2-11-2017
"Une année studieuse" e "Un an après" de Anne Wiazemsky
| NOTA DE LEITURA 
 
		No Expresso de 21-10-2017, José Cutileiro, na sua 
		rubrica habitual de Necrologia, chamou a minha atenção para o falecimento 
		de Anne Wiazemsky , pessoa que eu desconhecia por completo. O 
		apontamento de Cutileiro e a consulta da Wikipedia aclararam-me o 
		personagem.  
		Foi ela namorada e depois mulher de Jean-Luc Godard, 
		o célebre cineasta francês, num romance intenso mas curto em 1968 e 
		1969; separaram-se em 1970. Divorciaram-se depois legalmente em 1979.  
		Continuou a trabalhar como actriz mas, quando em 1988 
		lhe faltou trabalho no cinema, começou a escrever. A maior parte dos 
		seus livros são autobiográficos ou referem-se à sua família. Entre os 
		livros autobiográficos, salientam-se “Une année studieuse”, seguido de 
		« Un an après », que se referem ao seu namoro e casamento com Godard em 
		1967, aos acontecimentos em Paris de Maio de 1968 e, no segundo livro, à 
		separação em 1970.  
		O primeiro livro está escrito num estilo ligeiro 
		encantador que nos impede de interromper a leitura. O segundo é mais 
		“pesado”, pois os acontecimentos são mais graves. Acho muito provável 
		que a autora se tenha baseado em diários que teria escrito na altura dos 
		acontecimentos. Seria difícil que tivesse tudo tão presente.  
		Ambos os livros contêm um bom relato dos 
		acontecimentos de Maio de 1968 em Paris e do que se lhe seguiu. 
		Li ambos os livros em dois dias, sem esforço mas gostei 
		de facto mais do primeiro.  
		Entretanto, foi apresentado em Cannes em 21-5-2017 um 
		filme baseado no segundo livro retratando o cineasta Jean-Luc Godard e a 
		separação de sua mulher Anne Wiazemsky, realizado por Michel 
		Hazanavicius.  O filme, com o 
		título "Le Redoutable",  foi 
		muito bem recebido nos meios cinematográficos e dele diz o realizador 
		que é uma tragédia apresentada como se fosse uma comédia.  
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EXPRESSO n.º 2347, de 21-10-2017
Obituário, por José Cutileiro
Anne Wiazemsky
1947-2017 – Amou e foi amada por Jean-Luc Godard, foi actriz, realizadora e acabou a escrever livros, quase todos autobiográficos
Anne Wiazemsky, que morreu de cancro no passado dia 5 de Outubro em Paris — “Sofreu muito”, disse o irmão, o desenhador e caricaturista Wiam, ao anunciar a morte — enquanto, desde 13 de Setembro, passava em ecrans de cinema da cidade o filme de Michel Hazanavicius “Le Redoutable”, baseado em dois livros autobiográficos que ela publicara em 2012 e 2015, “Um Ano Estudioso” e “Um Ano Depois”, descrevendo no primeiro a eclosão do seu amor por Jean-Luc Godard e do dele por ela, começando por carta sua, depois no Sul de França e a seguir em Paris, do tempo que passam juntos desde essa altura, do cinema de Ingmar Bergman e dos americanos que ele lhe gaba, dos filmes que ele realiza e em que ela representa, entre eles “A Chinesa”, professora universitária parisiense maoista, cujo papel Anne desempenha e, no segundo, a degradação progressiva desses amores que leva à separação dos dois e à recusa definitiva de Godard a tornar algum dia a ter algo que ver com ela, tudo narrado com tanta simplicidade e veracidade que os advogados da editora tinham dúvidas sobre a sensatez da publicação, mas um dos Gallimard, seu amigo de sempre e, sobretudo, ela própria estavam inteiramente convencidos, e com razão, de que Godard não iria para tribunal.
A menina com rosto de anjo tímido e tristeza serena, a cujo avô — o romancista católico da França provincial e prémio Nobel, François Mauriac, Jean-Luc Godard pedira a mão por ela ser menor, não era uma menina qualquer. Apresentada um ano antes a Robert Bresson por amiga da família, tinha entrado no filme deste “Au Hasard Balthazar”, obra-prima sobre um burro maltratado de quem a menina é amiga. Bresson, protestante puro e duro, que dirigia comediantes ao decibel e ao milímetro, fascinado, deixou-a fazer à maneira dela, sem interferir. Nas semanas antes do casamento, preparou o Bac em filosofia com professor célebre a quem se fora apresentar; a seguir às explicações, o professor, a mulher, Godard e ela jantavam juntos e discutiam pela noite fora (Godard virara ateu mas pertencia, pela mãe, a uma das grandes famílias protestantes de Franca). Contra os rigores protestantes de Bresson e os delírios maoistas de Godard, o catolicismo sereno do avô era porto seguro para o seu espírito agnóstico.
Discutiam os dois tudo, menos religião. Em Malagar, casa de família hoje, contra vontade dela, casa-museu Mauriac, órfão de pai ateu aos dois anos e criado por mãe piedosíssima diz num vídeo aos visitantes, de indicador direito em riste, se interrogar muitas vezes sobre quem teria ele próprio sido, se tivesse perdido tão cedo, em vez do pai, a mãe.
Carreira de actriz e, a certa altura, também de realizadora, ocupou-a durante quase duas décadas. Além de Bresson e Godard vários outros realizadores conhecidos disputaram o seu trabalho, entre eles Pier Paolo Pasolini que, em 1968, a vê numa gôndola em Veneza, diz que a quer num filme seu e lhe dá um cartão. Horas depois ela conta deste desconhecido a Godard que lhe explica quem é Pasolini; em “Teorema”, filme-escândalo à época, e a filha da família que um estranho seduz, além de seduzir o pai, a mãe e o irmão. Fez também algum teatro, incluindo, em 1983, um “Tonio Kröger”, de Thomas Mann. A certa altura, depois de muitas dezenas de filmes, as ofertas de papéis rarearam. E nessa altura, contava ela, o desemprego levá-la-ia à literatura.
Escrevera diários e algumas novelas que não pensara publicar até, em 1988, amigo editor a convencer a fazê-lo. Começou outra vida. Leitoras e leitores deixavam-se embeber na sua prosa tranquila, escorreita, sem qualquer pretensão. Muitos livros eram autobiográficos; escreveu também sobre a família russa principesca do pai, emigrada em Franca em 1917; publicou romances, livros para crianças. Ganhou prémios literários.
Nascera com grandes dons; circunstâncias 
excepcionais levaram a que frutificassem cedo. Deu, até ao fim, o melhor uso que 
pôde a si própria. 
 

Morreu Anne Wiazemsky, escritora, actriz, musa de Godard
Estreou-se no cinema com Robert Bresson, filmou com várias vezes com o marido, depois desertou em direcção à literatura. Tinha 70 anos.
5 de Outubro de 2017
Texto de Luis Miguel Oliveira
A actriz e escritora francesa Anne Wiazemsky, que teve em Marie, a figura sacrificial de Peregrinação Exemplar (Robert Bresson, 1966), a sua inesquecível primeira encarnação no cinema, morreu nesta quinta-feira em Paris, de cancro.B
Neta do escritor, e membro da Academia Francesa, François Mauriac (1855-1970), que seria seu tutor após a morte do pai, filha de um príncipe russo que se exilou na Europa após a Revolução de Outubro e depois se tornou diplomata, Anne Wiazemsky nasceu em 1947 em Berlim e teve uma infância nómada, com longos períodos passados em Genebra e Caracas antes do regresso da família a Paris, em 1962. Foi primeiro actriz e depois escritora (estreou-se em 1988 com o livro de contos Des filles bien élevées, publicou ainda este ano, na Gallimard, Un saint homme).
No cinema, começou quando tinha apenas 18 anos com uma figura totémica, Robert Bresson, que mudaria a sua vida, como sempre reconheceu: "O meu encontro com Robert Bresson determinou a minha vida; é tão simples como isso, e é essencial." A rodagem, contaria em 2007 em Jeune fille, foi um processo turbulento e doloroso em que nem sempre lhe foi fácil manter uma distância de segurança em relação ao realizador: "O Bresson sempre teve uma relação muito próxima com as suas actrizes durante as filmagens. Mas no meu caso ele levou a experiência ao extremo. Ao longo de um mês e meio, vivemos debaixo do mesmo tecto em quartos contíguos e ele nunca me perdeu de vista (...). A princípio, contentava-se com segurar-me o braço ou dar-me umas palmadinhas no rosto. Mas depois chegava o desagradável momento em que tentava beijar-me... Eu empurrava-o e ele não insistia, mas ficava com um ar tão infeliz que eu me sentia sempre culpada."
Mas foi também nessa rodagem que Anne Wiazemsky perdeu a virgindade com um membro da equipa do realizador (o que, contou anos mais tarde, lhe deu coragem "não só para dizer não a Bresson como para dizer não a outros homens também") e que encontrou aquele que viria a ser seu marido, aquele para quem viria a ser uma musa, Jean-Luc Godard (figura não menos totémica...). Com ele, filmaria imediatamente a seguir O Maoísta (1967) – casaram-se dez dias antes da estreia do filme –, Fim-de-semana (1967), Le Gai Savoir (1969) e Tudo Vai Bem (1972), este já numa altura em que, recorda o Libération no seu obituário, já tudo ia mal. Foi de resto a partir do seu livro Un an après (2015) que o realizador Michel Hazanavicius filmou Redoutable, mergulho numa relação problemática e biopic de um artista influente em plena crise existencial (que a crítica achou grotesco e caricatural, e que o próprio achou uma "ideia estúpida") com Louis Garrel no papel de Godard e Stacy Martin na pele de Wiazemsky. Divorciaram-se oficialmente em 1979.
Ainda nos anos 70, foi George Sand em George qui??, de Michèle Rosier; antes, em 1968, filmou A Semente do Homem com Marco Ferreri e Teorema com Pasolini, outra figura dominadora: "É quase banal falar do fascínio que um realizador pode ter pela sua actriz principal. A emoção que existiu entre mim e Bresson, voltei a senti-la com Pasolini quando filmámos Teorema. Pode suscitar boas performances. Mas o Pasolini era homossexual. Nem sempre significa que tenhamos de dormir juntos."
À medida que os anos passaram, foi-se retirando do cinema, embora tenha filmado ainda com Philippe Garrel (L'Enfant Secret, 1979) ou André Téchiné (O Encontro, 1984). Depois, "livro após livro, discretamente, forjou uma estatura de romancista amada e reconhecida", recorda o Libération, sublinhando o modo como "o rico território familiar alimentou a sua obra", juntamente com "uma sensibilidade exacerbada pelos encontros amorosos ou desastrosos". Ao todo, foram 12 romances (incluindo Canines, Prémio Goncourt des Lycéens em 1993) que atravessaram vários episódios da sua vida, mas também das dos seus antepassados Wiazemsky ou Mauriac.
Alguns desses episódios, os que ela escolheu fixar em Un an après e que dão conta de "uma relação engraçada em tempos engraçados", como a própria resumiu ao realizador Michel Hazanavicius, estão novamente vivos em muitas salas de cinema de França, onde Redoutable se estreou há menos de um mês e continua em exibição.

Tuesday 10 October 2017
Anne Wiazemsky obituary
Distinctive French actor who made an extraordinary debut in Au Hasard Balthazar and became a star of the Nouvelle Vague
“At the age of 17 I was chosen,” recalled Anne Wiazemsky of the moment in April 1965 when the film director Robert Bresson cast her in Au Hasard Balthazar. She had no formal training – for Bresson an essential requirement – and, as well as an aura of mystery, possessed a soft, flat voice perfectly suited to deliver opaque lines. She appeared at once fragile and headstrong, introspective and direct, sensuous and ironically detached. There was a quiet, radiant intensity to her fathomless gaze, as of pure, still waters running deep.
She embodied the ambiguousness of the film’s central character, the young farm-girl, Marie, developing a profound emotional connection with her pet donkey, Balthazar, whose brutal life mirrors her own captivity. “I’m inventing you just as you are,” Bresson said to Wiazemsky. The result was an extraordinary, magnetic, debut performance that propelled Wiazemsky, who has died aged 70 of breast cancer, to stardom and an illustrious career as one of the most distinctive French film actors of her generation.
Central to this process was Jean-Luc Godard, who was immediately captivated by Wiazemsky’s beauty and talent when he visited the set of Au Hasard Balthazar. Wiazemsky wrote to him in June 1966, saying that she loved him because of his films, to which he responded immediately by driving from Paris to Montfrin, near Avignon, to meet her, his “animal-flower”. So began a tender, romantic courtship, although their affair, with its 17-year age gap, started in earnest only when Wiazemsky subsequently enrolled at Nanterre University to study philosophy.
In the apartment they shared together in the rue de Miromesnil in Paris, Godard made one of his greatest films, La Chinoise, about a small, radical Maoist cell. Wiazemsky found it a paranoia-inducing experience to be filming in the same space she shared with Godard, yet Godard revelled in the life-work set-up he had engineered and tapped directly into Wiazemsky’s seductively ambivalent personality to create the figure of the intellectual Véronique, who could also be impulsive and rebellious.
The improvised conversation on the train between her and the political philosopher Francis Jeanson (Wiazemsky’s teacher at Nanterre) about politics and terrorism is one of the film’s dazzling set-pieces, as is the moment when Véronique gives a lesson to Guillaume (Jean-Pierre Léaud) on the need for “combat on both fronts” by pretending to dump him. The calm, impassive demonstration of willpower comes straight from Wiazemsky.
Like Véronique, Wiazemsky was a privileged child of the high bourgeoisie. Born in Berlin into an aristocratic family (her father Yvan Wiazemsky, a diplomat, was a Russian prince who had emigrated to France following the Russian revolution), she and her younger brother, Pierre, (the future cartoonist Wiaz) enjoyed a nomadic life, in Rome, Caracas and Montevideo. Their mother, Claire, was the daughter of the celebrated Catholic novelist François Mauriac, at whose estate in
Malagar, south-west France, the family spent summers.
Mauriac personally took care of Anne’s education after her father died when she was 15 and the two developed a tight bond and understanding on everything except religion – she abandoned the faith early in her childhood. He gave his blessing to her relationship with Godard, and their marriage in 1967 – she was 20 and legally a minor, he was recently divorced from Anna Karina.
Wiazemsky and Godard travelled the world together and she acted in his films, notably as Eve Democracy in One Plus One (also known as Sympathy for the Devil, 1968), featuring the Rolling Stones, as well as in the collective Dziga-Vertov Group films such as Vent d’Est (Wind from the East, 1969) and Tout Va Bien (1972). She also starred in Pier Paolo Pasolini’s Teorema (1968), as a dutiful, upper-class daughter, Odetta, who suddenly goes off the rails when an anonymous visitor (Terence Stamp) arrives one day and seduces her, pushing her into a catatonic state. Her relationship with Godard became strained, however, as he immersed himself ever more intently in militant politics, and petered out in the first years of the new decade, although they were not divorced until 1979.
Wiazemsky continued to act in art-house films by other avant-garde directors, including Marco Ferreri, Alain Tanner, Marcel Hanoun and Philippe Garrel, and in works by mainstream directors such as Pierre Granier-Deferre and Michel Deville. As the 1980s began she felt increasingly on the margins of the film industry, although she later co-wrote the script for Claire Denis’s coming-of-age film set in 60s France, US Go Home (1994), and also directed a number of well-regarded television documentaries, such as Les Anges 1943, Histoire d’un Film (2004), on Bresson’s Les Anges du Péché.
It was her love of literature that allowed her gradually to reinvent herself, first as a writer of short stories, then as a novelist, with titles including Mon Beau Navire (1989), Marimé (1991) and Canines (1993). These were all concerned in different ways with the female condition and struggle for independence, fired by the same feminist convictions that had led Wiazemsky in 1971 to sign the Manifesto of the 343, a public declaration advocating reproductive rights at a time when abortions were illegal in France.
Other important works followed drew on her personal experience and family history: Hymnes à l’Amour (1996) recounts the extraconjugal adventures of her parents, Une Poignée de Gens (1998), which won the grand prix du roman from the Académie Française, examines her Russian origins, and Jeune Fille (2007) revisits her experience of working with Bresson, who, she wrote, propositioned her on set. More recently, Une Année Studieuse (2012) and Un An Après (2015) chronicled her years with Godard with generous affection and respect.
In her final years Wiazemsky led a quiet life in Paris with her cat and books. She retained to the end her girlish demeanour, free spirit and compassion.
• Anne Wiazemsky, actor, director and writer, born 14 May 1947; died 5 October 2017
The New York Times
Anne Wiazemsky, a French novelist and New Wave actress who appeared in seven films directed by her husband, Jean-Luc Godard, died on Thursday in Paris. She was 70.
The cause was cancer, her French book publisher, Éditions Gallimard, said.
Ms. Wiazemsky, a granddaughter of the Nobel literature laureate François Mauriac, was a leading lady in Godard films as well as Mr. Godard’s wife, a sometime muse and later a chronicler of his pioneering role in the New Wave, which swept France in the 1960s, fueled by the revolutionary stirrings that culminated in volatile strikes and demonstrations in 1968.
She became an instant star in 1966 when she was barely 18 after a family friend, the actress Florence Delay, introduced her to the director Robert Bresson. He immediately cast her in his film “Au Hasard Balthazar.”
In that film, Ms. Wiazemsky played a young woman living in the country who is being courted by an evil suitor while sharing her affection with a pet donkey named Balthazar, which doubles as a symbolic martyr. Bresson’s “range of associations in symbol and dogma should occupy any amateur of Christian theology for some time,” Roger Greenspun wrote in The New York Times.
In a blog post this week on the website of The Guardian, the critic Jonathan Romney wrote of Ms. Wiazemsky’s performance in “Au Hasard Balthazar”: “The fragility suggested by her face, which has the calm radiance of a medieval saint, contrasts with the intensity of her gaze. Together they project an admixture of compassion, repressed desire and that elusive note of moral seriousness that is the base note to Bresson’s work.”
Not yet 20, she met Mr. Godard, who was about 17 years her senior, while starring in his film “La Chinoise”; they married during its production. It was his second marriage.
In “La Chinoise” — presciently released in 1967, a year before the student protests — she played a student revolutionary in Paris struggling with Maoist philosophy.
She played another revolutionary in Mr. Godard’s “Sympathy for the Devil” (1968). Vincent Canby of The Times wrote of her performance in that film, “She is an odd, mysterious, arbitrary Godard mouthpiece, answering with a laconic ‘yes’ or ‘no’ such questions as, ‘Is orgasm the only moment when you can cheat life?’ ”
Ms. Wiazemsky wrote two accounts of her marriage, “A Studious Year” (2012) and “One Year After” (2015), in novelistic style. “One Year After” was adapted for the film, “Le Redoubtable,” directed by Michel Hazanavicius, who won the Academy Award for best director in 2011 for “The Artist” (which also won the best-picture Oscar).
Ms. Wiazemsky appeared at the premiere of “Le Redoubtable” at the Cannes Film Festival in May. In the movie she is played by Stacy Martin.
Ms. Wiazemsky was born on May 14, 1947, in Berlin to Yvan Wiazemsky, a diplomat and descendant of Russian royalty, and Claire Mauriac, the daughter of the novelist.
The family lived in Geneva, Caracas and other cities to which her father was posted. They returned to France just before his death in 1962.
Anne, who was educated at the École Sainte Marie de Passy in Paris, was only 17 when she was cast in “Au Hasard Balthazar” by Bresson, who liked his performers to be natural and non-interpretive.
“I was already what he was looking for because I naturally have a very flat voice,” she told The Times in 2001. “He never had to direct my line readings as he had to, a great deal, with the others. And so I did very few takes compared with the other actors — 5 or 6 instead of 50 or 60.
“I was just emerging from adolescence,” she continued, “and I had no idea what I wanted to do with my life. It was very reassuring to be in the hands of someone who seemed to know everything. And when I decided to continue as an actress, it was largely because of the pleasure that experience gave me — of being an instrument in someone else’s hands, at the service of someone else’s desire.”
In another memoir, “Jeune Fille,” published six years after that interview, Ms. Wiazemsky wrote that Bresson had become obsessed with her and propositioned her repeatedly on the set. “For a month and a half, we lived under the same roof with adjoining bedrooms and he never let me out of his sight,” she wrote.
She and Mr. Godard divorced in 1979. “Our paths diverged,” she said. There was no immediate information on survivors.
Ms. Wiazemsky acted in films until the late 1980s. In one, Pier Paolo Pasolini’s “Teorema” (“Theorem”), from 1968, she appeared opposite Terence Stamp as a daughter of a wealthy family that is seduced by a strange visitor. She also directed several documentaries for television and wrote more than a dozen novels and memoirs.
Ms. Wiazemsky expressed few regrets, though she recalled that when she was first cast by Bresson in “Au Hasard Balthazar,” she replaced an actress who had already been selected for the role.
“She lost the film because of me,” she said, “and I still feel a pang of regret for that unknown girl.”
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Godard, Mauriac et moi
Créé le 
22-12-2011 à 11h58 - Mis à jour le 26-12-2011 à 16h17
Une 
année studieuse, par Anne 
Wiazemsky, 
Gallimard, 272 p., 
Un an après avoir tourné avec Robert Bresson, 
Anne Wiazemsky, alors âgée de 19 ans, rencontre Jean-Luc Godard, qui l'épouse et 
la fait jouer dans «la Chinoise». Elle raconte cette année folle dans un 
roman-souvenir. Bonnes feuilles. 
Voici 
les souvenirs insolents d'une jeune fille pas rangée. En 
1966, elle avait 19 ans et, malgré ses airs timides et son profil de madone 
rousse, n'avait pas froid aux yeux. Il est vrai que, dans son sang, bouillonnait 
du sang russe. Fille du prince Yvan Wiazemsky, disparu quatre ans plus tôt, Anne 
était aussi la petite-fille de François 
Mauriac, chez qui elle habitait avec sa mère, Claire, et son 
frère, Pierre (le futur Wiaz, bien connu de nos lecteurs). En somme, le grand 
écrivain catholique abritait sous son toit une petite boyard guère orthodoxe.
Dès l'année précédente, l'élève de l'école 
Sainte-Marie avait commencé à ruer dans les brancards. En compagnie d'un âne, 
elle avait en effet accepté de tenir le premier rôle dans le film de Robert 
Bresson «Au hasard Balthazar», prouvant ainsi qu'elle pouvait, en même 
temps, gagner le cinéma et perdre sa virginité. A son grand-père Mauriac, elle 
avait alors emprunté une phrase qui deviendrait sa devise: «Le bonheur, c'est 
d'être cerné de mille désirs, d'entendre autour de soi craquer les branches.»
Et le désir prit le visage de Jean-Luc 
Godard. Au cinéaste de «Pierrot le Fou» et du «Mépris», qui était passé en 
coup de vent sur le tournage du Bresson, elle écrivit une lettre pour lui dire 
qu'elle l'aimait. Il lui répondit en accourant sur son lieu de vacances, dans le 
Midi, et en se jetant dans les bras de celle qu'il appela son «animal-fleur».
Seulement voilà, tout s'opposait à leur union. 
Anne était mineure (la majorité était encore à 21 ans), préparait son bachot, 
était cornaquée par une mère très suspicieuse, et vivait sous l'autorité morale 
de François Mauriac. Quant à son amant, il avait tout pour déplaire à une 
famille bourgeoise et célèbre: il était de dix-sept ans son aîné, venait de 
divorcer d'Anna Karina, en piquait pour Marina Vlady, avait la particularité 
d'être un protestant suisse d'obédience maoïste et réalisait des films peu 
académiques.
Evidemment, plus les convenances plaidaient 
contre lui, et plus Anne était attirée par lui. «Une année studieuse» (plutôt 
les vacances de l'esprit, du coeur et du corps) est l'histoire du combat mené 
par une jeune fille pour exhausser cette folle passion et même l'officialiser - 
leur mariage fut célébré clandestinement, le 21 juillet 1967, au pays de Vaud.
Dans ce tourbillonnant roman d'amour et 
d'éducation, Anne Wiazemsky dresse un portrait inédit de Godard en trentenaire 
sentimental, sensuel, possessif, hypersensible, gauche, prompt à sangloter, fan 
de Louis de Funès, mais aussi crâneur, colérique et ambitieux. On voit également 
la petite-fille de l'auteur de «Thérèse Desqueyroux» réviser la philo du bac au 
bois de Boulogne avec Francis Jeanson; entrer à la fac de Nanterre pour y 
rencontrer Daniel Cohn-Bendit, qui en appelle à la «solidarité des rouquins»; 
dîner avec Trufaut, Cournot, Rivette, Sollers, Bertolucci ou Jeanne Moreau; 
skier aux côtés d'Antoine Gallimard, dont Godard juge le tracé des skis aussi 
harmonieux que le graphisme de la NRF; tourner «la Chinoise» dans l'appartement 
qu'elle partage avec son mari; partir enfin pour le Festival d'Avignon, où ce 
film, que Jean Vilar persiste à appeler «la Tonkinoise», et qui annonce Mai-68, 
est projeté dans la Cour d'Honneur.
Tout cela mené au rythme trépidant d'une 
jeunesse qui voudrait dévorer le monde, voir tous les films, lire tous les 
livres, épouser toutes les idées neuves, et n'est jamais rassasiée. Car l'auteur 
de «Jeune Fille», dont la mémoire est prodigieuse, n'a pas son pareil pour se 
glisser avec naturel dans sa peau d'adolescente, rendre électrique le temps 
éteint, reconstituer des dialogues effacés, coloriser une époque en noir et 
blanc. C'est bien simple, on dirait, insouciant et soucieux à la fois, une 
oeuvre de la Nouvelle Vague.
J. G.

"Une année studieuse", d'Anne Wiazemsky: avant 
Mai 68
Dans ce livre à la 
simplicité lumineuse, on croise, en plus de Godard et de Mauriac, François 
Truffaut, Bernardo Bertolucci, Jeanne Moreau ou Jean Vilar - qui s'obstine à 
appeler La Chinoise "La Tonkinoise".
LE MONDE 
DES LIVRES | 12.01.2012 à 12h07 | Par Raphaêlle Leyris
Cela commence par une lettre: après avoir vu Masculin 
Féminin, en 
1966, Anne Wiazemsky, 19 ans, envoie une missive 
à 
Jean-Luc Godard, son aîné 
de dix-sept ans, pour lui dire qu'elle 
les aime - le film, et l'homme qui l'a réalisé. 
Parce qu'il est fasciné par 
elle depuis qu'il a vu sa photo, 
le cinéaste suisse se 
démène 
pour retrouver la 
jeune fille en vacances, qui s'apprête
à passer le 
rattrapage du bac. 
Tout va très 
vite entre eux. Trop, peut-être, 
et Anne s'interroge sur ses sentiments, doute et puis s'embrase de nouveau, au 
fil d'un marivaudage délicieusement 
Nouvelle Vague.
Dans ce livre 
à 
la simplicité 
lumineuse, on croise, en plus de Godard et de Mauriac, François 
Truffaut, Bernardo Bertolucci, Jeanne Moreau ou Jean Vilar - qui s'obstine
à appeler La 
Chinoise "La 
Tonkinoise". Mais Une 
année 
studieuse n'est 
pas la chronique people d'une 
époque 
riche en légendes. 
Ce vibrant roman d'apprentissage, qui raconte une libération 
par l'amour, est aussi une plongée 
vivante dans la France de 
l'avant-Mai 68. C'est une 
ère de 
friction, où 
le vieux monde, 
incarné 
par la mère 
d'Anne, pousse les hauts cris devant la liberté du 
nouveau, représenté 
par sa fille et Godard, mais cède 
peu 
à 
peu du terrain, 
à 
condition que les apparences restent sauves - tandis que s'aiguise, dans les 
couloirs de Nanterre, l'appétit 
d'en découdre. 
L'air de rien, Anne Wiazemsky mêle 
tous les registres pour arracher au 
passé des 
blocs de bonheur, qu'elle restitue. Et livre le portrait surprenant de Jean-Luc 
Godard en jeune homme 
épris, 
charmant et plein d'humour.
UNE ANNÉE 
STUDIEUSE d'Anne Wiazemsky. 
Gallimard, 
272 p., 17,75 €.
franceinfo
CULTUREBOX
"Un an après": mai 
68 vu par Anne Wiazemsky
Par Anne 
Brigaudeau 
Mis à jour le 26/01/2015 à 10H43, publié le 25/01/2015 à 14H58
Le plus 
délicieux, dans "Un an après" ? Le contraste assumé entre la narratrice (double 
de l'auteur Anne Wiazemsky) et un mai 68 décidément trop dépenaillé pour elle. 
Ajoutons-y les postures révolutionnaires de son mari Jean-Luc Godard: 
assaisonnement parfait pour un récit souvent cocasse.
Les lecteurs "d'Une année studieuse" retrouvent ici, "Un 
an après", la même héroïne:  Anne Wiazemsky, puisque ce récit est largement 
autobiographique.
A 21 ans, l'étudiante a définitivement abandonné la 
philo pour faire l'actrice. Mariée à Jean-Luc Godard, elle a emménagé avec lui 
dans un petit nid d'amour rue Saint Jacques, dans le Ve arrondissement parisien.
Aux premières loges dans le Quartier Latin
Autant 
dire qu'ils sont aux premières loges quand éclate la révolte estudiantine de mai 
68, dans le Quartier Latin. Avec deux amis, ils dînent au très chic restaurant 
de la Méditerranée lors de la prise du théâtre de l'Odéon, juste en face.
Quelques étudiants s'approchent ce soir-là de l'établissement et menacent 
d'en briser les vitres. Un vieux client s'étrangle de rage: "Sales petits cons 
! Qu'on les flanque tous en prison avec leur révolution !"... Et se fait 
insulter par Godard, furieux d'être, ce soir-là, du mauvais côté de la lutte des 
classes.
La révolution en patin à roulettes
Ce décalage 
fait la force comique du roman. Transports publics paralysés et pénurie 
d'essence ? Anne sillonne le Quartier Latin en patins à roulettes et s'amuse 
plus que Jean-Luc, toujours furieux de rater le train en marche.
Un peu 
plus tôt, la jeune actrice avait trouvé le moyen d'aller bronzer quelques jours 
dans une maison paradisiaque du Lavandou appartenant aux Lazareff (Hélène et 
Pierre, le patron de France-Soir), dans l'attente d'un Festival de Cannes qui 
n'aura pas lieu.
D'autant que son époux aura tout fait (avec quelques 
autres) pour le saboter. Mission accomplie, lorsqu'il passe la chercher au 
Lavandou, il constate atterré que son épouse arbore un teint abricot jurant avec 
la pâleur révolutionnaire de rigueur.
Retour à Paris, où mai s'achève sur 
la contre-manifestation gaulliste sur les Champs-Elysées. En tête de cortège, le 
grand-père d'Anne, François Mauriac, côtoie André Malraux. "On aurait dit un 
gâteux donnant le bras à un drogué, ou l'inverse", conclut peu charitablement sa 
descendante.
Une Rome digne de La Dolce Vita
En juin, départ 
du couple à Rome, où Marco Ferreri, puis Pier Paolo Pasolini proposent à Anne 
des rôles fabuleux. Godard, lui, s'acharne à saccager les dîners dans une 
capitale italienne digne de la Dolce Vita, où Marcello (Mastroïanni) s'invite 
par surprise. 
Les cinéphiles 
apprécieront les fugitives apparitions de Philippe Garrel présentant son premier 
film, "Marie pour Mémoire" (qui fit dire à Godard: "il y a Garrel maintenant, 
je n'ai plus besoin de faire de films"), ou de Carmelo 
Bene. 
Comme 
le précédent, ce roman d'Anne Wiazemsky se dévore avec le plaisir ambigu de 
découvrir, sous leur pire ou leur meilleur jour, quelques génies du cinéma. A 
commencer par l'insupportable Godard. La suite l'an prochain?
"Un an 
après", Anne Wiazemsky
Gallimard, 208 pages, 17,90 euros

Un an après, Anne Wiazemsky
Ecrit par Martine L. Petauton 02.02.15
Un an après, décembre 2014, 201 pages,
Ecrivain(s): Anne 
Wiazemsky Edition: Gallimard
 
On la reconnaît en photo noir et 
blanc sur le bandeau du livre; Anne, comédienne de ces années-là, le regard 
fixé sur… son compagnon d’alors, Jean-Luc Godard, ou la manif du jour puisqu’en 
Mai 68 est situé ce récit, mi-autobiographie, mi-documentaire, qu’elle a voulu 
nommer – bel élan d’honnêteté – roman. Comme si – elle a raison – tout retour 
sur sa mémoire quand il y a dedans un Godard en Mai, ne pouvait complètement se 
revendiquer de l’Histoire.
Voyage baignant dans la fumée acre des lacrymo, des cigarettes aussi – ce qu’on 
fumait, alors ! De Paris à la Méditerranée des bobos de ce temps, en passant par 
le tournage des films, et en particulier des films italiens… c’est bien d’un 
voyage, dont il s’agit, dans le Paris intello, étudiant, politique, de ces 
extrêmes qui ont façonné l’époque, mais aussi – tout le précieux du livre – à 
l’intérieur, chez les Godard ou leurs amis, dans le secret également des cœurs 
interrogés et d’un couple qui se fendille. Beau voyage, sans pathos, ni déco 
inutile, qui se laisse peu à peu apprivoiser, livrant « leur 68 » de détail en 
atmosphère juste, ce 68 qui fatalement est un peu le nôtre à nous, leurs 
contemporains, et ne demande que peu d’efforts aux jeunes d’aujourd’hui, pour 
devenir le leur, puisqu’il s’agit de Godard.
Ce livre, au registre presque pudique 
dans le quasi épique du fond historique, peut aussi se voir comme un large huis 
clos, assez austère parfois, dont les héros – enfin, les personnages de premier 
plan – sont une trinité fort attachante: le maître du nouveau cinéma 
avant-gardiste, la jeune muse revendiquant liberté et féminisme, et – surtout ? 
– le grand Mai dans ses œuvres. Et, tout ça passant – ce n’est pas le moindre 
intérêt du livre – par le regard de la femme. Mélange, auquel on s’habitue avec 
bonheur, de l’intime, du quotidien, du professionnel immergé dans le bruit des 
rues parisiennes où passait l’Histoire, et dans le manque d’un peu tout, dont 
l’essence.
« Place 
Denfert-Rochereau, des garçons et des filles avaient grimpé sur la statue du 
Lion de Belfort et agitaient des drapeaux rouges en chantant A bas l’État 
policier de Dominique Grange. – Comme cette jeunesse est belle ! dit Jean-Luc, 
que cette vision rendait euphorique. Cette fois, je lui donnais raison, je me 
réjouissais d’en faire partie, d’avoir vingt ans. Le lendemain, j’en eus vingt 
et un. Oubliant mon anniversaire, Jean-Luc était parti à une réunion des 
étudiants des beaux arts, quand on sonna à la porte ».
Les facettes du coup 
semblent faciles d’accès de page en page. Face-les évènements; un petit docu 
précis et finement peint comme miniature, des actions diverses à l’atmosphère de 
la Sorbonne qu’on visitait comme Versailles; des acteurs, De Gaulle en 
patriarche irascible ou Dany l’irrésistible ; de la peur de traverser le 
quartier latin, le soir (« c’était Jean-Luc, très inquiet, qui craignait que 
je n’aie pas eu le temps de regagner notre appartement »). Des batailles de 
rues sévères et dangereuses – s’en souvient-on vraiment ? où passe, sinistre 
légion, l’ombre des CRS… Face-Godard – la plus fascinante : on le voit, agité, 
surmené, borderline, sinon plus, pâle et formidablement sincère et investi de 
réunion enfumée en bouderie dramatique. Sympathique – presque –, en phase, 
parfois, mais si souvent décalé avec l’époque. Personnage en écho avec certains 
des romans russes de Troyat, ceux qui amènent avec douleur, 17, par exemple. 
Face-Anne – la plus humaine, la plus réaliste et lucide ; celle qui a son âge, 
beaucoup moins que lui, qui, à la fin, sait tourner la page… celle qui a son 
histoire, romanesque et fantasque ; petite-fille de François Mauriac, dont les 
coups d’œil sur 68, de ci de là, sont un pur régal, et par l’autre branche, 
issue de Russes princiers d’avant la grande révolution.
Beau moment de nostalgie que nous 
donne Anne Wiazemsky, ici, dans la parenthèse Godard/La Chinoise de sa longue 
existence. Un épisode riche et dense d’une trajectoire. Vivre en ce temps là.
Sereinement, non; mais complètement, assurément.