24-4-2010

 

 

Hino de Lafões

 

Centenário do “Hino de Lafões”, pelo Rev.do Padre Alberto Poças

 

 

Sob o título "O Vale de Lafões", o jornal "Correio da Beira", de Viseu (que é um dos vários antecessores do actual "Jornal da Beira"), publicou, no n.º 322, de 6.V.1914, os versos do hoje chamado "Hino de Lafões", antecedidos da seguinte nota:

 

             "Da "Mocidade de Lafões", versos publicados no último número pelo Dr. Celestino e feitos há 32 anos".

 

Por esta nota e pela data do jornal, ficámos a saber que estes versos foram feitos em 1882, ocorrendo, portanto, no ano de 1982, o seu 1º Centenário.

 

O Dr. Celestino Henriques Correia Severino era natural da Malhada, freguesia de Alcofra, nesse tempo concelho de Oliveira de Frades e agora concelho de Vouzela, onde nasceu, a 24 de Janeiro de 1863. Era filho do Dr. Manuel Henriques Correia Severino e de D. Margarida Henriques Almira.

 

Era irmão do P.e  Diamantino, que foi Abade de Pinheiro de Lafões.


Fez o liceu em Viseu e formou-se em Direito, na Universidade de Coimbra.

 

Ainda estudante, em Viseu, publicou, em 1880, em verso solto, "Um filho de Minerva".

 

Em 1882, publicou "Cântico dos Cânticos de Salomão", texto bíblico em verso. Em 1885 publicou "Terramoto em Espanha". Colaborou em diversos jornais de Viseu.

 

Antes de ir viver para Viseu, onde se dedicou à advocacia e exerceu diversos cargos e onde casou, viveu em Oliveira de Frades, onde, em 1892, fundou o jornal "O Lafões", juntamente com o Dr. António Figueirinhas, para defesa do concelho, ameaçado de ser extinto.

 

Faleceu em 1924. Legou à Câmara de Oliveira de Frades a sua biblioteca e à Região de Lafões o conhecido "Hino", que ainda hoje anda na boca e no coração de muita gente e que eu aprendi na Escola Primária, em Oliveira, freguesia de Sul, concelho de S. Pedro do Sul, quando lá leccionava o Professor Custódio Fernandes da Silva, natural de Cambra, concelho de Vouzela.

 

Estes versos - em minha opinião - devem ter sido feitos em Oliveira de Frades, quando o Dr. Celestino lá vivia, antes de se estabelecer em Viseu. Fundamento a minha opinião no facto de o poeta se referir à Boa Vista, ao meu Outeiro e ao S. Cristóvão que fica de fronte ali do Olheirão, tudo isto situado na vila de Oliveira de Frades.

 

Quanto à música, não se conhece o original e há mais do que uma versão. Uma delas vem reproduzida na revista "Beira Alta" (volume VIII, fascículo I e II, de 1949) e foi recolhida por Paulo J. de Figueiredo, a qual tem algumas pequenas diferenças da que eu aprendi na Escola Primária, ainda durante a vida do Dr. Celestino, também conhecido por "o doutor da Malhada".

 

As mesmas variantes se notam na letra. Há até algumas estâncias que o povo canta e que não foram publicadas, nem no "Correio da Beira", em 1914, nem, recentemente, na "Tribuna de Lafões", de 25.4.1981.

 

Uma dessas estâncias omitidas é a que começa pelo verso “O José do Muro”.

 

Quem seria esse José do Muro ou José Maria, como também alguns dizem? Seria uma ficção do Poeta, ou alguma figura típica da Região? Se o “Hino” foi feito em Oliveira de Frades, quais as circunstâncias ambientais ou culturais da época que motivaram a sua inspiração? Era bem que quem o soubesse o viesse dizer neste jornal dando assim uma achega para a comemoração do centenário do hino dos Lafonenses.

 

Diga-se, de passagem, que no dito jornal de Viseu “Correio da Beira” (n.ºs 322 e 323) vem uma paródia ou imitação burlesca dos versos do Dr. Celestino assinada por X. Y. Z. Questiúnculas da época…

 

Passando, pois, neste ano de 1982, o 1.º centenário do “Hino de Lafões”, que tão bonito é, era bem que as novas gerações o conhecessem e o cantassem, pois todo ele exalta as inegáveis belezas da nossa Região.

 

Seja-me, por isso, permitido fazer as seguintes sugestões:

 

1.º - que ele seja ensaiado e cantado nas Escolas Primárias, Preparatórias e Secundárias dos três concelhos de Lafões;

 

2.º - Que as Bandas de Música da Região o mandem instrumentar e o incluam nos seus reportórios e o executem nas festas populares;

 

3.º Que os grupos folclóricos da Região o executem no princípio das suas actuações;

 

4.º Que as “Casas de Lafões” de Lisboa e do Rio de Janeiro o considerem como número obrigatório das suas reuniões e das suas festas. Para terminar transcrevo a estância em que o Poeta canta as três vilas de Lafões:

 

Que largo horizonte

Te engrinalda afronte
Vila de
Oliveira!

És como a palmeira
Olhando altaneira

Por esse amplo azul!
Mais além
Vouzela

Se esconde no Zela
Púdica, modesta.

Em trajes de festa

Vai tomando a sesta

S. Pedro do Sul.

 

 

Lafões

É um jardim

E não há no mundo

Um lugar assim.

 

Viseu, 14 de Janeiro de 1982

 

P.e Alberto Poças Figueiredo (1913 - 1983)

 

 

(Do Notícias de Vouzela, Ano VII. n.º 5, 2.ª Série, de 1 de Março de 1982)

 

 

                  HINO DE LAFÕES

 

São cheias de serras
Todas estas terras

Por onde nascemos.
Ainda assim vivemos
Com o que cá temos
Melhor que ninguém.
Das terras que eu vi

Como as daqui

 Oh! não há nenhuma...
Encerram, em suma
Belezas mais que uma
Que as outras não têm.

 

Lafões

É um jardim

E não há no mundo

Um lugar assim!

 

Tem flores nos montes
Regatos e fontes

D' águas cristalinas.
Formosas meninas

E outras coisas finas
Tudo do melhor.

Tem um belo rio

Onde pelo estio

Vão ninfas nadar...

E a brisa e o luar
Sabem murmurar
Cantigas de amor!

 

 

(Variante)

Flores pelos montes
Regatos e fontes

De águas cristalinas
Formosas meninas

E outras coisas finas
Tudo do mais puro.

E um belo rio

Onde pelo estio

Nos vamos banhar

E às vezes pescar

E ouvir tocar

O José do Muro.

 

O José do Muro

É um rapaz de truz
Grande brincalhão.
De banza na mão
Faz a animação

Da rapaziada.


Se ele se vai embora
Toda a gente chora

E não é p'ra rir.

 Não se torna a ouvir
Não se torna a ouvir
Uma guitarrada.

 

Tem a Boavista

Que é um paraíso
Um céu verdadeiro
Tem o meu Outeiro
Talvez o primeiro
Em amenidade

Tem o S. Cristóvão
Que fica de fronte
Ali de Olheirão...

Não é mangação
Parece a mansão
D'uma divindade

 

Que largo horizonte

Te engrinalda a fronte
Vila de Oliveira!

És como a palmeira
Olhando altaneira

Por esse amplo azul!
Mais além Vouzela

Se esconde no Zela
Púdica, modesta.

Em trajes de festa

Vai tomando a sesta

S. Pedro do Sul.