8-10-2008

 

Sobre Henrique Caiado, neste site        

       

 

NOTA PRÉVIA - Este artigo foi traduzido do original italiano Jacobus Piso e la tradizione dell' epitaffio, in Atti del Convegno (Budapest, 18-20 ottobre 2001), L'eredità classica in Italia e in Ungheria dal Rinascimento al Neoclassicismo, a cura di Péter Sárközy e Vanessa Martore, Budapest Universitas, 2004, pag. 111–121. Agradeço a autorização para a sua tradução e publicação neste site.

   

 

 

Jacobus Piso e a tradição do epitáfio

 

Jankovits László          

Professor na Universidade de Pécs - Hungria          

 

 

“A seguir a Janus Pannonius, Jacobus Piso é sem dúvida a segunda personalidade do Humanismo húngaro reconhecida e admitida no seio da res publica literarum Europea”. Com esta avaliação, principia o artigo sobre Piso de Tibor Klaniczay, publicado postumamente. [1] A colecção dos poemas menores deste humanista Saxão da Transilvânia, com o título Schedia, publicada após a sua morte pelo seu amigo Georg Wernher (Viena, Zimmermann, 1554), foi descoberta recentemente. O conteúdo desta recolha tornou-se conhecido graças à descoberta de Gedeon Borsa e ao estudo de Klaniczay, acima mencionado. Infelizmente, Klaniczay não teve possibilidade de se ocupar deste tema mais a fundo, mas pôde, de qualquer modo, estabelecer quais são os poemas autênticos de Piso, conhecidos  até este momento. Com base nesta recolha, conseguiu avaliar a sua importância em relação aos humanistas Europeus e Húngaros contemporâneos.

Os poemas que examinarei neste artigo estão recolhidos sob o título de Schurila (Bobo), o poeta e o seu epitáfio de beberrão, variante do tema, contidos em Schedia nas páginas C3a e C4a. Este assunto aparece também numa conhecida carta de Piso. O destinatário desta carta, escrita em Roma a 30 de Junho de 1509, é Erasmo de Roterdão. A parte que nos interessa é o seu Post Scriptum: Expecto abs te epitaphia scurrulae istius merobibi. Te precor ne me fallas. Ab aliis doctis tuis amicis alia super eo impetrabis et ad me mittes. (Espero os teus epitáfios sobre aquele bobo bêbado. Peço-te que não me desiludas. Por favor, pede aos teus amigos outros textos sobre ele e envia-mos). [2]

A pessoa de quem se fala é chamada no original latino scurrula merobibus, que significa precisamente “Bêbado amante de vinho puro”. O que é interessante é que estas duas palavras são usadas por dois antigos escritores da predilecção de Piso, numa única ocasião: scurrula, por Apuleio (met. 10, 6), enquanto merobibus no feminino é usado por Plauto (Curc. 77). É difícil defender que Piso, o qual procurava usar expressões refinadas, e de não se mostrar inferior a Erasmo a esse respeito, tenha confundido scurrula com schurila, scurrilis, etc. Provavelmente, nos epitáfios desta edição de Piso, o substantivo Schurila foi mal lido pelo editor Werner ou mais verosimilmente pelo tipógrafo.[3]

O adjectivo merobibus refere-se ao consumidor de vinho puro, ou seja, a um alcoólico. Segundo as edições Húngaras, baseadas na edição epistolar de Allen do início do século, esta estranha figura poderia ser o Hermicus de origem portuguesa, mencionado nos Adágios de Erasmo (n.º 3702) falecido naquela época.[4] Dos estudos recentes e monografias sobre Erasmo podemos identificar Hermico, cujo nome original era Henrique Caiado. Temos agora de fazer  a sua apresentação. [5]

Hermicus Caiadus, Henrique Caiado, começou os seus estudos na Universidade de Lisboa, e em seguida deslocou-se para a Itália, para Bolonha, onde foi estudante de Beroaldo. As suas poesias, com o título Aeglogae et Sylvae et Epigrammata, foram ali publicadas em 1501. Formou-se em direito canónico em Pádua. Em Roma conheceu Erasmo, que o apreciava pelos seus epigramas e descreveu a sua estranha morte nos famosos Adagi, recolha de provérbios. O ponto n.º 3702 explica a frase angina vinaria, expressão que se refere à faringite causada pelo vinho. O protagonista  do estranho caso mencionado na explicação é identificado geralmente pelos peritos como sendo Caiado:

  

Ipse novi Romae quendam haud vulgariter eruditum qui hac angina serio periit. Hermicus appellabatur, natione Lusitanus. Correptus erat febricula vir corpore supra modum obeso et ob id spirituosus. Decumbentem invisit Christophorus Fischerus, patria Anglus. `Vin tu' inquit `Hermice, auscultare medicis meras nugas praescribentibus? Bono vino rectius proluetur hoc malum' simulque iussit adferri vinum Corsicum quadrimum. Propinavit aegroto, iubens bono esse animo. Ille persuasus hausit affatim ac mox intercluso spiritu coepit animam agere. (Adagia, 3702.)

 

(Eu próprio conheci em Roma um homem de uma erudição extraordinária que verdadeiramente morreu desta faringite. Chamava-se Henrique, e era de origem portuguesa. Este homem, tão obeso que a respiração se lhe tornava difícil, tinha ficado com um pouco de febre. Estava acamado, quando o Inglês Christopher Fisher o veio visitar, e lhe disse: “Henrique, vais dar atenção aos médicos e às suas estúpidas receitas? Um bom vinho vai curar a tua maleita.” Assim, fez-lhe logo trazer um vinho da Córsega, de quatro anos. Serviu-o ao doente, dizendo-lhe para não se preocupar. Persuadido, bebeu o vinho, mas parou-se-lhe a respiração e começou a agonizar.)

 

Com referência a este acontecimento, Erasmo compôs um epitáfio jocoso, provavelmente aquele que Piso tinha pedido na sua carta.  Era uma troca de correspondência entre dois homens que, não muito tempo antes, tinham vivido na mesma cidade. Erasmo, naquela altura, estava em viagem de Roma para Inglaterra. À sua partida e ao convite para Inglaterra se refere o próprio Piso e menciona como comum amigo, Cristophorus, o humanista inglês Christopher Fischer, mencionado no Adágio.

No epitáfio, o princeps philologorum tinha cumprido a sua tarefa, elegante e discretamente:

 

Pax sit, viator, tacitus hos legas versus,

Ut sacra verba mussitant sacerdotes,

Ne mihi suavem strepitus auferat somnum

Repetatque vigiles ilico sitis fauces.

Nam scurrula hocce sterto conditus saxo,

Quondam ille magni clarus Euii mystes,

Ut qui bis octo lustra perbibi tota.

Oculis profundus deinde somnus obrepsit,

Ut fit, benigno membra cum madent Baccho,

Atque ita peractis suaviter bonis annis

Idem bibendi finis atque vivendi

Fuit. Sed etiam me aliquis ebrium credat

Aut somniare, qui ista dormiens dicam.

Vale, viator. Iam silenter abscede.

 

                     (Epitáfio de um bêbado bobo em coliambo)

 

(Paz, ó viandante, lê estes versos baixinho, como os padres quando murmuram as palavras sagradas, que o ruído não me interrompa o doce sono, e abruptamente acordado não me volte a sede. De facto, sepultado sob esta pedra, ressono, eu, o bobo que antigamente era o sacerdote famoso do grande Baco, tendo bebido duas vezes oito lustros. Depois, os meus olhos foram colhidos por um sono profundo, como é costume quando o bom Baco banha o teu corpo e assim, tendo passado com prazer estes belos anos, sobreveio o fim do viver e do beber. Mas ninguém pense que eu a dormir diga isto como bêbado ou o sonhe. Adeus, viandante, é tempo de te retirares em silêncio.)

 

A edição crítica contém pormenores importantes sobre a poesia. Bis octo lustra, duas vezes oito vezes cinco, isto é, oitenta anos, segundo o editor, é um exagero. Caiado morreu antes dos quarenta anos. O jogo de palavras bibere-vivere (beber - viver), [6] usado por Erasmo também noutros locais,[7] pode ter também, no caso de Caiado, um significado particular: podemos interpretá-lo como uma referência à pronúncia do humanista português. Caiado, de facto, teria usado a consoante “b” com uma pronúncia bilabial  próxima de “v”. Também Erasmo, na sua obra Della pronuncia, chamou a atenção para este fenómeno. [8]

O epitáfio de Erasmo é um éthopoiia que faz parte de um género literário em que se descreve o carácter de uma pessoa que existiu realmente. E há outros precedentes para isto: a edição crítica  dá como exemplo deste modo de se chamar o viandante, o epitáfio sobre Archilochos escrito por Gaetulicus (Anth. Pal. 7, 71), que Erasmo também conhecia e do qual tinha escrito uma parte.

Não era certamente Erasmo quem tinha iniciado esta tradição de epitáfios jocosos sobre o tema da embriaguez.  A recolha de epitáfios de Otto Aicher, por exemplo, contém 43 epigramas, do tipo Epitaphia Popatorum (Epitáfios dos beberrões). [9]  A maior parte dos epitáfios desta recolha figuram como anónimos. Mas é conhecida a origem de um destes epigramas: foi composto pelo grande mestre humanista de poesia espirituosa e jocosa do século XV, António Beccadelli, conhecido pela alcunha de Panormita:

  

                    Epitaphium Haerasmi Biberii ebrii

 

                Qui legis, Haerasmi sunt contumulata Biberi

                               ossa sub hoc sicco non requieta loco.

                Erue, vel saltem vino consperge cadaver;

                               eripe: sic, quaeso, sint rata quaeque voles!

                Ossa sub oenophoro posthac erepta madenti

                               Conde, natent temeto fac: requietus ero.

 

                    (Epitáfio de Erasmo Bibério bêbado 

Ó tu que passas, estão sepultadas neste lugar seco os ossos irrequietos de Erasmo Bibério. Tira-os daqui, ou ao menos asperge de vinho o cadáver; tira-os daqui, peço-te, e o teu desejo será satisfeito! Depois de levares os ossos, humedece-os com um jarro, deixa-os nadar em vinho de novo e eu terei paz).

  

Podemos talvez afirmar que Erasmo conhecia esta poesia sobre o seu quase homónimo, visto que, em latim italizanizado, Erasmus Biberius e Erasmus Desiderius tinham um som semelhante, sobretudo sabendo nós que os manuscritos de Hermaphroditus, tendo em conta os códices manuscritos da época, estavam bastante espalhados em Itália no início do século XV. [10]

Na carta, que citámos no início da nossa apresentação, Piso pediu não só a poesia de Erasmo mas também outras obras de amigos eruditos de Erasmo. De facto, a edição crítica menciona dois contemporâneos, imitadores de Erasmo, que compuseram versos sobre a morte de beberrões, mas é improvável que Piso tenha recebido estas composições da parte de Erasmo. Um dos dois imitadores era Helius Eobanus Hessus, excelente poeta e letrado alemão humanista; [11] o outro, mais tardio, era o secretário de Erasmo, Gilbert Cousin. [12] Entre as duas poesias, Piso só teria conhecido talvez a imitação composta por Hessus em 1515, a seguir à estadia em Roma.  As poesias pedidas de amigos eruditos, mesmo se existiram, não são de todo o modo conhecidas por agora. Em qualquer caso, vale a pena realçar a diferença entre a imitação de Erasmo levada a cabo por Hessus e Cousin e o epitáfio de Piso.

Hessus e Cousin tocam temas diferentes, um escreve sobre a morte de um jovem esbanjador e de um bêbado, o outro sobre um certo Jacobus Normanus, grande comedor e grande bebedor. Evidentemente o motivo da imitação não era o falecimento, mas sim a exigência (fim em si mesma) de compor uma poesia. O tema varia, mas alguns elementos são semelhantes: a chamada do viandante, o apelo ao silêncio; Cousin, mantém, além disso, também a medida métrica.

Passarei agora a comparar o epitáfio de Erasmo com o ciclo de epigramas de Piso, depois considerarei um só epigrama de Piso (vejam-se os textos no Apêndice).

A imprecisão biográfica que evidenciámos na poesia de Erasmo encontra-se também nos versos de Piso: ao passo que Erasmo se refere a uma idade de 80 anos com a expressão bis octo lustra, duas vezes oito vezes cinco anos, Piso usa a expressão bis novem lustra (duas vezes nove vezes cinco anos), ou a frase trieterica ter decies acta (três vezes dez vezes a celebração da festa trienal de Baco) para nos comunicar que o protagonista da sua poesia faleceu com a idade de 90 anos. Este fenómeno comum mostra que ambos os poetas escolheram um número que pudesse ser expresso em versos e soasse bem, e não se preocuparam muito com a idade efectiva.

Os poemas de Piso são também metricamente diversos. Piso escreve não só sobre o beberrão, mas também sobre o poeta bobo. E em vários pontos, o sentido do texto esconde-se por detrás de uma alegoria refinada. Na sexta composição, por exemplo, os dois heróis que se revoltam contra Baco, gesto que marcará a sua ruína, são apontados como exemplos a evitar. Penteo que estragou a festa do deus, é esquartejado por sua mãe, e Licurgo que perseguiu as amas do deus, é condenado a cortar em pedacinhos a sua própria perna. Em confronto com estes, o sólido poeta que sempre tinha honrado Baco, tem de suplicar para não ser partido em pedaços no caixão. Na sétima poesia, o calendário do astrólogo grego Eudoxo e o Romano, que assinalava os anos com os nomes de Cônsules, são rejeitados, e vem, ao invés, considerada fiável a cronologia baseada na festa trienal de Baco. Também no interior da própria obra de Piso se assinalam as diferenças entre os primeiros dez poemas e o décimo primeiro. Este último assemelha-se mais ao epitáfio de Erasmo, seja pelo comprimento, seja pela estrutura, que pela figura métrica, o hendecassílabo, é de facto muito próximo do usado por Erasmo:

 

Ó tu que aqui passas e vês o sepulcro que não é belo porque toda a vida dissipei os meus bens em vinho, peço-te, pára um pedacinho – a minha boca está tão seca que não posso falar muito: sou um bobo conhecido pelo lute e pelo vinho que queria ser sepultado junto da estrada, onde passam com frequência quer o plebeu, quer o senador, para os avisar que, para mim, presentes, porções de carne, mirra, incenso, archotes, rosas, açafrão, óleo, lustral (água santa), palavras piedosas, colares, coroas de folhas verdes não contam, nem penso nisso. Nunca te faltarão estas coisas, ó viandante, e o que desejares, os deuses dar-to-ão, se aspergires com vinho puro as cinzas sedentas.

  

Os dois autores parecem diferenciar-se um do outro de propósito. O que fala na poesia de Erasmo, pede silêncio, enquanto o de Piso se dirige ao viajante, numa estrada barulhenta. O bobo de Erasmo fala sem falar, em sonho – o bêbado de Piso quer falar a todo o custo. Na primeira composição, o bobo pede tranquilidade, na outra, quer sempre mais vinho.

Certamente não se pode determinar quem escreveu primeiro a sua composição, em Roma em 1509. Da carta de Piso pode supor-se que Erasmo tenha usado um tema conhecido e de que também o autor da carta se tinha apropriado, e que Piso quisesse informar-se sobre a actividade de Erasmo, tendo já composto a sua poesia. Uma terceira interpretação extrai-se das diferenças encontradas no interior da própria obra de Piso. De facto, as primeiras dez composições  de quatro versos cada uma, elaboram o tema, descrevendo certos factos ocorridos antes deste estranho caso e nem sempre é utilizado o género do epitáfio. Talvez possamos imaginar também que Piso tinha já pronto este ciclo de dez poesias, quando leu o epitáfio de Erasmo; o décimo primeiro foi portanto escrito imitando e pondo-se em competição com Erasmo. Em todo o caso, em relação com os imitadores mais tardios, ele escreveu com mais independência e criatividade.

Para acabar, vale a pena citar Erasmo. Quase vinte anos depois deste caso, na sua obra Ciceronianus, publicado em 1528, ele argumenta contra a exagerada e fim em si mesma imitação de Cícero.  Em particular, avalia os novos e velhos autores. Segundo Bulephorus, porta voz de Erasmo, in Pannonia neminem novi praeter Iacobus Pisonem, studiosum eloquentiae Tullianae candidatum, sed primum aula, deinde calamitas,  nuper etiam mors hominem nobis abripuit (não conheço ninguém para além de Jacobus Piso, que tenha procurado com diligência adquirir a eloquência de Cícero, infelizmente ele foi-nos roubado pela corte, pelo infortúnio e recentemente também pela morte). Quando, depois de ter falado de Polacos e de Espanhois, menciona, no fim da lista, os Lusitanos, os Portugueses, as suas expressões são semelhantes: neminem novi praeter Hermicum quendam in epigrammatibus felicem, in oratione soluta promptum ac facilem, ad argutandum dexterrimae dicacitatis (não conheço ninguém para além de Hermicus, que compusesse tantos epigramas e  exprimisse em prosa com desenvoltura e elegância até a mais desafrontada ironia). [13]

Este último parecer sobre Caiado informa-nos sobre o modo como este Português se tornou popular nos círculos humanísticos de Roma, criando a sua imagem como a de um bobo. O facto de que Erasmo aprecie os dois, Piso e Caiado, como únicos no seu género , quer dizer que o supremo filólogo os honrava do mesmo modo mesmo depois de falecidos.  

 


[1]  T. Klaniczay, A valódi és az ál Piso-versek, Irodalomtörténeti Közlemények, 97(1993), p. 52. O meu trabalho foi subsidiado pela Fundação OKTK  e por uma bolsa de estudo Klebelsberg.

 

[2] Desiderius Erasmus Roterodamus, Opus epistolarium, ed. P. S. Allen, I, p. 454, ll. 41--43; cf. Régi magyar irodalmi szöveggyűjtemény, I: Humanizmus, ed. P. Ács, J. Jankovics, P. Kőszeghy, Balassi, Budapest, 1998, 454--455.

 

[3] Outros exemplos destes enganos são a palavra citharoedi lida cytha redi, e o nome Proetus lido Phoetus.

  

[4] Erasmus, Opus epistolarium, cit., p. 454; Magyar humanisták levelei: XV–XVI. század, ed. S. V. Kovács, Gondolat, Budapest, 1971, p. 451, n. 7; Régi magyar irodalmi szöveggyűjtemény, cit., p. 460, n. 7.

 

[5] Contemporaries of Erasmus: A Biographical Reister of the Renaissance and Reformation, I--III, ed. P. G. Bietenholz, T. B. Deutscher, University of Toronto Press, Toronto, etc., 1985, vol. I, p. 239; Desiderius Erasmus Roterodamus, Carmina = Id., Opera omnia, ord. 1, tom. 7 (abreviado: ASD I, 7), Elsevier, Amsterdam, etc., 1995, carm. 52, p. 206--207; Id., Adagia = ASD II, 8, 1997, adag. 3702, p. 131, n. ad l. 20.

 

[6] Cf. Ov. Met. 7, 568. nec sitis est exstincta prius quam vita bibendo. Sen. Contr. 6, 4, 1 sic bibit, ut viveret ...venenum bibam et vivam. Sen. Epist. 123, 10. una felicitas est bene vitae facere; esse, bibere, frui patrimonio, hoc est vivere. Qvint. Inst. 8, 5, 31. Vis scire venenum esse amatorium? Viveret homo nisi illud bibisset.

 

[7]  ...viuite, bibite. = Moriae encomium, id est stultitiae laus, ASD, IV, 3, 1979, 194; cf. ASD, I, 7, p. 207, n. ad. l. 11.

 

[8] De recta latini graecique sermonis pronuntiatione dialogus, ASD, I, 4, 1973, pp. 75--76, ll. 45--48; cf. ASD, I, 7, p. 207, n. ad. l. 11.

 

[9] Dodone Richea [Otto Aicher], Theatrum funebre exhibens [...] epitaphia nova, antiqua, seria, jocosa [...], Mayr, Salzburg, 1675; cf. M. Boda, A „két Róma” vonzásában: Adalékok Janus Pannonius Itáliájához = Neolatin irodalom Európában és Magyarországon, ed. L. Jankovits, G. Kecskeméti, JPTE, Pécs, 1996, p. 43, n. 38.

 

[10] Antonius Panhormita [Antonio Beccadelli], Hermaphroditus, ao cuidado de Donatella Coppini, vol. I, Bulzoni, Roma, 1990, XIII--LXXVIII.

 

[11] H. Vredeveld, Traces of Erasmus' Poetry in the Work of Helius Eobanus Hessus, Humanistica Lovaniensia, 35(1986), pp. 57--59.

 

[12] ASD, I, 7, 206.

 

[13] Dialogus, cui titulus Ciceronianus, sive de optimo dicendi genere, ASD, I, 2, pp. 689--692.

 

 

 

APÊNDICE [14]

 

 

Iacobus Piso, Epitaphivm Scurrulae citharoedi et potoris (1)

 

 

Ebrius immodico senuit bene Scurrula Baccho,

            Cui non una fuit sobria visa dies.

Emoritur, medico dum paret vina neganti,

            Victurus, si non abstinuisset, erat.

 

ALIUD (2)

 

Oenophorum Baccho, citharam tibi Phoebe sacravit,

            Dum bis lapsa novem Scurrula lustra bibit.

Quisquis agit securus, agit bene, quod iuvat, hoc est

            Non venit ad seros anxia vita dies.

 

ALIUD (3)

 

Fastidita fiet velut hic sentina viator,

            Obducta nares claudis et ora manu.

Non est, quod fugias, facis hoc quod Scurrula fecit,

            Non hinc exhalat merda: quid ergo? merum.

 

ALIUD (4)

 

Cur tua non deflet nisi solus funera caupo?

            Exemplum tanti gutturis esse negat.

Praefica cur nec anus sequitur? gratis negat, hausi

            Scurrula debuerat quicquid habere rogus.

 

ALIUD (5)

 

Bis novies vidit piseas Scurrula palmas,

            Principibus gemina cognitus arte viris.

Quid norat quaeris? aequasset solus Iopan

            Et Bitiam, Phrygio cum data coena duci est.

 

ALIUD (6)

 

Scurrula sic senui, lacerum ne corpus Agaue

            Spargeret, aut sectus crura bipenne forem.

Est aliquid totum si colligat urna cadaver,

            Trunca nec Elysium si colat umbra nemus.

 

ALIUD (7)

 

Nil moror Eudoxi vinosus Scurrula fastos,

            Nec numerat nostros consul uterque dies.

Sed nec Olympiadas teneo, trieterica vidit

            Ter decies aevo Bassaris acta meo.

 

ALIUD (8)

 

Scurrula dum Proetum, Lapithas, et Phinea iactat

            Ad Phlegetonteas fortiter isse domos,

Defectam multo vitam iugulavit Iaccho,

            Ne sicca Stygias morte subiret aquas.

 

ALIUD (9)

 

Bis genitam Semeles, si fas est credere, prolem,

            Euphorbi Samius si tulit ora senex,

Hippolitus Stygiis si Virbius extitit undis,

            Scurrula Sileni mens et imago fuit.

 

ALIUD (10)

 

Scurrula sacrilegi metuit dum fata Lycurgi,

            Plus et Echionidae Thyados arma timet.

Ultoris coluit genialiter orgia Bacchi,

            Qui bibit, ut vivat, relligiosus homo est.

 

ALIUD (11)

 

Hac qui pergis, et aspicis sepulcrum

Non pulcrum, nimio dedi quod omnes

Vino vivus opes, gradum rogatus

Paulum siste, siti nequit palatum

Siccum multa loqui, lyra et Lyaeo

Notus Schurila sum, viam locari

Qui propter volui, frequens mearet

Qua plebs, quaque senatus, ut monerem

Me donaria, viscerationes,

Myrrham, thura, faces, rosas, crocum, undas

Lustrales, pia verba, serta, frondes

Non assis facere, et nihil morari.

Sic haec sint tibi defutura nunquam,

Sic Dii dent tibi, quod viator optas,

Adspergas bibulae merum favillae.

 

 


    [14] Id., Schedia, Zimmermann, Viennae, 1544, (Kraków, Bibl. Jag., Cim. 5317), C/3/a--C/4/a.