2-1-2014

 

1655 - A Inquisição entra a sério na Guarda

 

 

Alguns factos:

1-Francisco de Castro nasceu em Agosto de 1574, foi nomeado Bispo da Guarda em 1617, entrou na diocese no ano seguinte, e tomou posse do cargo de Inquisidor Geral em 1630. Faleceu em 1 de Janeiro de 1653.

2-Comparando o n.º dos processos de Inquisição contra cristãos novos da Guarda, dos períodos 1630-1653 e 1653-1676, verifica-se que no segundo período são pelo menos o triplo dos do primeiro. Os números exactos são muito difíceis de obter a partir da pesquisa da base, mas a diferença é muito grande.

3-Em 15 de Junho de 1650, a Mesa da Inquisição de Lisboa propôs ao Conselho Geral a prisão do médico Diogo Rodrigues Nobre (Pr. n.º 11114) por “poder-se esperar que por meio da prisão do delato se abra caminho para emendar ou castigar o judaísmo da Guarda de que por várias vias há nesta Mesa escandalosa notícia”. O Conselho Geral negou a prisão, dizendo no Assento: “que se espere que lhe cresça mais prova”. Foi depois preso em 19-11-1652 e relaxado no auto de fé de 11-10-1654.

Em 2 de Setembro de 1660, diz o Promotor de Justiça ao propor a prisão de Simão Rodrigues Aires ( Pr. n.º 2838): “a dita cidade da Guarda é terra nova, em respeito das poucas prisões que nela se têm feito e executando-se as que estão para fazer no dito seu pai e parentes se pode crer que se ausentara a fim de não ser preso pelo Santo Ofício.

Queixa-se ele, pois, das poucas prisões que se têm feito na cidade da Guarda.

4-O Padre Lupina Freire, Tesoureiro e Notário da Inquisição, nascido em 1625, cresceu na residência do Inquisidor-Geral Francisco de Castro, que o protegeu. Protegeu tanto que, tendo ele feito um desfalque de mais de 2 000 cruzados, descoberto em 1652, não lhe aconteceu nada na altura, apenas deixou de ser tesoureiro. Para além disso, era mesmo intermediário entre o Inquisidor-Geral e os cristãos novos prósperos da Guarda, como se deduz deste seu depoimento de 30 de Abril de 1655, no processo  de Nuno Fernandes Marques  (Pr. n.º 10192, fls. 37):

Disse que ele tem conhecimento de Nuno Fernandes Carvalho (Pr. n.º 147) e seu irmão Manuel Lopes Carvalho (Pr. n.º 9273) e de Nuno Fernandes (Pr. n.º 10192), seu cunhado, e a ocasião do conhecimento é de que servindo ele denunciante ao Ilustríssimo Senhor Bispo Inquisidor Geral que Deus tem, tiveram os ditos contas e negócios com António de Miranda Henriques para as quais se valeram do favor de Sua Ilustríssima e ele denunciante de mandado do mesmo Senhor foi falar ao dito António de Miranda a favor dos ditos três homens, de que resultou ficarem-se conhecendo e tratando com amizade, de maneira que se visitavam (…)“

Disse Lupina Freire no seu processo (n.º 4411) em 1655 ser amigo há mais de dez ou onze anos de Manuel Lopes de Carvalho, nascido na Guarda, mas residente em Lisboa. Este pertencia à família dos Carvalhos, e havia casado com sua prima Isabel Marques.  Três anos atrás, tinha-lhe o Notário pedido emprestados 500 cruzados, isto é 200 000 réis, que não lhe restituíra, nem sequer pagara os juros que eram devidos.

Falecido o Inquisidor-Geral, deu conta o Notário que as coisas iam mudar.  Quando o seu “amigo” Manuel Lopes Carvalho veio falar com ele preocupado em 29 de Abril de 1655, ainda ficou mais alerta. Disse-lhe ele que dois seus cunhados,  Nuno Fernandes Marques (Pr. n.º 10192) e Diogo Carvalho Marques (Pr. n.º 8431), estavam há algum tempo (semanas, possivelmente) presos no Limoeiro, sem ninguém saber de que eram acusados, não poderia ser coisa da Inquisição? Era, realmente. A Inquisição não tinha ainda base legal para os prender e por isso pediu que fossem presos na cadeia civil do Limoeiro, enquanto se tratava do assunto. O Notário disse que não sabia. Mas no dia seguinte foi à Mesa da Inquisição denunciar o “amigo” Manuel Lopes de Carvalho, tal como disse acima.  Em 14 de Julho de 1655, foi presa pela Inquisição a mulher deste (e sua prima direita) Isabel Marques (Pr. n.º 8331), mais tarde relaxada. Manuel Lopes de Carvalho pôs-se a pensar na vida e foi ter com Lupina Freire e perguntou se não seria melhor fugir do Reino. A resposta era evidente. Estou convencido que o Notário não respondeu, mas ele, pensando talvez safar-se confessou na Mesa da Inquisição tê-lo aconselhado a fugir. O mandado de prisão do Manuel Lopes Carvalho é de 6 de Agosto de 1655, ele deve ter fugido na véspera. A Inquisição culpou da fuga a Lupina Freire.

Muito mais tarde, em Maio de 1680, andava ainda Lupina Freire a escrever exposições para a Rainha e para o Papa (que entregou ao Núncio), cujas cópias estão no Liv. 244 do CGSO, onde se lê a fls. 93 que ele escreveu: “Vivia nesta Cidade um homem que chamavam Manuel Lopes Carvalho, natural da Guarda, muito da casa do Inquisidor Geral Francisco de Castro, que me criou; sucedeu que lhe prenderam a mulher pela Inquisição e o mesmo seu marido se ausentou logo que a viu presa. “

5-A razia da Inquisição nas famílias Carvalho e Aires fica bem evidente pelos processos anotados na Genealogia que aqui se publica. Os presos foram todos mortos ou reduzidos à miséria.

Os factos acima narrados indiciam que a hagiografia do Inquisidor-Geral Francisco de Castro precisa de ser revista. Os processos são todos posteriores à morte dele.

 

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Nuno Fernandes Carvalho era comerciante de sucesso, apesar de ter ainda só 40 anos. Tinha 10 filhos, com idades entre 2 e 14 anos.  Apesar de estar completamente negativo, numa primeira fase havia vontade de o deixar ir embora com vida. Fora ao tormento, era condenado numa enorme multa de 1000 cruzados (400 000 reis)  “para as despesas do Santo Ofício”, poupando-se assim as despesas e os trabalhos de liquidar o património dele. Isto foi no dia 5 de Outubro de 1660. Mas logo no dia 12, vieram dois Inquisidores dizer que havia mais culpas e que o melhor era aguardar por mais. Ele não chegou a iniciar nenhuma confissão. Acabou relaxado.

 

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Nestas duas famílias, aparecem cinco pessoas com o nome de Simão Rodrigues Aires; é imperioso fazer a desambiguação, até porque são todos da Guarda:

Simão Rodrigues Aires, casado com Luísa de Almeida, não foi à Inquisição e deve ter vivido por volta de meados do séc. XVI;

Outro homónimo (Pr. n.º 612) casou com Isabel de Lisboa e depois com Maria Henriques. Preso em 4-10-1660,  teria 60 anos- faleceu no cárcere em 29-1-1662 – relaxado em estátua em 11-3-1668. Foi o pai daquele cujo processo vou resumir.

Outro (Pr. n.º 1164), de 19 anos, suicidou-se na prisão. Filho de Diogo Rodrigues da Costa e de Serafina Nunes, preso em 5-5-1661, tinha 18 anos, suicidou-se em 15-9-1661 – relaxado em estátua em 12-8-1667.

Outro (Pr. n,º 4604), filho de Francisco da Costa Aires e de Guiomar Nunes – único que escapou à morte – preso em 25-1-1659, teria 38 anos, reconciliado, foi ao auto da fé de  17-10-1660.

Este, cujo processo vou descrever  ( Pr. n.º 2838), filho de Simão Rodrigues Aires e de Isabel de Lisboa, preso em 4-10-1660 (como seu pai) teria 28 anos; foi relaxado no auto da fé de 17-8-1664.

 

Ficou negativo durante muito tempo. Tinha a ilusão de que se poderia defender naquele tribunal que o não era. No início de Julho de 1664, teve ainda por ele um inquisidor e um deputado que queriam levá-lo ao tormento. Mas o Conselho Geral condenou-o a ser relaxado. Só confessou mesmo no dia do auto da fé no cadafalso e até fez bastantes denúncias. Mas os Inquisidores e Deputados acharam que era tarde demais e mantiveram a condenação à morte no auto da fé de 17-8-1664.

 

 

GENEALOGIA

 

 

Aires Rodrigues, casou com Leonor Nunes e tiveram:

A-Simão Rodrigues Aires, casado com Luisa de Almeida e tiveram

                     1- Aires Rodrigues da Costa,  já defunto,  casou com Isabel de Flores e tiveram:

                                          Francisco Rodrigues Flores (1660-Pr. n.º 10459), de 25 ou 26 anos, solteiro

                                          Simão Rodrigues Neto (1660-Pr. n.º  11901), casado com Clara do Porto (1661-Pr. n.º 10498), sem filhos

                                          Aires Rodrigues da Costa, defunto, foi  casado com Francisca de Najera da Silveira (1662 – Pr. n..º 2671), de quem tem um filho chamado Aires, de 4 anos

                                          Diogo Rodrigues Flores (1660 – Pr. n.º 11417), RELAXADO, de 28 ou 29 anos, solteiro

                                          Luisa de Almeida casada em Celorico com António Gomes da Silveira (1660 – Pr. n.º 7825)

                                          Joana do Porto da Costa (1671 - Pr. n.º 10450), viúva de Jorge Rodrigues Feijó, defunto,  de quem teve dois filhos de pouca idade.

  

                     2-Brás da Costa, foi casado com Antónia Mendes, ambos defuntos, tiveram vários filhos defuntos, no estado de solteiros e

                                          Isabel Gomes, casada com seu primo Simão Rodrigues Aires, filho de seu tio Francisco da Costa Aires

 

                     3-Manuel da Costa foi casado com Brites Mendes, ambos defuntos, sem filhos. Ele teve uma filha bastarda, chamada Maria da Costa que morreu solteira.

 

                     4Simão Rodrigues Aires, (1660-Pr. n.º 612), casado com Isabel de Lisboa [2.ª vez com Maria Henriques (1661-Pr. n.º 7021)] Faleceu no cárcere em 29-1-1662 e foi RELAXADO em estátua e tiveram

                                          Simão Rodrigues Aires (1660-Pr. n.º 2838), RELAXADO, de 32 anos,

                                          Filhos da 2.ª mulher:

                                          Jerónimo Henriques, de 12 anos (em 1661-depois, ausentou-se do Reino)

                                          Aires Rodrigues

                                          Manuel Henriques de Mercado(1703 – Pr. n.º 1954), que casou com D. Brites de Mercado - (1706- proc. n.º 1703 de Lisboa)

                                          Filipa, que faleceu de pouca idade.

                                          Luisa de Almeida (1667-Pr. n.º 5229)

 

                     5-António Rodrigues Branco, defunto, foi casado com sua prima Ana Nunes, filha de Diogo Carvalho e de Brites Rodrigues,  e não tiveram filhos.

 

                     6-Jorge Rodrigues da Costa (1660-Pr. n.º 7343), de 58 anos,  casado com Leonor Rodrigues (1658 – Pr. n.º 6709)  e não tiveram filhos  

 

                     7- Nuno da Costa Aires (1660-Pr. n.º 141), casado com Luisa de Almeida (1660-Pr. n.º 8629), RELAXADA,  sua sobrinha, filha de Francisco da Costa e têm

                                          Simão, de 12 ou 13 anos

                                          Francisco, de 5 ou 6 anos

                                          Nuno de 3 ou 4 anos

                                          Aires, de 2 anos

                                          Luisa, de 12 ou 13 anos (1662 –Pr. n.º 4500, de Coimbra)

                                          Guiomar, de 9 ou 10 amos,  (1664 – Pr. n.º 2777, de Coimbra)

                                          Francisca, de 5 ou 6 anos

                                          Ana, de 4 ou 5 anos

                                          Leonor, de 3 ou 4 anos.

                                         -Tem mais uma filha bastarda de nome Maria, de 26 anos, que teve de uma cristã velha solteira,

 

                     8 - Pedro Aires da Costa foi para Castela e ouviu dizer que casou em Ciudad Rodrigo

 

                     9 – Diogo Rodrigues da Costa (1660-Pr. n.º 10496 e 1665-10496-1)  foi casado com  Serafina Nunes, tiveram

                                          Simão Rodrigues Aires (1661-Pr. n.º 1164),  de 19 anos,– suicidou-se na prisão - RELAXADO em estátua.

                                          Francisco Costa (1660-Pr. n.º 10461), de 29 anos, RELAXADO, casado com Maria Teles (1661-Pr. n.º 9073) falecida no cárcere em 14-6-1667, RELAXADA em estátua,  e que teve do marido um menino de pouca idade

                                          Manuel da Costa Aires, solteiro, de 16 anos e

                                          António Rodrigues, de 18 anos, ausentes em Castela

                                          Luisa de Almeida (1664 – Pr. n.º 7448, de Coimbra), de 24 anos

                                          Leonor Nunes (1664 – Pr. n.º 382, de Coimbra),  de 12 anos

                                          Serafina, de 8 ou 9 anos

                                          Ana, de 6 ou 7

 

                     10 - Francisco da Costa Aires (1660-ver proc. n.º 1752)  – casou com Guiomar Nunes  (1659-Pr. n..º 10460) RELAXADA e tiveram

                                          Francisca da Costa (1660-Pr. n.º 10467), de 30 anos

                                          Simão Rodrigues Aires, de 38 anos (1659-Pr. n.,º 4604), casou depois com Isabel Gomes (1660-Pr. n.º 8624), de que teve uma menina chamada Guiomar. Ele tem um filho bastardo de sua prima Maria da Costa, filha bastarda de Manuel da Costa, que se chama António.

                                          Leonor Nunes (1660-Pr. n.º 7843), de 20 anos

                                          Luisa de Almeida (1660-Pr. n.º 8629, RELAXADA), casada com seu tio paterno Nuno da Costa Aires (1660-Pr. n.º 141). Ver descendência no marido.

                                          Ana Nunes (1660-Pr. n.º 11018), de 25 anos

                     

                     11 – Gaspar e

                     12 – Leonor, que faleceram solteiros.

 

B-Manuel Fróis, casado não sabe com quem, nem que filhos tiveram

 

C-António Rodrigues, casado em Pinhel com Paula Henriques, de quem teve

                       Aires Rodrigues  

                       Henrique Aires, ausentou-se do Reino para Castela em solteiro

                       Simão Rodrigues Henriques, que foi casado em Belmonte com Antónia da Costa, ausentou-se para França

                       Filipa Henriques (1673 – Pr. n.º 7123, de Coimbra), viúva de Manuel Fróis, moradora em Coimbra

                       Leonor Nunes, já defunta, que foi casada na Covilhã com Francisco Rodrigues de Almeida (1664 - Pr. n.º 2963)

                       Isabel Henriques, viúva de Francisco Pereira, moradora em Trancoso.

 

D-Henrique Rodrigues foi casado na Covilhã com uma cristã nova, de quem teve

                       Manuel Fróis, casado na mesma vila  

                       Aires Rodrigues, também casado na Covilhã

 

E-Ana Nunes, foi casada com Nuno Fernandes Carvalho, e tiveram:

                   1-Simão Fernandes, defunto foi casado com Ana Nunes, ausente fora do Reino em Roma, e têm

                                          Antão Rodrigues Carvalho (1656 - Pr. n.º 11468), solteiro,  de pouco entendimento.

                                          Leonor Nunes, casada com seu primo Antão Rodrigues, residentes em Lisboa

                                          Ana Nunes, casada com seu primo Francisco Carvalho, residentes em Roma

                                          Filho ilegítimo:  Antão Fernandes Nunes, viúvo, morador na Covilhã, está para casar com uma filha de Henrique Fróis.

  

                    2-António Fernandes Carvalho, da Guarda, que casou com Isabel Marques, da Torre de Moncorvo, ambos defuntos  e tiveram:

                                         Nuno Fernandes Marques (1655-Pr. n.º 10192, RELAXADO), viúvo de Isabel Henriques, de que lhe ficaram três meninos, de nome, António, Brites e Isabel, que não têm mais de seis anos.

                                          Diogo Carvalho Marques (1655-Pr. n.º 8431, RELAXADO), solteiro

                                          Pedro Nunes, faleceu no Alentejo, solteiro, sem filhos

                                          Francisco Carvalho vive em Roma e casou com sua prima Ana Nunes, filha do seu tio Simão Fernandes e não têm filhos

                                          António Fernandes, solteiro, que vive também em Roma em companhia do anterior

                                          Isabel Marques (1655-Pr. n.º 8331, RELAXADA), casada com seu primo Manuel Lopes de Carvalho, e não têm filhos

                                          Filipa Nunes, solteira, de dezasseis anos, morava em Lisboa

                                  

                    3-Francisco Carvalho Nunes, da Guarda, foi casado com Marquesa Mendes, de Belmonte, ambos defuntos e tiveram

                                         Nuno Fernandes Carvalho (1657-Pr. n.º 147, RELAXADO), casado com Antónia Nunes e tiveram:  

                                                              Diogo Nunes, de 14 anos;

                                                              Manuel, de 12 ou 13;

                                                              Miguel, de 7 ou 8;

                                                              Francisco, de 5 ou 6;

                                                              Nuno, de 4 ou 5;

                                                              Marquesa, de 11 ou 12;

                                                              Maria, de 10;

                                                              Leonor, de 4;

                                                              Antónia, de 3;

                                                              Isabel, de 2.

 

                                        Manuel Lopes de Carvalho (1655-Pr. n.º 9273, RELAXADO em estátua), casado com sua prima Isabel Marques  (1655-Pr. n.º 8331, RELAXADA), não têm filhos.

                                        Isabel Rodrigues, falecida, que tinha casado com Miguel Nunes, que se foi para Castela, levando cinco filhos e filhas de tenra idade

                                        Guiomar de Andrade, falecida, foi casada com André Nunes, de quem não teve filhos

                                        Leonor Mendes, casada com Álvaro Dias Nunes, vivem em Sevilha, com filhas, cujo número e nome desconhece

                                        Ana Nunes, falecida há muitos anos, quando tinha 15 anos.

 

                    4-Diogo Carvalho foi para Castela e não sabe nada dele

 

                    5-Aires Carvalho ou Aires Rodrigues, foi solteiro para as Índias de Castela, não sabe para onde e viveu lá; dizem que teve muitos filhos.

 

                    6-Nuno Fernandes Carvalho, morreu solteiro, sem filhos

  

                    7-Leonor Nunes foi casada em Castelo Branco com Antão Rodrigues, e tiveram

                                        Manuel Rodrigues de Carvalho (1628 - Pr. n.º 5959), que ficou solteiro

                                        Serafina Nunes, foi casada com seu tio paterno Diogo Rodrigues da Costa (Pr. n.º 1660-10496 e 1665-10496-1). Ver descendência no marido.

                                        Ana Nunes, que foi casada com seu tio Simão Fernandes Carvalho. Ver descendência no marido.

                                        Constança Nunes, casada com João Nunes da Fonseca

                                        Beatriz

                                        Inês

 

                                                 - Antão Rodrigues casou 2.ª vez com Joana da Costa de quem teve três filhos.

 

                   8-Maria Nunes, vive na Guarda, viúva de Diogo Rodrigues Nogueira, de quem teve:

                                          Gaspar Rodrigues Nogueira (1660-Pr. nº 898), solteiro, que vive com sua mãe, casou depois em Pinhel com Brites da Costa

                                          Francisco Carvalho Nogueira, solteiro, vive em França

                                          Beatriz Nogueira (1660-Pr. n.º 11051), que vive com sua mãe

 

                   9-Guiomar Nunes (1659-Pr. n.º 10460, RELAXADA)  vivia na Guarda, viúva de Francisco da Costa Aires. Ver descendência no marido.

                                       

                  10-Brites ou Beatriz Nunes morreu na Guarda e viveu com o marido Francisco Rodrigues em Castela, de que teve dois filhos

                                          Antão Rodrigues, que casou com sua prima Leonor Nunes e é genro de Simão Fernandes

                                          Manuel Rodrigues, vive em Lisboa com seu irmão há ano e meio.

                                          Ana Nunes, viúva de Diogo Carvalho. Ver descendência no marido.

 

                   11-Ana Nunes, foi casada em Trancoso com António Mendes e não sabe que filhos teve - residiu em Madrid.

                   12- Inês Nunes, casada com Baltazar Rodrigues, do Fundão, ausentaram-se para Castela há muitos anos e não sabe nada deles.

  

F-Brites Rodrigues, foi casada com Diogo Carvalho de quem teve

                    1-Francisco Carvalho, foi casado em Trancoso com Brites Gomes  e tiveram

                                        Aires Carvalho (1670-Pr. n.º 8871), casado com Carlota de Ledesma, de quem tem Abraão, de 4 anos (circuncidado), Margarida, de 6, Raquel de peito.

                                        Simão Gomes de Almeida (1664 - Pr. n.º 2836), casado com Guiomar Serrano de quem tem Belchior Mendes, de 14 anos, Francisco, de 8 anos, e Brites, de 3 anos.

                                        Diogo Carvalho (1660 - Pr. n.º 776, de Coimbra), defunto foi casado com Grácia Mendes, de quem teve Francisco Carvalho, de 13 anos, Brites, de 10 e Ana, de 9 anos

                                        António Carvalho, casado em Veneza com Ester de Almeida e não têm filhos - vivem como judeus.

                                        Francisco Carvalho, defunto, foi casado com Grácia Fernandes de quem tem Francisco, de 10 anos e Henrique, de 7 anos.

                                        Guiomar Serrano, casada com Manuel Gomes Lisboa, de que tem filhos mas não sabe os nomes - Foram para Tunes - vivem como judeus.

                   2-Simão Carvalho, casado com uma cristã nova de Portalegre, chamada Branca Rodrigues e tiveram:

                                        Diogo Carvalho, casado com Paula Henriques

                                        Domingos Rodrigues, solteiro, de 33 anos

                                        Simão Carvalho, de 15 anos

                                        Francisco, de 12 anos

                                        Brites Rodrigues, casada com Aires Rodrigues Frois, advogado

                                        Branca Rodrigues, solteira, de 35 anos

                                        Ana, solteira, de 18 anos

                                        Inês, solteira, de 20 anos

                                        Guiomar, solteira, de 18 anos

                                        Helena, de 12 anos

                   3-Diogo Carvalho que foi casado com Ana Nunes (1660 - Pr. n.º 11021-1) e tiveram:

                                        Diogo Carvalho e Simão Carvalho, que morreram solteiros, assim como Manuel que faleceu de três anos

                                        António Carvalho Nunes, de 13 anos (1694 - Pr. n.º 11717, 43 anos) - depois casou com Leonor Rodrigues Flores

                                        Leonor Nunes (1683 - Pr. n.º 1228) - depois viúva de Gaspar Soares

                                        Guiomar Nunes (1689 - Pr. n.º 1536, de Coimbra, RELAXADA no auto da fé de 1-7-1691) - foi casada com Rodrigo Soares

                                        Brites Rodrigues, de 15 anos, (depois casada com seu primo Diogo Carvalho, de Trancoso)

                                        Inês Nunes de Carvalho, (depois casada com João Henriques - 1689 - Pr. n.º 4088, de Coimbra)

                                        Ana Nunes, faleceu solteira

                  4-António Carvalho, casado em Livorno (Itália), não sabe com quem e não tem filhos

                  5-Leonor Nunes, que foi casada em Lamego com Diogo Álvares

                  6-Ana Nunes que foi casada com António Rodrigues Branco

 

 

Processo n.º 147 de  Nuno Fernandes Carvalho, RELAXADO, natural e morador na cidade da Guarda, casado com Antónia Nunes

 

fls. 9 img. 17 – 25-1-1657 – Mandado de prisão emitido pela Inquisição de Coimbra

fls. 10 img. 19 – 2-2-1657 – Entrega do preso na Inquisição de Coimbra

fls. 11 img. 21 – 5-2-1657 – Planta do cárcere, onde ficou só

fls. 12 img. 23 – 18-3-1657 – Entrega do preso nos Estaus

CULPAS:

fls. 13 img. 25 – 27-10-1643 – Isabel Cordeira, solteira, filha de Domingas Gonçalves a “Parola”, de alcunha, residente em Pero Soares, termo da Guarda, de 18 anos – Foi criada de Marquesa Mendes, mãe do réu, já viúva e viu em casa do filho Nuno Fernandes Carvalho, que nunca comiam o peixe de pele que aparecia e o jogavam fora; que, se recebiam mexilhão, a Sr.ª Marquesa Mendes o mandava ao Corregedor. Nunca o viu comer às pessoas da casa.

Quando a mandavam ao açougue, encomendavam-lhe que trouxesse quartos dianteiros de carneiro, e vaca do acém ou pá; partiam a carne em pedaços e mandavam que fosse lavada em três águas até desaparecerem totalmente os sinais de sangue. Nas mesmas casas, nunca viu comer coelho, lebre ou toucinho, sendo que vira coelhos pendurados quando havia hóspedes cristãos velhos. Se não havia hóspedes nunca se juntava à comida toucinho ou carne de porco.

As casas eram varridas às sextas feiras e ela já o fazia sem ser mandada e dizia para outra criada sua companheira  por malícia “Vamos varrer as casas que é sexta-feira”.  Também às sextas feiras se fazia comer de legumes que ficava para o sábado.

fls. 14 v img. 28 - 22-7-1645 – Manuel Fernandes Belo, barbeiro, cristão velho, de 36 anos – Há 12 anos que vive entre gente de nação e constata que ao sábado andam mais enfeitados; mesmo se trajam bem nos outros dias da semana, se têm de estrear roupa nova, esperam pelo sábado.  Não abrem as suas lojas aos sábados nem fazem a barba e, por isso, a fazem às sextas à tarde ou no domingo antes da Missa.

fls. 15 v img.30 – 24-8-1645 – Perante o Comissário do S.to Ofício, Isabel Cordeira confirmou as suas declarações de 27 de Outubro de 1643.

fls. 33 img. 65 – 18-1-1657 – O Promotor requer a prisão do réu. O Assento da Mesa refere depoimentos de Grácia da Veiga (Pr. n.º 1302-1), Margarida da Veiga (Pr. n.º 10196-1) e Branca Soares Pr. n.º 7855-1), que não se encontram no processo, embora apareçam entre as testemunhas da justiça. Diz que Branca Soares testemunhou de declaração de judaísmo em forma.

fls. 34 img. 67 – 18-1-1657 – O Conselho Geral concorda que as culpas são suficientes para o réu ser preso.

fls. 35 img. 69 – 16-6-1655 – Diogo de Melo Osório, natural da Guarda e residente em Lisboa, de 50 anos de idade, familiar da Inquisição, compareceu nos Estaus sem ser chamado. Viveu na cidade da Guarda até ao ano anterior e declara que toda a gente de nação daquela cidade vive na Lei de Moisés. É sabido que, chegando ao açougue algum peixe de pele como congro, lampreia, cação, enguia ou outro semelhante, nenhuma pessoa de nação os compra; mas se o peixe for de escama, logo o compram ainda que seja por maior preço.  Também não compram nem coelho, nem lebre, nem ave afogada e, se lhes vai alguma morta, a deitam fora ou dão aos seus criados.

Toda a gente na Guarda cria porcos para matar e se alimentarem, menos as pessoas de nação, que não os têm nem compram carne de porco.

Na Guarda, os homens nobres ouvem Missa todos os dias, mas nenhum homem de nação o faz; estes só vão à Missa nos domingos e dias santos. Diogo Rodrigues da Costa (Pr. n.º 10496 e 10496-1), viúvo, filho de Simão Rodrigues Aires, nunca entrou em nenhuma Igreja e nunca ouviu Missa. As pessoas de nação não se confessam no decurso do ano e nunca trazem contas.

Disse-lhe o filho dele denunciante, Sebastião de Melo Osório, que no funeral de Marquesa Mendes, mãe do réu, esta estava amortalhada em lençol novo com sete ataduras e não tinha hábito de religião, o que causou grande escândalo na Guarda.  Disseram-lhe que Duarte Nunes, cunhado do advogado Simão Rodrigues Nobre, relaxado, foi enterrado do mesmo modo.

Os cristãos novos não trabalham aos sábados e a maior parte das tendas não abre nesse dia; vestem os melhores fatos ao sábado e é nesse dia que fazem visitas. Não fazem viagens aos sábados, mas sim aos domingos.

Refere como judeus praticantes:

- Francisco da Costa Aires, casado com uma irmã de António Fernandes Carvalho (Guiomar Nunes);

- Nuno da Costa Aires (Pr. n.º 141), filho de Simão Rodrigues Aires, casado com uma filha de Francisco da Costa;

- Jorge Rodrigues da Costa (Pr. n.º 7343), irmão de Francisco da Costa;

- filhos de Aires Rodrigues – só se lembra do mais velho, Simão Rodrigues (Pr. n.º 11901).

Disse mais que uma criada de Jorge Rodrigues da Costa lhe dissera que sua ama, quando havia de passar uma procissão do Corpo de Deus ou outra, guardava urina, para a deitar na rua ao passar da procissão.

fls. 39 img. 77 - 13-3-1657 – A Inquisição de Coimbra remete o preso a Lisboa, por ordem do Conselho, enviando também 32$121 réis que o réu entregara para a sua alimentação.

fls.41 img. 81 – 15-12-1658 – Depoimento de Nuno Fernandes Marques (Pr. n.º 10192) no auto de fé em que estava relaxado.

fls. 43 img. 85 – 14-12-1658 – Depoimento de Antão Rodrigues Carvalho (Pr. n.º 11468) de mãos atadas – condenado a ir 5 anos para as galés (trabalhos forçados)

fls.46 img. 91 – 15-9-1659 – Depoimento de António de Sotto ou de Souto (Pr. n.º 6187, de Coimbra) 

fls. 48 img. 95 – 7-10-1660 – Depoimento de seu primo Simão Rodrigues Aires (Pr. n.º 4604), filho de Francisco da Costa Aires e de Aguiar Nunes

fls. 51 img. 101 – 13-10-1660 – Depoimento de seu sobrinho segundo Antão Rodrigues Lindo (Pr. n.º 7823).

fls.53 img. 105 – 25-2-1661 – Depoimento de seu primo Nuno da Costa Aires (Pr. n.º 141)

fls. 55 img. 109 – 6-9-1662 – Depoimento de seu tio Jorge Rodrigues da Costa (Pr. n.º 7343)

fls. 57 img. 113 – 9-9-1662 – Depoimento de Simão Rodrigues Neto (Pr. n.º 11901)

fls. 60 img. 119 – No início de Fevereiro de 1657, a Inquisição de Coimbra comunica a Lisboa ter efectuado a prisão do réu, que pertence à Inquisição de Lisboa. Pede orientação sobre o caso. O Conselho Geral manda que o preso seja conduzido para a Inquisição de Lisboa.

fls. 66 img. 131 – 1-7-1658 – A Mesa manda apensar ao processo umas contraditas apresentadas à Inquisição pela esposa do réu, Antónia Nunes. São 14 páginas bem apresentadas e com boa caligrafia. Os inimigos são sobretudo os membros da família que se encontram presos e que certamente iriam dar no Réu. Para cada artigo indica um bom número de testemunhas, meia dúzia ou uma dezena, mais ou menos. Indicou como inimigos:

- Leonor Rodrigues, mulher de Jorge Rodrigues da Costa

- Francisco da Costa, irmão do marido

- Diogo Rodrigues da Costa, idem

- Simão Rodrigues Aires, idem

- Nuno da Costa Aires, idem

- Pedro Aires da Costa, idem

- Mulheres e filhos dos anteriores

- Cónego André Lopes de Albuquerque

- Cónego António Lopes de Albuquerque, irmão do anterior

- Simeão da Costa, Prior de Santiago da cidade da Guarda

- Cristóvão de Sá

- Jacinto Carrilho, Vedor

- P.e João Rodrigues da Cruz

- João Soares da Costa, Recebedor das Sisas da cidade da Guarda

- Diogo de Melo Osório

- António Rodrigues, antigo criado do réu

- Luis Carrilho

- Cónego Manuel da Fonseca

- António Rodrigues Penhaforte, de Belmonte

- Maria Fernandes e suas filhas Feliciana da Silva e Leonor de Andrade e António Lopes, o Cego, enteado da primeira

- Martim de Oliveira

- Henrique Lopes

- Jorge Lopes Moniz, o Mata-Porcos (Pr. n.º 563)

- André Soares ou André Soares de Sequeira (Pr. n.º 11472 e 11472-1), Médico

- António do Souto, do Porto

 

Junta certidão de acções judiciais em que interveio o réu ou sua mulher e que teriam gerado algumas das inimizades.

fls. 84 img. 167 – Nesta página e na seguinte, está o que se afigura ser um rascunho para um assento da Mesa, e não deve ser considerado como documento.

fls. 86 img. 171 – 23-3-1657 – Inventário

O inventário é muito extenso (76 pág.) e serve apenas para constatar que o réu era pessoa abastada. Referirei apenas as datas das sessões para sucessivos esclarecimentos pedidos pelos Inquisidores:

23 de Março de 1657

26 de Março de 1657

2 de Maio de 1657

16 de Junho de 1657

21 de Junho de 1657

5 de Julho de 1657

28 de Setembro de 1657

23 de Outubro de 1657

9 de Novembro de 1657

11 de Dezembro de 1657

31 de Maio de 1658

19 de Junho de 1658

22 de Agosto de 1658

26 de Março de 1659

21 de Julho de 1659

1 de Setembro de 1659

16 de Setembro de 1660

24 de Maio de 1661

23 de Agosto de 1661

7 de Setembro de 1661

20 de Outubro de 1661

20 de Dezembro de 1661

25 de Janeiro de 1662

20 de Fevereiro de 1662

8 de Março de 1662

30 de Março de 1662

22 de Abril de 1662

19 de Maio de 1662

20 de Julho de 1662

12 de Setembro de 1662

 

Fls. 124 img. 247 – 12-4-1657 – Genealogia

Para além do mapa supra, há que referir:

O réu tem 40 anos. Seus avós maternos foram Jorge de Andrade e Leonor Mendes, naturais e moradores em Belmonte.

Por parte de sua mãe, teve um tio, Manuel Lopes e uma tia, Guiomar de Andrade; que seu tio foi para Castela onde casou não sabe com quem, nem que filhos teve, sabe que um se chama Jorge mas não sabe onde está, e este tem uma irmã Leonor Mendes que vive no Fundão onde está casada com Francisco Carvalho.  Sua tia Guiomar de Andrade já faleceu e foi casada com Jorge Nunes da Costa de quem teve Nuno da Costa, falecido, que foi casado na Guarda com Maria Henriques, Luísa de Mercado, que vive em Castela e de quem nada sabe, e Leonor Mendes, viúva de Domingos Henriques, e vive na Guarda, e Antónia da Costa, falecida que foi casada com Simão Rodrigues Henriques.

fls. 130 v img.260 – 11-7-1657 – Sessão in genere

Respondeu a todas as perguntas dizendo “que nunca tal fizera”.

fls. 133 img. 265 - 25-8-1657 – Sessão in specie

Disse ser falso o conteúdo de todas as denúncias que lhe foram referidas.

fls. 135 v img. 270 -  9-11-1657 – Admoestação antes do libelo. Libelo. Ouvida a leitura, o réu disse que era tudo falso, e contestava por negação, que tinha defesa e queria que lhe fosse dado um procurador.

fls. 138 v img. 276 – 20-9-1658 – Juramento do procurador L.do Manuel de Lemos. Estância com o procurador.

fls. 140 img. 279 – Traslado do libelo devolvido pelo procurador.

fls. 142 img. 283 – Defesa. Diz que é bom cristão e cumpridor, que não veste camisa lavada aos sábados, mas sim ao domingo, e que, se não come carne de porco e peixe de pele, é por imposição dos médicos. Indica testemunhas.

fls. 143 v img. 286 – 9-10-1658 – Despacho de recebimento da defesa, mandando ouvir as testemunhas indicadas.

fls. 144 img. 287 – 16-12-1658 – A Inquisição de Coimbra acusa a recepção da comissão para interrogar os médicos e justifica o atraso. O Doutor Fernão Magro já faleceu.

fls. 146 img. 291 – 9-10-1658 – Comissão à Inquisição de Coimbra

fls. 147 img. 293 – 16-12-1658 – Audição do médico

- Doutor José de Magalhães, Lente de Medicina – Conhece o réu, a quem curou. Disse que, na convalescença de uma febre podre, ordenou ao réu que se abstivesse de coisas húmidas, que não comesse peixe nem fresco nem salgado e comesse carne de frango e de carneiro.

fls. 151 img. 301 – 9-10-1658 – Comissão ao Dr. Pedro Pacheco, Cónego Magistral da Sé da Guarda, para interrogar testemunhas.

fls. 155 v img. 310 – 24-10-1658 – O relato dos depoimentos está impossível de ser lido. De qualquer modo, por mais favorável que fosse ao réu, nunca era tido em conta…

fls. 169 img. 337 – 15-2-1659 – Requerimento do promotor para publicar a prova da justiça. Admoestação antes da publicação. Publicação da prova da justiça – sete depoimentos. Finda a leitura, o réu disse que era tudo falso, que tinha contraditas com que vir e que queria estar com o seu procurador.

fls. 172 v img. 344 – 17-3-1659 – Estância com o procurador

fls. 173 img. 345 – Traslado devolvido pelo procurador

fls. 174 v img. 348 – O réu pede lhe sejam indicados os lugares onde lhe são dadas as culpas.

fls. 175 img. 349 – 17-3-1659 – O Promotor diz que as 1.ª e 2.ª testemunhas dão as culpas na cidade da Guarda, as 3.ª, 4.ª, 5.ª e 6.ª na cidade de Lisboa e a 7.ª na cidade da Guarda.

Arguição de contraditas: São seus inimigos capitais cinco ou seis irmãos chamados Aires, seus filhos e sobrinhos da cidade da Guarda e com eles não conversava e não comunicava nem de chapéu.  São também seus inimigos seus primos António Fernandes Marques e Diogo de Carvalho Marques.

Seu primo Antão Rodrigues Carvalho também é seu inimigo, porque, tendo-lhe pedido a mãe dele, Ana Nunes, que o levasse de Lisboa para a Guarda, ele o obrigou a ir consigo à força e o entregou à mãe na Guarda.

Fernão Mendes e seus irmãos de Trancoso são seus inimigos porque não lhe quiseram entregar certa quantidade de pão (cereal) como tinham negociado.

Cristóvão de Sá e João Cordeiro são também seus inimigos.  Diz ele réu, que sendo dos mais ricos e com maiores cabedais da Guarda, era muito querido dos Governadores de armas e cabos de milícia da província e por isso muito invejado.

fls. 177 img. 353 – 18-3-1659 – Nomeação de testemunhas

fls. 181 img. 361 – 18-3-1659 – Recebidos os 2.ºs e 3.ºs artigos de contraditas por respeitarem a Nuno Fernandes Marques e o 4.º por respeitar a Antão Rodrigues de Carvalho. Os restantes não foram recebidos ex causa.

fls. 183 img. 365 – 28-3-1658 - Comissão ao Dr. Pedro Pacheco, Cónego Magistral da Sé da Guarda, para interrogar testemunhas.

flls. 187 img. 373 – 23-4-1659 – Audição das testemunhas. Leitura impossível.

fls. 195 img. 389 – 14-6-1659 –Recepção da Comissão da Inquisição de Lisboa pelo Dr. João Veloso de Queirós, Vigário Geral da vila da Torre de Moncorvo.

fls. 196 img. 391 – 26-5-1659 - - Comissão ao Dr. João Veloso de Queirós, Vigário Geral da vila da Torre de Moncorvo, para interrogar uma testemunha.

fls. 198 img. 395 – 14-6-1659 – Audição das testemunhas

- António Borges de Lemos, Juiz das Alfândegas na vila de Freixo, pessoa nobre, de 40 anos- Sabe da inimizade do réu com Jorge Rodrigues da Costa. Quanto ao Antão Rodrigues, apenas sabe que é parente do Jorge Rodrigues da Costa, mais nada.

fls. 201 img. 401 – 28-3-1659 – Comissão da Inquisição de Lisboa à Inquisição de Coimbra para interrogar uma testemunha.

fls. 203 img. 405 – 22-6-1659 – Recepção de uma comissão em Pinhel pelo Dr. João de Brito de Vasconcelos, protonotário.

fls. 204 img. 407 – 26-5-1659 – Comissão da Inquisição de Coimbra ao Dr. João de Brito de Vasconcelos, de Pinhel para interrogar uma testemunha.

fls. 206 img. 411 – 23-6-1659 – Audição de Manuel Pinheiro Freire, oficial da vedoria, de 37 anos – Disse que sabe da inimizade do réu com Jorge Rodrigues da Costa por causa do assento do pão de munição. Sabe também que o réu trouxe Antão Rodrigues de Lisboa para a Guarda contra a vontade deste, mas não sabe mais que isso.

fls. 209 img. 417 – 16-6-1660 – Inquirição da defesa de Nuno Fernandes de Carvalho, feita por Dr. Pedro Pacheco, Cónego Magistral da Sé da Guarda. Termo de juramento.

fls. 210 img. 419 – 2-1-1660 - Comissão da Inquisição de Lisboa ao Dr. Pedro Pacheco, Cónego Magistral da Sé da Guarda, para interrogar testemunhas.

fls. 212 img. 423 – 17-2-1660 – Audição de testemunha

- Brites Nogueira, moça donzela, de 33 anos, irmã de Gaspar Rodrigues Nogueira, prima do Réu, moradora na cidade da Guarda – Sabe que Jorge Rodrigues da Costa ficou com má vontade ao réu por causa do assento do pão de munição.  Disse ainda que, querendo Nuno Fernandes Marques, viúvo, com três filhos pequenos, casar com ela testemunha, o réu deu opinião contrária à mãe e a uma tia dela, por entender que o seu primo Nuno Fernandes Marques era “frouxo”.

fls. 215 img. 429 – 28-1-1660 – Audição de testemunha às contraditas, na Inquisição de Lisboa.

- Diogo Fernandes Anjo, de 57 anos, Advogado em Lisboa – Contou de uma grande discussão entre o réu e seus primos Nuno Fernandes Marques e Diogo Carvalho Marques, em que trocaram palavras azedas e só não chegaram a vias de facto porque ele testemunha se meteu entre eles.

fls. 218 img. 435 – 17-1-1660 – O Solicitador da Inquisição de Lisboa certifica que Luis Gomes, da Guarda, testemunha indicada às contraditas, está ausente nas partes da Holanda.

fls. 219 img. 437 – 14-6-1660 - Requerimento do promotor para mais  publicação. Admoestação antes da publicação. Publicação de mais prova da justiça –  É o depoimento de António de Sotto ou de Souto. Finda a leitura, o réu disse que era tudo falso, que tinha contraditas com que vir e que queria estar com o seu procurador.

fls. 221 img. 441 – 7-7-1660 – Estância com o procurador

fls. 222 img. 443 – 7-7-1660 -  Traslado devolvido pelo procurador. O promotor diz que a testemunha dá a culpa ao réu na cidade da Guarda.  O réu pelo seu procurador declara que não tem matéria para formar artigos de defesa.

fls. 223 img. 445 – 30-7-1660 – Despacho lançando o réu da defesa com que pudera vir. Os Inquisidores vão buscar as contraditas arguidas pela mulher do réu e recebem o n.º 30, respeitante a Grácia da Veiga, Margarida da Veiga e Branca Soares, mulher, cunhada e filha do médico André Soares  e o n.º 31, respeitante a António de Sotto ou de Souto e que “para prova dos artigos recebidos se perguntem as testemunhas que melhor razão tenham de saber o contido nos ditos artigos(…)”

fls.224 img.447 – 30-7-1660 -– Comissão da Inquisição de Lisboa à Inquisição de Coimbra para interrogar testemunhas.

fls. 226 img. 451 – 12-8-1660 – Audição de testemunhas na Inquisição de Coimbra

- Paulo Fernandes, barbeiro e solicitador, de 50 anos – Disse que não conhece a António de Sotto e por isso nada sabe da contradita.

- José Ferreira, alfaiate, de 42 anos – como a testemunha anterior.

- Inácio Ferreira, boticário, de 47 anos – como as testemunhas anteriores.

fls. 229 img. 457 – 18-9-1660 - As pessoas da antiga vizinhança de André Soares, médico, que entretanto se mudou, nada disseram da matéria das contraditas da mulher do réu a respeito da mulher, cunhada e filha deste.

fls. 230 img. 459 – 27-9-1660 – Assento da Mesa

“(…) e pareceu a todos os votos excepto ao Inquisidor Dom Veríssimo de Lancastro que o Réu pela prova da justiça estava legitimamente convencido em o crime de heresia e apostasia de judaísmo por que foi preso e acusado, visto deporem contra ele oito testemunhas, duas que dizem ser cristãs velhas, e depõem de cerimónias judaicas, e que não podem ter outro sentido, que o de serem feitas por observância da Lei de Moisés, e seis de declaração em forma nas ditas culpas, em que entram Nuno Fernandes Marques e Antão Rodrigues de Carvalho, primos do Réu, cujos ditos não estão debilitados com o que contra eles alegou em os artigos 2.º, 3.º e 4.º de suas contraditas, que lhe foram recebidas, assim por se mostrar delas mais a amizade e correspondência que entre si tinham, como por não estarem juridicamente provadas em razão de serem todas as testemunhas de nação dos cristãos novos e primos do Réu, e estarem mais corroborados os ditos de António do Souto, Grácia da Veiga, Margarida da Veiga e Branca Soares, com o que em nome do Réu, alegou sua mulher Antónia Nunes em as contraditas que ofereceu nesta Mesa, juntas a estes autos,  em os artigos 30 e 31, que também lhe foram recebidas, assim por as não provar, como porque, podendo-se duvidar do crédito das ditas Grácia da Veiga, sua irmã e filha, em razão de serem naturais e moradoras nesta Cidade e o Réu na da Guarda, se mostra pela matéria deduzida em o dito artigo o conhecimento e amizade que tinham e tanta que não podia a contraditada Grácia da Veiga ter ódio ao Réu pela causa que se alega e ainda se confirma mais com lhe darem a declaração e comunicação na casa de Manuel Lopes Carvalho, irmão do Réu, e que o artigo diz que solicitava a ré casada para ilícita conversação, e serem contestes do mesmo acto, Margarida da Veiga e Branca Soares; e que ele como herege apóstata de nossa santa Fé católica, negativo, convicto e pertinaz, devia ser relaxado à justiça secular, servatis servandis, e que incorreu em sentença de excomunhão maior e em confiscação de todos seus bens para o fisco e Câmara Real e nas mais penas de Direito, e que deveria ser havido por herege pela prova da Justiça mais concludente do ano de 1652 em diante. E ao dito Inquisidor Dom Veríssimo de Lancastro pareceu que o Réu, pela prova da Justiça não estava legitimamente convencido nas ditas culpas, por estarem  debilitados os ditos testemunhos de Nuno Fernandes e Antão Rodrigues com o que se alegou e provou na forma que pode ser contra eles nas contraditas do Réu, mas que, visto o terem-se decretado nesta mesa a prisão muitas pessoas da cidade da Guarda, e algumas que têm parentesco com o Réu,, deverá ficar reservado no cárcere, por ser provável acresça mais prova (…)

fls. 232 img. 463 – 1-10-1660 – Assento da Mesa do Conselho Geral

“(…)  e assentou-se que, antes de outro despacho, seja o Réu posto a tormento e nele tenha todo o que puder sofrer e satisfeito, se tornará a ver em Mesa este processo, com o Ordinário e Deputados e com o assento que nele se tomar, se enviará ao Conselho.”

fls. 234 img. 467 – 2-10-1660 – Admoestação antes da sentença do tormento

fls. 235 img. 469 – Sentença do tormento

fls. 235 v img. 470 – 2-10-1660 – Na casa do tormento

“(…) e pelo Réu foi dito que não tinha que confessar.  E então foi começado a atar no potro em que se lhe deu o tormento, por o médico e cirurgião dizerem não convinha fosse na polé por achaques de que o tinham curado, e sendo atado com a primeira volta, ia o Réu gritando, dizendo que lhe acudisse Deus que pode, e se foi continuando o tormento dando-lhe outra volta nas polpas das pernas e por o cirurgião e médico dizerem que o Réu tinha achaques de asma e pernas delgadas, e não podia levar mais tormento, o mandaram os ditos Senhores desatar, e por assim ser assinam aqui (…)”

fls. 237 img. 473 – 2-10-1660 Assento da Mesa

Foram vistos 2.ª vez na Mesa do S.to Ofício (…)  depois de se executar o assento do Conselho Geral  de 1 do dito mês de Outubro, por que foi mandado pôr a tormento;  e pareceu a todos os votos pelo urgentes indícios que ainda resultam contra ele de viver apartado de nossa Santa Fé Católica, e de ter crença na Lei de Moisés, que ele vá ao auto público da Fé e que nele ouça sua sentença: e faça abjuração de vehementi de suspeito na fé e terá cárcere a arbítrio e sua instrução ordinária e penas e penitências espirituais e pagará duzentos mil réis para as despesas do S.to Ofício, não excedendo a terça parte de seus bens e as custas (…)”

fls. 238 img. 475 – 5-10-1660 – Assento da Mesa do Conselho Geral

“(…) e assentou-se que é bem julgado pelos Inquisidores, o Ordinário e Deputados em determinarem que ele vá ao Auto público da Fé na forma costumada e nele ouça sua sentença  e faça abjuração de vehementi suspeito na fé,  e tenha cárcere a arbítrio dos Inquisidores, a instrução ordinária e penitências espirituais e que pague as custas. Confirmam suas sentenças por seus fundamentos e pelo mais dos autos; mandam que se cumpra e que pague mil cruzados para as despesas do Santo Ofício.”

Fls. 240 img. 479 – 12-10-1660 – Os inquisidores Francisco Barreto e Veríssimo de Lancastro  apresentam ao Conselho Geral um requerimento que é uma bomba: em 7 de Outubro do mesmo ano de 1660, apareceu contra o réu uma denúncia de declaração de judaísmo em forma do primo do réu Simão Rodrigues Aires (Pr. n.º 4604), filho de Guiomar Nunes; o réu não pode ir-se embora assim sem ter confessado. O Conselho Geral concorda que se publique essa culpa.

fls. 242 img. 483 – 12-10-1660 - Requerimento do promotor para mais  publicação. Admoestação antes da publicação. Publicação de mais prova da justiça – Referem-se três denúncias de declaração de judaísmo em forma. Na terceira, diz-se  “haverá três anos e um mês” o réu se achou em certo lugar, etc. Consultando o proc. n.º 4604, constata-se que a denúncia dizia: “Disse mais que em 10 do mês de Setembro do ano de 1657 (…)”. Ora, o réu estava preso desde Janeiro de 1657… por isso a denúncia é falsa.

fls. 244 v img. 488 – 13-10-1660 - - Requerimento do promotor para mais  publicação. Admoestação antes da publicação. Publicação de mais prova da justiça – É o depoimento de seu primo Antão Rodrigues Francês ou de Carvalho (Proc. n.º 11468), filho de seu tio Simão Fernandes.

Em ambas as publicações, o réu disse que queria reagir através do seu procurador.  Estância com o procurador.

fls. 249 v img. 498 – Defesa. Argui a coarctada por uma culpa lhe ser dada há três anos, quando ele já estava preso.

fls. 250 img. 499 – 13-10-1660 – Despacho de recebimento das contraditas, incluindo as arguidas pela esposa do réu.

fls. 251 img. 501 – 5-2-1661 – Audição de testemunhas no Guarda pelo Dr. Pedro Pacheco, Cónego Magistral da Sé da Guarda.

fls. 252 img. 503 – 5-1-1661 - Comissão da Inquisição de Lisboa ao Dr. Pedro Pacheco, Cónego Magistral.

fls. 256 img. 511 – 6-2-1661 – Audição das testemunhas

- Luis de Basto Saraiva, fidalgo da Casa de Sua Majestade, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Mestre de Campo da gente da Raia da Província da Beira, de 55 anos, morador em Benespera, termo da Guarda – Disse que são inimigos do réu, Pedro Aires e Jorge Rodrigues da Costa.

9-2-1661

- Reverendo Luis Barbosa, Cónego prebendado da Sé da Guarda, de 72 anos – referiu as mesmas inimizades.

- Manuel da Costa Pacheco, homem nobre, de 56 anos

- António Lopes, alfaiate, de 75 anos

fls. 263 img. 525 – 15-2-1661 –

- Manuel de Almeida, latoeiro, de 66 anos, natural e morador na cidade da Guarda -

18-2-1661 –

- Nome ilegível

22-2-1661

- Reverendo Domingos Pereira de Paiva, de 75 anos

- Reverendo Henrique Nunes, Beneficiado, natural da vila de Sabugosa, Bispado de Viseu  e residente na cidade da Guarda, de 57 anos

- Cristóvão Gonçalves Celeiro

- 8-3-1661

- Gaspar João

15-3-1661

- P.e João de Pena Botelho

17-3-1661

- António Pinheiro

- Manuel Rebelo

20-3-1661

- Luis de Paiva de Sá

- Manuel Fernandes Belo

25-3-1661

- Manuel de Andrade

- Manuel Borges

28-3-1661

- Adriano Fernandes

fls. 287 img. 573 – 20-3-1661 – Outra Comissão para o mesmo Dr. Pedro Pacheco

- Dr. Manuel Falcão, de Pinhel

22-3-1661

- Pedro de Pina Carvalho

23-3-1661

- Dr. João Freire de Melo

24-3-1661

- Cristóvão de Sá

26-3-1661

- Reverendo Manuel Rodrigues Piteira

29-3-1661

- Luis de Paiva de Sá

fls. 304 img. 607 – 24-3-1661 - - Requerimento do promotor para mais  publicação. Admoestação antes da publicação. Publicação de mais prova da justiça. É a denúncia de seu primo Nuno da Costa Aires. Ouvida a leitura disse que era tudo falso e queria estar com o Procurador para arguir contraditas.

fls. 306 img. 611 – 28-3-1661 – Estância com o procurador. Traslado devolvido pelo procurador. O réu desiste de arguir contraditas.

fls. 307 v img. 614 – 28-3-1661 – Despacho  dos Inquisidores: “Visto como estando o réu (…) com seu procurador para formar as contraditas que tivesse, não veio com elas, o lançamos das com que pudera vir”.

fls. 308 v img. 616 – 27-7-1662 – O escrivão faz o processo concluso.

fls. 309 img. 617- 27-7-1662 – Assento da Mesa

Foi o 3.º Assento. É muito longo, tem 7 páginas. Possivelmente, pela diversidade das posições, pela confusão dos argumentos, não foi seguido de um Assento do Conselho Geral, isto é,  ficou praticamente sem efeito. Apenas para contar a história, referirei as diversas posições:

- O Inquisidor Francisco Barreto e o Deputado Martim Afonso de Melo  queriam que fosse relaxado à justiça secular;

-O Inquisidor D. Veríssimo de Lancastro, e os deputados Bispo de Targa, Antão de Faria da Silva, Fr. António da Encarnação, e João de Castilho queriam que se repetisse  o tormento;

- Os Deputados D. Rodrigo da Cunha de Saldanha e Pedro Mexia de Magalhães, que ficasse reservado no cárcere, à espera de mais prova.

fls. 313 img. 625 – 9-9-1662 - - Requerimento do promotor para mais  publicação. Admoestação antes da publicação. Publicação de mais prova da justiça. É a denúncia de seu tio Jorge Rodrigues da Costa. Ouvida a leitura disse que era tudo falso e queria estar com o Procurador para arguir contraditas.

fls. 315 v img. 630 – 9-9-1662 – Defesa. Coarcta a testemunha que lhe dá a culpa há 35 anos. Ora, nessa altura, tinha ele réu 10 anos e seria inábil para fazer as declarações que são referidas.  Indica testemunhas.

fls. 317 v img. 634 – 9-9-1662 – Despacho de rejeição das contraditas. A testemunha diz que o réu tinha 15 anos e, assim, não vale já a objecção do réu. Isto mesmo que a testemunha tivesse dito que os factos são de há 35 anos.

fls. 319 img. 637 – 11-9-1662 - Requerimento do promotor para mais  publicação. Admoestação antes da publicação. Publicação de mais prova da justiça. É a denúncia de Simão Rodrigues Neto. Ouvida a leitura disse que era tudo falso e queria estar com o Procurador para arguir contraditas.

fls. 321 img. 641 – 11-9-1662 – Estância com o procurador

fls. 322 v img. 644 – 11-9-1662 – O réu oferece as contraditas já apresentadas e não apresenta novas.

fls. 323 img. 345 – 11-9-1662 – Despacho ““Visto como estando com seu procurador (…) para lhe formar de novo suas contraditas, não veio com elas o lançamos e havemos por lançado das com que pudera vir”.

fls. 323 v img. 646 – 12-9-1662 – Processo concluso

fls. 324 img. 647 – 11-9-1662 (sic) – Assento da Mesa

É o 4.º Assento. Desta vez há duas posições:

- Os Inquisidores Francisco Barreto e Dom Veríssimo de Lancastro e os Deputados Martim Afonso de Melo, Antão de Faria da Silva, D. Rodrigo da Cunha de Saldanha e João de Castilho, são de opinião que o Assento de 27 de Julho não se encontra alterado a respeito do que cada um dos ditos votos que nele tinham votado;

- O Deputados Francisco de Miranda Henriques, que de novo votou, Bispo de Targa, P.e Mestre Fr. António da Encarnação e Pedro Mexia de Magalhães, são de opinião que o réu está convicto no crime de heresia e apostasia, pela prova que lhe acresceu depois da decisão de o pôr a tormento e portanto deve ser relaxado à justiça secular.  Como é evidente, a este grupo devem juntar-se os votos do Inquisidor Francisco Barreto e Deputado Martim Afonso de Melo do grupo anterior.

fls. 325 img. 649 – 12-9-1662  - Processo concluso

fls. 326 img. 651 – 12-9-1662 – Assento da Mesa do Conselho Geral

Foram vistos na Mesa do Conselho Geral estes autos e culpas contra Nuno Fernandes Carvalho, cristão novo, homem de negócio, natural e morador na cidade da Guarda, neles contido, com o que acresceu depois do Assento de 12 de Outubro e assentou-se que ele está convicto no crime de heresia e apostasia e que como herege e apóstata de nossa santa Fé católica, convicto, negativo e pertinaz, seja relaxado à justiça secular (…)”

fls. 328 img. 655 – 12-9-1662 - Auto de notificação de que foi relaxado, prevista no ponto II, XV, I do Regimento

fls. 330 img. 659 - 15-9-1662 - Auto de notificação de mãos atadas, prevista em II, XV,V do Regimento. Ficou com ele o P.e Jorge da Costa, da Companhia de Jesus.

 

fls. 331 img. 661 – Sentença

fls. 333 img. 665 – Publicada a sentença no auto da fé de 17-9-1662. No mesmo auto da fé morreram sua tia Guiomar Nunes (Pr. n.º 10460), sua prima Luísa de Almeida (Pr. n.º 8629) e seus primos Diogo Rodrigues Flores (Pr. n.º 11417) e Francisco da Costa (Pr. n.º 11461).

fls.334 img. 667 – Conta de custas: 15$486 réis

 

 

 

 

Processo n.º  2838 de  Simão Rodrigues Aires, RELAXADO, natural e morador na cidade da Guarda, de 28 anos, solteiro

 

fls. 4 img. 7 – 4-9-1660 – Mandado de prisão

fls. 5 img. 9 – 4-10-1660 – Entrada na prisão dos Estaus

fls. 6 img. 11 – Planta do cárcere

CULPAS:

fls. 7 img. 13 – Depoimento de 1-9-1660, de seu primo Simão Rodrigues Aires  (Pr. n.º 4604), filho de Francisco da Costa Aires e de Guiomar Nunes

fls. 9 img. 17 – 2-9-1660 – Com uma única testemunha, o Promotor de Justiça requer  a prisão do réu, justificando-se assim:  “(…) resulta prova bastante para o delato ser preso, principalmente estando decretadas a prisão de seu pai, três tios e outros parentes pelas mesmas culpas e é de presumir que, como todos se comunicam na crença da lei de Moisés, que ele nela vive, por se criar em companhia do dito seu pai,  e viver com todos sempre na mesma terra, e haver informação nesta Mesa que a gente dos cristãos novos da Guarda vive na dita lei e a família do delato é mais infamada neste particular, e a dita cidade da Guarda é terra nova, em respeito das poucas prisões que nela se têm feito e executando-se as que estão para fazer no dito seu pai e parentes se pode crer que se ausentara a fim de não ser preso pelo Santo Ofício.

Assento da Mesa – 2-9-1660 – Os Inquisidores Francisco Barreto e Francisco de Miranda Henriques, foram de parecer que se procedesse à prisão imediata do réu, usando os mesmos argumentos do Promotor. O Inquisidor Veríssimo de Lancastro queria  que se adiasse, aguardando por mais prova: “(…)visto ser uma só testemunha e o parentesco não ser dos de primeiro grau, não era a prova bastante para o delato ser por ela preso e que se devia esperar que lhe acrescesse mais prova e que esta se reporte (…)”

fls. 11 img. 21 – 3-9-1660 – Assento do Conselho Geral

O Conselho Geral decretou a prisão imediata, achando que aquela culpa era bastante para ele ser preso.

fls. 13 img. 25 – Dep. de 15-11-1660, de sua prima Isabel Gomes (Pr. n.º 8624), casada com Simão Rodrigues Aires – há 13 anos.

fls. 14 v img. 28 – Dep. de 9-2-1661, de seu tio Nuno da Costa Aires (Pr. n.º 141) – Há doze anos.

fls. 16 img. 31 – Dep. de 11-3-1661 de seu primo Francisco Rodrigues Flores (Pr. n.º 10459), filho de Aires Rodrigues da Costa – Há treze ou catorze anos.

fls. 18 v img. 36 – Dep. de 28-11-1661 de Francisco Rodrigues Flores rectificando o depoimento anteriormente prestado.

fls. 20 img. 39 – Dep. de 5-9-1662  de seu tio Diogo Rodrigues da Costa (Pr. n.º 10496) – Há doze anos.

fls. 21 v img. 42 – Dep. de 5-9-1662 de seu primo Simão Rodrigues Neto (Pr. n.º 11901) – Há seis ou sete anos.

fls. 23 img. 45 – Outro dep. de 6-9-1662, de seu primo Simão Rodrigues Neto

fls. 26 img. 51 – Outro dep. de 9-9-1662, do seu primo Simão Rodrigues Neto

fls. 27 v img. 54 – Dep. de 30-1-1663 de sua prima Luísa de Almeida (Pr. n.º 4500, de Coimbra), filha de Nuno da Costa Aires – Há dois anos.

fls. 29 img. 57 – Dep. de 20-8-1663 de sua prima Guiomar Nunes (Pr. n.º 2777 de Coimbra), filha de Nuno da Costa Aires – Há quatro anos

fls. 31 img. 61 – Dep. de 24-3-1664 de Jorge Nunes da Costa (Pr. n.º 2678), filho de Nuno da Costa de Andrade, falecido – Há oito anos

fls. 32 v. img. 64 – Dep. de 8-5-1664, de Francisco Mendes Paredes (Pr. n.º 2688), curtidor – Há cinco anos.

fls. 34 img. 67 – Dep. de 13-5-1664, de Simão Gomes de Almeida (Pr. n.º 2836) – Há 15 anos.

fls. 36 img. 71 – Dep. de 6-8-1664, de sua madrasta Maria Henriques (Pr. n.º 7021) – Há 20 anos.

fls. 37 v img. 74 – Dep. de 8-8-1664, de sua prima Ana Nunes (Pr. n.º 11018) – Há nove anos.

fls. 39 img. 77 – Dep. de 10-8-1664, de sua prima por afinidade Clara do Porto (Pr. n.º 10498) – Há oito anos.

fls. 42 img. 83 – 15-11-1660 – Inventário

Embora seja herdado de sua falecida mãe, todos os bens estão na posse de seu pai. Tem algumas moedas de dinheiro de bolso.

fls. 43 img. 85 – 12-11-1660 – Genealogia

Para além do mapa supra, há que referir:

Tem 28 anos. Seus avós maternos foram Duarte Rodrigues Fragoso e Mécia Nunes:

Da parte de sua mãe, não tem tios nem tias.

fls. 47 img. 93 – 14-1-1661 – Sessão in genere.

Respondeu negativamente a todas as perguntas.

fls. 49 v  img. 98– 4-3-1661 – Sessão in specie

Disse ser falso o conteúdo de todas as denúncias que lhe foram referidas.

fls. 51 v img. 102 – 5-3-1661 - – Admoestação antes do libelo. Libelo. Ouvida a leitura, o réu disse que era tudo falso, e contestava por negação, que tinha defesa e queria que lhe fosse dado um procurador.

fls. 53 v img. 106 – 8-3-1661 – Juramento do procurador que foi dado ao réu, Licenciado Domingos Vieira do Souto. Estância com o procurador.

fls. 55 img. 109 – Traslado devolvido pelo procurador.

fls. 56 v img. 112 – Defesa – contestação por negação.

1-É bom cristão e temente a Deus.

2-Sempre cumpriu as obrigações de cristão indo à Missa nos domingos e dias santos, confessando-se e comungando na Quaresma e não só.

3-Sempre comeu toda a espécie de carne, de coelho, toucinho e de porco e toda a espécie de peixe, quer de escama quer de pele. Se as testemunhas disseram o contrário, é porque são seus inimigos.

Indica testemunhas de defesa.

fls. 58 img. 115 – 8-3-1661 – Despacho de recebimento da defesa, mandando enviar comissão à Guarda para ouvir as testemunhas.  O réu é referido como Simão Rodrigues Aires, o Moço.

fls. 59 img. 117 – 13-6-1661 – Recebimento da comissão na Guarda pelo Doutor Pedro Pacheco, Cónego Magistral da Sé da Guarda.

fls. 60 img. 119 –10-3-1661 -  Comissão da Inquisição de Lisboa ao Doutor Pedro Pacheco, Cónego Magistral da Sé da Guarda, para interrogar testemunhas.

fls. 64 img. 127 – 14-6-1661 – Audição das testemunhas

- Miguel de Melo, clérigo de Epístola, natural e morador na Guarda, de 23 anos – Conhece o réu e tem-no em muito boa conta. Sabe que é bom cristão e que frequenta a Igreja. Também o viu confessar-se e comungar.

- Miguel Rodrigues Mota, alfaiate, natural de Torre de Moncorvo e morador na Guarda, de 44 anos – Tem o réu na conta de bom cristão, pois frequenta as igrejas e os sacramentos e ouve com atenção as pregações.

20-6-1661

- Manuel da Costa, Boticário, natural de Soure, e morador na Guarda, de 21 anos – O réu é bom cristão. Ia com ele muitas vezes à Missa aos domingos  e feriados e ouvia as pregações.

23-6-1661

- Miguel Lopes, jornaleiro e trabalhador de enxada, natural de Vila Chã, termo de Viseu e residente na Guarda, de 24 anos – tem o réu em muito boa conta em razão da sua cristandade, vida e costumes. Era moço bem inclinado e amigo de ir à Igreja, à Missa e às pregações.  Quando saía com ele testemunha, o réu comia toda a espécie de carne, incluindo porco, toucinho e coelho e toda a espécie de peixe, quer de escama quer de pele.

7-7-1661

- Manuel Luis, almocreve, natural de Aldeia Nova da Teixeira, termo da Guarda, de 50 anos – disse não poder pronunciar-se sobre a sua cristandade porque não teve ocasião de o ver ir à Igreja ou ouvir Missa.  Nunca viu o réu comer carne de porco, mas também não sabe se a comia ou não, assim como de coelho ou lebre.

17-7-1661

- Manuel Fernandes, de Benespera, jornaleiro, natural de Maçainhas de Belmonte, de 25 anos – disse que, como esteve na companhia do réu apenas quinze dias, nada sabe dizer sobre a sua cristandade, vida e costumes.

19-7-1661

- Maria Francisca Pereira, do lugar de Vela, termo da Guarda, natural do lugar de Freixo, termo da vila de Castelo Mendo, de 50 anos – Conhece o réu por o ver muitas vezes na quinta que o pai dele tinha no lugar da Vela; tem-no na conta de bom cristão e via-o ir à Missa com as contas na mão.

- Reverendo Miguel Mendes da Fonseca, Prior da Igreja de S. Vicente da Cidade da Guarda, de 62 anos – Tem o preso em muito boa conta, em razão da sua cristandade, vida e costumes. Confessava-se na quaresma e ouvia sempre Missa nos dias de obrigação.

fls. 75 img. 149 – 17-5-1661 - - Requerimento do promotor para publicação da prova da justiça. Admoestação antes da publicação. Publicação da prova da justiça. São quatro testemunhos.  Ouvida a leitura disse que era tudo falso e queria estar com o Procurador para arguir contraditas.

fls. 78 img. 155 – 18-5-1661 – Estância com o procurador L.do Domingos Vieira do Souto.

fls. 79 img. 157 – Traslado devolvido pelo procurador. Arguição de contraditas contra Manuel Gomes, Jorge Nunes da Costa, Simão Rodrigues Aires, filho de Francisco da Costa, seu tio, Francisco Carvalho Nogueira e seus irmãos Gaspar Rodrigues Nogueira e sua irmã Brites e Nuno Fernandes Carvalho e seus filhos, Manuel Lopes e Diogo Nunes.

fls. 82 img. 163 – 18-5-1661 – Nomeação de testemunhas

fls. 83 v img. 166 – 19-5-1661 – Despacho recebendo apenas o n.º 3 das contraditas respeitantes a Simão Rodrigues Aires, filho de Francisco da Costa. As testantes foram rejeitadas ex causa.

fls. 84 img. 167 – 19-9-1661-  Recebimento da comissão na Guarda pelo Doutor Pedro Pacheco, Cónego Magistral da Sé da Guarda.

fls. 85 img. 169 –23-5-1661 -  Comissão da Inquisição de Lisboa ao Doutor Pedro Pacheco, Cónego Magistral da Sé da Guarda, para interrogar testemunhas.

fls. 87 img. 173 – 19-9-1661 – Audição de testemunha

- Francisco Vaz Pereira, natural de Vila Flor, residente na Guarda, de 29 anos –Há cerca de 6 anos, quis o réu casar com Isabel Gomes, filha de seu tio Brás da Costa. Sabendo disso, o seu tio Francisco da Costa pôs-se à frente e conseguiu que ela casasse com seu filho chamado também Simão Rodrigues Aires e assim ficaram inimigos. Também são inimigos porque esse seu primo Simão Rodrigues Aires, filho de Francisco da Costa, desonrou uma moça, filha bastarda do tio Manuel da Costa, falecido, que estava em casa do réu, do que ficaram muito zangados.

fls. 91 img. 181 – 31-10-1662 - Requerimento do promotor para publicação de mais prova da justiça. Admoestação antes da publicação. Publicação da prova da justiça. São cinco testemunhos da 5.ª à 9.ª testemunhas.  Ouvida a leitura disse que era tudo falso e queria estar com o Procurador para arguir contraditas.

fls. 95 img. 189 – Traslado devolvido pelo procurador. Arguição de contraditas contra seu tio Diogo Rodrigues da Costa e seus filhos Francisco, António e Luisa.

fls. 97 img. 193 – 9-11-1662 – Nomeação de testemunhas

fls. 98 img. 195 – 10-11-1662 – Despacho de recebimento das contraditas

fls. 99 img. 198 – 23-3-1664 – Recebimento na Guarda da Comissão da Inquisição de Lisboa

fls. 100 img. 199 – 6-4-1663 – Comissão da Inquisição de Lisboa a Clemente da Fonseca Pinto, Chantre da Sé da Guarda e Comissário do Santo Ofício para interrogar testemunhas às contraditas.

fls. 104 img. 207 – 23-3-1663 – Audição de testemunhas

- Maria, solteira, filha de João da Costa e de Catarina Lourenço, de 26 anos, moradora em Miuzela, termo de Castelo Mendo, que foi criada de Diogo Rodrigues da Costa – disse que não sabia de dúvidas ou brigas que o réu tivesse com alguém. Disse depois que havia algumas zangas entre o pai do réu e Diogo Rodrigues da Costa mas que depois se tornavam a falar. Esteve ela 11 anos a servir em casa de Diogo Rodrigues da Costa.

15-4-1664 –

- Domingas Nunes, mulher de João Rodrigues, moleiro, natural de Sobral da Serra, termo da Guarda, de 30 anos – Disse que o réu tinha inimizade com seu tio Diogo Rodrigues da Costa, por este continuamente pedir dinheiro e coisas ao pai dele e por isso estiveram tempos sem se falarem.

- Mariana de Cáceres, mulher de Miguel Rodrigues, alfaiate, de 60 anos – Foi vizinha do réu durante nove anos.  Não tem ideia de que houvesse brigas entre o réu e os seus familiares.

fls. 109 img. 217 – 17-4-1664 – O escrivão, P.e João Pedro Caramelo certifica que Brites Gomes, cristã nova, mulher de Francisco Carvalho está ausente há mais de dois anos, constando que saiu do Reino.

fls. 110 img. 219 – 29-10-1663 - - Requerimento do promotor para publicação de mais prova da justiça. Admoestação antes da publicação. Publicação da prova da justiça. São dois testemunhos de Luisa de Almeida e Guiomar Nunes.  Ouvida a leitura disse que era tudo falso e queria estar com o Procurador embora não queria arguir contraditas.

fls. 112 img. 223 – 29-10-1663 – Estância com o procurador

fls. 113 img. 225 – Traslado devolvido pelo procurador. Requer que sejam consideradas as contraditas anteriormente arguidas.

fls. 113 v img. 226 – 29-10-1663 – Despacho: “Visto, como estando o Réu, Simão Rodrigues Aires com seu Procurador para lhe formar suas contraditas, não veio com elas, o lançamos e havemos por lançado das com que pudera vir; e em razão dos testemunhos que de novo acresceram e ultimamente se publicaram, se tornaram a ver as contraditas com que tem vindo, e nelas se não achou que receber. Mas ex officio, e na forma do Regimento, visto o estado da causa, se faça diligência na cidade da Guarda para se saber se houve brigas ou diferenças entre o Réu e algumas pessoas da nação dos cristãos novos, em que forma, em que tempo e a que chegaram, e se depois tornaram a correr em amizade, e também sobre o crédito, fama e reputação das oito testemunhas da justiça e para elas se passe comissão. Lisboa e mesa, 29 de Outubro de 1663.”

fls. 115 img. 229 – 19-11-1663 – Recebimento na Guarda da comissão da Inquisição de Lisboa

fls. 116 img. 231 – 5-11-1663 - Comissão da Inquisição de Lisboa a Clemente da Fonseca Pinto, Chantre da Sé da Guarda e Comissário do Santo Ofício para interrogar testemunhas.

fls. 118 img. 235 – 20-11-1663 – Audição de testemunhas

- Reverendo Miguel Mendes da Fonseca, Prior da Igreja de S. Vicente da cidade da Guarda, de 64 anos – disse que há cerca de quatro anos, o Réu teve uma briga grossa com Jorge Nunes da Costa, filho de Maria Henriques e que nunca mais se falaram. Não sabe de mais brigas, mas até as poderia ter “por ser moço revoltoso e se prezar de valente e ser naturalmente inclinado a tomar vingança dos agravos que se lhe faziam”.

- Reverendo Frei Mateus Barbosa de Araújo, Prior de Nossa Senhora do Mercado da cidade da Guarda, natural de Ponte de Lima, de 50 anos – sabia que o Réu era inquieto e revoltoso e que muitas vezes fez brigas na cidade com várias pessoas de nação, mas que ele testemunha se não lembra das pessoas com quem foram as ditas brigas.

21-11-1663

- Manuel Fernandes Belo, barbeiro, natural e morador na cidade da Guarda, de 55 anos – disse que há sete ou oito anos, o Réu teve dúvidas e diferenças com seus primos Simão Rodrigues Neto e Diogo Rodrigues Flores e chegaram a puxar das espadas, e não sabe ao certo de que surgiram, mas que depois disso tornaram a ser amigos. E que possivelmente ainda teve mais brigas que lhe não lembram, pois o Réu era inquieto e turbulento.

- Amaro Rodrigues, natural e morador na Guarda, de 55 anos – disse que o réu era inquieto e revoltoso e teve muitas brigas na cidade com cristãos novos mas também com cristãos velhos, mas que no momento não se lembra com quem.

22-11-1663

- Pedro de Pina Carvalho, Comendador do Hábito de S. Bento, de 44 anos – sabe que o réu teve muitas brigas: há quatro ou cinco anos com Jorge Nunes da Costa, não sabe porquê; há três ou quatro anos com Manuel Gomes Lisboa; com Simão Rodrigues Neto e com Simão Rodrigues Aires, seu primo, por causa de um casamento.

- Miguel Rodrigues, alfaiate, natural da vila de Torre de Moncorvo, de 48 anos – Sabe que o Réu teve muitas brigas com muita gente na cidade, mas que agora se não lembra com quem.

fls. 124, img. 247 – 19-11-1663 - Recebimento na Guarda da comissão da Inquisição de Lisboa

fls. 125 img. 249 - – 5-11-1663 - Comissão da Inquisição de Lisboa a Clemente da Fonseca Pinto, Chantre da Sé da Guarda e Comissário do Santo Ofício para se aferir do crédito das testemunhas que haviam denunciado o réu.

fls. 127 img. 253 – 20-11-1663 – Audição das testemunhas

- Reverendo Miguel Mendes da Fonseca, Prior da Igreja de S. Vicente da cidade da Guarda, de 64 anos – disse que Simão Rodrigues Neto e seu tio Diogo Rodrigues da Costa, por alcunha o Mentiroso, não estavam reputados na cidade por homens de muito crédito, nem tinham boa fama, antes pelo contrário. Ambos são reputados na cidade por homens de pouca palavra e crédito, pelo que aos seus ditos se não deve dar juízo inteiro. Quanto a Guiomar Nunes, filha de Nuno da Costa Aires, não sabe ele testemunha que dizer porque não a conhece e não sabe.

- - Reverendo Frei Mateus Barbosa de Araújo, Prior de Nossa Senhora do Mercado da cidade da Guarda, natural de Ponte de Lima, de 50 anos – disse que Simão Rodrigues Neto e seu tio Diogo Rodrigues da Costa são homens a que se não deve dar muito crédito, por estarem acostumados a mentir, tanto que a Diogo Rodrigues da Costa lhe puseram a alcunha de mentiroso. Quanto a Guiomar Nunes parece-lhe ser boa moça e ajuizada e que se lhe pode dar inteiro crédito.

21-11-1663

- Amaro Rodrigues, natural e morador na Guarda, de 55 anos – como o anterior

-- Manuel Fernandes Belo, barbeiro, natural e morador na cidade da Guarda, de 55 anos –, como os anteriores no que toca a Simão Rodrigues Neto e seu tio Diogo Rodrigues da Costa. Quanto a Guiomar Nunes não a conhece e nada pode dizer.

22-11-1663

- - Pedro de Pina Carvalho, Comendador do Hábito de S. Bento, de 44 anos –Como o anterior.

- Miguel Rodrigues, alfaiate, natural da vila de Torre de Moncorvo, de 48 anos –como o anterior.

fls. 134 img. 267 – No processo fazem-se aqui duas transcrições de outros:

Cópia da diligência feita na cidade da Guarda sobre o crédito de Simão Rodrigues Aires, Isabel Gomes, mulher do mesmo, Nuno da Costa Aires e Francisco Rodrigues Flores, todos da mesma cidade”, copiado a fls. 98 img. 195, do Proc. n.º 10461, de Francisco da Costa:

e “Cópia da diligência feita na Guarda sobre o crédito de Luisa de Almeida, filha de Nuno da Costa Aires”, copiado a fls. 122 img. 243 do proc. n.º 9073 de Maria Teles.

Estas avaliações feitas sobre o crédito têm pouco ou nenhum interesse, pois já sabemos que as denúncias são totalmente falsas. As famílias Carvalho e Aires pertenciam à burguesia cristã nova e tinham muitos interesses, mas nenhum em andar a declarar o seu judaísmo em forma para a Inquisição os condenar. E, se houvesse judaísmo,  seriam os cristãos velhos os primeiros a denunciá-los o que não aconteceu.

fls. 151 img. 301 – 27-5-1664 - Requerimento do promotor para publicação de mais prova da justiça. Admoestação antes da publicação. Publicação da prova da justiça. São dois testemunhos de Jorge Nunes da Costa e Francisco Mendes de Paredes.  Ouvida a leitura disse que era tudo falso. mas não queria arguir contraditas. De qualquer modo, o Inquisidor mandou-o  estar com o Procurador.  Estância com o Procurador.

fls. 154 img. 307 – Traslado devolvido pelo Procurador.

fls. 154 v img. 308 – 27-5-1664 – Pelo seu Procurador, o réu oferece as contraditas anteriormente apresentadas.

fls. 155 img. 309 – 28-5-1664 – Despacho sobre as contraditas.  Os Inquisidores vão buscar as contraditas respeitantes a Jorge Nunes da Costa.

fls 156 img. 311- 9-6-1664 – Recebimento  na Guarda de uma comissão da Inquisição de Lisboa a Clemente da Fonseca Pinto, Chantre da Sé da Guarda e Comissário do Santo Ofício para interrogar testemunhas.

fls. 157 img. 313 – 29-5-1664 - Comissão da Inquisição de Lisboa a Clemente da Fonseca Pinto, Chantre da Sé da Guarda e Comissário do Santo Ofício para interrogar testemunhas

fls. 159 img. 317 – 10-6-1664 – Audição das testemunhas

- António Carvalho Fontes, estanqueiro do tabaco, de 33 anos – Há 10 ou 12 anos, o réu zangou-se com Jorge Nunes da Costa, lutaram um com o outro e nunca mais foram amigos.

- Pedro de Pina de Carvalho, Comendador do hábito de S. Bento, de 56 anos – Disse que o réu é moço inquieto e teve na cidade da Guarda brigas com várias pessoas. Confirmou a contradita contra Jorge Nunes da Costa.

fls. 161, img. 321 – O escrivão da diligência certifica que Luis Gonçalves Mendes se ausentou da Guarda há três ou quatro anos, e diz-se que foi para fora do Reino.

fls. 162 v img. 324 – 20-6-1664 – Processo concluso

fls. 163 img. 325 – 20-6-1664 – Assento da Mesa

O grupo maior vota pelo relaxe à justiça secular, desvalorizando as contraditas. Um menor, de dois deputados valoriza as contraditas e queria que o réu fosse submetido a tormento – todo o que pudesse levar.

“(…) e pareceu ao Inquisidor Francisco Barreto e deputados Martim Afonso de Melo, Bispo de Targa, Antão de Faria da Silva, e Dom Rodrigo da Cunha de Saldanha que o Réu pela prova da justiça estava legitimamente convencido no crime de heresia e apostasia do judaísmo por que foi preso e acusado, visto deporem contra ele  dez testemunhas, nove de declaração em forma nas ditas culpas e uma, que é Isabel Gomes, de fautoria, e de todas, oito têm com o Réu a qualidade de serem seus primos e tios e certidão de bom crédito, excepto Diogo Rodrigues da Costa que tem diminuição nele (…) contudo, sendo o Réu natural da Cidade da Guarda e filho de um preso nos cárceres desta Inquisição e que morreu confitente do Judaísmo, era a prova que ficavam bastantes, e que ele como herege apóstata de nossa santa Fé católica, negativo e pertinaz, devia ser entregue à justiça secular servatis servandis (…) e ao Inquisidor Fernão Correia de Lacerda e Deputado Fr. António da Encarnação, pareceu que o Réu não estava legitimamente convencido no dito crime, porque constando a prova da justiça das testemunhas referidas, e havendo-se excluir delas Isabel Gomes por não ser de declaração em forma e Diogo Rodrigues da Costa, assim pelo que o Réu alegou em os artigos de contraditas que lhe foram recebidos de que bastantemente se mostra não haver amizade entre o contraditado  e o Réu, como pelo que consta das diligências ex officio que tudo junto com a diminuição que em seu testemunho se lhe deu, fica sendo bastante fundamento para ser excluído e também o testemunho de Jorge Nunes da Costa, pois se prova que depois de uma briga grave que teve com o Réu, não tornaram a correr mais e a se tratar, e que nestes termos não ficava sendo a prova bastante para o Réu ser por ela convencido; mas pelos urgentes indícios que contra ele resultam de viver apartado de nossa santa Fé, (…) devia o Réu ser posto a tormento e nele ter todo o que pudesse sofrer a juízo do médico e cirurgião e arbítrio dos Inquisidores; e que satisfeito a este Assento, se torne o processo a ver em Mesa, para se despachar em final (…)”

fls.164 v img. 328 – 8-7-1664 – Processo concluso

fls. 165 img. 329 – 8-7-1664 – Assento da Mesa do Conselho Geral

“(…) e assentou-se que ele está convicto no crime de heresia e apostasia e (…) deve ser relaxado à justiça secular (…)”

fls. 166 img. 331 – 28-7-1664 - - Requerimento do promotor para publicação de mais prova da justiça. Admoestação antes da publicação. Publicação da prova da justiça. É o testemunho de Simão Gomes de Almeida.  Ouvida a leitura disse que era tudo falso, mas não queria arguir contraditas. De qualquer modo, o Inquisidor mandou-o  estar com o Procurador.  Estância com o Procurador.

fls. 168 v. img. 336 – 29-7-1664 – Nova estância com o Procurador.

fls. 169 img. 337 – Traslado devolvido pelo procurador.

fls. 169 v img. 338 – 29-7-1664 – Pelo seu procurador diz o réu que não tem mais que dizer, mas oferece as contraditas que arguiu.

fls. 169 v img. 338 – 30-7-1664 – Por despacho dos Inquisidores, o Réu é “lançado” das contraditas com que pudera vir.

fls. 170 img. 339 – 4-8-1664 - Auto de notificação de que foi relaxado, prevista no ponto II, XV, I do Regimento

fls. 171 img. 341 – 8-8-1664 - - Requerimento do promotor para publicação de mais prova da justiça. Admoestação antes da publicação. Publicação da prova da justiça. É o testemunho de sua madrasta Maria Henriques.  Ouvida a leitura disse que era tudo falso, mas não queria arguir contraditas. Foi “lançado” das com que pudera vir.

fls. 173 img. 345 –10-8-1664 - - Requerimento do promotor para publicação de mais prova da justiça. Admoestação antes da publicação. Publicação da prova da justiça. São os testemunhos de Ana Nunes e Clara do Porto.  Ouvida a leitura disse que era tudo falso, mas não queria arguir contraditas. Foi “lançado” das com que pudera vir.

fls. 175 img. 349 – 15-8-1664 - Auto de notificação de mãos atadas, prevista em II, XV,V do Regimento. Ficou com ele o P.e  Lourenço Guedes, da Companhia de Jesus, “para o confessar e aconselhar no que toca a bem da sua Alma”.

fls. 177 img. 353 – 17-7-1664 – No Auto público da fé – Confissão

- Há 20 anos, sua avó materna, Mécia Nunes disse-lhe que cresse na Lei de Moisés e fizesse os jejuns do dia grande em Setembro e da Rainha Ester em Fevereiro, Foi então que se apartou da fé católica.

- Há 18 anos, na Guarda, em casa de seu tio paterno Francisco da Costa, se declararam  crentes na Lei de Moisés, seu tio, Guiomar Nunes, mulher dele e ele confitente.

- Há 12 anos, em casa de seu tio paterno, Nuno da Costa, com ele, com sua mulher Luísa de Almeida, com Simão Rodrigues Aires, irmão desta e Isabel Gomes, mulher dele, se declararam com ele confitente crentes na Lei de Moisés.

- Há 12 anos, em casa do dito seu tio paterno Francisco da Costa, se achou com três filhas do mesmo, Francisca da Costa, Ana Nunes e Leonor Nunes  e todos junto se declararam crentes na Lei de Moisés.

- Há 6 anos, na cidade da Guarda, em casa de seu tio paterno, Nuno da Costa, se achou com a mulher deste Luísa de Almeida, o filho Simão Rodrigues, de 20 anos e as filhas Luísa de Almeida, de 18 e Guiomar que não tem sobrenome, de 16 anos, solteiras e, estando todos quatro, se declararam crentes na Lei de Moisés.

- Há 18 anos, na cidade da Guarda, em casa de seu tio paterno Jorge Rodrigues da Costa, casado com Leonor Rodrigues, se encontrou com eles  os dois, e todos três declararam que criam e viviam na Lei de Moisés.

- Há 18 anos, na Guarda em casa de Simão Rodrigues Neto, primo co-irmão dele confitente, casado com Clara do Porto, e se declararam ele e seu primo como crentes na Lei de Moisés.

- Há 12 anos, na Guarda em casa de Aires Rodrigues da Costa, seu tio paterno, defunto, que foi casado com Isabel de Flores, se achou com dois filhos daquele, Francisco Rodrigues Flores e Diogo Rodrigues Flores e os três se declararam como crentes na Lei de Moisés.

- Há 12 anos, na Guarda, em casa de Aires Rodrigues da Costa, seu primo co-irmão, casado com Francisca de Najera de Silveira, natural de Celorico,  se acharam ele e seu primo e se declararam como crentes na Lei de Moisés.

- Há 12 anos, na Guarda, em casa do mesmo Aires Rodrigues, se achou com duas irmãs do mesmo, Luísa de Almeida, casada com António Gomes, e Joana do Porto, casada com Jorge Rodrigues Feijó e todos três se declararam como crentes na Lei de Moisés.

- Há 5 anos, em cassa do mesmo, se achou com António Gomes, natural de Celorico, casado com Luísa de Almeida  e os dois se declararam como crentes na Lei de Moisés.

- Há 13 ou 14 anos, na Guarda, em casa de Gaspar Rodrigues Nogueira (Pr. n.º 898, de Lisboa), seu parente, casado com uma cristã nova de Pinhel, se achou com este e com uma irmã dele de nome Brites Nogueira   e todos três declararam em como criam e viviam na Lei de Moisés.

- Há 18 anos, na Guarda, em casa de seu pai, Simão Rodrigues Aires, viúvo de sua mãe Isabel de Lisboa, que ele confitente não conheceu, se achou com ele  e ambos se declararam por crentes na Lei de Moisés.

- Há 18 anos, na Guarda, em casa do mesmo seu pai, se declarou com ele como crente na Lei de Moisés.

- Há 16 anos em casa de Diogo Rodrigues da Costa, seu tio paterno, viúvo de Serafina Nunes, achando-se sós os dois, se declararam como crentes na Lei de Moisés para salvação das suas almas.

- Há 15 anos, em casa do mesmo seu tio Diogo, se achou com um filho e uma filha do mesmo, a saber, Francisco da Costa, casado na vila de Linhares com uma cristã nova de que não sabe o nome, e Luísa de Almeida, solteira, de 30 anos, e estando todos três se declararam por crentes na Lei de Moisés para salvação de suas almas.

- Há 18 anos, na cidade da Guarda, em casa do mesmo seu tio Diogo, se achou com António Rodrigues, filho do mesmo e os dois se declararam por crentes na Lei de Moisés.

- Há 5 anos, em casa do mesmo seu tio Diogo, se achou com um filho e uma filha deste, a saber, Manuel da Costa e Leonor (cujo sobrenome não sabe) e todos três se declararam por crentes na Lei de Moisés.

- Há 6 anos, na Guarda, em casa de João Rodrigues Dias, casado com uma cristã nova de quem não sabe o nome, se achou com ele e com um filho dele, de nome Manuel Dias,  e se declararam por crentes na Lei de Moisés.  NOTA: Este João Rodrigues Dias estava neste dia no auto da fé; é provável que o tenha visto e depois denunciado, o que impressionaria mal os Inquisidores.

Disse que se apartou da fé católica há cerca de 20 anos, pelo ensino que lhe fez sua avó Mécia Nunes.  Não comunicou a fé judaica com outras pessoas, além das referidas.

O Inquisidor e os assistentes entenderam que o Réu falava verdade e merecia crédito ordinário.

fls. 185 img. 369 – 17-8-1664 – Assento da Mesa da Inquisição

Foram vistos 2.ª vez na casa do cadafalso deputada para o despacho em 17 de Agosto de 1664, estes autos e culpas de Simão Rodrigues Aires x.n., solteiro, filho de outro Simão Rodrigues Aires, mercador, natural e morador na cidade da Guarda, Réu preso neles contido, e a confissão que fez em o mesmo cadafalso  e pareceu a todos os votos que, vistos os termos em que fez a confissão, e não satisfazer nela a toda a informação da justiça que contra ele havia, nem na crença atentar quase inteiramente porque não rezava, nem sabia quem era o Deus da Lei de Moisés em que cria, com o que as confissões não estavam em termos de serem recebidas nem com elas o Assento do Conselho Geral por que estava mandado relaxar à Justiça secular alterado, antes mais corroborado com confessar era judeu, e que assim se deve executar o dito Assento, como nele se contém. (…)

fls. 186 img. 371 – 17-8-1664 – Assento da Mesa do Conselho Geral

Foram vistos em Conselho na casa para ele deputada no cadafalso, em que ora se celebra o Auto da Fé, estes Autos e culpas contra Simão Rodrigues Aires, neles contido (…) a confissão que nele [no Auto] fez e assentou-se que é bem julgado pelos Inquisidores, Ordinário e Deputados, em determinarem que a dita confissão não estava em termos  de ser recebida e que ele como herege apóstata de nossa santa Fé católica, ficto, falso, simulado e impenitente seja, como está julgado, relaxado à Justiça secular (…)”

fls. 187 img. 373 – 17-8-1664 – Mais confissão

- Há 10 anos, na cidade da Guarda, em casa de Francisco Carvalho, primo direito de se pai, casado com Brites Gomes, se encontraram os três e declararam como criam na Lei de Moisés, para salvação da suas almas.

- Há 10 anos, em casa do mesmo Francisco Carvalho, se encontrou com o mesmo  e com Simão Gomes de Almeida, o qual se ausentou para fora do Reino, e, estando ali os três se declararam por crentes na Lei de Moisés.

- Há 8 anos, se achou em casa do mesmo com um filho e uma filha dele, a saber, Aires Carvalho, solteiro e Guiomar Serrano, casada com Manuel Gomes Lisboa e estando todos três se declararam por crentes na Lei de Moisés. 

- Há 15 anos, em casa de seu pai, se achou com sua madrasta, Maria Henriques e os dois se confessaram crentes na Lei de Moisés.

O Inquisidor diminuiu o crédito do confitente, vista a hora a que confessou.

fls. 189 img. 377 – 17-8-1664 – Assento da Mesa da Inquisição

Foram vistos 3.ª vez na casa do cadafalso em que se celebra o auto (…) estes autos e culpas e confissões de Simão Rodrigues Aires (…) e o que mais disse e confessou depois do Assento do Conselho Geral retro próximo e pareceu a todos os votos que, com a dita confissão, não estava o assento alterado e que assim se devia executar como nele se contém (…)”

fls. 190 img. 379 – 17-8-1664 – Assento da Mesa do Conselho Geral

Foram vistos estes Autos, culpas e confissão de Simão Rodrigues Aires neles contido, e assentou-se que é bem julgado pelos Inquisidores, Ordinário e Deputados em determinarem que o último Assento por que o Réu por herege e impenitente estava mandado relaxado à justiça secular, não estava alterado. Mandam que se cumpra e dê à execução. Lisboa, 17 de Agosto de 1664.”

fls. 193 img. 381 – Sentença

fls. 192 v img. 384 – Publicada a sentença no auto da fé de 17 de Agosto de 1664 no Terreiro do Paço.

fls. 193 img. 385 – Conta de custas: 9$970 réis.

 

TEXTOS CONSULTADOS

 

Regimento do Santo Ofício da Inquisição de 1640

Online: http://legislacaoregia.parlamento.pt/V/1/7/20/p267

 

Teresa Leonor Magalhães do Vale, D. Francisco de Castro (1574-1653), Reitor da Univerisdade de Coimbra, Bispo da Guarda e Innquisidor Geral, in Lusitania Sacra, 2" série, n.º 7 (1995), pags.  339-358

Online: http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/4957/1/LS_S2_07_TeresaLMVale.pdf