19-11-2000

 

Craig Raine

(1944 -      )

 

 

 

 

A Martian Sends a Postcard Home

Caxtons are mechanical birds with many wings
and some are treasured for their markings–

they cause the eyes to melt
or the body to shriek without pain.

I have never seen one fly, but
sometimes they perch on the hand.

Mist is when the sky is tired of flight
and rests its soft machine on ground:

then the world is dim and bookish
like engravings under tissue paper.

Rain is when the earth is television.
It has the property of making colours darker.

Model T is a room with the lock inside–
a key is turned to free the world

for movement, so quick there is a film
to watch for anything missed.

But time is tied to the wrist
or kept in a box, ticking with impatience.

In homes, a haunted apparatus sleeps,
that snores when you pick it up.

If the ghost cries, they carry it
to their lips and soothe it to sleep

with sounds. And yet, they wake it up
deliberately, by tickling with a finger.

Only the young are allowed to suffer
openly. Adults go to a punishment room

with water but nothing to eat.
They lock the door and suffer the noises

alone. No one is exempt
and everyone's pain has a different smell.

At night, when all the colours die,
they hide in pairs

and read about themselves–
in colour, with their eyes shut.

 

1979

 

 

Um Marciano manda um postal para casa

 

Caxtons são pássaros messiânicos de muitas asas

e alguns são muito apreciados pela coloração -

 

fazem os olhos derreter-se

ou o corpo gemer de dor.

 

Nunca vi nenhum voar, mas

às vezes pousam na mão.

 

Névoa é quando o céu está cansado de voar

e descansa no chão a máquina macia:

 

então fica o mundo baço e livresco,

como gravuras sob papel de seda.

 

A chuva é quando a terra é televisão.

Tem a propriedade de tornar as cores mais escuras.

 

O Modelo T é um quarto com fechadura dentro -

dá-se a volta à chave e o mundo fica livre

 

para o movimento, tão veloz que há um filme

para ver tudo o que passou despercebido.

 

Mas o tempo está atado ao pulso

ou guardado numa caixa, fazendo um tiquetaque de impaciência.

 

Em lares, dorme um utensílio assombrado

que ressona quando alguém lhe pega.

 

Se o fantasma chora, levam-no

aos lábios e sossegam-no com sons

 

até dormir de novo. E no entanto acordam-no

de propósito, fazendo-lhe cócegas com um dedo.

 

Só às crianças se permite que sofram

em público. Os adultos vão para um quarto de castigo

 

com água, mas sem nada de comer.

Fecham a porta à chave e sofrem sozinhos

 

os barulhos. Ninguém está dispensado,

e a dor de cada um tem um cheiro diferente.

 

À noite, quando as cores todas morrem,

escondem-se aos pares

 

e lêem acerca de si próprios

a cores, de pálpebras cerradas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tradução de João Ferreira Duarte, em "LEITURAS, poemas do inglês", Relógio de Água, 1993. ISBN 972-708-204-1