6-11-2000
Os Monólogos da Vagina
Um diálogo íntimo
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A polémica estalou em Nova Iorque: já não bastavam
as estrelas de cinema e televisão feministas que, desde 1997, se sucediam, a um
ritmo impressionante, a interpretar ou a ler os monólogos com que a activista
Eve Ensler, no espaço de três anos, se tornara um fenómeno de popularidade e
ganhara um Obie. Agora também a ex-actriz e jornalista do Channel 5, Donna
Hanover, mulher do implacável Rudi Giuliani, presidente da Câmara de Nova
Iorque, punha em polvorosa o conservadoríssimo Partido Republicano, a que o
marido pertence, oferecendo-se para interpretar o mais «chocante» de todos os
monólogos políticos da off-Broadway! Foi, pode dizer-se, uma espécie de «guerra dos sexos»
no seu sentido mais inesperado. A 1 de Maio, a primeira dama de Nova Iorque
anuncia que irá integrar o elenco rotativo do mais badalado espectáculo do
teatro americano do final dos anos 90, criado pela sua amiga Eve Ensler, frontal
detractora do «mayor» e apoiante declarada de Hilary Clinton na corrida ao
cargo de senadora. Mas, para tornar esta atitude mais interessante para os «media»,
o conservador Rudolph Giuliani faz saber, no espaço de poucos dias, que sofria
de cancro da próstata, que pretendia divorciar-se e que tinha um caso «de
amizade» com uma enfermeira. A célebre apresentadora do programa «Good Day New
York», informada pelos jornais da sua situação de futura-ex-mulher casada,
adia a estreia e convoca uma conferência de imprensa onde denuncia todos os «affairs»
do «mayor» e todas as cenas alegadamente passadas nos segredos da cama do
casal. E revela a inabalável decisão de interpretar a narradora dos «Monólogos
da Vagina», confirmada para o início de Outubro. A imprensa foi ao rubro e «entalou»
o marido infiel e tão extremista de atitudes políticas (a dar razão a quem
lhe chama «Benito»!). Mas Giuliani, apesar da mão pesada da política,
mostrou-se paternal e disse não «gostar especialmente da peça». E lá se foi
o tema que opunha a parte do corpo feminino, na peça de Ensler, em quase todas
as variantes da fala americana, ao cancro da próstata do italo-americano
Giuliani! Que Peça é então esta de Eve Ensler, jornalista, poeta, e
guionista que se considera «uma activista política» em todas as suas facetas
profissionais e criativas? «The Vagina Monologues» é um conjunto de 18 «monólogos»,
na versão publicada, em 98, pela corajosa editora Villard. O mais interessante deste «texto teatral», onde a
palavra «vagina» é pronunciada 128 vezes (com as variantes regionalistas,
familiares e pelo menos uma versão popular de quatro letras), para além da
seriedade dos problemas que abrange com humor e sentimento (descoberta, de
velhas e meninas, do seu corpo; abusos sexuais; violações das mulheres na
guerra da Bósnia; educação castradora, mas também a aleluia do prazer e da
maternidade), é o facto de se tratar de um género dramático novo. Como poderão constatar na versão portuguesa acabada
de estrear no Casino do Estoril (uma de entre dezenas de versões mundiais),
estes «monólogos, com base em 200 entrevistas, a mulheres situadas entre a infância
e a terceira-idade, de raças e estatutos sociais diferenciados no «melting pot»
norte-americano, é uma espécie de fusão da «stand-up comedie» (que não
temos, mas que é uma especialização da técnica de «entertainment» em que
um actor/actriz, a solo, diverte o público com as suas rábulas e interpelações
directas à realidade, como a série Seinfeld mostrava muito bem, misturando a
«sitcom» com a «stand-up comedie»). Os objectivos destes monólogos são, apesar dos
condimentos da comunicação e do divertimento que incorporam, fundamentalmente
políticos. Assim como uma espécie anglo-saxónica do teatro documento criado
pelo alemão Piscator, mestre de Brecht. Só que, em vez das caricaturas
expressionistas, dos tapetes rolantes e das projecções de dados estatísticos,
é a palavra, explícita e engajada, o veículo de todas as informações. Eve Ensler estreou esta acção teatral em 1996, num
espaço alternativo da Home for Contemporary Theatre and Art, no Art at Here do
Arts Centre de Nova York, ou seja, na «off-Broadway». Com o correr dos espectáculos,
dos quilómetros (pela América e pelo estrangeiro) e dos anos, e segundo uma
estratégia de dramaturgia épica contemporânea como é o «work in progress»,
Ensler foi acrescentando e revendo os monólogos mediante os comentários das
suas entrevistadas e a consciência da falta de certos campos de reflexão, como
o do parto, não incluídos nas versões anteriores. Este processo de trabalho
revela com clareza que o que move esta feminista heterossexual - e digo
heterossexual porque, entre nós, tal campo da política activa e militante
continua a ser, apesar dos passos dados nos anos 90, ordinariamente restringido
à interpretação de «escolhas sexuais alternativas», salvo quando se trata
da pioneira Teresa Horta (também ela, no seu tempo, foi insultada) - é, com
efeito, não a procura de sucesso como actriz (que, aliás, obteve), mas o
sucesso da luta contra a violência sobre as mulheres. Foi para esta causa,
entendida a nível mundial, que criou, no princípio dos anos 90, quando se
encontrava no Quénia, com a celebridade televisiva Calista Flockhart, a apoiar
os movimentos contra a FGM (Feminine Genital Mutilation), o V-Day, movimento que
se passou a comemorar nos EUA, desde 98, no Dia dos Namorados (14 de Fevereiro),
através de acções mediáticas como a representação ou leitura de «Os Monólogos
da Vagina» por celebridades de Hollywood, feministas, como Melanie Griffith,
Cate Blanchett, Winnie Ryder, Glenn Close, Susan Sarandon ou Whoopi Golderberg. Outros textos de intervenção de Eve Ensler, como «Necessary
Targets», sobre a eliminação étnica na Bósnia através das violações
sistemáticas, foram lidos, na própria campanha da assumidamente feminista
Hilary Clinton ao Senado, por outras activistas como Meryl Streep, Angelica
Huston, Cherry Jones, etc. A Versão portuguesa da polémica peça de Ensler, com
interpretação da actriz Guida Maria e direcção de Celso Cleto (também do
Teatro Nacional D. Maria II), é um espectáculo que nos interpela, incomoda,
diverte e faz reflectir sobre o silenciamento a que se mantém confinado o
activismo político feminista, não partidário, no nosso país. Não que o espectáculo seja, como o é para Eve Ensler,
uma acção de intervenção política directa, ou uma actividade estratégica
programada no âmbito de uma acção de grupo ou individual. O trabalho português,
postas todas as distâncias, quase corresponde à teorização de Anselma
Dell'Olio, fundadora do New Feminist Theatre (1974), que considera que «o
teatro feminista pode trabalhar no enquadramento tradicional e ter sucesso
comercial», pois emerge, exactamente, como um espectáculo profissional e
comercial cuja temática e conteúdos (ainda que atenuados pelos cortes
produzidos no texto original) ousam afrontar alguns preconceitos e temores e
chamar, assim, a atenção, pela «comédia», pela «comediante» (um talento
apreciável, incompreensivelmente «escondido» nos bastidores do D. Maria) e
pelas opções do director, para um teatro diferente e uma dramaturgia no fio da
navalha entre o uso apelativo da linguagem desbocada, simplificadora, e o uso
arrojado e frontal de uma linguagem que não se confunde nem com a má educação
propagada pela televisão (por exemplo, a dos habitantes da casa Grande Irmão),
nem com os excessos, obscenos, do «feminino monstruoso», da freudiana psicanálise,
veiculado pelos filmes de terror e pelos filmes e textos pornográficos. E o que resulta mais surpreendente é justamente o
facto de a peça ser tão impressiva que consegue não só atenuar os graves
problemas desta nova versão (J.L. Luna) em português (a primeira foi a
brasileira de Fausto Holff) como dissolver quaisquer meros objectivos comerciais
e divertimento acéfalo, arrebatando a actriz e o auditório para a consciência
do «acto» que se partilha naquele espaço de intimidade que se volveu o
teatrinho do Casino (Fernando Marques Oliveira/José Luís Reis). Guida Maria, tal como Eve Ensler, veste-se
(elegantemente) de negro e penteia-se à Louise Brooks. Comunicativa e
hilariante em «números» como aquele em que recria uma tipologia para os «gemidos
orgásticos», a actriz, muito bonita e sexy, faz-nos recordar os tempos do seu
regresso de Londres, quando pisava, disciplinada e corajosamente, o Teatro da
Graça (Slag, 1980). Depois disso, só a publicidade lhe deu visibilidade. Será
agora redescoberta na «tournée» que inclui Madeira, Açores, Porto, Coimbra,
Faro, entre outras regiões nacionais. Entretanto, já existe uma resposta a «Os Monólogos
da Vagina», da autoria de Ernest Thompson! Chama-se «A Resposta do Pénis» e
Celso Cleto prepara-se já para mais essa aventura teatral! Que chova público! |
BEATRIZ VASQUES, no "Expresso", de 28-11-2000
MONÓLOGOS
(BEM) VISÍVEIS
Helena Vasconcelos, na ELLE de Novembro de 2000
Há
quatro anos, uma jovem escritora e actriz chamada Eve Ensler, sentou-se num
palco diante de uma audiência que enchia por completo o teatro Here, no South
Village em Nova Iorque, e deu início ao espectáculo “one woman show”
intitulado “The Vagina Monologues” ( o título não é dos mais felizes mas
o conteúdo compensa). Apesar da referência “chocante” a um órgão sexual,
num país em que é proibido, por exemplo, dizer essa mesma palavra (
“vagina”) na televisão, a peça foi um sucesso imediato. Presentemente,
depois de milhares de representações em todo o mundo e de ter recebido vários
prémios, “The Vagina Monologues” (já editado também em livro), é uma
obra considerada como um dos expoentes máximos do chamado “novo feminismo”,
tendo contribuído para um reconhecimento, por parte das mulheres, da sua própria
anatomia e do que esse órgão representa nas suas vidas.
Scott
Fitzgerald, o famoso autor norte-americano, costumava perguntar às suas
companheiras mais próximas, em ocasiões sociais, “se elas preferiam as
partes privadas dos homens grandes ou pequenas”, dando assim voz à inquietação
e insegurança que sentia pelo facto de a sua própria mulher, Zelda, achar o
seu pénis muito pequeno. Conta-se que um dia, Ernest Hemingway, que era muito
“macho” e não tinha contemplações em relação às fraquezas de Scott, o
levou para uma casa-de-banho pública no intuito de “compararem o tamanho dos
respectivos órgãos sexuais”. Uma vez que, para que tais “medições”
sejam correctas, é sempre necessária a respectiva erecção, é interessante
imaginar o que terá acontecido nesse dia em que Hemingway tentou
“sossegar”, ( de uma forma que se parece perigosamente com uma humilhação),
o seu amigo e companheiro de escrita. Esta e outras histórias semelhantes
servem apenas para ilustrar uma inquietação que domina a mente dos homens e
que os preocupa a ponto de determinar, decisivamente, o grau da própria
auto-estima. Por alguma razão é costume, entre a população masculina, a
repetida introdução no discurso de palavras alusivas ao seu tão estimado (e
quase sempre sobrestimado) órgão sexual, um hábito que não é secundado
pelas mulheres, talvez porque elas não sentem a mesma necessidade de competir,
que é apanágio dos homens, ou então porque a relação da mulher com o seu próprio
corpo, principalmente no que diz respeito aos órgãos genitais, é
completamente diferente da do homem. Aquilo que os homens exibem com mais ou
menos orgulho ( ou tristeza!) é, no seu contraponto feminino, um poço de mistérios,
mitos e tabus ou, pelo menos, algo que é guardado com reserva e, em muitos
casos, pudor.
Mas
algo está a mudar no reino da sexualidade feminina, esse “continente negro”
da alma, como lhe chamava Freud, o homem que, como se sabe, desenvolveu a teoria
da “inveja do pénis” nas “pobres” mulheres, que ele considerava em
permanente carência e roídas pela cobiça de tão orgulhoso e proeminente
atributo. Num recente estudo publicado numa revista americana, o Dr. John
Bancroft do Kinsey Institute ( Alfred Kinsey e a dupla Masters e Johnson foram
pioneiros no estudo da sexualidade), afirmou : “Vivemos ainda no seio de uma
cultura que define a sexualidade, o prazer sexual e os seus objectivos em termos
masculinos. Em seguida, aplicamos o mesmo paradigma às mulheres, o que se
revela como um erro.”
No
momento, em que se desenvolvem todos os esforços para se descobrir um Viagra
feminino e se fazem estudos aturados no sentido de se saber o que realmente dá
prazer às mulheres, eroticamente falando, um dado parece conclusivo: a satisfação
e plenitude sexual feminina é um processo complexo e cheio de “nuances”
, de forma alguma comparável à dos homens, para quem, na maior parte das
vezes, basta o simples ( e, às vezes não tão simples assim) acto da erecção.
No entanto, para melhorar a qualidade de vida sexual das mulheres, é necessário
derrubar tabus e alargar o conhecimento do próprio corpo, uma vez que é ponto
assente que a ignorância nesse capítulo, cimentada por séculos de silêncio,
medos e incompreensão, é uma realidade incómoda.
Se, por exemplo, perguntarmos a uma mulher de que tamanho é o seu clitóris
ou se saberá desenhar o formato de uma vagina, (vale a pena (re)ver a obra da
pintora norte-americana Georgia O’Keefe ou o trabalho da artista Judy
Chicago), o mais certo é que, qualquer que seja a resposta, se a houver, ela não
será, de forma alguma satisfatória.
Eve
Ensler escreveu “The Vagina Monologues” exactamente porque, “estava
preocupada com a questão das vaginas e o que pensamos a respeito delas e, mais
ainda, com o facto de que (a maior parte das vezes), não pensamos nelas...”.
Ao entrevistar centenas de mulheres de todas as idades, raças e grupos sociais,
com as mais variadas profissões, solteiras, casadas, lésbicas, vítimas de
guerra e de maus tratos, oriundas de lugares tão diferentes como a Bósnia, a
Somália ou Long Island, a autora/actriz quis compreender melhor, e dar a
conhecer, esse lugar estranho e fantástico, “fonte de prazer e de dor”, a
“porta que se abre para dar vida” . O resultado, bastante surpreendente, foi
esta peça de teatro que já correu mundo ( para quando a sua encenação em
Portugal?) e tem sido interpretada por um numero surpreendente de actrizes,
entre as quais se contam Susan
Sarandon, Glenn Close, Whoopi Goldberg, Winona Ryder, Marisa Tomei, Kirstie
Alley, Rosie Perez, Amy Irving, Erica Jong, Diane Lane, etc. Há bem pouco
tempo, em plena campanha eleitoral para a eleição para o Senado
norte-americano, Rudolph Giuliani, o controverso (e conservador) Presidente da Câmara
de Nova Iorque (que, recentemente, cortou os subsídios ao Museu de Brooklyn por
ter achado uma exposição “escandalosa”), ficou extremamente contrariado
por a sua então mulher, a actriz Donna Hanover, por sinal amiga da rival
Hillary Clinton, ter representado o primeiro papel em “Monólogos da
Vagina”, um facto que causou furor e fez as delícias dos“media”.
Mas
por que razão, uma peça de teatro cujo tema se centraliza no órgão genital
feminino tem sido objecto de tanta polémica ? A conhecida autora e feminista
Gloria Steinem, no prefácio do livro, lembra que as próprias mulheres têm
relutância em falar do que ela chama “o que está lá em baixo” e articular
termos como vulva, lábios, vagina, clitóris, etc. Ela refere que só se
apercebeu da importância deste assunto quando viveu na Índia, onde é comum
representar-se graficamente, não só o lingam
, o abstracto símbolo genital masculino, mas também a yoni
, o símbolo genital feminino, um “triângulo em forma de flor ou ovalado
com duas pontas, idolatrado há milhares de anos e ainda hoje incluído no
Tantrismo que defende que o homem só atinge a satisfação espiritual pela união
sexual e espiritual com a energia superior da mulher”, opinião e crença
partilhadas em múltiplas formas, como por exemplo pelos cristãos gnósticos
(Maria Madalena seria a mais sábia dos discípulos de Jesus), os místicos Sufi
do Islão e até pela religião católica com as suas múltiplas formas do culto
de adoração a Maria. Segundo o resultado de uma pesquisa efectuada pela própria
Steinem na Biblioteca do Congresso, o traçado das igrejas tradicionais imita o
corpo feminino: “há uma entrada externa e outra interna (grandes e pequenos lábios),
um corredor vaginal central, duas estruturas curvas laterais, (os ovários) e o
centro sagrado, o útero que “dá à luz, onde acontece o milagre”.
Eve
Ensler teve a ideia para os seus “Monólogos” por sentir que essa parte da
anatomia feminina, apesar de toda a sua importância, era (é) um território
inexplorado, escondido e desconhecido: “” Eu digo a palavra (vagina) porque
acredito que aquilo que não dizemos, nós também não vemos, não
reconhecemos, não recordamos. O que não dizemos transforma-se em segredos e os
segredos, muitas vezes, criam vergonhas, medos e mitos. Eu digo a palavra invisível
porque quero dizê-la um dia sem sentir vergonha ou culpa. Quero dizê-la com
tranquilidade”. E é através desse órgão cujo nome é , ainda, objecto de
censura, que Ensler nos faz ouvir a voz de mulheres: mulheres que nunca viram a
própria vagina e a descobrem em sessões conjuntas com a ajuda de espelhos,
outras, cujos maridos têm gostos esquisitos como aquele que mandava a mulher
rapar os pêlos e fez dessa exigência um cavalo de batalha e, ainda, aquela
outra velha judia de Queens que confessa que “não vai lá abaixo desde
1953”. A autora fala ainda das experiências muito diversas das primeiras
menstruações, dos orgasmos e do amor lésbico descoberto por uma mulher que
fora violada em criança. Mas os dois textos mais poderosos e comoventes são,
aquele que se refere às mulheres vítimas de estupro durante a guerra na Bósnia
e o que descreve um nascimento.
Entre
o riso mais exuberante e as lágrimas mais dolorosas, estes testemunhos actuam
como uma espécie de catarsis para
todos aqueles, homens ou mulheres, que ainda têm capacidade para sentir indignação
pelas injustiças e violências cometidas, tristeza pela dor de quem sofre e
alegria pelo milagre que é a vida em todas as suas manifestações.
Factos
interessantes:
Num
julgamento de feiticeiras em 1593, o advogado investigador (um homem casado) viu
um clitóris pela primeira vez, identificando-o como sendo “ a teta do
diabo”. A mulher que o possuía foi, evidentemente, condenada. ( “Monólogos
da Vagina”)
Nos
Estados Unidos, a última cliterodectomia ( ablação do clitóris) para a
“cura” da masturbação, ocorreu em 1948 e foi executada numa menina de
cinco anos. ( “The Woman’s Encyclopedia of Miths and Secrets”)
O
clitóris, um “feixe” de 8000 fibras nervosas, é o único órgão do corpo
humano cuja função exclusiva é a de dar prazer.
Uma
vagina saudável, ao contrário do que normalmente se pensa, (não esquecer as
anedotas que a relacionam com “ o desagradável cheiro a peixe” que pode
acontecer por falta de higiene, por um desequilíbrio na flora vaginal ou pela
ocorrência de infecções) é um dos lugares mais limpos do corpo humano,
seguramente mais do que a boca ou o ânus. É verdade que aí se concentram bactérias
(lactobacilos) mas essas bactérias são “boas”, são as que existem no
iogurte, por exemplo. Estas mesmas bactérias geram “desinfectantes” que
afastam habitantes indesejáveis a ajudam ainda a repelir as “más” bactérias,
as que provocam infecções. ( In “Woman, An Intimate Geography” de Natalie
Angier)
Nota:
Este texto refere-se à edição brasileira de “Os Monólogos da Vagina”,
Bertrand Brasil. Para informações mais completas, incluindo o horário de
espectáculos em Nova Iorque, consultar o seguinte “site” na Net:
www.vaginamonologues.com/performers.html
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FOREWORD BY
GLORIA STEINEM
VILLARD
NONFICTION
144 PAGES BY SARA KELLY
|
For
some of us, a little vagina goes a long way. Most of us, however, are not Eve
Ensler, the woman behind "The Vagina Monologues." For Ensler, not even
the limits of the human constitution can keep a determined vagina down. And that,
in essence, is the point of this literary adaptation of her Obie-winning
one-woman show. Assembled in seemingly random fashion from interviews with
"a diverse group of over two hundred women about their vaginas," the
monologues, their author contends, are for our own good. The intent is purely
missionary -- to reclaim the much-maligned "vagina" for women the same
way the gay community has reclaimed the term "queer."
It is with great
pride and purpose that Ensler invokes the "V" word. Like a precocious
child, she repeats those telltale three syllables guaranteed to get a rise out
of the grown-ups. "I say 'vagina,'" she explains, "because I want
people to respond." And they respond, she says, because they know they
shouldn't. Since learning the word's liberating power for herself as an adult,
Ensler has hardly tired of its cryptic joys. "I say it in my sleep,"
she boasts. "I say it because I'm not supposed to say it. I say it because
it's an invisible word -- a word that stirs up anxiety, awkwardness, contempt
and disgust."
"The Vagina
Monologues" is comprised of roughly 15 thematically linked pieces (the
number varies depending on whether you count the "vagina facts,"
dedications, explanations and musings that punctuate the interviews). A foreword
by Gloria Steinem attempts to connect the vagina with the core beliefs of world
religions (i.e., Tantra's central tenet is man's inability to reach spiritual
fulfillment except through sexual and emotional union with woman's superior
sexual energy). Doubtless, "Monologues" suffers in translation from
performance piece to text. But to help ease the transition, Ensler has appended
a few paragraphs of context to most selections.
Two, "Jewish
Queens accent" and "English accent," are introduced with a
semblance of stage directions. Others launch directly into diary entries or
unbroken lists of interviewees' responses to Ensler's questions. "If your
vagina could talk, what would it say?" asks the author. "If your
vagina got dressed, what would it wear?" "What does a vagina smell
like?" The responses range from pithy to banal. "Yum, yum,"
"Oh, yeah" and "Is that you?" say interviewees who mentally
dress their "sexy"- and "wet garbage"-smelling vaginas in
everything from "a pinafore" to "a slicker."
"The Vagina
Monologues" is by turns confessional and voyeuristic. It's hard to know,
for instance, just how to respond to the tragic tale of a Bosnian rape camp
survivor ("... they took turns for seven days ... smelling like feces and
smoked meat, they left their dirty sperm inside me ...") when juxtaposed
with a vignette about a woman who experienced her first orgasm in a hands-on
tutorial called "The Vagina Workshop" ("I felt connection,
calling connection as I lay there thrashing about on my little blue mat
..."). Ensler is, at the very least, egalitarian in achieving her mission.
She treats such subjects as lesbian sex, birth, rape and child abuse with equal
candor and respect. Whether her evenhanded treatment of such conflicting
subjects shortchanges both is a matter best left to sex researchers and
therapists. Sara Kelly is the editor of In Pittsburgh, an
alternative weekly newspaper. |
The monologues, taken from her interviews with 200 women, range from rape as a weapon in Bosnia (the woman describes a gang rape as the destruction of a village, and the language has the intensity of poetry), to a thirteen year old's initiation into sex ... Ms. Ensler punctuates them with riffs on such topics as past ignorance, abuse of women, and hilarious euphemisms... eliciting roars from the audience … Cunning writing. Sex just doesn't get funnier or more poignant than that." -- D.J.R.Bruckner, The New York Times
"Not since Erica Jong's Fear of Flying has there been such an entertaining and heartfelt genital celebration." -- Lisa Coleman Bradlow, Time Out New York
"Ensler's audiences - a surprisingly disparate group - may have never heard the word 'vagina' spoken aloud in public, with the (possible) exception of high-school health classes. But playwright-turned-performer Ensler is determined to change all that with her solo performance of The Vagina Monologues...Ensler radiates the qualities of a classic storyteller..." -- Wendy Weiner, American Theater
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