8-7-2001

 

 

M A G N U M

(1947-)

 

História de um Magnum Projecto

 

Num dia frio de Janeiro de 1934, Henri Cartier-Bresson e David (Chim) Seymour conheceram-se por acaso numa viagem de autocarro perto de Montparnasse, em Paris. Estavam sentados frente a frente. Bresson segurava a sua Leica e foi essa câmara que motivou o início de uma conversa que, mais tarde, levaria à criação da Magnum.

Em Abril de 1947, Robert Capa, David Seymour, Henri Cartier-Bresson e George Rodger encontraram-se no restaurante do New York's Museum of Modern Art. Não era apenas um jantar de amigos. Os quatro fotógrafos estavam decididos a formar um consórcio que protegesse os direitos de autor sobre os negativos e lhes desse o controlo editorial do uso das suas fotografias. Contactaram mais alguns fotógrafos e em Maio criaram a "Magnum Photos,Inc". Cinquenta e quatro anos depois, a Magnum é uma instituição com escritórios espalhados por todo o mundo. Tem hoje 60 membros e milhões de imagens em arquivo, a preto e branco e a cores, datadas desde os anos 30.

 

Em busca de um momento decisivo

Com a Magnum, disse um dia Henri Cartier-Bresson, nasceu a necessidade de se contar uma história. A agência foi fundada no rescaldo da Segunda Grande Guerra onde os quatro fundadores, mais do que fotografar, tinham sido, eles próprios, protagonistas e testemunhas da História.

As imagens do Dia D do desembarque na Normandia, da resistência em França, dos bombardeamentos de Londres, da libertação de Paris, dos campos de concentração alemães, ganharam uma nova dimensão nunca imaginada. Mais do que ler, era possível ver o curso da história com os seus protagonistas e actores secundários - o povo - com os seus rostos de sofrimento, ansiedade, alegria, medo, de vitória e de derrota.

Com a criação da Magnum, os seus fundadores queriam poder dispor do seu trabalho sem as restrições dos grandes jornais e revistas da época, poder escolher as suas histórias, partir e poder trabalhar nelas todo o tempo que precisassem. Não queriam ser apenas autores de fotografias legendadas, "bonecos" de notícias. Queriam estar dentro da história, estar no acontecimento não como meros espectadores mas fazendo parte da acção, sentir as emoções, viver as coisas. Porque só assim a imagem se torna verdadeira. E porque só vivendo os acontecimentos se consegue o que todos os fotógrafos mais anseiam: captar o momento decisivo.

O que é o momento decisivo? Henri Cartier-Bresson responde: "O dom de saber exactamente quando premir o botão.

Esse instinto é essencial para a grande fotografia. Não se aprende, não se imita. Nasce-se com ele".

 

A Magnum hoje

Em 54 anos o mundo mudou e a Magnum foi forçada também a mudar. Não que tenha abandonado definitivamente a corrente humanista que sempre a caracterizou mas a realidade e a globalização impuseram regras novas.

E para quem profetizou o fim da era de ouro do fotojornalismo, a Magnum surge como uma resposta, uma afirmação de que reportagem fotográfica continua e continuará a ser uma referência documental insubstituível.

Porque a realidade existe a fotografia existe, resistindo à circulação célere das imagens, aos directos das televisões e à Internet. Criando um espaço próprio, renovando-se para acompanhar as mudanças. Afirmando-se como um estilo para documentar o mundo.

Os projectos dos seus fotógrafos resultam em imagens que espelham o mundo de hoje, fragmentado e inquieto.

Apesar de ser vista como uma agência conservadora, a Magnum tenta esbater as fronteiras entre a arte e o documento, tira partido das novas tecnologias e quer estar, sempre, onde tudo acontece (onde está a notícia) ou onde nada acontece (o quotidiano).

A Magnum tem hoje cerca de meia centena de exposições em digressão por todo o mundo. Publica livros colectivos ou individuais dos seus 60 membros e gere um dos maiores espólios fotográficos do mundo.

 

Isabel Reis

em www.ajanela.com

 

 

Robert Capa

Nasceu em Budapeste em 1913 de onde saiu em 1931 para viver na Alemanha. Fotógrafo autodidata começou por trabalhar como assistente de um laboratório fotográfico. Estudou ciências políticas em Berlim e acabou por emigrar para Paris em 1933, ano em que deixou o nome de baptismo (André Friedman) para passar a assinar com o de Robert Capa.

Morreu no dia 25 de Maio de 1954 em Thai-Binh, no Vietenam, quando trabalhava como correspondente de guerra.

   

 "Se as fotografias não são suficientemente boas, é porque não se está suficientemente perto". E Capa estava sempre demasiado perto. Fotografou o Dia D do desembarque na Normandia em 1944 - imagens difusas de soldados que se lançam ao mar, imagens em movimento. Ele estava lá, entre eles, como se fosse um deles. E estava também entre o povo na libertação de Paris, e na perseguição aos colaboracionistas que se seguiu. E em Leipzig para fotografar "O último homem a morrer".

O seu nome ficará sempre ligado à Guerra Civil espanhola e à imagem que simboliza todo o seu trabalho "Morte de um realista espanhol", tirada em 1936. A imagem de um homem que de braços abertos recebe o impacto das balas, solitariamente.

Sobre Robert Capa, há inúmero material na web. Por todos ver aqui e aqui.

 

Robert Capa com David (Chim) Seymour

 

Ingrid Bergman, by Robert Capa *

* Kindly authorised by Michelle

   

Pablo Picasso e Françoise Gilot, França, 1948

 

 

 

Henri Cartier - Bresson

 

Nasceu em 1908 em França. Estudou pintura e filosofia e iniciou a carreira de fotógrafo em 1931 fazendo, posteriormente, alguns filmes documentais. Em 1940 tornou-se prisioneiro de guerra dos alemães e, depois de fugir, aderiu à resistência francesa.

 Sempre em busca do momento decisivo, Bresson conseguiu sempre estar à hora certa no sítio certo. Por isso, é um dos nomes mais citados quando se refere o momento maior da fotografia: captar o momento - não um momento qualquer, mas o momento decisivo, que expressa a essência de uma situação. Como na célebre fotografia "Prisioneira de campo de guerra em Dessau" (1945, Alemanha), onde captou o momento em que uma antiga prisioneira reconheceu a pessoa que a denunciara. Como no funeral de Gandhi (1948) onde milhares de turbantes transbordam dos limites da imagem. No entanto a sua fotografia mais conhecida é "Domingo nas margens do Marne", tirada em 1938. Uma família em piquenique nas margens de um Marne tranquilo.

 

 

 

 

David (Chim) Seymour 

Nasceu em 1911 em Varsóvia. Em 1931 mudou-se para Paris depois de estudar arte e fotografia na Academia de Leipzig. Já em França adopta o pseudónimo de Chim. Foi morto a 10 de Novembro de 1956 no Suez, quatro dias antes da assinatura do armistício, por tiros de metralhadoras egípcias quando estava a registar uma troca de prisioneiros.

Para David (Chim) Seymour a câmara fotográfica não era um instrumento de trabalho mas uma extensão de si próprio. Ou como dizia Henri Cartier-Bresson: Chim pega na sua câmara da mesma forma que um médico tira o estetoscópio da mala.

O mundo da política fascinava-o e especializou-se em captar rostos e sentimentos de algumas das personalidades mais importantes da sua época. Depois da Segunda Grande Guerra, viajou pela Unesco para registar os efeitos da guerra sobre as crianças na Checoslováquia, Polónia, Hungria, Alemanha, Grécia e Itália. Um trabalho compilado no livro "Children of Europe", editado em 1949.

 

 

   

George Rodger

 

Nasceu em 1908 na Grã Bretanha. Era um verdadeiro repórter de guerra. Cobriu a invasão aliada à Europa e foi o primeiro fotógrafo britânico a chegar ao campo de concentração alemão de Bergen-Belsen. George Rodger morreu em 1995.

 

Depois de Bergen-Belsen, George Rodger jurou que esse seria o seu último trabalho de guerra. Quando vemos essas fotografias percebemos porquê. São imagens impressionantes. Ao primeiro olhar pensamos que é apenas um amontoado de roupa. Serão corpos? Não, é apenas roupa, só pode ser roupa porque não se nota o volume de corpos. Num segundo olhar descobrimos uma mão, pernas que são apenas ossos cobertos por um pele esticada. São corpos, como aquele que um oficial alemão puxa, mesmo à nossa frente, puxa um corpo como se o não fosse.

 

 

 

Eve Arnold

 

É a primeira fotógrafa (mulher) da Magnum consumando a sua entrada na agência em 1955.

Nos anos 50 criou vários ensaios fotográficos sobre mulheres dos mais diversos níveis da sociedade, de quem desejava apresentar uma imagem "realista".

É dessa época que datam alguns dos trabalhos mais representativos da fotógrafa: retratos de Marilyn Monroe, Joan Crawford e Marlene Dietrich - três divas retratadas como mulheres banais, sem a aura da estrela convencional ou idealizada. Fotografias sem poses, sem maquilhagem, das actrizes em momentos de repouso ou de preparação para as câmaras. Eve Arnold, melhor que ninguém, soube captar o lado humano das figuras públicas, tornando-as "reais".

 

 

   

W. Eugene Smith

 

Foi repórter da Newsweek e da Life e, durante a Segunda Guerra Mundial, foi repórter de guerra no Pacífico Sul onde tirou algumas das imagens mais marcantes da sua carreira e da guerra.

Associou-se à Magnum em 1955, mas Eugene Smith queria ter o inteiro controlo sobre as suas imagens e, pouco depois, passou a trabalhar como independente publicando as suas imagens em livros.

 

 

 

 

Josef Koudelka

 

Entrou para a Magnum em 1971, já depois de ter iniciado o trabalho que marca toda a sua carreira.

 

Nascido na Checoslováquia, Josef Koudelka interessa-se desde cedo pela vida das comunidades ciganas. Desde 1962 que viaja com elas desde o Leste Europeu à Irlanda, França e Espanha captando imagens da forma de vida dos ciganos, rituais, festas e também das perseguições de que são vítimas.

 

 

 

Gilles Peress

Iniciou a carreira em 1970 e juntou-se à Magnum em 1974 chegando a presidente da agência em finais dos anos 80.

Um dos seus projectos mais representativos é o do conflito na Irlanda do Norte onde capta imagens impressionantes do dia a dia de quem vive sob a tensão de um conflito que degenera, quase sempre, em actos de violência. Todas essas fotografias estão compiladas no livro "Power in the Blood". Mas Gilles Peress também fotografa a intolerância no Ruanda, na Bósnia e a saga dos imigrantes turcos na Alemanha.

Gilles Peress dá corpo a uma das linhas mestras da Magnum: "Quando viajo faço tudo o que as pessoas desses lugares fazem, sigo o seu ritmo de vida."

 

 

 

 Alex Webb

Quando todos fotografam a preto e branco, Alex Webb decide fotografar a cores.

Para ele a cor diz muito mais do ambiente, das emoções e do sentimento de um lugar. Define-se ele próprio como um fotógrafo de rua e diz que o fascínio da cor lhe veio das Caraíbas e da América Latina, porque a cor faz parte dessas culturas. Mas gosta de comparar o colorido de cada cidade e cada povo, porque cada lugar tem uma cor. Alex Webb entrou para a Magnum em 1976.

 

 

 

 Sebastião Salgado

Este brasileiro formou-se em economia e só quando passa por África, no início dos anos 70, se interessa pela fotografia.

Regressa então a Paris onde começa a trabalhar como repórter fotográfico. Salgado colaborou com as principais agências, como a Sygma e a Gamma; ingressou na Magnum em 1979 e pouco depois criou a sua própria agência.

É através das imagens de Sebastião Salgado que vivemos a dureza do dia a dia dos garimpeiros, que vemos os rostos da fome, e nos apercebemos da realidade dos refugiados de guerra e dos imigrantes clandestinos. Salgado não fotografa de fora mas de dentro, dizendo que a fotografia sai melhor ou pior de acordo com a relação entre o fotógrafo e a pessoa que fotografa. Por isso é preciso entrar no círculo; de certa forma, tornar-se no fotografado.

 

 

 

 Paul Lowe

Iniciou a carreira de repórter fotográfico em 1988 e entrou para a Magnum em 1995.

A particulariedade do seu trabalho é que não incide no todo mas nos detalhes, num graffiti ou num pormenor da farda de um combatente.

Paul Lowe esteve na queda do muro de Berlim e na reunificação das Alemanhas, na revolução na Roménia, na libertação de Nelson Mandela e nos massacres do Ruanda. Fotografar um facto, o acontecimento em si, não lhe chega. Diz que, por vezes, a fotografia tirada depois do grande acontecimento pode dizer muito mais, porque "Os traços do terror podem ser ainda mais assustadores do que o facto em si".