doutos para o bem da sua consciência.

 

fls. 268 img. 535 – 6-9-1703 – Assento do Conselho Geral

 

“… e assentou-se que ele seja examinado pela matéria de suas declarações e que, no cárcere em que estiver, vigiado e observado”.

 

Isto é, o Conselho quer saber se ele faz jejuns no cárcere, a última cerimónia que os cristãos novos que são judeus fervorosos abandonam.

 

O processo pára um ano, com toda a evidência para “amolecer” o réu na prisão. Uma perversidade evidente da Inquisição.

 

fls. 270 img. 539 – 23-9-1704 - Exame

 

O réu negou que tivesse ensinado a alguém a ter crença na Lei de Moisés.  Que a instrução na matéria a recebera de sua Avó Catarina Godinho confirmada depois pela leitura das Escrituras e do Autor Goneth. A sua avó não sabia ler nem escrever, mas fora a sua única professora na matéria. Garante que para a sua conversão, foram decisivas as admoestações que lhe foram feitas na Mesa da Inquisição. E cita S. Paulo (aos Hebreus, 13, 17):  “Oboedite praepositis vestris et subiacete illis ipsi enim pervigilant quasi rationem pro animabus vestris reddituri ut hoc cum gaudio aciant et non gementes hoc enim non expedit vobis”. e depois dos Salmos (1,1,2): Quare fremuerunt gentes et populi meditati sunt inania adstiterunt reges terrae et principes convenerunt in unum adversus Dominum et adversus christum eius” a ainda um texto semelhante ao do Evangelho de S. João mas de fonte diversa: “et remisit eum ad Pillatum, Pillatus autem cum cognovisset cogitationes eorum dixit ad eos, ego nulla invenio in eo causam, at illi dixerunt si non esset hic malefactor non tibi trdissemus eum, Pillatus autem, videns quod magis tumultus fierit in populo remisit eum ad Herodem regem”.e muitas outras várias citações.

 

No final, o Inquisidor quis saber se ele cria firmemente na Fé de Cristo e tinha definitivamente abandonado a crença na Lei de Moisés. Ele respondeu evidentemente que sim.

Depois a admoestação final: “Foi-lhe dito que examine bem a sua consciência e confesse inteiramente toda a verdade nesta Mesa deixando as inverosimilidades e repugnâncias que se acham em suas confissões, e respostas às perguntas que se lhe fizeram nesta Mesa, porque não é de crer que sua Avó Catarina Godinho fosse quem só lhe ensinasse a ter crença na Lei de Moisés, quando ao mesmo tempo diz que ela não tinha ciência alguma nem ainda sabia ler, ou escrever, e ele declarante se acha com tantas notícias ainda que falsas, que obrigavam a seguir a crença e observância da dita Lei, que agora nega e encobre, simulada e fingidamente, que outrem foi quem lhe ensinou a ter crença na dita Lei (…. ) e que como tão observante e com tantas notícias (ainda que falsas) da mesma Lei, se presume que ele declarante ensinou, instruiu e dirigiu muitas pessoas, e quantas lhe fossem possível para a dita observância, e crença, procurando como coisa tão natural ensiná-las e instrui-las no mesmo que cria e vivia, persuadindo-as a que seguissem o mesmo que ele declarante observava, e seguia tão cego e firme, como ele declarante tem confessado que cria e seguia; nem é para admitia a razão que ele declarante dá de um e principal fundamento que tivera para largar a crença da dita Lei fora o da dita admoestação, com o mais que tem declarado; pois o está tão entrado e inveterado em seus erros, como são os de tantos anos em que os seguia e com tantos fundamentos, posto que falsos, não obstante que a sua cegueira os julgava por verdadeiros para os seguir, havia para os largar, mover-se de resolução mais vigorosa, porque os fundamentos que dá, o não justificam, tanto que se possa por eles entender serem os que bastam para largar a dita crença, porque ainda que as iluminações de Cristo Senhor Nosso nos venham quando Ele é servido, contudo para estas serem e se terem por verdadeiras, não basta dizê-lo quem cavilosamente o manifesta com encontros, inverosimilidades e repugnâncias como são as que se acham nas respostas aos exames que lhe foram feitos…”

 

fls. 289 img. 577 -  24-9-1704

 

Neste exame, é o Inquisidor que faz ao réu uma prelecção ao longo de cinco páginas, cheia de citações:

 

Salmos (5 e 11): “Sepulchrum patens est guttur eorum, linguis suis dolose agebant”.

notum sit tibi, rex, quia deos tuos non colimus, et statuam auream, quam erexisti, non adoramus. (Daniel, 3,18)

non enim aetatem nostram dignum est  fingere  (Macabeus, 6, 24)

si quid habes, ut justificeris (Isaías, 43)

et dixit David ad Nathan peccavi Domino dixitque Nathan ad David Dominus quoque transtulit peccatum tuum non morieris (Samuel, 12,13)

non facies tibi sculptile  (Exodus, 20,4)

Deus ipse veniet et salvabit vos  (Isaías, 35, 4)

Benedicat nos Deus, Deus noster! Benedicat nos Deus (Salmo 66, 7)

in nihilum redigam te et non eris et requisita non invenieris  ultra in sempiternum (Ezequiel, 26,21)

Et erit in die illa: in oblivione erit Tyrus septuaginta annis, sicut dies regis unius. Post septuaginta autem annos erit Tyro iuxta canticum meretricis (Isaías, 23,15)

Exodus 15:18 "Dominus regnabit in aeternum et ultra"

 

fls. 293 img. 585 – 24-7-1704

O Notário Manuel Rodrigues Ramos faz fé de que o Alcaide dos Cárceres, Agostinho da Costa, mandou vigiar na sua cela Diogo Nunes e este não fez qualquer jejum nem alguma acção por que se entendesse não ser católico romano.

 

fls. 293 v img. 586 – 24-7-1704

O mesmo Notário faz os autos conclusos.

 

fls. 294 img. 587 – 24-7-1704 - Assento da Mesa

Por unanimidade, volta-se ao Assento de 16 de Julho de 1703, no sentido de que o réu pode ser reconciliado, até porque, tendo sido vigiado, não fez qualquer jejum.

 

fls. 296 img. 591 – 1-10-1704 - Sessão in specie

O Inquisidor faz o interrogatório clássico em que pergunta se se lembra dos encontros havidos em cada uma das denúncias que o incriminaram. Responde a todas “Disse que não lhe lembra passar tal”. É uma atitude perigosa e inconsequente, porque afinal ele tinha denunciado praticamente todos os que o tinham acusado a ele.

 

fls. 300 img. 599 – 1-10-1704 – Admoestação antes do libelo

 

fls. 301 img. 601 – Libelo

No final da leitura, perguntaram ao réu se o conteúdo do libelo era verdade. Ele responde que o contestava pela matéria das suas confissões. Mas disse que não tinha defesa com que vir nem queria estar com Procurador.

 

fls.305 img. 609 – 2-10-1704

Presumindo que o réu pode estar circuncidado, dois Inquisidores despacham no sentido de ele ser pessoalmente vistoriado por um médico e um cirurgião.

 

fls. 306 img. 611 – 2-10-1704 – Citação da prova da justiça

 

fls. 306 v img. 612 – 2-10-1704 – Certidão da vistoria

Dois notários certificam que o médico Manuel de Pina Coutinho e o cirurgião António de Figueiredo examinaram o réu, o qual, mostrando o seu membro viril, para efeito de se ver se era ou não circuncidado, foi depois recolhido. E os ditos médico e cirurgião disseram que lhes parecia não ser circuncidado o dito preso, pelas razões que deram e declararam em seus testemunhos.

 

fls. 307 img. 613 – 2-10-1704 – Depoimentos do médico e cirurgião

Disse o médico que “ao fazer a vistoria no membro  viril de um homem que entende ser o médico do Seixal, nele observou e viu uma cicatriz no prepúcio do dito membro viril, afastado da mêntula, ou fava dele, a qual cicatriz pela experiência que tem de semelhantes vistorias lhe parece ser procedida de morbo gálico a que vulgarmente se chamam cavalos, o que confirmou o mesmo Réu dizendo haver sido de cavalos que padecera naquela parte, o que condiz com a figura da dita cicatriz, porque é só de uma parte pequena, sem ser circular, e segundo o juízo que faz da dita cicatriz, lhe parece ser só procedida da dita queixa, e não de o réu ser circuncidado.”

Disse o cirurgião que viu o réu “e fazendo-lhe vistoria no seu membro viril achava que uma das partes do prepúcio e parte de dentro tinha uma cicatriz pequena que mostrava ser procedida de morbo gálico, o que se confirmava com a dita pessoa dizer que naquela parte havia tido uma chaga procedida de cavalos, e a tal cicatriz era só de uma parte sem ocupar toda a circunferência, e pela experiência que tem de semelhantes vistorias, e nelas ter visto alguns circuncidados, julga que o réu o não é.”

 

fls. 309 img. 617 – 3-10-1704 – Assento da Mesa

Por unanimidade o assento de 24 de Setembro não está alterado, mas condenam o réu a hábito penitencial perpétuo.

 

fls. 310 img. 619 3-10-1704 – Autos conclusos

 

fls. 311 img. 621 – 3-10-1704 – Assento do Conselho Geral

Confirma o assento da Mesa

 

fls. 313 img. 625 – Sentença (não está assinada)

 

fls. 333 img. 665 – Abjuração em forma (está assinada, mas o impresso não está preenchido)

 

fls. 334 img. 667 – Termo de segredo (está assinado, mas o impresso não está preenchido)

 

fls. 336 img. 671 – Foi ouvido de confissão e instruído na doutrina da Fé Católica

 

fls. 337 img. 673 – 17-12-1707

Libertado do Cárcere da Penitência, obrigado a ir para o Lavradio, termo de Alhos Vedros, donde não sairá. Não pode vir a Lisboa, nem sair do Reino sem autorização do Santo Ofício.

Mais uma perversidade da Inquisição: um Inquisidor decidiu agravar a pena do réu, juntando-lhe mais o degredo para uma pequena localidade, embora dentro do Reino.