Forçam-me,
mesmo velhote,
de vez em quando, a beijar
a mão que brande o chicote
que tanto me faz penar.
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Porque
o mundo me empurrou,
caí na lama, e então
tomei-lhe a cor, mas não sou
a lama que muitos são.
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Eu
não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
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À guerra não ligues
meia,
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra |
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Vós
que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um mundo novo a sério.
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Que
importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?
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P'ra
mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
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Sei
que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.
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Enquanto
o homem pensar
que vale mais que outro homem,
são como os cães a ladrar,
não deixam comer, nem comem.
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Eu já não sei o que faça
p'ra juntar algum dinheiro;
se se vendesse a desgraça
já hoje eu era banqueiro. |
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A
vida na grande terra
corrompe
a humanidade.
Entre
a cidade e a serra
prefiro
a serra à cidade.
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O mundo só pode ser
melhor do que até aqui,
- quando consigas fazer
mais p'los outros que por ti!
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Eu
não sei porque razão
certos
homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores
querem parecer. |
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Bate a fome à porta deles
e é lá mais mal recebida
do que na casa daqueles
que
a sofreram toda a vida. |
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Uma mosca sem valor
poisa, c'o a mesma alegria,
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.
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Para não fazeres ofensas
e teres dias felizes,
não digas tudo o que pensas,
mas pensa tudo o que dizes. |
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Num arranco de loucura,
filha desta confusão,
vai todo o mundo à procura
daquilo que tem à mão.
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Vinho que vai para vinagre
não retrocede o caminho;
só por obra de milagre,
pode de novo ser vinho. |
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Entre leigos ou letrados,
fala só de vez em quando,
que nós, às vezes, calados,
dizemos mais que falando.
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Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
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Quando te vês mal, e dizes
que preferias a morte,
pensa
que outros menos felizes
invejam
a tua sorte.
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Mentiu com habilidade,
fez quantas mentiras quis;
agora fala verdade
ninguém crê no que ele diz. |
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Tem a música o poder
de tornar o homem feliz;
nem há quem saiba dizer
tanto quanto ela nos diz. |
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Quando os homens se convençam
que a força nada faz,
serão felizes os que pensam
num mundo de amor e paz.
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Gosto do preto no branco,
como costumam dizer:
antes perder por ser franco
que ganhar por não ser.
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Não sou esperto nem bruto,
nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado. |
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Queremos ver sempre à distância
o que não está descoberto,
Sem ligarmos importância
ao que está à vista e perto.
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Porque será que nós temos
na frente, aos montes, aos molhos,
tantas coisas que não vemos
nem mesmo perto dos olhos?
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Sei que umas quadras são conselhos
que vos dou de boa fé;
outras são finos espelhos
onde o leitor vê quem é. |
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Vemos gente bem vestida,
no aspecto desassombrada;
são tudo ilusões da vida,
tudo é miséria dourada. |
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Quantas sedas aí vão,
quantos colarinhos,
são pedacinhos de pão
roubados aos pobrezinhos! |
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Julgam-me mui sabedor;
e é tão grande o meu saber
que desconheço o valor
das quadras que sei fazer. |
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Quando não tenhas à mão
outro livro mais distinto,
lê estes versos que são
filhos
da mágoa que sinto.
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Peço às altas competências
Perdão, porque mal sei ler,
P’ra aquelas deficiências
Que os meus versos possam ter. |
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Quando não tenhas à mão
Outro livro mais distinto,
Lê estes versos que são
Filhos das mágoas que sinto. |
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Julgam-me mui sabedor
E é tão grande o meu saber
Que desconheço o valor
Das quadras que sei fazer! |
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Quem nada tem,
nada come;
e ao pé de quem tem de comer,
se alguém disser que tem fome,
comete um crime, sem querer |
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A quadra tem
pouco espaço
Mas eu fico satisfeito
Quando numa quadra faço
Alguma coisa com jeito |
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Nada
direi, mas, enfim,
Vou ter a grande alegria
De a Arte dizer por mim
Tudo quanto eu vos diria |
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Nos versos que
se improvisem,
Os poetas sabem ler,
Para além do que eles dizem,
Tudo o que querem dizer |
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Falemos
sinceramente,
Como p'ra nós mesmos, a sós;
Lá longe de toda a gente,
Do mundo, e até de nós |
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Após um dia
tristonho
de mágoas e agonias
vem outro alegre e risonho:
são assim todos os dias |
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Mentiu
com habilidade,
fez quantas mentiras quis;
agora fala verdade,
ninguém crê no que ele diz |
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São parvos, não
rias deles,
deixa-os ser, que não são sós;
às vezes rimos daqueles
que valem mais do que nós |
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Há
luta por mil doutrinas.
Se querem que o mundo ande,
Façam das mil pequeninas
Uma só doutrina grande. |
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Quando
os Homens se convençam
Que à força nada se faz,
Serão f’lizes os que pensam
Num mundo de amor e paz.
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A
arte em nós se revela
Sempre de forma diferente:
Cai no papel ou na tela
Conforme o artista sente
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Quem
prende a água que corre
É por si próprio enganado;
O ribeirinho não morre,
Vai correr por outro lado. |
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Embora
os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo,
O que importa é que eles sejam
O que os Homens são no fundo. |
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Julgando
um dever cumprir,
Sem descer no meu critério,
- Digo verdades a rir
Aos que me mentem a sério!
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Que
importa perder a vida
na luta contra a traição
se a razão mesmo vencida
não deixa de ser razão |
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