6-1-2007

 

Vicente Nogueira

 

(1586 - 1654)

 

 

 

Vicente Nogueira nasceu em Lisboa em 1586, de uma família com longa história, dizendo ele que Santo António de Lisboa figurava também entre os seus antepassados. Era filho de Francisco Nogueira e de Maria de Alcáçova. A sua árvore genealógica pode ser consultada na dedicatória do livro Guerra de Granada, de Diego Hurtado de Mendoza, reproduzida no livro de Martim de Albuquerque.

Seu pai era cavaleiro de Santiago, Desembargador da Casa da Suplicação e membro do Conselho de Estado no tempo da ocupação filipina, o que o obrigou a ir residir em Madrid, onde educou os seus dois filhos, Paulo Afonso e Vicente.

Vicente tinha apenas doze anos, quando o rei Filipe III de Espanha o introduziu na sua Corte. Desde muito cedo, gostou de ler e de estudar. Dedicou-se particularmente ao estudo das línguas, dizendo saber latim e grego, hebreu tão bem como o português, algum caldeu e árabe, espanhol, italiano, francês e algum alemão. Seu pai trouxe de Roma um professor de grego que com eles residiu durante cinco anos. Estudou filosofia nas Universidades de Alcalá, Salamanca e Valladolid. Nas férias, regressava à Corte e exibia os seus conhecimentos. Começou por estudar Medicina, mas depois desistiu.

A 15 de Outubro de 1607, matriculou-se em Cânones, em Coimbra. No ano seguinte obteve o grau de licenciado.

Foi ordenado sacerdote em 1612 e nomeado Desembargador da Casa da Suplicação, cargo de que tomou posse em 13 de Março de 1613, mas só exerceu durante cinco anos.

Em 1618, renunciou às suas funções políticas, desejando passar a viver apenas de funções eclesiásticas.

Por essa altura, escreveu as "Relações tiradas de vários papeis para a história del Rey D. Sebastião com as notícias de Francisco Giraldes em Roma e Inglaterra e de Lourenço Pires de Távora em Roma, escriptas por Vicente Nogueira em Lisboa a 12 de Setembro de 1618", obra que ficou manuscrita e que, segundo Barbosa Machado, se conservava no convento de Tomar, dada hoje por desaparecida.

Em 1617, é nomeado cónego da Sé de Lisboa. Mora então na Casa dos Bicos (ou dos Diamantes), às Portas do Mar, isto é, junto ao Rio Tejo.

Vicente Nogueira lê muito, compra imensos livros, tendo agora uma biblioteca de respeito em sua casa. Porém, na escrita, não produz muito. Utiliza então um expediente para que o seu nome apareça em letra de imprensa. Tendo posses para isso, subsidia edições de diversos livros, dos quais adquire depois centenas de exemplares. Os autores ou editores ficam muito satisfeitos com a oferta, tanto mais que a tipografia de Pedro Craesbeeck está dotada desde 1626 dos novos caracteres “diamante” que não existem em Espanha (ver introdução à obra de Garcilaso de la Vega). Por isso, são generosos e escrevem para Vicente Nogueira dedicatórias encomiásticas (ver lista a seguir), que inserem nos livros publicados. Infelizmente para ele, as dedicatórias desapareceram todas nas edições que se seguiram à primeira, já veremos porquê.

Vicente Nogueira dedicou-se desde cedo a práticas desviantes (era homossexual e pedófilo – na altura dizia-se sodomita), que na altura não tinham perdão.

A primeira denúncia foi feita por Clemente de Oliveira, de Cantanhede, que fora pagem de Vicente Nogueira em Coimbra, e tem a data de 20 de Novembro de 1614. Mas, conhecedor das regras do Santo Ofício, ele apresentara-se cinco dias antes a fazer a confissão das suas culpas perante o célebre D. Rodrigo da Cunha. Dessa vez, deve ter sido apenas repreendido. 

Novas denúncias foram transmitidas à Inquisição de 1620 a 1630.  Em 27 de Novembro de 1630, bate de novo à porta do inquisidor D. Manuel da Cunha a pedir perdão e misericórdia para as suas faltas, muito provavelmente, porque já então decidira abandonar o país.

Em 2 de Dezembro de 1630, faz aditamentos às suas confissões e dirige uma sentida carta ao inquisidor Pedro da Silva de Sampaio:

 

Se eu por meus pecados tenho asco de mi mesmo e me aborreço a mi próprio: que muito é que enfastiem, cansem e enfadem as muito castas orelhas de V.M. e dos seus dous companheiros? Porém, pois V.M. tem ofício de Deus na terra com chave das maiores culpas, semelhe-se também muito a Ele (como já comigo o faz) no de que se Elle mais precise, que é na muita misericórdia e muito condoer-se. E pois, já tem em sua mão esta ovelha tão arrependida, cure-a com a brandura do bom pastor e aja-se, não conforme aos merecimentos dela para os quais é curta a pena do inferno, mas conforme ao muito que Deus se paga de corações bem contritos, qual eu entendo que está hoje o meu e qual procurarei que o esteja sempre e em todas as ratificações e mais autos em que V.M. por sua fidalga e boa natureza me puder conservar a honra e opinião e não envergonhar-me o faça, porque será pôr-me nalma uns ferretes que nunca se borrarão e deixar-me feito um perpétuo pregoeiro dos muitos dotes e talentos que Deus depositou em V.M., e será ultimamente satisfazer às armas e escudos d’esse sagrado tribunal sendo nelle muito primeiro o ramo pacífico da oliveira que a espada ensanguentada.

 

E guarde Deus a V.M.

 

Lisboa, 4.ª feira, 6 de Dezembro de 1930

 

Vicente Nogueira

 

Na altura os Inquisidores deram-lhe ordem de não sair de Lisboa e ele aquiesceu, pensando que iria apenas receber uma admoestação.  Mas em 17 de Junho de 1631, é preso e metido nos calabouços da Santa Inquisição. Ali ficou, enquanto se iniciavam os complicados trâmites do processo.

A sua biblioteca foi-lhe apreendida na totalidade e ele chorou-a toda a vida. Felizmente existe na Biblioteca Nacional de Paris um manuscrito com a lista dos livros apreendidos, da autoria de um escriba anónimo. Tem 82 páginas e não deve indicar menos de 1200 livros! Entre estes, o stock das edições patrocinadas por Vicente Nogueira:

 

Guerras de Granada – 364 exemplares

Hispânica Historia – 123        “

Obras de Figueroa – 639       “

Garcilaso – 96                         “

 

Os livros da biblioteca apreendida estiveram durante algum tempo na biblioteca del Cierco de Madrid, mas agora deve-se ter-lhes perdido o rasto.

Fez-se também o inventário dos bens do preso. E iniciou-se a série de confissões, que, segundo o regimento, em relação ao “pecado nefando”, deveriam ser muito pormenorizadas:

 

“…dopo indicato il nome, la filiazione, l’età, ed aver prestato sugli Evangeli il giuramento di dire la verità e mantenere il segreto, il reo cominciava  a sfilare il rosario delle sue colpe, indicando il nome del complice, la categoria, la professione, il tempo, il locale nel quale aveva commesso la turpitudine, e con circostanziata manifestazione dei particolari, faceva un’esposizione nuda e cruda del modo, della posizione e del numero delle pratiche lubriche, se fu agente o paziente o se si era comportato in una od altra maniera. Per il caso di sodomia doveva inoltre dichiarare se l’intromissione era stata parziale o completa, se la emissio seminis aveva avuto luogo dentro o fuori dell’ano, ciò che veniva a costituire attenuante, chiamandosi nella terminologia inquisitoriale la designazione di sodomia frusta o non consumata. Ed in questa manifestazione di segrete passioni, importava non omettere riferimento anche ad alcune delle altre modalità lascive sopra menzionate nel precisare le colpe del nefando. Per ciascuna mala ora di tentazione o di caduta col medesimo complice o con altri, si osservava a rigore la riferita norma descrittiva, e, nel processo, si scrivevano a margine, nella linea corrispondente, per facilità di consultazione, le indicazioni essenziali: nome, luogo, natura della pratica lasciva, agente o paziente.”

 

(Arlindo Camillo Monteiro, Il peccato nefando in Portogallo ed il tribunale dell’Inquisizione)

 

Vicente Nogueira fez uma confissão completa: identificou os seus parceiros, disse quando fora “agente” e quando fora “paciente” ou as duas coisas ao mesmo tempo (imagem 63). Esperava assim deste modo obter a clemência do terrível Tribunal, ao mesmo tempo que evitava a ida à tortura, que levava os presos a confessar tudo o que os inquisidores quisessem e às delações mais ignóbeis. Dali a uns anos, o Tribunal da Inquisição quereria mesmo ter mais poder que o Rei D. João IV, quando prendeu o cristão novo, Duarte da Silva, o principal financiador do Estado português, arruinando o crédito internacional do País.

Refere Vicente Nogueira que o Inquisidor D. Miguel de Castro  exclamara no Tribunal, batendo com a mão na mesa: “Aqui não há Rei nem Rainha, nem Papa nem papinha!”.

Por toda a vida, Vicente Nogueira teve calafrios, quando se lembrava do tempo em que esteve preso.

No processo, seguiu-se a chamada “Genealogia”, em que o acusado identificava a sua família próxima e remota; a audiência teve lugar em 15 de Julho de 1632. Indicou depois as suas testemunhas de defesa e escreveu um longo arrazoado de 16 páginas pedindo misericórdia.

A sentença no processo foi proferida em 8 de Janeiro de 1633. Foi suspenso do exercício das ordens, foram-lhe confiscados todos os seus bens e degredado para sempre para a Ilha do Príncipe. Foi mandado embarcar no primeiro navio. Por isso, em Maio, foi mandado embarcar no navio “Nossa Senhora dos Remédios”. Ainda requereu a possibilidade de ficar em Lisboa por mais algum tempo, mas um seco despacho de 3 de Junho de 1633 mandou que partisse imediatamente. Foi entregue a Agostinho Freire, mestre do navio, em 28 de Agosto de 1633.

O navio fez escala na Paraíba (costa do Brasil) e Vicente Nogueira fugiu disfarçado. Por ali andou um tempo a advogar, usando o nome de Domingos Pereira, vivendo no engenho de Jorge Lopes Brandão, mas, logo que pôde, embarcou no porto de Monganguape, numa caravela com destino à Galiza.  Lá chegou e partiu a seguir para Madrid; em 1635, estava no Escorial a fazer consultas bibliográficas. Seguiu depois para Itália.

Terá estado pouco tempo em Bolonha e depois seguiu para Roma. Encontrou trabalho ao serviço do Cardeal Giulio Sacchetti, que fora Núncio apostólico em Madrid. Mais tarde foi secretário do Cardeal Francesco Barberini. Inicialmente, usou o nome falso de Francisco de Noya, mas depressa o abandonou. Em Roma, passou o resto da sua vida, vindo a falecer em 8 de Julho de 1654, como comunicou o seu criado italiano, Marco António Nobile.

Em Roma, para além do seu trabalho como dependente, dedicou-se ao que mais gostava de fazer: comprar e vender livros. Foi ele que adquiriu uma boa parte da biblioteca de D. Vasco Luis da Gama, neto de Vasco da Gama, o Marquês Almirante (Marquês de Nisa desde 18 de Outubro de 1646 e, de nascimento, 5.º Conde da Vidigueira). A ele escreveu muitas cartas que felizmente se conservaram e foram publicadas (não todas) em 1925 (com erros; por exemplo, a carta de 11-5-1648, a pags. 57, não foi dirigida ao Marquês Almirante, mas sim ao Secretário Régio, António Cavide).

Correspondeu-se com o próprio Rei D. João IV . Este encarregava-o sobretudo de adquirir livros de música e partituras, mas possivelmente agradecia também as notícias que V. Nogueira lhe enviava, da coscuvilhice romana. De facto, em carta de 15 de Dezembro de 1648, o Rei comunicou-lhe que lhe concedera uma tença de 50 cruzados por mês. No entanto, achamos exagerado considerar V. Nogueira “Encarregado de negócios da Coroa (1643-1654)”, como faz Mons. José de Castro.

As suas cartas são muito interessantes para compreender o espírito do tempo e mesmo para a história das relações de Portugal com a Santa Sé.

 

PUBLICAÇÕES

 

Cartas de D. Vicente Nogueira, publicadas e anotadas por A. J. Lopes da Silva, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1925, 283 pgs.

Online:  http://purl.pt/189

 

Vicente Nogueira,, 1586-1654, Cartas inéditas ou dispersas, prefácio e notas por Andrée Crabbé Rocha. - Coimbra : [s.n., D.L. 1972]. - 77, [2] p. ; 21 cm

  

Discurso del Sig.r Don Vicente Noguera sopra la lingua e li autori di Spagna,  reproduzido na brochura de Morel-Fatio, pgs. 28-38.

 

 

 

OBRAS A ELE DEDICADAS

 

 

Garcilaso de la Vega (1503-1536)

Obras de Garci Lasso de la Veja Príncipe de los Poetas Castellanos. Cuidadosamente revistas en esta ultima edición por el Doctor Luis Briseño de Córdova, residente en Madrid. Dedicadas a Don Vicente Noguera, referendário da ambas signaturas de su Santidad, del Consejo de las dos Magestades, Cesarea y Católica, gentilhombre de la câmara del Sereníssimo Archiduque de Áustria, Leopoldo. Con todas las licencias necesarias. En Lisboa: por Pedro Craesbeeck impressor del Rey nuestro señor : 1626

 

Carta dedicatória de Luis Brizeño de Cordova, de 2 de Maio de 1626

 

 

Luiz Briseño de Córdova

Obras de Francisco de Figueroa, laureado Pindaro hespañol publicadas por el licenciado Luis Tribaldos de Toledo chronista mayor del Rey nuestro señor por las Indias, bibliothecario del Conde de Olivares, Duque, y gran Canciller, &c. Dedicadas a Don Vicente Noguera, referendário da ambas signaturas de su Santidad, del Consejo de las dos Magestades, Cesarea y Católica, gentilhombre de la câmara del Sereníssimo Archiduque de Áustria, Leopoldo. Com todas las licencias necesarias. En Lisboa: por Pedro Craesbeeck impressor del Rey nuestro señor : a costa de Antonio Luis,  Mercader, 1625

 

Carta dedicatória de Luis Tribaldos de Toledo de 12 de Agosto de 1625

 

 

Diego Hurtado de Mendoza, (1503-1575)

Guerra de Granada, hecha por el Rey de España Don Felipe II Nuestro Señor, contra los moriscos de aquel Reyno, sus rebeldes. Historia escrita en quatro libros. Por Don Diego de Mendoza, del Consejo del Emperador don Carlos V, su Embajador en Roma y Venecia; su Governador y Capitan Geberal en Toscana; publicada por el Licenciado Luis Tribaldos de Toledo, Chronista myor del Rey nuestro señor por las Índias, residente en la corte de Madrid y por el dedicada a Don Vicente Noguera, , referendário da ambas signaturas de su Santidad, del Consejo de las dos Magestades, Cesarea y Católica, gentilhombre de la câmara del Sereníssimo Archiduque de Áustria, Leopoldo. Com todas las licencias necesarias. En Lisboa por Giraldo de la Viña, con privilegio. Año 1627.

 

Carta dedicatória de Luis Tribaldos de Toledo de 4 de Dezembro de 1626

 

  

Hispanicae Historiae Breviarium, ad illustrem et generosum D. Don Vincentium Nogueram R. Pp. utriusque Signaturæ Referendarium, Sacrarum Majestatum Cesareæ et Catholicæ Consiliarium, Leopoldi Austriæ Archiducis Cubicularium. Autore Illustrissimo & Generosíssimo D. Don Gracia de Silva & Figueroa a Philippi III, Hispaniarum Monarchae Consiliario, eiusque ad Xaà Abbàs Persarum Rege Legato. Ex Bibliotheca Noguerica nunc primum edit Antonius Furtado da Rocha presbyter, eidem D. Dom Vincentio a sacris; Philosophus, & Sacra Theologia initiatus; in Collegiali S. Petri Pontadelgadensi Ecclesia, Philippi Regis IIII nominatione designatus beneficiarius. Olyssipone, apud Emmanuelem a Silva. 1628.

  

A dedicatória está no título e no início do texto, sugerindo que o Autor, Gracia de Silva e Figueiroa, tivesse entregue a V. Nogueira o manuscrito antes de falecer em 1624. No final do livro figura : "Goæ Orientalis Indiæ Metropoleos, Nonis Iuniis, 1615, LAUS DEO".

 

 

Directorium Advocatorum Et de Privilegiis eorum Autore Benedicto Aegidio Lusitano Pacensi, in suprema Lusitaniæ Supplicatione causarum Advocato, Ad illustrem et generosu, D.D. Vincentium Nogueiram Ecclesia Metropolitana Olysipponensis Caninicum, Summi Pontificis in utraque signatura Referendarium, Sacra Caesarea Majestatis Consiliarium, apud Catholicum Majestatem Regium in summa ordine, Equitem et Senatorem; Leopoldi Austriæ Archiducis Cubicularium. Olysippone, Apud Petrum Craesbeeck Regium typographum 1630. Cum omnibus facultatibus necesariis.

 

Carta dedicatória das irmãs e herdeiras universais do autor, Bento Gil, falecido em 1623, datada de 15 de Março de 1630

 

 

Zacuti Lusitani, Medici & Philosophi prestantissimi, De medicorum principum historia. Liber septimus. In quo proponitur Curatio omnium Morborum internorum. Amstelodami, apud Henrici Laurentii, 1641, in-8º. Addita est Pharmacopœa & introitus ad Praxim eiusdem.

 

Carta dedicatória do médico Zacuto Lusitano, de 30 de Agosto de 1641

 

 

 

TEXTOS CONSULTADOS

 

 

Bibliotheca lusitana historica, critica, e cronologica : na qual se comprehende a noticia dos authores portuguezes, e das obras, que compuserão desde o tempo da promulgação da Ley da Graça até ao tempo presente, por Diogo Barbosa Machado (1682-1772), 4 vols., 1741. Transcrito aqui.

 

Alfred Morel-Fatio (1850-1924), Vicente Noguera et son discours sur la langue et les auteurs d'Espagne, extrato de Zeitschrift für romanische philologie, t. III, Halle : Max Niemeyer, 1879, 38 pgs.

 

Andrée Crabbé Rocha, 1971- Uma carta inédita de D. Vicente Nogueira - Lisboa : Fac. Letras, 1971. - 10 p. ; 24 cm. - Sep. Rev. Fac. Letras Lisboa, 3ª Sér., 13

 

Processo n.º 4241, da Inquisição da Lisboa, que está online na base de dados da Torre do Tombo

 

Maximiano Lemos (1860-1923),  Zacuto Lusitano: a sua vida e a sua obra, Porto, Eduardo Tavares Martins, 1909, 398 pags.

 

António Baião, Episódios dramáticos da Inquisição Portuguesa, 3.ª ed., Lisboa, Seara Nova, 1972-1973, 3 vols.

 

Martim de Albuquerque, "Biblos" e "polis", bibliografia e ciência política em D. Vicente Nogueira (Lisboa, 1586-Roma, 1654), Nova Vega, Lisboa, 2004, 195 pág., ISBN 972-699-802-6

 

Arlindo Camillo Monteiro, Il peccato nefando in Portogallo ed il tribunale dell'Inquisizione. - Roma : Leonardo Da Vinci, [1928?]. - 64, [1] p. ; 23 cm. - Sep. "Rassegna di Studi Sessuali e di Eugenica", [S.l.], 6 (2-3) 1926 e 7 (1) 1927

 

José Ramos Coelho, 1832-1914, O primeiro marquez de Niza: noticias  - Lisboa : Typ. Calçada da Cabra, 1903. - 55 p. ; 25 cm

 

Arlindo Camillo Monteiro, Amor sáfico e socrático: estudo médico-forense. - Lisboa : Instituto de Medicina Legal de Lisboa, 1922. - [4], 252 p. ; 26 cm. - Sep. de "Arquivo do Instituto de Medicina Legal de Lisboa"

  

J.A. da Graça Barreto (1843-1885), Série chronologica da correspondência (impressa) trocada entre Vicente Nogueira e outros personagens, in Boletim de bibliographia portugueza e revista dos archivos nacionaes, Coimbra, Imprensa Academica,  II, n.º 1 (1880), pags. 73-74.

 

J.A. da Graça Barreto, Algumas notícias sobre Vicente Nogueira e o seu processo, in Boletim de bibliographia portugueza e revista dos archivos nacionaes, Coimbra, Imprensa Academica,  II, n.º 4 (Abril de 1881), pags. 122-127.

 

I.S. Révah, D. Vicente Nogueira et la Synagogue de Rome, in Arquivo de Bibliografia Portuguesa, dir. Manuel Lopes de Almeida (1900-1980), ano I, n.º 3 (Julho – Setembro de 1955), pags. 235-238.

  

Mons. José de Castro, Portugal em Roma, 2 vols., Lisboa, União Gráfica, 1939

 

Rafael Valladares, A Independência de Portugal, Guerra e Restauração 1640 - 1680,  Esfera dos Livros, 2006, ISBN: 9896260427

 

Tribunal da Santa Inquisição, Regimento do Santo Officio da Inquisiçam dos Reynos de Portugal recopilado por mandado do Illustrissimo e Reverendissimo Senhor Dom Pedro de Castilho, Bispo Inquisidor Geral & Visorey dos Reynos de Portugal. Impresso na Inquisição de Lisboa por Pedro Crasbeeck, Anno da Encarnação do Senhor de 1613.

  

Regimento do Santo Officio da Inquisiçao dos Reinos de Portugal, ordenado com o Real beneplácito e Régio Auxílio pelo Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal da Cunha, dos Conselhos de Estado, e Gabinete de Sua Magestade e Inquisidor Geral nestes Reinos e em todos os seus domínios. Impresso em Lisboa : Na Officina de Miguel Manescal da Costa, 1774.

Online: http://bibliotecaforal.bizkaia.net/search/Wregimento+do+santo+officio+da+inquisi{240}cam/Wregimento+do+santo+officio+da+inquisi{240}cam/1,1,1,B/l962&FF=Wregimento+do+santo+officio+da+inquisi{240}cam&1,0,,003965,-1

 

 

 

 

 

 

 

D. VICENTE NOGUEIRA, naceo em Lisboa no anno de 1586 , sendo filho do Doutor Francisco Nogueira Cavalleiro do habito de São-Tiago, Desembargador da Casa da Suplicação, e Juiz da Coroa, e do Conselho de Estado de Portugal. Quando contava doze annos o fez ElRey moço fidalgo, e tal era o talento que mostrou em idade tão tenra que contrahio grande amizade com o Condestavel de Castella D. Bernardino de Mendoça, e o Duque de Feria. Estudada Filosofia se graduou na Faculdade de Canones, e depois foy Senador na Casa da Supplicação, de que tomou posse a 13 de Março de 1613 , e Conego da Cathedral de Lisboa. Soube com perfeição as lingoas Latina, Grega, Caldaica, Syriaca, Arabica, Italiana, Franceza, e Castelhana. Teve bastante instrução da Historia sagrada, e profana, como tambem da Poezia, Mathematica, Musica, e Algebra. Sahindo involuntariamente da patria no anno de 1631 experimentou fóra della a fortuna mais propicia assim nos lugares que teve, como nas estimaçoens que alcançou das pessoas da primeira Jerarchia sendo Senhor de Rios frios, Referendario de ambas as Signaturas em Roma, Conselheiro da Magestade Á Catholica, e Cesarea, e Camarista da Chave dourada do Archiduque de Austria Leopoldo. Falleceo em Roma no Palacio do Cardeal Francisco Barberino Vice-cancellario da Igreja Romana em o anno de 1654, quando contava 68 annos de idade. Sobre a sua sepultura se lhe gravou o seguinte epitafio.

 

        Vincentio Nogueirae Ulyssiponensi

Heriditario in Rios frios Domino

        Utriusque Signaturae

        In Romana Curia Referendario;

Caesareae Catholicaeque Maiestatis

                Á Consiliis.

        Leopoldi Anstriae Archiducis

        Clavis aurae cubiculario.

        Animo forti in adversa fortuna

        Moderato in secunda;

Liberalium artium,

linguarum etiam Orientalium Peritissimo

        Profusa in pauperes pietate,

        Magnificentia in amicos singulari,

M. Antonius  de Nobilibus Bononiensis

        Grati animi monumentum posuit.

 

Diversos Escritores lhe celebrarão o seu nome buscandoo para Mecenas das suas obras, como forão Zacuto Lusitano Praxis Hist. Med.  Tom. 7. Bento Gil  de Privilegiis Advocatorum. Luiz Tribaldos de Toledo na Dedicatoria da Guerra de Granada, composta por Diogo de Mendoça. Gabriel Pereira de Castro Decis.97. o intitula peritissimum.  Joan. Soar. de Brito  Theatr. Lusit. Litter. lit. V. n. 22. vir eruditus peritia linguarum exoticarum. Barthol. Bib. Rabin. Tom. 2, p. 809. in hebraica lingua admodum versatus. D. Franc. Manoel Cart. dos Author. Portug. que he a 1. da 4. Cent. das suas Cartas , e Lopo Felix da Vega  Laurel. de Apollo.  Sylv. 3.

 

        D. Vicente Noguera

        Tuviera assiento entre Latinos grave

Laurel entre Toscanos,

        Palma entre Castelhanos.

Por la dulçura del hablar suave

        Y entre Francezes, y Alemanes fuera

Florida Primavera;

        Que como ella de tantas differencias

De alegres flores se compone y viste,

Assi de varias lenguas, y de sciencias

        En que la docta erudicion consiste.

Que livro se escrivio, que nò lo viesse?

Que ingenio florecio, que nò le honrasse ?

En que lengua se hablò, que no supiesse ?

Que sciencia se inventò, que nò alcançasse ?

Ó Musas Castellanas,y Latinas,

Francezas, Alemanas, y Toscanas

Coronad las riberas Lusitanas

De Lirios, arrayanes,y boninas:

Nò quede en vuestras fuentes christalinas

Laurel, que en ellas su hermosura mire;

Donde Daphne amorosa nò suspire,

Por nò baxar a coronar la frente

Deste de todos vencedor Vicente.

 

               Compoz

               

Carta escrita de Lisboa a 28 de Setembro de 1615 a Jacobo Augusto Thuano Presidente do Senado de Pariz. Começava.  Si dixere a V. S. que nò he leido mejor Historia, &c.  Sahio impressa no ultimo Tomo deste Author da edição  moderna de  Londres  por Samuel Buckley  1733. Está traduzida em Francez, e juntamente a reposta de Thuano em Latim a Vicente Nogueira escrita Julioduni Pridie Kal. Martii anni bissextilis 1616

 

Relaçoens tiradas de varios papeis para a Historia delRey D. Sebastião com as noticias de Francisco Giraldes em Roma, e Inglaterra, e de Lourenço Pires de Tavora em Roma escritas por Vicente Nogueira em Lisboa  a 12 de Setembro de  1618   M. S.  Conservão-se na Livraria do Real Convento de Thomar da Ordem Militar de Christo.