10-1-2015

 

A Inquisição seria extremamente ridícula, se não tivesse sido sempre trágica

 

 

Por volta de 1673, começou a circular em Roma em manuscrito o panfleto com o título “Notícias recônditas do modo de proceder a Inquisição de Portugal com seus presos”. Sob os n.ºs 142 e 143 era descrito o caso seguinte:

 

“142. Manoel Lopes Sotil, natural de Elvas, que actualmente está ainda nas galés, foi preso em Évora. Saiu no Auto reconciliado, e degredado; porque parece confessou de sentença de morte, ou já de mãos atadas. Isto se não alcançou com certeza; porque o estar nas galés pode ser pena acrescentada pelo caso que estamos referindo. Veja-se o seu processo donde tudo pode constar.  Este homem era casado com sua mulher, cristã velha, a qual tinha um irmão cujo nome constará dos processos. Quando confessou o Sotil, deu em sua mulher, e nos filhos, e no cunhado; e logo levado para a cadeia pública de Vila-Viçosa, avisou à mulher, que ela, seus filhos, e irmão se fossem acusar; porque ele naqueles últimos apertos (parece que de mãos atadas) havia dado neles: que se fossem remediar; que assim chamam às acusações.    

143. A mulher se resolveu logo a fazê-lo; e dizendo ao irmão (advirta-se que eram irmãos inteiros) fosse também com ela para também se acusar, respondeu ele que não queria, porque eram Cristãos velhos: que fossem os seus filhos dela, os quais pela parte de seu pai tinham a sua parte. A mulher, sem embargo destas advertências do irmão, foi; e se presume que ela, e os filhos, com efeito se acusaram. O irmão vendo isto, se foi a Évora, estando lá a irmã, com instrumentos de como eram Cristãos velhos, e os apresentou no Santo Ofício; e por estas causas foi de novo apertado o dito Manoel Lopes Sotil, e os filhos da mulher; e não se tratou mais dele depois que o irmão chegou com o tal instrumento.  Dos processos constará a verdade, que nisto passou; e como todos são vivos, bem se pode saber deles o que houve em todo este caso. Eis aqui Cristã velha acusada! “

 

No essencial, a notícia está exacta. H.P. Salomon para a sua tradução “The Marrano Factory” andou à procura dos processos, constatou que estava extraviado o processo de Manuel Lopes Subtil (ou Sotil ou Sutil) em Évora, mas não deu conta que o 2.º processo tinha corrido em Lisboa (Pr. n.º 4732) e por isso não o achou.

Por volta de 1657 – 1660, foram presos em Elvas bastantes cristãos novos, de famílias a viver bem que, depois de confessarem o que não tinham feito e de acusarem um número maior do que os tinham acusado a eles, saíram sobretudo no Auto da Fé realizado em Évora em 11 de Maio de 1664. Não devem ter sido lestos a confessar, porque as penas foram severas. Quase uma dúzia tiveram degredo para o Brasil que, visto o exagero, foram comutadas para locais da fronteira da Beira. Entre os que saíram nesse Auto da Fé, estava Manuel Lopes Subtil, com parte de cristão novo, casado com Maria Coelha, que se tinha por cristã velha, que tinha as funções de escrivão do judicial em Elvas e fora preso em 9-5-1657, quando tinha 52 anos.

Depois de já ter confessado e acusado, o Inquisidor continuava a dizer que ele ainda não tinha confessado tudo. Era um costume do Inquisidor Pedro Mexia de Magalhães (e de outros também) nunca estar satisfeito com as confissões e denúncias dos presos e querer sempre mais. Então, em 5 de Maio de 1664, denunciou ele sua mulher e seus três filhos mais velhos e cunhado, irmão de sua mulher, de nome,  Lourenço Coelho Delgado. Sua mulher e cunhado eram tidos em Elvas por cristãos velhos, embora essa consideração não fosse unânime, como veremos.

Saiu no Auto e foi para a cadeia de Vila Viçosa e depois para a do Limoeiro, em Lisboa, a aguardar transporte para o Brasil. Aproveitando de alguma liberdade relativa, mandou recado a sua mulher e aos três filhos mais velhos para virem falar com ele. Disse-lhes que, apertado pelo Inquisidor, fora obrigado a denunciá-los a todos por culpas de judaísmo e, por isso, eles tinham agora de se apresentar na Inquisição a dizer a mesma coisa. No mesmo Auto, tinham saído com ele os dois filhos mais velhos, André Lopes Subtil e Maria Nunes ou Maria Subtil, que receberam dele a mesma ordem para se apresentarem na Inquisição, para fazer uma denúncia adicional. Maria Coelha apresentou-se em 20-5-1664, os dois filhos mais velhos em 24-5-1664.

Não pude consultar os processos de Gaspar Coelho (o filho mais novo – Pr. n.º 4575) nem o do tio Lourenço Coelho Delgado (Pr. n.º 445), por se encontrarem em mau estado.

O cunhado Lourenço Coelho não esteve pelos ajustes e jurou a pés juntos que era cristão velho e portanto, não podia ser acusado de culpas de judaísmo.

A Inquisição foi averiguar.

 

Este processo é sintomático dos tempos que se viviam na altura. Na maior parte das localidades, a população cristã nova estava assimilada à católica e só se distinguiam pela vaga fama de ter antepassados cristãos novos. Mas havia cada vez mais dúvidas nesta matéria.

Na minha opinião, era completamente falso atribuir culpas de judaísmo a quem não fosse cristão novo inteiro e, mesmo estes, só os que não estivessem em matrimónio misto de católico com cristã nova ou vice versa. Só a Inquisição é que não via isto, por a perseguição dos chamados cristão novos ser a razão da sua existência.

Apesar dos protestos de Lourenço Coelho Delgado, havia algumas testemunhas da fama de cristãnovice de sua família por parte de sua avó materna Susana Fernandes:

 

Processo n.º 4732:

 

img. 17– audição de testemunhas às contraditas: Simão Rodrigues, 2.ª testemunhas, ouviu dizer a muitas pessoas que a avó materna de Maria Coelha e seu irmão Lourenço tinha parte de cristã nova.

João Sobreiro, 3.ª testemunhas, de dois anos  ouviu fama vaga que tinha alguma coisa de cristão novo

img. 25 – Quando Manuel Lopes Subtil estava preso, um companheiro de cárcere, Miguel de Mures (Pr n.º 10411), que serve na Vedoria, natural e morador em Elvas,  disse-lhe saber que sua mulher  tinha parte de cristã nova.

img. 27 –  Maria Coelha declarou na Inquisição “(…) lhe disse sua prima Margarida Delgada, casada com António Cordeiro, lavrador, que ouvira dizer sem declarar a quem, que ela declarante tinha alguma coisa de cristã nova por via de sua mãe (…)”

img. 34 – Manuel Lopes Subtil repetiu o que dissera na sua confissão: pensava que sua mulher e cunhado tinham parte de cristãos novos.  Acrescentou que certa vez perguntara a seu cunhado por que não prosseguia nos estudos que havia começado e ele lhe respondera que um tio lhe tinha dito que não os continuasse porque não havia de ser clérigo e ele Réu ficou entendendo que o não poderia ser por algum defeito de cristão novo.

 

Pr. 9, de António Coelho Delgado, img. 30 - – a testemunha Manuel Mendes Carapeto (Pr. n.º 3050) na sessão de 27-3-1658 culpou Manuel Lopes Subtil dizendo que era casado com Maria Coelha, “que entende que também tem parte de cristã nova”.

 

Perante este quadro, a Inquisição tinha duas soluções: ou aceitava como boas as denúncias e pronunciava Maria Coelha e seu irmão Lourenço Coelho Delgado por culpas de judaísmo. Era o que se costumava fazer, pois nesta altura, numa cidade como Elvas, todas as denúncias eram falsas.

Ou então, acusava de perjúrio a Manuel Lopes Subtil e a seus três filhos, por terem acusado cristãos velhos.  No inquérito efectuado, a maior parte das testemunhas disse que a mulher e o cunhado eram cristãos velhos (10 testemunhas).  Este perjúrio era uma falta muito grave para a Inquisição que, no entanto, nada ligava ao perjúrio de quem acusava cristãos novos.  

Foi a segunda a opção da Inquisição.

Findo o inquérito, Lourenço Coelho Delgado foi absolvido e mandado em paz em 6 de Maio de 1667. Maria Coelha foi repreendida por ter jurado falso (dissera na Inquisição que era cristã nova por ordem de seu marido) e também mandada em paz em 9 de Maio de 1667.

Foram presos

- Em 21 de Junho de 1667, o Manuel Lopes Subtil que passou da cadeia do Limoeiro para onde tinha ido, para os cárceres da Inquisição de Lisboa

- o André Lopes Subtil, a irmã Maria Nunes e o irmão Gaspar Coelho a 10 de Maio de 1667, para o cárcere da Inquisição de Évora.

Não tinham defesa possível. Os filhos confessaram ter obedecido ao pedido do pai.

Manuel Lopes Subtil saiu no auto da fé em Lisboa de 11-3-1668 e foi condenado a levar açoites pelas ruas de Lisboa citra sanguinis effusionem, e a dez anos de degredo para as galés. Já não havia galés, a pena era a sujeição a trabalhos pesados na cadeia de Lisboa. Em 19-6-1668, foi autorizado a sair da cadeia para se ir curar, mediante a prestação de uma caução.

Os três irmãos saíram no Auto da Fé em Évora de 16-10-1667, todos condenados ao degredo para o Brasil, o André de 4 anos e os outros dois, de 3 anos cada um.

Gaspar embarcou mesmo para o degredo no Brasil em 6-3-1668, tinha então 19 anos.

 

Em 28-2-1668, Guiomar de Oliveira, noiva prometida de André, pediu para ele o perdão do degredo. Soou-lhes que o pedido teria resposta favorável (ver nota na capa do processo), casaram-se em 23-4-1668 e o degredo foi-lhe perdoado.

 

Mais movimentada foi a odisseia de Maria Nunes ou Maria Subtil: pediu que lhe perdoassem o degredo para o Brasil, comutaram-lho para o Algarve, mas não foi para lá. Em Setembro de 1671 e em Outubro de 1672, veio de novo pedir o perdão do degredo, pois entretanto tinha-se casado. Não teve resposta. No mês de Outubro de 1672, foi emitida uma ordem de prisão contra ela, que não foi cumprida. Em Novembro do mesmo ano, apresentou uma fiança de vinte mil réis de como cumpriria o degredo. A fiança caducou pelo óbito do fiador. Em Agosto  de 1675, seu marido entregou nova fiança da mesma importância e apresentou-se com a mulher em Faro no mesmo mês para cumprir o degredo, mas em vez de ficar lá regressou brevemente e dizem que nas mesmas bestas em que foi”. Aliás, pouco depois, deu à luz pela segunda vez e baptizou em Elvas em 16-11-1675, um seu filho chamado Manuel. O Promotor requereu então a prisão dela. A Mesa da Inquisição concordou, enviando a decisão para confirmação do Conselho Geral, mas este nunca chegou a pronunciar-se. O assunto morreu ali.

Por esta altura, já corria em Roma (desde 1673) e eventualmente também em Lisboa o manuscrito das “Notícias Recônditas”. A história da família Subtil tinha-se tornado coisa incómoda para a Inquisição. Devem ter achado melhor esquecer o assunto, ao mesmo tempo que faziam desaparecer o processo inicial do pai em Évora.

 

GENEALOGIA

 

Lourenço Coelho casou com Catarina Lourenço e tiveram

1-Sebastião Coelho, lavrador, casado com Catarina Rodrigues, c.n., de quem teve:

       Manuel Coelho Delgado (Pr. n.º 605 de Coimbra, Relaxado), viúvo de Maria Gomes—e tiveram

                                          Catarina Coelho (Pr. n.º 11054, de Lisboa, Relaxada). de 28 anos

                                          Vicente Velho Coelho (Pr. n.º 9941, de Lisboa, Relaxado), de 26 anos

                                          José Coelho (Pr. n.º 4776, de Lisboa,  Relaxado) , de 24 anos

                                          João Coelho Delgado (Pr. 10996, de Évora), de 15 anos

       António Coelho Delgado (Pr. n.º 9, de Évora) casado com Joana Lopes – Proc. n.º 121, de Évora, que não têm filhos

2-Gaspar Coelho, que casou com Maria Nunes, ambos falecidos que tiveram:

      Lourenço Coelho Delgado (Pr. n,.º 445, de Évora), viúvo de Isabel Martins, que não tiveram filhos;

      Maria Coelha (Pr. n.º 7150, de Évora) que casou com Manuel Lopes Subtil (Pr. n.º 4732, de Lisboa)  e tiveram:

                                         - André Lopes Subtil (Pr. n.º 10441, de Évora), de 23 anos

                                         - Maria Nunes ou Maria Subtil (Pr. n.º 1975, de Évora) , de 21 anos

                                         - Gaspar Coelho (Pr. n.º 4575, de Évora), de 18 anos

                                         - Sebastião Coelho, de 8 anos

3- Domingos Coelho, viúvo de Violante Alves – têm filhos que não conhece

                         Frei Sebastião

                         Frei Lourenço, Religiosos da Ordem de S.to Agostinho no Reino de Castela

                         Afonso Coelho, que foi casado com Maria Álvares, cristã velha

4- P.e Afonso Coelho, já defunto, que foi Vigário Geral de Elvas

5- Leonor Coelho, defunta, que foi casada com Vasco Martins Segurado, de que teve

    Álvaro Segurado

    Brites de Sequeira e

    Mécia Lobo que faleceram solteiras

    Outra Mécia Lobo, já defunta que foi casada com Vasco da Gama de Abreu, meirinho da Correição de Elvas

6- Margarida Delgada, defunta, que foi casada com Gonçalo Rodrigues, de quem não teve filhos

 

 

Processo n.º 4732, da Inquisição de Lisboa, de Manuel Lopes Subtil

 

fls. 1 img. 1 - Processo de Manuel Lopes Sotil, que tem parte de cristão novo, e servia de Escrivão do Judicial, natural e morador da cidade de Elvas, residente nesta de Lisboa, preso nos cárceres da Inquisição da mesma.

Nota: “Informado em 16 de Agosto de 1675 que lhe não perdoam o degredo”.

Nota: “Informado hoje que se lhe não comuta. Lisboa, 30 de Abril de 1677

fls. 3 img. 5 – Preso a 21 de Junho de 1667

fls. 5 img. 9 – 21-6-1667 – Os Inquisidores ordenam que o Meirinho vá à cadeia da Cidade e traga Manuel Lopes Sotil para os cárceres da Inquisição.

fls. 6 img. 11 – 21-6-1667 – Auto de entrega nos cárceres da Inquisição

fls. 7 img. 13 – Traslado da denúncia que fez o Réu contra sua mulher Maria Coelho (Pr. n.º 7150, de Évora) e contra seu cunhado, Lourenço Coelho Delgado (Pr. n.º 445, de Évora), ambos cristãos velhos.

Ele Réu foi preso a primeira vez (não aparece o processo) em 9 de Maio de 1657. Ficou negativo até que foi notificado de que estava convicto no crime de heresia. Começou a confessar, continuou e na 7.ª sessão disse o que se refere a seguir. Foi reconciliado no auto da fé em Évora de 11-5-1664 (sob o n.º 34), com cárcere e hábito penitencial perpétuo, sem remissão.

fls. 7 img. 13 - 5 de Maio de 1664 – Disse que há nove anos em sua casa em Elvas, se achou com sua mulher Maria Coelha, que tem parte de cristã nova, seu filho, Gaspar Coelho  e Lourenço Coelho Delgado, seu cunhado, irmão de sua mulher viúvo de Isabel Martins Moura, cristã velha e todos juntos se declararam por crentes na Lei de Moisés.

fls. 8 img. 15 – 18-1-1666 - Assento da Mesa da Inquisição de Évora sobre a qualidade de Lourenço Coelho Delgado, do processo deste (Pr. n.º 445, de Évora)

Pareceu a todos os votos, excepto ao Inquisidor Pedro Mexia de Magalhães que não “havia culpas bastantes” para condenar o Réu, ainda que contra ele hajam seis testemunhos de declaração de judaísmo em forma, de sua irmã Maria Coelha, seus sobrinhos Gaspar Coelho, Maria Nunes e André Lopes Subtil, e seu cunhado, pai destes e marido de sua irmã, Manuel Lopes Subtil, afirmando “que tem parte de cristão novo”.  Mas há provas de que ele é cristão velho, como o afirmam 10 testemunhas. Posto que o Avô materno Pedro Fernandes não seja de Elvas, foram interrogadas testemunhas de Sardoal, donde é natural e todas dizem que era cristão velho.  Aliás, o marido e os três filhos de Maria Coelha, nas Genealogias, disseram que ela era cristã velha.  e só na crença é que Manuel Lopes Subtil e os filhos a deram como tendo parte de cristã nova.  Provou-se nas contraditas que havia grande inimizade entre Lourenço Coelho Delgado e sua irmã, seu cunhado e seus sobrinhos.

Ora, os filhos André Lopes e Maria Nunes só denunciaram o tio, depois de saírem reconciliados no Auto em que também saiu seu pai (11-5-1664). A mãe, Maria Coelho, apresentou-se com o filho Gaspar depois a denunciar o irmão e tio, por o seu marido e pai lhes dizer que não tinham outro remédio senão fazer isso mesmo.  “E se acrescenta esta presunção de falsidade e inocência do delato de que, havendo sido presas tantas pessoas de Elvas, não culpasse mais do que uma ao delato fora do dito Manuel Lopes Subtil, sua mulher e filhos e todos no mesmo tempo e ocasião e de que, sabendo o delato que estava culpado por tantas testemunhas e tão conjuntas, e avisado que se apresentasse ou fugisse, não o quisesse fazer, antes publicasse sua inocência e cristãvelhice, vindo usar das contraditas, e dizer a dita Maria Coelha que se temia que ele a lançasse a perder (…)”.

Por isso se determinou que fosse retido na prisão do Limoeiro, onde se encontra, o dito Manuel Lopes Subtil.

O Inquisidor Pedro Mexia de Magalhães votou vencido porque entendeu que a qualidade do delato estava ainda duvidosa e por isso queria que primeiro se examinassem todos os presumíveis falsários, em especial, seu cunhado e seus sobrinhos.

fls. 11 img. 22 – 21-1-1666 – Assento da Mesa do Conselho Geral, do mesmo processo.  Determinou que sejam examinadas com muita cautela as testemunhas que contra ele depuseram, na forma do Assento da Mesa e depois se volte a decidir.

fls. 12 img. 23-  Exames que se fizeram a Maria Coelha, André Lopes Subtil, Maria Nunes e Gaspar Coelho.

Do processo de Maria Coelha: 27-4-1667 - Quando seu marido saiu no Auto de 11-5-1664, escreveu-lhe uma carta que não se lembra quem lha levou e dizia nela “que se viesse remediar e apresentar nesta Inquisição, porque havia dito dela; e que logo passasse para esta cidade, fosse falar com ele na cadeia onde estava, e não lhe lembra agora a pessoa quem deu a ler a carta; e pelo que o seu dito marido lhe dizia, se partiu logo para esta cidade, trazendo consigo a seu filho Gaspar Coelho, solteiro, e indo à cadeia falar com o dito seu marido, o qual lhe disse que a tinha culpado nesta Inquisição e dito dela, e assim que não tinha outro remédio senão vir-se apresentar e confessar que tivera crença na Lei de Moisés, e que a comunicara e se declarara com ele, e com seus filhos (…). O marido disse-lhe que ela, Maria Coelha, tinha alguma coisa de cristã nova por via da sua avó materna e que isso lhe dissera um companheiro da prisão, Miguel de Mures (Pr. n.º 10411, de Évora). Por isso é que se veio apresentar em 10 de Maio de 1664 (Pr. n.º 7150, de Évora). Mas tudo o que disse na Mesa foi falso: nunca se apartou da crença católica, nem nunca creu na Lei de Moisés. Revoga-se de tudo o que disse, até porque sempre se teve na conta de cristã velha.  Só uma sua prima, Margarida Delgada, casada com António Cordeiro, lavrador, é que lhe disse que tinha alguma coisa de cristã nova, por parte de sua mãe; respondeu-lhe ela que nunca tal ouvira.

fls. 14 v img. 28 – 26-4-1667 – Do processo de André Lopes Subtil (Pr. n.27-4-1667 – Pr. nº 10441, de Évora) – Declarou contra sua mãe e seu tio já depois de sair no Auto de 11-5-1664. Tem 27 anos. Porém, tem sua mãe e seu tio por cristãos velhos, sempre os teve como tais. Seu pai foi condenado em degredo para o Brasil e ficou na cadeia do Limoeiro a aguardar embarque. Por isso, veio visitá-lo e ele é que lhe disse que tinha de denunciar sua mãe e seu tio. E insistiu para que todos os três filhos viessem dizer o mesmo que ele dizia.

fls. 18 v img. 36 – 27-4-1667 - Do processo de Maria Nunes Subtil (Pr. n.º 1975, de Évora) – Depoimento idêntico ao de seu irmão André. Também ela foi visitar seu pai à Cadeia do Limoeiro e recebeu a mesma ordem de denunciar sua mãe e seu tio.

fls. 20 img. 39 – 26-4-1667 – Do processo de Gaspar Coelho (Pr. n.º 4575, de Évora) – Depoimento idêntico ao de seus irmãos.

fls. 21 img. 41 – 2-5-1667 – 2.º Assento da Mesa no processo de Lourenço Coelho Delgado.

Provou-se que ele é cristão velho e também que sua irmã, e seus sobrinhos depuseram falsamente contra ele, por induzimento de Manuel Lopes Subtil, seu cunhado. Pareceu a todos os votos que deve ser absolvido e que se deve proceder por perjúrio contra seu cunhado e seus sobrinhos.

fls. 22 v img. 44 – 6-5-1667 – Assento da Mesa do Conselho Geral (por lapso o traslado diz Abril).

Sendo cristão velho, não se deve proceder contra ele.

Termina aqui o traslado, datado de 25 de Maio de 1667

fls. 25 img. 49 – O Promotor de Justiça requer a prisão de Manuel Lopes Subtil, que depôs contra seu cunhado, Lourenço Coelho Delgado, “jurando se declarara com ele na Lei de Moisés, e com sua irmã, mulher do delato, Maria Coelha, e porque se presume que sendo o dito Lourenço Coelho c.v. e sua irmã Maria Coelha, se declarassem com ele na Lei de Moisés, principalmente chamando o delato a sua mulher a quem disse se viesse apresentar na Mesa do S.to Ofício, porquanto ele havia dito dela e este era o remédio que tinha, sem embargo de se não haverem comunicado na Lei de Moisés (…)”.

fls. 25 v img. 50 – 17-6-1667 – Assento da Mesa da Inquisição de Lisboa

Todos os votos foram de opinião que o Réu deveria ser julgado por perjúrio e por isso deveria ser trazido da cadeia do Limoeiro para os cárceres da Inquisição.

fls. 27 img. 53 – Traslado da sentença (datado: 19-9-1667) contra Manuel Lopes Subtil (processo desaparecido) no Auto realizado no tabuleiro da Sé, em Évora, no dia 11 de Maio de 1664. A pena: degradado por 5 anos para o Estado do Brasil.

NOTA: A quase todos os condenados ao degredo para o Brasil no Auto, este foi comutado para uma fronteira da Beira.

fls. 31 img. 61 – 22-6-1667 – Genealogia

Chama-se Manuel Lopes Sutil, tem 65 anos, tem parte de cristão novo e foi escrivão do judicial, natural da cidade de Elvas, preso na cadeia do Limoeiro.

Seus pais são já defuntos e chamaram-se André Lopes Sutil, cristão velho, homem nobre e sua mãe, Maria Álvares, que tinha parte de cristã nova, ambos naturais da cidade de Elvas.

É casado com Maria Coelha, natural de Elvas, e foi reconciliado no Auto da Fé que se celebrou em Évora em 11-5-1664, não mudou de estado nem teve mais filhos, nem saiu da cadeia do Limoeiro onde esteve para cumprimento do degredo em que foi condenado.  Sabe por que foi agora de novo preso nos cárceres do Santo Ofício e quer confessar.

Disse que no seu anterior processo, após estar julgado por herege, fez a sua confissão, mas no final foi-lhe dito que ele não havia ainda satisfeito toda a informação da justiça. Regressou ao seu cárcere “em grande ânsia e cuidado por não lhe lembrar mais pessoas com quem houvesse comunicado e ultimamente pareceu-lhe que faria melhor seu negócio, e que se livraria da morte  com cujo temor estava, veio à Mesa e nela disse que havia comunicado a crença da Lei de Moisés com sua mulher Maria Coelha e com seu cunhado Lourenço Coelho, em companhia de seu filho Gaspar Coelho, e que as ditas pessoas se declararam todas, que criam na Lei de Moisés e que tinham parte de cristãs novas, e ele afirmou o sobredito debaixo de juramento dos Santos Evangelhos, mas a verdade é que ele confitente se não comunicou com a dita sua mulher e cunhado, nem eles se declararam com ele que tinham crença na Lei de Moisés, nem ele confitente sabe por outra via que eles tenham crença na dita Lei, nem que andassem apartados da fé (…) e que ele no dito tempo tinha a dita sua mulher e cunhado por pessoas que tinham parte de cristãos novos por lhe haver dito assim Afonso Coelho, primo das sobreditas pessoas, e que o que disse na mesma comunicação, contra o dito seu filho Gaspar Coelho, passa na verdade, e que estas eram as culpas que tinha que confessar, das quais está muito arrependido e pede perdão e que com ele se use de misericórdia (…”.

fls. 34 img. 67 – 7-7-1667 – Interrogatório

Repetiu o que dissera na sua confissão: pensava que sua mulher e cunhado tinham parte de cristãos novos.  Acrescentou que certa vez perguntara a seu cunhado porque não prosseguia nos estudos que havia começado e ele lhe respondera que um tio lhe tinha dito que não os continuasse porque não havia de ser clérigo e ele Réu ficou entendendo que o não poderia ser por algum defeito de cristão novo.

fls. 37 v img. 74 – 17-8-1667 – Mais Confissão

Disse que estando ele  numa cadeia pública de Évora depois de sair do Auto para ir cumprir o degredo, “escreveu uma carta para a dita sua mulher Maria Coelha e seu cunhado, Lourenço Coelho Delgado, por estarem ambos de umas portas adentro na Cidade de Elvas,  e na dita carta lhes dizia que se viessem acusar na Mesa do Santo Ofício de culpas de judaísmo, porquanto ele confitente havia testemunhado contra eles em suas confissões; e com efeito a dita sua mulher e cunhado vieram à cidade de Évora a falar com ele confitente à cadeia donde ele estava e ele lhes tornou a dizer que se fossem acusar, porquanto havia testemunhado contra eles (…) e um homem da Cidade de Elvas a quem não sabe o nome, e serve de Procurador da Câmara, disse a ele confitente nesta Cidade, indo-o ver ao Limoeiro, que o dito seu cunhado Lourenço Coelho Delgado se fora aconselhar com um Religioso da Companhia de Jesus, Irmão desse mesmo homem, sobre o que havia de fazer neste particular e que o dito Religioso o dissuadira de se vir acusar ao Santo Ofício e lhe aconselhara fizesse uma Petição à Mesa, como em feito diz que fizera o dito seu cunhado, mas ele confitente não sabe o que continha a dita Petição (…)”

fls. 39 v img. 78 – 19-8-1667 – Admoestado o Réu para que diga as verdadeiras intenções que tinha ao dizer falsamente de sua mulher e de seu cunhado.

fls. 41 img. 81 – 20-8-1667 - Admoestação antes do libelo. Libelo. Ouvida a leitura, o Réu disse que contestava o libelo pela matéria das suas confissões; que não tinha defesa com que vir e assim foi lançado da com que pudera vir.

fls. 44 img. 87 – 7-9-1667 – Um Notário certifica que o Réu foi reconciliado no Auto da Fé em Évora de 11-5-1664 e as penas que teve.

fls. 45 img. 89 – 7-9-1667 – Assento da Mesa da Inquisição

“(…) e pareceu a todos os votos que o Réu, pela prova da justiça e sua própria confissão, estava legitimamente convencido no crime de jurar falsamente na Mesa do S.to Ofício contra sua mulher Maria Coelho e seu cunhado Lourenço Coelho Delgado, afirmando que viviam apartados da fé e tinham crença na Lei de Moisés e que com eles se havia declarado na dita crença e que tinham parte de cristãos novos, sendo que, por assento do Conselho foram julgados por cristãos velhos limpos sem raça alguma de cristãos novos, e induzir o Réu a dita sua mulher e seu cunhado a que se viessem  apresentar na Mesa do Santo Ofício, confessando de si culpas de judaísmo que não haviam cometido e a seus filhos que dissessem da dita sua mãe e cunhado, sem embardo de se não haverem comunicado com eles e não alegar coisa que o releve (…)  terá “hábito penitencial que será perpétuo sem remissão, e levará diferenciado com insígnias de fogo, e que seja açoitado pelas ruas públicas desta cidade citra sanguinis effusionem”. Foi condenado ainda em degredo para as galés por dez anos. O Deputado Francisco de Miranda Henriques foi de opinião que fosse por cinco anos, visto que o depoimento falso não fora por ódio ou má vontade.

fls. 47 img. 93 – 20-9-1667 – Assento da Mesa do Conselho Geral

“(…) que vá ao Auto público da fé com carocha na cabeça e nela rótulo de falsário, com hábito penitencial diferenciado com insígnias de fogo, e o terá perpétuo sem remissão, que seja açoitado pelas ruas públicas desta cidade, citra sanguinis effusionem: e pela maior parte dos votos que seja degredado para as galés por tempo de dez anos e que pague as custas.”

fls. 49 img. 97 – Sentença. Publicada no Auto da Fé celebrado no Terreiro do Paço em 11 de Março de 1668.

fls. 53 img. 105 – 12-3-1668 – Termo de segredo

fls. 54 img. 107 – 27-3-1668 – O P.e Sebastião de Novaes declara que ouviu o Réu de confissão e que está instruído “nos mistérios da nossa Santa Fé”.

fls. 55 img. 109 – 31-3-1668 – Termo de ida e penitências

fls. 56 img. 111 – 1-6-1668 – Autorizado a comungar por despacho dos Senhores do Conselho Geral (no pr. n.º 906, de Jerónimo de Abreu de Campos).

fls. 57 img. 113 – Conta de custas 2$662 réis

fls. 58 img. 115 – Maio de 1668 – O Réu pede autorização para sair da prisão para se ir curar, pois tem quase 70 anos e muitos achaques.

fls. 58 v img. 116 – 19-6-1668 – O Conselho Geral autoriza que o Réu saia da cadeia para se curar, mediante prévia fiança segura e abonada.

 

 

Processo n.º 10441, de André Lopes Sotil ou  Subtil

 

img. 2 – “Processo de André Lopes Sotil, que tem um quarto de cristão novo, solteiro, filho de Manuel Lopes Sotil, que serve de escrivão do judicial, natural e morador na cidade de Elvas.”

img. 3 – 29-11-1662 – Mandado de prisão

img. 4 – 7-12-1662 – Entrega do preso no cárcere da Inquisição de Évora

CULPAS

img. 6 – 31-1-1658 – Depoimento de sua 2.ª tia Isabel de Faria – pr. n.º 258, de Évora

img. 7 – 21-8-1658 – Dep. de seu primo António Coelho Delgado – pr. n.º 9, de Évora

img. 8 – 3-10-1662 – Dep. de sua tia Isabel Sotil ou Subtil   no tormento - não aparece o processo, é o n.º 9 das Mulheres no Auto da Fé de 23-6-1663

img. 10 – 6-11-1662 – Dep. de Catarina Mendes – Pr. n.º 6496, de Évora

img. 12 – 17-10-1662 – Dep. de sua irmã Maria Nunes Sotil – Pr. n.º 1975, de Évora

img.13 – 22-1-1664 – Dep. de Gregório de Barbuda – Pr. n.º 9120, de Évora

img. 14 – 26-4-1664 – Dep. de Manuel Vila Nova – Pr. n.º 9919, de Évora

img. 16 – 29-4-1664 – Dep. de seu pai Manuel Lopes Sotil – Não aparece o processo de Évora, é o n.º 34 do Auto da Fé de 11-5-1664

img. 18 – Data ilegível do ano de 1663 – É nomeado curador do preso por ser menor, o Alcaide dos cárceres, Diogo Limpo

img. 19 – Data ilegível do ano de 1663 – Genealogia

Disse chamar-se André Lopes Sotil, de 19 anos, filho de Manuel Lopes Sotil, que tem parte de cristão novo e de Maria Coelha, cristã velha, ambos naturais e moradores em Elvas. Os avós paternos foram André Lopes Sotil e Maria Álvares de Faria; os maternos Gaspar Coelho e Maria Nunes. Por parte de seu pai, tem um tio e duas tias: Miguel Lopes Subtil, defunto, casado com Catarina Mendes sem filhos; Joana Subtil, também defunta, foi casada com Francisco Nogueira, de que teve Maria, de 8 e Isabel, de 6 anos;  Isabel Subtil foi casada a 1.ª vez com André Mendes Bértolo, de quem teve André de 7 anos,  Lopo de 5 e Maria de 6 anos. Da parte de sua mãe tem um tio chamado Lourenço Coelho, viúvo de Isabel Martins, de quem não teve filhos.  Tem dois irmãos e uma irmã, a saber: Gaspar Coelho,  de 11 anos, Sebastião, de 8 e Maria, de 6 anos. Foi baptizado e crismado. Soube dizer as orações do catecismo. Sabe ler e escrever e começou a estudar Latim.  Estão presos seu pai, sua irmã e sua tia Isabel Sotil.

img. 23 – 24 de Julho de 1663 – Pediu audiência para confessar.

Denunciou o pai, a irmã Maria Nunes, a tia Isabel Sotil, a segunda tia Isabel de Faria, Maria do Espírito Santo (Pr. n.º 163, de Évora), Catarina Mendes. Depois denunciou também Manuel Coelho (Pr. n.º 605, de Évora), seu primo,  três filhos e uma filha deste, António Coelho, irmão do mesmo, e sua irmã Maria Nunes.  Referiu mais uma declaração de judaísmo com seus irmãos Gaspar e Maria.

img. 27 – Data ilegível – Mais confissão

Denunciou um encontro em casa de seu parente Manuel Lopes de Faria (Pr. n.º 2399), com duas irmãs deste de quem não sabe o nome, com Manuel Correia e um filho deste também chamado Manuel , de 17 anos, com Gregório Barbuda.

img. 30 – Data ilegível – Ratifica as suas confissões

img. 32 – Data ilegível de 1663 – Sessão da crença

Interrogado, disse que não tem mais que confessar.

img. 36 – Data ilegível de 1663 – Pediu audiência para confessar mais.

Referiu um encontro em casa de António Nunes de Faria (Pr. n.º 9330, Relaxado), com os irmãos deste, Pedro Vaz de Faria, de 35 anos, Bartolomeu de Faria (Pr. n.º 950), de 32 anos, Francisco de Faria, de 30 anos, e uma irmã de quem não sabe o nome (é Maria Lopes de Faria – Pr. n.º 11176); e ainda Isabel Álvares e Catarina Rodrigues.

img. 38 – Data ilegível – Ratificou as últimas confissões.

img. 39 – Data ilegível de 1664 – Sessão in specie

Respondeu a todas as perguntas sobre os depoimentos contra ele que não estava lembrado mais do que aquilo que tinha confessado.  Foi admoestado.

img. 43 – Data ilegível de Janeiro de 1664 –

O Inquisidor Pedro Mexia de Magalhães admoestou-o para confessar mais, pelas culpas que havia contra ele.  Referiu então ele um encontro em casa de sua tia Joana Subtil (já defunta) com seu pai e com ele Réu. Outro encontro, em casa de Domingos Cerdo, cristão velho, onde estavam seu pai, Pedro Fialho e Sebastião Martins (Pr. n.º 2911). Denunciou outro encontro dele com Álvaro Martins Fangueiro (Pr. n.º 827), a irmã deste, Maria de Mesas (Pr. n.º 9554), António Fernandes  Carapeto, Sebastião Martins e Fernão Lourenço (Pr. n.º 7270). Denunciou outra declaração em forma de judaísmo com Fernão Nunes Soares (Pr. n.º 2465), a mulher deste, Maria Álvares Passoa (Pr. n.º 1520), os irmãos desta Manuel Fernandes Passão (Pr. n.º 7583) e Pedro Fernandes Passão (Pr. n.º 140, de Lisboa). Outra ocasião em casa de Diogo Rodrigues Tourinho, com este e seus filhos Rodrigo Álvares Tourinho (Pr. n.º 421) e Brites Franca e ainda Pedro de Brissos e António Lobo de Brissos (Pr. n.º 7389).

img. 50 – Data ilegível de 1664

Ratificou as últimas confissões.

img. 52 – Data ilegível de 1664 – Assento da Mesa da Inquisição

O Réu foi aceite à reconciliação, com cárcere e hábito penitencial a arbítrio dos Inquisidores.

img. 53 – Sentença

img. 56 – Nota de que a sentença foi publicada no Auto da Fé que se celebrou no tabuleiro da Sé de Évora em 11 de Maio de 1664

                    Abjuração em forma

img. 57 – 18-5-1664 – Termo de penitências

img. 59 – 24-5-1664 – Denúncia de declaração de judaísmo em forma a sua mãe e seu tio materno Lourenço Coelho Delgado, seguindo as ordens de seu pai.

img. 60 – 26-5-1664 – Ratifica a declaração sobre sua mãe e seu tio.

img. 62 - - 27-5-1664 – Um Padre Jesuíta certifica que instruiu o Réu na doutrina da Igreja

img. 63 – Data ilegível de Maio de 1664 – Termo de ida e penitências – Levantado o cárcere e tirado o hábito.

img. 64 – Conta de custas

 

img. 65 – 10-5-1667 – É preso de novo, por perjúrio

img. 66 – 18-1-1666 – Traslado do assento da Mesa da Inquisição no processo de Lourenço Coelho Delgado

Pareceu a todos os votos que o Réu era cristão velho legítimo, apesar de o acusarem como cristão novo sua irmã, seu cunhado e seus três sobrinhos. Foram interrogadas muitas testemunhas, havendo uma que diz ter ele parte de cristão novo por parte de sua mãe. Mas todos as outras testemunhas dizem o contrário.

img. 69 – 29-1-1666 – Traslado do assento do Conselho Geral

Manda prosseguir as investigações

img. 70 – 2-5-1666 - – Traslado do assento da Mesa da Inquisição

A mulher e os três filhos de Manuel Lopes Subtil confessaram que foi este que lhes deu ordem para irem à Mesa confessar culpas de judaísmo com a mãe deles Maria Coelha e com o tio Lourenço Coelho Delgado. Por aí se vê a falsidade, pela qual terão de ser presos. Confirma-se, pois, a cristãvelhice de Lourenço Coelho Delgado.

img. 71 – 6-5-1666 - Traslado do assento do Conselho Geral

O Conselho Geral concorda com o teor do assento da Mesa.

img. 72 – 24-5-1664 – Traslado da denúncia que já se encontra na img. 59

img. 74 – 26-4-1667 – Traslado do depoimento prestado pelo Réu no processo de seu tio Lourenço Coelho Delgado

Confessa o Réu que testemunhou falso contra sua mãe e seu tio.

img. 79 – 3-9-1667 – Traslado do depoimento prestado por seu irmão Gaspar Coelho no seu processo n.º 4575

Tinha-se apresentado em 20-5-1664 para denunciar sua mãe e seu tio, como seu pai lhe tinha mandado, tinha então 16 anos. Em 3-9-1667, vem confessar que tinha testemunhado falso contra sua mãe e seu tio.

img. 82 – 27-4-1667 – Traslado de um anterior depoimento de seu irmão Gaspar Coelho, onde já havia confessado ter testemunhado falso contra sua irmã e seu tio.

img. 85 – Abril de 1667 – O promotor requer a prisão do Réu.

img. 86 – 2-5-1667 – A Mesa da Inquisição decreta a prisão do Réu.

img. 87 – 6-5-1667 – O Conselho Geral concorda com a Mesa em determinar a prisão do Réu.

img. 88 – Data ilegível – Interrogatório do Réu

Confessa a falsidade das suas declarações

img. 89 – Data ilegível – Continua o interrogatório do Réu

img. 97 – 17-9-1667 – O Inquisidor Pedro Mexia de Magalhães insiste para que o Réu acabe de confessar as suas culpas. Ele diz que não tem mais que confessar.

img. 98 – Libelo. Ouvida a leitura, o Réu disse que era verdade o conteúdo do libelo.

img. 101 – O Réu é acusado de mais uma culpa: Em 3-9-1667, seu irmão Gaspar Coelho disse que fora ele a induzi-lo a testemunhar falso contra sua mãe e seu tio.

img. 103 – O Réu não se quis defender e assim se houve por lançado da defesa com que pudera ter vindo.

img. 105 – 27-9-1667 – Assento da Mesa da Inquisição

O Assento é um monumento ao cinismo dos Inquisidores: o Réu deveria ser relaxado, mas atendendo às circunstâncias, é degredado 4 anos para o Brasil. “(…) contudo havia neste caso  circunstâncias para o Réu não haver de ser condenado na pena ordinária que lhe impõe o Regimento e que se ela devia moderar  como em alguns casos destes admite o mesmo Regimento, porquanto o Réu tem mostrado na Mesa ser de limitado juízo apusilânime (…) e que portanto o Réu vá ao auto da fé na forma costumada e nela ouça sua sentença e vá degradado por tempo de quatro anos para o Estado do Brasil e pague as custas (…)

img. 107 – 30-9-1667 – Assento da Mesa do Conselho Geral

Confirmam a sentença por seus fundamentos e pelo mais dos autos”.

img. 108 – Sentença – Foi publicada no Auto de Fé, celebrado em Évora em 16 de Outubro de 1667

img. 113 – 18-10-1667 - Termo de segredo

img. 115 – Conta de custas

13-11-1667 – O P.e Paulo Mendes declara que ouviu de confissão e deu a comunhão ao Réu

13-12-1667 - Termo de ida – incompleto

img. 117 – 28-2-1668 – Guiomar de Oliveira, solteira, reconciliada no auto da fé em Évora de 23-6-1663 (não aparece o processo, é o n.º 24 das mulheres) requer na Inquisição de Lisboa que, querendo o Réu casar com ela, lhe seja perdoado o degredo para o Brasil.  André Lopes Subtil estava na cadeia do Limoeiro, aguardando transporte para o Brasil.

Na capa do processo está a seguinte nota: “Informado de que se lhe perdoa o degredo, casando com Guiomar de Oliveira de Vila Viçosa. Em 6 de Março de 1668”

img. 118 – 13-3-1668 – Informação ilegível

img. 119 – 24-4-1668 – O Pároco de São Julião certifica que casou o Réu com Guiomar de Oliveira em 23 de Abril de 1668.

img. 120 – Guiomar de Oliveira junta a certidão. É pedida informação aos Inquisidores de Lisboa.

img. 121 – 4-5-1668 – O Conselho Geral perdoa-lhe o degredo e manda-o apresentar-se na Inquisição de Évora.

9-5-1668 – Notificado para se apresentar em Évora no prazo de 15 dias.

img. 122 – Nota ilegível.

 

Nota: Conforme se constata da reprodução digital, toda a parte superior do processo está danificada e não se consegue ver a numeração dos fólios.

 

 

Processo n.º 7150. de  Maria Coelha

 

Genealogia

Tem 45 anos, filha  de Gaspar Coelho e Maria Nunes, já defuntos. Os avós paternos foram Lourenço Coelho e Catarina Lourenço, os maternos Pedro Fernandes e Susana Fernandes.

Tios paternos: três tios e duas tias:

Sebastião Coelho , lavrador casado com Catarina Rodrigues, c.n.  de quem teve

       Manuel Coelho, viúvo de Maria Gomes (Pr. n.º 605, Relaxado)

       António Coelho casado com Joana Lopes ( Proc. n.º 9  digitalizado)

Domingos Coelho, viúvo de Violante Alves – têm filhos que não conhece

P.e Afonso Coelho, já defunto, que foi Vigário Geral de Elvas

Leonor Coelho, defunta, que foi casada com Vasco Martins Segurado, de que teve

Álvaro Segurado

Brites de Sequeira e

Mécia Lobo que faleceram solteiras

Margarida Delgada, defunta, que foi casada com Gonçalo Rodrigues, de quem não teve filhos

Leonor Coelho teve outra filha chamada Mécia Lobo, já defunta que foi casada com Vasco da Gama de Abreu, meirinho da Correição de Elvas

Da parte de sua mãe não teve tio algum

Tem um irmão Lourenço Coelho, viúvo de Isabel Martins, de quem não teve filhos

Com o marido Manuel Lopes Subtil, tem os filhos seguintes:

André Lopes Subtil, de 23 anos

Gaspar Coelho, de 17 anos

Sebastião, de 8 anos

Maria Nunes, de 21 anos

Não sabe ler nem escrever. Foram presos pela Inquisição seu marido e filhos André, Maria e os primos Manuel Coelho e António Coelho

2-5-1667 – O promotor pede a prisão dela e vai a Assento da Mesa que concorda. Sobe ao Conselho Geral.

6-5-1667 – Assento do Conselho Geral – que seja chamada à Mesa e repreendida pelas falsidades que disse no seu processo

9-5-1667 -  Repreendida na Mesa, em Évora.

 

 

Processo n.º 1975, de Maria Nunes ou Maria Subtil

Nota na capa: Informada em 15-10-1672, que se lhe não perdoa o degredo

Nota na 2.ª folha :  29-7-1664 – Informada que não se lhe tira o hábito

Nota em 17-9-1664 – Informada de que não se lhe tira o hábito enquanto se averigue a culpa de falsidade

29-11-1662 - Mandado de prisão

Presa a 8-12-1662

CULPAS - Denunciantes

Tia 2.ª Isabel de Faria (Pr. n.º 258) , casada com João Pinheiro (Pr. n.º 10123)

Primo António Coelho Delgado (Pr. n.º 9), casado com Joana Lopes (Pr. n.º 121)

Tia Isabel Subtil (n.º 9 das Mulheres no Auto de 23-6-1663), mulher de Lourenço Fernandes Fialho no tormento

Decreto de prisão

Catarina Mendes (Pr. n.º 6496, de Évora), mulher de Sebastião Rodrigues de Oliveira

André Lopes Subtil, irmão Pr. 10441

Por ser menor, foi nomeado seu Curador o Alcaide dos cárceres

 

16-3-1663 - Genealogia

Por parte do pai, tem um tio e duas tias:

Miguel Lopes Subtil, defunto, casado com Catarina Mendes sem filhos

Joana Subtil, também defunta, foi casada com Francisco Nogueira, de que teve Maria, de 8 anos e Isabel, de 6

Isabel Subtil foi casada a 1.ª vez com André Mendes Bértolo, de quem teve André de 7 anos,  Lopo de 5 e Maria de 6 anos. É casada com Lourenço Fernandes de quem não tem filhos

14-2-1664 – Por assento, foi mandado ir ao tormento e ter um trato corrido e tornada a levantar 2.ª vez até ao lugar do libelo. Não denunciou ninguém no tormento

7-5-1664 – Assento da Mesa: reconciliada com cárcere e hábito perpétuo

11-5.1664 – Auto da Fé

24-5-1664 - Pede audiência e denuncia a mãe e o tio como lhe tinha mandado seu pai

Averiguação da falsidade

 

2.º processo

6-5-1667 – Ordem de prisão – tinha aqui 21 anos

10-5-1667 – Prisão

27-9-1667 – Assento da Mesa: degredada 3 anos para o Brasil

30-9-1667 – Assento da Mesa do Conselho Geral confirma a pena

16-10-1667 - Auto da Fé em Évora

11-11-1667 – Requerimento pedindo que lhe perdoem o degredo

24-1-1668 – Despacho comutando o degredo para o Reino do Algarve

18-4-1668 – É notificada do despacho anterior, mas não vai

17-5-1668 – É notificada para se apresentar em Faro, mas não vai

23-9-1671 – Requerimento dizendo que casou há 6 meses com Álvaro Dias Raimundo, escrivão do judicial – Pede que lhe perdoem o degredo para o Algarve

13-10-1672 – Mais uma vez pede perdão do degredo

29-10-1672 – Emitida ordem de prisão que não é cumprida

5-11-1672 – Fiança de 20$000 réis em como cumprirá o degredo – Esta fiança caducou pela morte do fiador

10-8-1675 – Seu marido apresenta nova fiança de 20$000 reis

25-8-1675 – Apresenta-se em Faro para cumprir o degredo – mas regressou “brevemente e dizem que nas mesmas bestas em que foi

16-11-1675 – Baptizou em Elvas o segundo filho de nome Manuel, o que demonstrou que não estava no Algarve

O Promotor requer a prisão dela

26-12-1675 – Um Assento da Mesa da Inquisição determina que seja presa. Sobe ao Conselho Geral, mas este não chega a pronunciar-se sobre o assunto que morreu assim.