6-11-2000

 

Os Monólogos da Vagina

 

Um diálogo íntimo

 

 

A actriz Guida Maria desempenha o papel de narradora dos «Monólogos da Vagina», uma peça de Eve Ensler em exibição no Teatro Casino do Estoril

A polémica estalou em Nova Iorque: já não bastavam as estrelas de cinema e televisão feministas que, desde 1997, se sucediam, a um ritmo impressionante, a interpretar ou a ler os monólogos com que a activista Eve Ensler, no espaço de três anos, se tornara um fenómeno de popularidade e ganhara um Obie. Agora também a ex-actriz e jornalista do Channel 5, Donna Hanover, mulher do implacável Rudi Giuliani, presidente da Câmara de Nova Iorque, punha em polvorosa o conservadoríssimo Partido Republicano, a que o marido pertence, oferecendo-se para interpretar o mais «chocante» de todos os monólogos políticos da off-Broadway!

        GUIDA MARIA

A polémica estalou em Nova Iorque: já não bastavam as estrelas de cinema e televisão feministas que, desde 1997, se sucediam, a um ritmo impressionante, a interpretar ou a ler os monólogos com que a activista Eve Ensler, no espaço de três anos, se tornara um fenómeno de popularidade e ganhara um Obie. Agora também a ex-actriz e jornalista do Channel 5, Donna Hanover, mulher do implacável Rudi Giuliani, presidente da Câmara de Nova Iorque, punha em polvorosa o conservadoríssimo Partido Republicano, a que o marido pertence, oferecendo-se para interpretar o mais «chocante» de todos os monólogos políticos da off-Broadway!

Foi, pode dizer-se, uma espécie de «guerra dos sexos» no seu sentido mais inesperado. A 1 de Maio, a primeira dama de Nova Iorque anuncia que irá integrar o elenco rotativo do mais badalado espectáculo do teatro americano do final dos anos 90, criado pela sua amiga Eve Ensler, frontal detractora do «mayor» e apoiante declarada de Hilary Clinton na corrida ao cargo de senadora. Mas, para tornar esta atitude mais interessante para os «media», o conservador Rudolph Giuliani faz saber, no espaço de poucos dias, que sofria de cancro da próstata, que pretendia divorciar-se e que tinha um caso «de amizade» com uma enfermeira.

A célebre apresentadora do programa «Good Day New York», informada pelos jornais da sua situação de futura-ex-mulher casada, adia a estreia e convoca uma conferência de imprensa onde denuncia todos os «affairs» do «mayor» e todas as cenas alegadamente passadas nos segredos da cama do casal. E revela a inabalável decisão de interpretar a narradora dos «Monólogos da Vagina», confirmada para o início de Outubro. A imprensa foi ao rubro e «entalou» o marido infiel e tão extremista de atitudes políticas (a dar razão a quem lhe chama «Benito»!). Mas Giuliani, apesar da mão pesada da política, mostrou-se paternal e disse não «gostar especialmente da peça». E lá se foi o tema que opunha a parte do corpo feminino, na peça de Ensler, em quase todas as variantes da fala americana, ao cancro da próstata do italo-americano Giuliani! Que Peça é então esta de Eve Ensler, jornalista, poeta, e guionista que se considera «uma activista política» em todas as suas facetas profissionais e criativas? «The Vagina Monologues» é um conjunto de 18 «monólogos», na versão publicada, em 98, pela corajosa editora Villard.

O mais interessante deste «texto teatral», onde a palavra «vagina» é pronunciada 128 vezes (com as variantes regionalistas, familiares e pelo menos uma versão popular de quatro letras), para além da seriedade dos problemas que abrange com humor e sentimento (descoberta, de velhas e meninas, do seu corpo; abusos sexuais; violações das mulheres na guerra da Bósnia; educação castradora, mas também a aleluia do prazer e da maternidade), é o facto de se tratar de um género dramático novo.

Como poderão constatar na versão portuguesa acabada de estrear no Casino do Estoril (uma de entre dezenas de versões mundiais), estes «monólogos, com base em 200 entrevistas, a mulheres situadas entre a infância e a terceira-idade, de raças e estatutos sociais diferenciados no «melting pot» norte-americano, é uma espécie de fusão da «stand-up comedie» (que não temos, mas que é uma especialização da técnica de «entertainment» em que um actor/actriz, a solo, diverte o público com as suas rábulas e interpelações directas à realidade, como a série Seinfeld mostrava muito bem, misturando a «sitcom» com a «stand-up comedie»).

Os objectivos destes monólogos são, apesar dos condimentos da comunicação e do divertimento que incorporam, fundamentalmente políticos. Assim como uma espécie anglo-saxónica do teatro documento criado pelo alemão Piscator, mestre de Brecht. Só que, em vez das caricaturas expressionistas, dos tapetes rolantes e das projecções de dados estatísticos, é a palavra, explícita e engajada, o veículo de todas as informações.

Eve Ensler estreou esta acção teatral em 1996, num espaço alternativo da Home for Contemporary Theatre and Art, no Art at Here do Arts Centre de Nova York, ou seja, na «off-Broadway». Com o correr dos espectáculos, dos quilómetros (pela América e pelo estrangeiro) e dos anos, e segundo uma estratégia de dramaturgia épica contemporânea como é o «work in progress», Ensler foi acrescentando e revendo os monólogos mediante os comentários das suas entrevistadas e a consciência da falta de certos campos de reflexão, como o do parto, não incluídos nas versões anteriores. Este processo de trabalho revela com clareza que o que move esta feminista heterossexual - e digo heterossexual porque, entre nós, tal campo da política activa e militante continua a ser, apesar dos passos dados nos anos 90, ordinariamente restringido à interpretação de «escolhas sexuais alternativas», salvo quando se trata da pioneira Teresa Horta (também ela, no seu tempo, foi insultada) - é, com efeito, não a procura de sucesso como actriz (que, aliás, obteve), mas o sucesso da luta contra a violência sobre as mulheres. Foi para esta causa, entendida a nível mundial, que criou, no princípio dos anos 90, quando se encontrava no Quénia, com a celebridade televisiva Calista Flockhart, a apoiar os movimentos contra a FGM (Feminine Genital Mutilation), o V-Day, movimento que se passou a comemorar nos EUA, desde 98, no Dia dos Namorados (14 de Fevereiro), através de acções mediáticas como a representação ou leitura de «Os Monólogos da Vagina» por celebridades de Hollywood, feministas, como Melanie Griffith, Cate Blanchett, Winnie Ryder, Glenn Close, Susan Sarandon ou Whoopi Golderberg.

Outros textos de intervenção de Eve Ensler, como «Necessary Targets», sobre a eliminação étnica na Bósnia através das violações sistemáticas, foram lidos, na própria campanha da assumidamente feminista Hilary Clinton ao Senado, por outras activistas como Meryl Streep, Angelica Huston, Cherry Jones, etc.

A Versão portuguesa da polémica peça de Ensler, com interpretação da actriz Guida Maria e direcção de Celso Cleto (também do Teatro Nacional D. Maria II), é um espectáculo que nos interpela, incomoda, diverte e faz reflectir sobre o silenciamento a que se mantém confinado o activismo político feminista, não partidário, no nosso país.

Não que o espectáculo seja, como o é para Eve Ensler, uma acção de intervenção política directa, ou uma actividade estratégica programada no âmbito de uma acção de grupo ou individual. O trabalho português, postas todas as distâncias, quase corresponde à teorização de Anselma Dell'Olio, fundadora do New Feminist Theatre (1974), que considera que «o teatro feminista pode trabalhar no enquadramento tradicional e ter sucesso comercial», pois emerge, exactamente, como um espectáculo profissional e comercial cuja temática e conteúdos (ainda que atenuados pelos cortes produzidos no texto original) ousam afrontar alguns preconceitos e temores e chamar, assim, a atenção, pela «comédia», pela «comediante» (um talento apreciável, incompreensivelmente «escondido» nos bastidores do D. Maria) e pelas opções do director, para um teatro diferente e uma dramaturgia no fio da navalha entre o uso apelativo da linguagem desbocada, simplificadora, e o uso arrojado e frontal de uma linguagem que não se confunde nem com a má educação propagada pela televisão (por exemplo, a dos habitantes da casa Grande Irmão), nem com os excessos, obscenos, do «feminino monstruoso», da freudiana psicanálise, veiculado pelos filmes de terror e pelos filmes e textos pornográficos.

E o que resulta mais surpreendente é justamente o facto de a peça ser tão impressiva que consegue não só atenuar os graves problemas desta nova versão (J.L. Luna) em português (a primeira foi a brasileira de Fausto Holff) como dissolver quaisquer meros objectivos comerciais e divertimento acéfalo, arrebatando a actriz e o auditório para a consciência do «acto» que se partilha naquele espaço de intimidade que se volveu o teatrinho do Casino (Fernando Marques Oliveira/José Luís Reis).

Guida Maria, tal como Eve Ensler, veste-se (elegantemente) de negro e penteia-se à Louise Brooks. Comunicativa e hilariante em «números» como aquele em que recria uma tipologia para os «gemidos orgásticos», a actriz, muito bonita e sexy, faz-nos recordar os tempos do seu regresso de Londres, quando pisava, disciplinada e corajosamente, o Teatro da Graça (Slag, 1980). Depois disso, só a publicidade lhe deu visibilidade. Será agora redescoberta na «tournée» que inclui Madeira, Açores, Porto, Coimbra, Faro, entre outras regiões nacionais.

Entretanto, já existe uma resposta a «Os Monólogos da Vagina», da autoria de Ernest Thompson! Chama-se «A Resposta do Pénis» e Celso Cleto prepara-se já para mais essa aventura teatral! Que chova público!

            BEATRIZ VASQUES,  no "Expresso", de 28-11-2000

 

 

 

MONÓLOGOS (BEM) VISÍVEIS

Helena Vasconcelos, na ELLE de Novembro de 2000                     

Há quatro anos, uma jovem escritora e actriz chamada Eve Ensler, sentou-se num palco diante de uma audiência que enchia por completo o teatro Here, no South Village em Nova Iorque, e deu início ao espectáculo “one woman show” intitulado “The Vagina Monologues” ( o título não é dos mais felizes mas o conteúdo compensa). Apesar da referência “chocante” a um órgão sexual, num país em que é proibido, por exemplo, dizer essa mesma palavra ( “vagina”) na televisão, a peça foi um sucesso imediato. Presentemente, depois de milhares de representações em todo o mundo e de ter recebido vários prémios, “The Vagina Monologues” (já editado também em livro), é uma obra considerada como um dos expoentes máximos do chamado “novo feminismo”, tendo contribuído para um reconhecimento, por parte das mulheres, da sua própria anatomia e do que esse órgão representa nas suas vidas. 

Scott Fitzgerald, o famoso autor norte-americano, costumava perguntar às suas companheiras mais próximas, em ocasiões sociais, “se elas preferiam as partes privadas dos homens grandes ou pequenas”, dando assim voz à inquietação e insegurança que sentia pelo facto de a sua própria mulher, Zelda, achar o seu pénis muito pequeno. Conta-se que um dia, Ernest Hemingway, que era muito “macho” e não tinha contemplações em relação às fraquezas de Scott, o levou para uma casa-de-banho pública no intuito de “compararem o tamanho dos respectivos órgãos sexuais”. Uma vez que, para que tais “medições” sejam correctas, é sempre necessária a respectiva erecção, é interessante imaginar o que terá acontecido nesse dia em que Hemingway tentou “sossegar”, ( de uma forma que se parece perigosamente com uma humilhação), o seu amigo e companheiro de escrita. Esta e outras histórias semelhantes servem apenas para ilustrar uma inquietação que domina a mente dos homens e que os preocupa a ponto de determinar, decisivamente, o grau da própria auto-estima. Por alguma razão é costume, entre a população masculina, a repetida introdução no discurso de palavras alusivas ao seu tão estimado (e quase sempre sobrestimado) órgão sexual, um hábito que não é secundado pelas mulheres, talvez porque elas não sentem a mesma necessidade de competir, que é apanágio dos homens, ou então porque a relação da mulher com o seu próprio corpo, principalmente no que diz respeito aos órgãos genitais, é completamente diferente da do homem. Aquilo que os homens exibem com mais ou menos orgulho ( ou tristeza!) é, no seu contraponto feminino, um poço de mistérios, mitos e tabus ou, pelo menos, algo que é guardado com reserva e, em muitos casos, pudor.

Mas algo está a mudar no reino da sexualidade feminina, esse “continente negro” da alma, como lhe chamava Freud, o homem que, como se sabe, desenvolveu a teoria da “inveja do pénis” nas “pobres” mulheres, que ele considerava em permanente carência e roídas pela cobiça de tão orgulhoso e proeminente atributo. Num recente estudo publicado numa revista americana, o Dr. John Bancroft do Kinsey Institute ( Alfred Kinsey e a dupla Masters e Johnson foram pioneiros no estudo da sexualidade), afirmou : “Vivemos ainda no seio de uma cultura que define a sexualidade, o prazer sexual e os seus objectivos em termos masculinos. Em seguida, aplicamos o mesmo paradigma às mulheres, o que se revela como um erro.”

No momento, em que se desenvolvem todos os esforços para se descobrir um Viagra feminino e se fazem estudos aturados no sentido de se saber o que realmente dá prazer às mulheres, eroticamente falando, um dado parece conclusivo: a satisfação e plenitude sexual feminina é um processo complexo e cheio de “nuances” , de forma alguma comparável à dos homens, para quem, na maior parte das vezes, basta o simples ( e, às vezes não tão simples assim) acto da erecção. No entanto, para melhorar a qualidade de vida sexual das mulheres, é necessário derrubar tabus e alargar o conhecimento do próprio corpo, uma vez que é ponto assente que a ignorância nesse capítulo, cimentada por séculos de silêncio, medos e incompreensão, é uma realidade incómoda.  Se, por exemplo, perguntarmos a uma mulher de que tamanho é o seu clitóris ou se saberá desenhar o formato de uma vagina, (vale a pena (re)ver a obra da pintora norte-americana Georgia O’Keefe ou o trabalho da artista Judy Chicago), o mais certo é que, qualquer que seja a resposta, se a houver, ela não será, de forma alguma satisfatória.

Eve Ensler escreveu “The Vagina Monologues” exactamente porque, “estava preocupada com a questão das vaginas e o que pensamos a respeito delas e, mais ainda, com o facto de que (a maior parte das vezes), não pensamos nelas...”. Ao entrevistar centenas de mulheres de todas as idades, raças e grupos sociais, com as mais variadas profissões, solteiras, casadas, lésbicas, vítimas de guerra e de maus tratos, oriundas de lugares tão diferentes como a Bósnia, a Somália ou Long Island, a autora/actriz quis compreender melhor, e dar a conhecer, esse lugar estranho e fantástico, “fonte de prazer e de dor”, a “porta que se abre para dar vida” . O resultado, bastante surpreendente, foi esta peça de teatro que já correu mundo ( para quando a sua encenação em Portugal?) e tem sido interpretada por um numero surpreendente de actrizes, entre as quais se contam  Susan Sarandon, Glenn Close, Whoopi Goldberg, Winona Ryder, Marisa Tomei, Kirstie Alley, Rosie Perez, Amy Irving, Erica Jong, Diane Lane, etc. Há bem pouco tempo, em plena campanha eleitoral para a eleição para o Senado norte-americano, Rudolph Giuliani, o controverso (e conservador) Presidente da Câmara de Nova Iorque (que, recentemente, cortou os subsídios ao Museu de Brooklyn por ter achado uma exposição “escandalosa”), ficou extremamente contrariado por a sua então mulher, a actriz Donna Hanover, por sinal amiga da rival Hillary Clinton, ter representado o primeiro papel em “Monólogos da Vagina”, um facto que causou furor e fez as delícias dos“media”.

Mas por que razão, uma peça de teatro cujo tema se centraliza no órgão genital feminino tem sido objecto de tanta polémica ? A conhecida autora e feminista Gloria Steinem, no prefácio do livro, lembra que as próprias mulheres têm relutância em falar do que ela chama “o que está lá em baixo” e articular termos como vulva, lábios, vagina, clitóris, etc. Ela refere que só se apercebeu da importância deste assunto quando viveu na Índia, onde é comum representar-se graficamente, não só o lingam , o abstracto símbolo genital masculino, mas também a yoni , o símbolo genital feminino, um “triângulo em forma de flor ou ovalado com duas pontas, idolatrado há milhares de anos e ainda hoje incluído no Tantrismo que defende que o homem só atinge a satisfação espiritual pela união sexual e espiritual com a energia superior da mulher”, opinião e crença partilhadas em múltiplas formas, como por exemplo pelos cristãos gnósticos (Maria Madalena seria a mais sábia dos discípulos de Jesus), os místicos Sufi do Islão e até pela religião católica com as suas múltiplas formas do culto de adoração a Maria. Segundo o resultado de uma pesquisa efectuada pela própria Steinem na Biblioteca do Congresso, o traçado das igrejas tradicionais imita o corpo feminino: “há uma entrada externa e outra interna (grandes e pequenos lábios), um corredor vaginal central, duas estruturas curvas laterais, (os ovários) e o centro sagrado, o útero que “dá à luz, onde acontece o milagre”.

Eve Ensler teve a ideia para os seus “Monólogos” por sentir que essa parte da anatomia feminina, apesar de toda a sua importância, era (é) um território inexplorado, escondido e desconhecido: “” Eu digo a palavra (vagina) porque acredito que aquilo que não dizemos, nós também não vemos, não reconhecemos, não recordamos. O que não dizemos transforma-se em segredos e os segredos, muitas vezes, criam vergonhas, medos e mitos. Eu digo a palavra invisível porque quero dizê-la um dia sem sentir vergonha ou culpa. Quero dizê-la com tranquilidade”. E é através desse órgão cujo nome é , ainda, objecto de censura, que Ensler nos faz ouvir a voz de mulheres: mulheres que nunca viram a própria vagina e a descobrem em sessões conjuntas com a ajuda de espelhos, outras, cujos maridos têm gostos esquisitos como aquele que mandava a mulher rapar os pêlos e fez dessa exigência um cavalo de batalha e, ainda, aquela outra velha judia de Queens que confessa que “não vai lá abaixo desde 1953”. A autora fala ainda das experiências muito diversas das primeiras menstruações, dos orgasmos e do amor lésbico descoberto por uma mulher que fora violada em criança. Mas os dois textos mais poderosos e comoventes são, aquele que se refere às mulheres vítimas de estupro durante a guerra na Bósnia e o que descreve um nascimento.

Entre o riso mais exuberante e as lágrimas mais dolorosas, estes testemunhos actuam como uma espécie de catarsis para todos aqueles, homens ou mulheres, que ainda têm capacidade para sentir indignação pelas injustiças e violências cometidas, tristeza pela dor de quem sofre e alegria pelo milagre que é a vida em todas as suas manifestações.

 

Factos interessantes:

Num julgamento de feiticeiras em 1593, o advogado investigador (um homem casado) viu um clitóris pela primeira vez, identificando-o como sendo “ a teta do diabo”. A mulher que o possuía foi, evidentemente, condenada. ( “Monólogos da Vagina”)

Nos Estados Unidos, a última cliterodectomia ( ablação do clitóris) para a “cura” da masturbação, ocorreu em 1948 e foi executada numa menina de cinco anos. ( “The Woman’s Encyclopedia of Miths and Secrets”)

O clitóris, um “feixe” de 8000 fibras nervosas, é o único órgão do corpo humano cuja função exclusiva é a de dar prazer.

Uma vagina saudável, ao contrário do que normalmente se pensa, (não esquecer as anedotas que a relacionam com “ o desagradável cheiro a peixe” que pode acontecer por falta de higiene, por um desequilíbrio na flora vaginal ou pela ocorrência de infecções) é um dos lugares mais limpos do corpo humano, seguramente mais do que a boca ou o ânus. É verdade que aí se concentram bactérias (lactobacilos) mas essas bactérias são “boas”, são as que existem no iogurte, por exemplo. Estas mesmas bactérias geram “desinfectantes” que afastam habitantes indesejáveis a ajudam ainda a repelir as “más” bactérias, as que provocam infecções. ( In “Woman, An Intimate Geography” de Natalie Angier)  

 

Nota: Este texto refere-se à edição brasileira de “Os Monólogos da Vagina”, Bertrand Brasil. Para informações mais completas, incluindo o horário de espectáculos em Nova Iorque, consultar o seguinte “site” na Net: www.vaginamonologues.com/performers.html

 

 

T H E_VA G I N A__M O N O L O G U E S  



BY EVE ENSLER

FOREWORD BY GLORIA STEINEM

VILLARD

NONFICTION

144 PAGES

BY SARA KELLY | For some of us, a little vagina goes a long way. Most of us, however, are not Eve Ensler, the woman behind "The Vagina Monologues." For Ensler, not even the limits of the human constitution can keep a determined vagina down. And that, in essence, is the point of this literary adaptation of her Obie-winning one-woman show. Assembled in seemingly random fashion from interviews with "a diverse group of over two hundred women about their vaginas," the monologues, their author contends, are for our own good. The intent is purely missionary -- to reclaim the much-maligned "vagina" for women the same way the gay community has reclaimed the term "queer."

It is with great pride and purpose that Ensler invokes the "V" word. Like a precocious child, she repeats those telltale three syllables guaranteed to get a rise out of the grown-ups. "I say 'vagina,'" she explains, "because I want people to respond." And they respond, she says, because they know they shouldn't. Since learning the word's liberating power for herself as an adult, Ensler has hardly tired of its cryptic joys. "I say it in my sleep," she boasts. "I say it because I'm not supposed to say it. I say it because it's an invisible word -- a word that stirs up anxiety, awkwardness, contempt and disgust."

"The Vagina Monologues" is comprised of roughly 15 thematically linked pieces (the number varies depending on whether you count the "vagina facts," dedications, explanations and musings that punctuate the interviews). A foreword by Gloria Steinem attempts to connect the vagina with the core beliefs of world religions (i.e., Tantra's central tenet is man's inability to reach spiritual fulfillment except through sexual and emotional union with woman's superior sexual energy). Doubtless, "Monologues" suffers in translation from performance piece to text. But to help ease the transition, Ensler has appended a few paragraphs of context to most selections.

Two, "Jewish Queens accent" and "English accent," are introduced with a semblance of stage directions. Others launch directly into diary entries or unbroken lists of interviewees' responses to Ensler's questions. "If your vagina could talk, what would it say?" asks the author. "If your vagina got dressed, what would it wear?" "What does a vagina smell like?" The responses range from pithy to banal. "Yum, yum," "Oh, yeah" and "Is that you?" say interviewees who mentally dress their "sexy"- and "wet garbage"-smelling vaginas in everything from "a pinafore" to "a slicker."

"The Vagina Monologues" is by turns confessional and voyeuristic. It's hard to know, for instance, just how to respond to the tragic tale of a Bosnian rape camp survivor ("... they took turns for seven days ... smelling like feces and smoked meat, they left their dirty sperm inside me ...") when juxtaposed with a vignette about a woman who experienced her first orgasm in a hands-on tutorial called "The Vagina Workshop" ("I felt connection, calling connection as I lay there thrashing about on my little blue mat ..."). Ensler is, at the very least, egalitarian in achieving her mission. She treats such subjects as lesbian sex, birth, rape and child abuse with equal candor and respect. Whether her evenhanded treatment of such conflicting subjects shortchanges both is a matter best left to sex researchers and therapists.
SALON | Feb. 4, 1998

Sara Kelly is the editor of In Pittsburgh, an alternative weekly newspaper.

 

The monologues, taken from her interviews with 200 women, range from rape as a weapon in Bosnia (the woman describes a gang rape as the destruction of a village, and the language has the intensity of poetry), to a thirteen year old's initiation into sex ... Ms. Ensler punctuates them with riffs on such topics as past ignorance, abuse of women, and hilarious euphemisms... eliciting roars from the audience … Cunning writing. Sex just doesn't get funnier or more poignant than that." -- D.J.R.Bruckner, The New York Times



"The special genius of The Vagina Monologues is Eve Ensler's ability to lead her audience to lost, discarded, and wounded parts of themselves, and make them shout, weep, and finally howl with laughter." -- Sapphire, poet and author of Push


"That she avoids shock value or even titillation is a tribute to the intelligence with which she has fashioned this courageous piece. Ensler describes her work as 'An anthropological Exploration.' This is accurate, since she bases her monologues on the experiences of women as disparate as a sex worker ... and her own daughter-in-law, whom she witnessed give birth." -- Howard Kissel, The New York Daily News


"Ensler mines the politics and profundity of her subject. There's the elderly woman who 'hasn't been down there since 1953'...Or the corporate lawyer turned lesbian dominatrix - 'It was as if I had found my calling. Tax law seemed completely boring and insignificant then.' Each woman's tale reveals particulars of her own psyche and, at the same time, tacitly sketches the social structures that these women succumb to - or break. In the VM's she does nothing less than reclaim women's ownership of our most intimate incendiary selves." -- Alisa Solomon, The Village Voice

"Not since Erica Jong's Fear of Flying has there been such an entertaining and heartfelt genital celebration." -- Lisa Coleman Bradlow, Time Out New York


"The Vagina Monologues is a play and a piece of art. Eve Ensler is before the audience with a goal, for all people, especially women, to be comfortable with vaginas. The performance shows the hilarious, sentimental, power, mystery, and pain of vaginas. Ms. Ensler takes the audience through the history of and its misunderstanding of vaginas and through the experiences of women from every age/race group that she interviewed...She explores what relationship a Bosnian refugee, a Long Island Antique dealer, a homeless woman and everyone in between has with her vagina." -- Claudia Terry, Hi Drama

"Ensler's audiences - a surprisingly disparate group - may have never heard the word 'vagina' spoken aloud in public, with the (possible) exception of high-school health classes. But playwright-turned-performer Ensler is determined to change all that with her solo performance of The Vagina Monologues...Ensler radiates the qualities of a classic storyteller..." -- Wendy Weiner, American Theater


"Her one-woman show, The Vagina Monologues, is lively and liberating. Eve Ensler - playwright, actor, activist - gives a voice to refugees, the homeless and our most private parts." -- Rebecca Meade, Mirabella Magazine

   

 

LONDON REVIEW OF BOOKS

LRB | Vol. 25 No. 22 dated 20 November 2003 | Jenny Diski

It's so beautiful

Jenny Diski

The Story of V: Opening Pandora's Box by Catherine Blackledge | Weidenfeld, 322 pp, £18.99

For many women in the 1970s, the response to the exhortation 'Know thyself' took the form of specula, hand mirrors, torches and a group of comrades who would angle the looking glass and beam just right so that, reclining on your elbows, you could look down through your bent legs and see what really lay between them. It was considered to be an essential encounter with the centre of your being. Consciousness-raising began, as it always must, by peering into the heart of darkness. At the time it was clear that there was no chance of getting in touch with your self unless you had witnessed what nature had so perversely, so patriarchally, hidden from your view. Though it seems odd, on those grounds, that we didn't also require a personal view of our anuses, the goal was a sighting of the cervix, a seeing into the very core: a conflation of geography, biology and mythology. The achieved vision was generally accompanied by gasps of appreciation as if a great work of art had been unveiled for the first time before your very eyes. We swooned: 'Ah, it's so beautiful.' Actually, it wasn't. It was just sort of pink and fleshy. But it had been hidden and now was seen. So: beautiful. As the deserted landscape of the moon was beautiful when Neil Armstrong's camera panned across its uninviting surface.

At the same time as these visual feasts were going on in the Women's Group hut on a disused Freightliner site, I was working in the hut next door, involved in running a Free School for a bunch of criminally inclined, school-refusing kids who had been threatened with being taken into care. The Free School was a thorn in the side of the Women's Group. Though they locked up every night, each morning the hut had been broken into, and although nothing was ever taken, they were sure that the boys from the Free School were the culprits. The woman who ran the women's hut repeatedly shouted at us that we were a bunch of bourgeois hippy adventurers, that it was typical male aggression again, an appropriation of women's space again, and told us to deal with it. I talked to the 12 and 13-year-old boys about the historical struggle of women and the universal need to respect others. They grunted 'Yeah'. Then one night I was in the Free School late. I saw a light on in the women's hut and went to have a look. A window had been forced open. One of the younger boys from the school was standing in the middle of the room, masturbating furiously, his eyes fixed intently on a large, full-colour wall poster of a wide-open vulva with a sassy feminist slogan underneath about men not being required. It seemed not so much vicious as funny and sad. Maybe, I suggested the next day to the Women's Group woman, we should see it as a local disagreement only about the manner of celebrating the vagina, and we could have a meeting between the boys and the women to discuss it (excuse me, this was the 1970s). I don't remember the exact outcome, but the Free School and the Women's Group never did get onto a very amicable footing.

All these decades on from raising consciousness, it seems that the vagina still needs a light shone on it. According to Catherine Blackledge, it remains a hidden, under-researched and hopelessly misunderstood organ, the poor relation of genitals, subsumed by the male-dominated scientific world's interest in the penis. Blackledge is on a breathless mission to tell us everything there is to know about the vagina, and to reclaim its reputation from the slur of passive receptacle to that of supremely active agent in the matter of reproduction. Although her heart is in the physical properties of the suite of organs she calls the vagina (comprising all or some of the vulva, vagina, cervix, uterus, Fallopian tubes and ovaries), Blackledge begins with a skim through the mythology and anthropology of the pudenda. She enthuses about the power of female flashing in history and folklore; tells us how just by lifting their skirts Egyptian and Japanese goddesses dispelled social stasis. The 'catalytic cunt' restored the world to 'balance, harmony and fertility'; the 'Greek triangle man', Pythagoras, she suggests, venerated three-sided figures for their vaginal symbolism; Upper Palaeolithic dips in rock are chipped away by cavemen into vulval icons. To Blackledge, more or less anything convex, concave or triangular is evidence of vaginal veneration. Add to that holes and circles. Parallelograms don't feature, but crosses do. The Knights of the Order of the Garter, she tells us, have a famous motto:

'Honi soit qui mal y pense' - 'Shame on you if you see evil in this.' And the 'this' in question? It appears that it is none other than the vagina. Indeed, a text by the Italian medieval scholar Mondonus Belvaleti states explicitly in an essay on the chivalrous Order of the Garter that it 'took its beginning from the female sex'.

We must hope that the likes of Baroness Thatcher, Elizabeth Windsor, the Emperor Akihito and James Callaghan were informed of this when they were inducted into the order. Unfortunately for those of you keen to check the reference, the book has no notes, only a further reading list which has no mention of Signore Belvaleti. Nor are we told which specific academics are referred to when Blackledge goes on to explain that 'some academics also point to the traditional cruciform design of most Christian places of worship as being based on the architecture of female genitalia.' Though she admits that 'other researchers choose to dismiss this seemingly heretical idea out of hand,' she insists in a rush of alarming grammar that 'there are certainly some similarities and some credence to the theory.' For example:

On passing through a church's curved doors, one enters a vestibule, just as the vaginal vestibule lies behind a woman's labia. The main body of the church, which leads directly to the altar, the site of transformation, echoes the central vaginal aisle leading straight to the uterus, which magically transforms egg and sperm into new life. To either side of the altar (uterus) are two passageways (Fallopian tubes) which lead to the vestries (ovaries).

'Just as' and 'magically' are especially pleasing, but I would have thought that the words 'cruciform' and 'Christian' give us a bit of a clue to the reason for the shape of these places of worship.

There is some discussion of terminology. In spite of auditoriums full of women yelling it everywhere The Vagina Monologues is performed, Blackledge is rather sensitive about the word 'cunt'. 'Pussy and other slang expressions, well, they suffer from being too laden with sexual stereotype, and cunt is just too hard to be heard.' This 'remarkably direct expression' is taboo, she tells us, although in 1230 there was a Gropecuntelane in London and in Paris a rue Grattecon ('Scratchcunt'). All we've got now, apparently, are the truncated versions - Grove Street in Oxford, Grape Lane in York. Naturally, Francis Grose's entry in his Dictionary of the Vulgar Tongue gets furious disapproval: 'The second edition (1788), incredibly and offensively, defined cunt, or c**t, as "a nasty name for a nasty thing".'

Decent writing, of course, is every bit as important as subject matter, and however hard I tried to concentrate on the riveting facts of what one feminist academic I know calls 'the front bottom' - I don't suppose that, since the Boston Women's Collective manual, Our Bodies, Ourselves, there has been a non-pornographic volume so committed to female genitalia - I found myself distracted time and again by Blackledge's way with language. I became quite obsessed with the variety of ways in which it is possible to begin a sentence with an adverb. Adverbially fixated, you might say. The following is my incomplete list (mid-sentence adverbs aren't included): horrifically, sadly, appallingly, amazingly, shockingly, fascinatingly, intriguingly, infuriatingly, startlingly, mesmerisingly, gruesomely, astonishingly, weirdly, quirkily, mind-blowingly, eye-wateringly, fantastically - and so many deliciouslys that I lost count. It comes, I imagine, from a fear that her data will not speak for themselves, so she must cue her readers in case they miss the meaning of the loving detail she has provided. 'Mesmerisingly, weaver bird copulation is characterised by lengthy mutual clitoral rubbing.' If she doesn't make it plain at the start of the thought, the lay reader might not realise just how mesmerising a fact that is.

Blackledge's main source of argument is sociobiology, that dismal discipline which seeks to find simple and secure explanations of human social relations by reference to the evolutionary function of the right front paw of the naked mole rat. In her enthusiasm to reinstate the vagina as more than a merely defective or negative penis, she offers us the 'G-G' (genito-genital) rubbing of female bonobos, the intricately convoluted insemination duct of the theridiid spider, the long-term sperm storage facilities of female turkeys, the presence of hymens in dugongs, the urinary signals of Asian elephants, the 17-centimetre clitoris of female hyenas and, not to leave out our own species, the 'Shanghai squeeze' of Wallis Simpson (said to have had 'the ability to make a matchstick feel like a Havana cigar', though I always thought that killer fellatio was the talent which deprived the nation of its rightful King). The book is clogged with facts and suppositions taken from here, there and everywhere, and applied to humans. Anything any vagina from any species is able to do or was once capable of doing is adduced as evidence of what Blackledge calls 'the intelligent vagina'. Actually, vaginas are intelligent in much the same way that cards are smart or genes are selfish. That is to say, they aren't. I know the language of intentionality is hard to escape when writing about things that are incapable of thought and purposefulness; it's the only language (apart from maths) that we've got, but some effort ought to be made to differentiate the vagina from the mind. She is not alone in this difficulty. David Friedman's book on the penis (a cultural history with something of a sense of humour and much the better for it) is called A Mind of Its Own.* The idea that men do their thinking with their penises is intended as an insult. Was all that consciousness-raising we did in the 1970s to be lost in a new mood of post-feminist consciousness plummeting below our waists? But even the thinking vagina is not enough for Blackledge: not only does it have a mind of its own, it also has an unconscious. Some spontaneous abortions, apparently, 'can be seen as a woman's reproductive organs unconsciously deciding not to go ahead with this pregnancy'. As if having to contend with the unconscious mind scuppering our overt wishes wasn't hard enough, we now have the vagina's unconscious, id and superego getting in on the act. And what form, I wonder, would a conscious decision by the vagina take?

The overall message is that the incredible cleverness of the vagina far outstrips the thicko male genitals that just hang around outside waiting for something interesting to come along, like dumb adolescents on street corners. The female reproductive organs are in charge of everything. They entice males with their scent, accommodate the shortest, skinniest, most inadequate male members, reject the sperm of inappropriate mates, sift out unhealthy or incompatible sperm, store the good stuff from various partners for future use, force the penis and its owner to give up its reproductive load, cue spontaneous ovulation when the best sperm comes along, and secrete germ-killing disinfectants. Some of this will come as a surprise to women who have conceived when they didn't want to, not conceived when they did want to, given birth to the children of stupid, unhealthy, unreliable or unpleasant men, or caught a venereal disease.

There is an interesting and useful book lurking in here somewhere, but it is overwhelmed and rendered almost invisible by the idiotic, partisan tone and the nonsensical conjectures. Occasionally, Blackledge's claims are downright alarming. On the subject of vaginal mucus, she explains that not only does it provide lubrication during sexual activity: it acts as a selective barrier against pathogens. In some sub-Saharan African countries, 'a dry vagina is promoted as the genitalic gold standard - as rated by men.' According to one unspecified study, Blackledge claims, more than 85 per cent of Zimbabwean women have used drying salts at least once, a practice which leads eventually to chafing and cracking of the vaginal walls, leaving women at risk of infection. Since it is only when the vaginal walls are abraded that 'viruses, such as HIV' can infect a woman, this must, she writes, 'in part explain' why 'Zimbabwe, frighteningly, has one of the world's highest rates of HIV infection, a fact which is without doubt in part explained by the craze for moistureless sex.' Well, maybe, but as far as I know vaginal mucus is not recommended as a reliable alternative to a condom in preventing the spread of HIV infection.

The penis does eventually get a mention. Blackledge's restoration of the genital balance results in a simple role reversal. The penis serves the vagina; its primary role is 'none other than to act as an internal courtship device - shaped to provide the vagina with the best possible and reproductively successful stimulation'. There, that should deal with millennia of phallocentrism. You might be forgiven for wondering, what with the astonishing IQ of the vagina, why nature even bothered with the penis. The penis and testicles are, like the female genitals, part of the biological development of an initially sexually undifferentiated foetus, but to Blackledge the basic human blueprint is female. 'If the Y chromosome did not exist, it appears we would all be women.' And if there were no genetic instructions for the right lower limb, we would all be one-legged.