14-5-2008

 

Concelho de Tondela

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Freguesias de

Canas de Santa Maria

Lajeosa do Dão

Mosteirinho

Mouraz

S. João do Monte

S. Miguel do Outeiro

 

 

M E M Ó R I A S    P A R O Q U I A I S - 2

 

 

Prossigo a transcrição das Memórias Paroquiais de algumas das freguesias do concelho de Tondela.

O texto do questionário pode ser visto na última parte desta página.

Mais uma vez peço a quem encontrar incorrecções na transcrição, muito agradeço mas comunique.

 

 

 

CANAS DE SABUGOSA

 

Vila de Canas de Sabugosa

 

É da Província da Beira, e dos Bispado e Comarca da Cidade de Viseu.

É de El-Rei: e tem quarenta e um vizinhos, e cento quarenta e cinco pessoas maiores de quatorze anos.

Está situada em meia planície, dela se vêem os lugares da Lajeosa e Loureiro, ambos do termo da cidade de Viseu; e o lugar de Casal de Lobão do concelho de Besteiros, hoje termo de Tondela, este dista meia légua, e aqueles uma.

A Igreja Paroquial está fora da vila, pelo mais de um tiro de pedra; a sua freguesia consiste nos lugares de Casal do Rei que tem 36 vizinhos, e 99 pessoas maiores; Casainho que tem 42 vizinhos e 133 pessoas; Santa Ovaia de Baixo que tem 56 vizinhos e 151 pessoas; Valverde que tem 15 vizinhos e 54 pessoas;  Santa Ovaia de Cima que tem 58 vizinhos e 122 pessoas; Póvoa de Várzea de Iscos que tem 10 vizinhos e 40 pessoas; todos estes seis lugares são do termo de Tondela e noutro tempo concelho de Besteiros; e vem a ter por toda, duzentos cinquenta e oito vizinhos e setecentos quarenta e quatro pessoas maiores.

O seu Orago é Nossa Senhora da Assunção; tem cinco altares, o maior da Padroeira, o colateral do lado do Evangelho do Santíssimo Sacramento, o colateral do lado da Epístola da Senhora do Rosário,  e Santo António; no corpo da Igreja tem mais um altar das Almas, e na Capela Maior, outro de Santa Ana que é particular, e duas Irmandades, uma de Santo António, outra de Santo Caetano.

O Pároco tem nome de Abade e é da apresentação ordinária, terá de renda trezentos mil réis.

Junto à Estrada Real fora desta vila, está uma Capela do Sr. S. Pedro, dentro do lugar de Santa Ovaia de Baixo, outra da Senhora da Expiação; no meio do lugar de Valverde, outra de S. Francisco; e fora do lugar de Santa Ovaia de Cima, está outra Capela de Santa Maria Madalena; todas estas pertencem à freguesia e são dela e dos povos acima ditos; no lugar de Casainho, estão as Capelas da Senhora das Candeias, de São Bento, Senhora do Pranto, Santo António e Santa Bárbara; e no lugar da Póvoa de Várzea de Iscos, a Capela de Santo Francisco, e a Capela da Senhora do Carmo. Todas estas são de particulares.

 

Os frutos que esta terra produz são pão, vinho e azeite, com igual abundância e de toda a fruta.

Tem juiz ordinário que serve juntamente os cargos de vereador, procurador, e Almotacé.

Outro tempo foi Couto, e Câmara da Ex.ma Matriz de Viseu. Hoje está na Coroa.

Serve-se com o Correio de Viseu, que é a Cidade capital do Bispado, e dista dela duas léguas e meia,  e da Corte de Lisboa, cinquenta.

E não há Rio, Serra ou fonte de que dar conta nem coisa alguma mais do que se procura nos interrogatórios.

 

Residência de Canas de Sabugosa, 20 de Maio de 1758

O Abade,  Manuel de Pinho Rebelo Seixas

 

LAJEOSA

 

 

Notícias da freguesia da Lajeosa, Bispado de Viseu

 

Esta terra fica na província da Beira, comarca, Termo e Bispado de Viseu, distante da cidade duas léguas: fica em campina no meio e das bandas, costa abaixo: de comprido, do norte ao sul, três quartos de légua, e de largo, do nascente a poente meia légua. Desta terra se avistam duas serras grandes, uma chamada da Estrela, distante sete léguas, e outra chamada do Caramulo, distante três léguas. É de El-Rei N. Sr. Os frutos que nela avultam mais são vinho e azeite. Tem Juiz pedâneo sujeito ao Juiz de fora do Termo já referido. Não tem correio, se serve do da Cidade, distante duas léguas. Tem esta terra duzentos e três moradores, estes contêm em si setecentas pessoas, repartidas em sete povoações a saber: o lugar de Lajeosa com sessenta moradores, estes têm em si cento noventa e nove pessoas =  o de Teomil tem trinta vizinhos, pessoas em número são cento e seis = o do Vinhal tem quarenta e sete vizinhos, pessoas cento cinquenta e cinco = o do Corugeiro tem vinte e nove vizinhos, pessoas cento e seis: tem uma Capela de Nossa Senhora da Assunção, que é do mesmo povo = o de Sangemil tem vinte vizinhos, pessoas sessenta e nove; tem uma Capela de Santo António, é do mesmo povo = o do Penedo tem dez vizinhos, pessoas quarenta e duas: tem uma Capela da Senhora das Preces que é do mesmo povo = o do Furadouro tem seis vizinhos, pessoas, vinte e três. O lugar de Teomil supradito tem uma Capela do mesmo povo de Santa Bárbara. Umas e outras Capelas estão situadas dentro dos ditos povos; só a da Senhora das Preces do lugar do Penedo está no cimo do dito povo. 

É freguesia de São Miguel cuja Igreja é a Matriz, tem sua anexa de São João Baptista de Beijós, é Abadia cuja apresentação é de Gonçalo Peixoto da Silva Macedo e Carvalho [1], assistente em Alenquer, rende três mil cruzados com sua anexa. Esta dita Igreja, situada só, entre o lugar de Lajeosa e o de Vinhal, tem três altares, um maior de São Miguel, patrono dela, dois colaterais, um de São Pedro, outro da Senhora. Tem uma Irmandade das Almas. Não tem a dita Igreja naves. Faz-se feira no dia do dito S. Miguel a 29 de Setembro com romagens ao mesmo São Miguel.

Vêm pelos confins da freguesia dois rios, um dos quais se chama Dão, tem seu princípio junto à Senhora da Lapa, fenece no rio Mondego, distante desta terra quatro léguas. No inverno é caudaloso, não é vadiável então, se não em barcos; tem peixes de que os habitadores desta terra usam comummente, como são barbos, enguias e bogas. Não tem pesqueiros particulares; suas águas não fertilizam as terras por serem muito baixas; junto do dito rio, há seis moinhos de pão, que moem com suas águas. Há junto do mesmo rio, umas caldas de água sulfúria, remédio eficaz para muitos enfermos, que a elas vêm de várias partes deste Reino. Corre este rio de norte ao sul, conserva sempre o seu nome desde o seu nascimento, dista desta terra nove léguas, até se meter no rio Mondego na forma dita, nem consta que tivesse até agora outro nome se não de rio Dão. É o tal rio de verão diminuto de águas, de sorte que, em partes, dá passagem a todos.

O outro rio chama-se de Asnos, que confina pela parte do poente desta freguesia; também é caudaloso de inverno, de verão dá passagem quase a todos, pela sua muita diminuição de águas. Cria peixes de que usam comummente: são barbos, bogas e enguias, estas menos. Assim neste como no supradito, suas águas não fertilizam as terras por virem muito baixas. Tem seu nascimento para as partes de Cabernães, para cima da Cidade de Viseu, para a parte do norte, e finaliza junto a Ferreiroz, distante desta terra uma légua, para a parte do sul. Terá de comprido quatro léguas: tem nos [2] uma ponte de pedra chamada Ponte pedrinha. Desde o seu nascimento até o seu fim, conservou e conserva o nome supradito; não tem barcos nem é de pescarias particulares, são gerais a todos, quer assim neste como no supradito; principalmente de verão é que se pesca neles e algumas vezes de inverno.

Há nesta freguesia quatro lagares de azeite. E não consta esta terra de notícias mais que seriam de declarar na forma dos interrogatórios.

 

Luis Peixoto da Silva, Abade da Lajeosa

 

 

[1] Visconde de Lindoso

[2] Parece faltar uma palavra com a designação do local.

 

 

MOSTEIRINHO

 

 

Notícias desta terra e freguesia de Mosteirinho

 

1.     Esta freguesia do Mosteirinho é da Comarca e Bispado de Viseu, do Arciprestado de Lafões e fica na Província da Beira.

2.     O Real Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra é ao presente actual Donatário do território desta freguesia; e onde se pagam os dízimos, foros e mais pensões, sem que aqui entre outro senhorio.

3.     Tem esta freguesia trinta e cinco vizinhos, cento quarenta e duas pessoas de Sacramento, além dos menores que são dezanove e seis absentes.

4.     Na descida da serra do Caramulo, para a parte do poente, é que está situada a Igreja desta freguesia, em um vale muito pequeno e da citada Igreja, se não descobrem senão montes de todas as partes e povoação nenhuma.

5.     Esta freguesia não tem termo seu, mas é sujeita à vila e concelho de São João do Monte.

6.     A Igreja desta freguesia está fora e retirada do lugar de Mosteirinho um tiro de espingarda, para o poente, solitária, porque as casas da residência do Pároco estão contíguas ao referido lugar de Mosteirinho que é o primeiro que tem essa freguesia, com  quatro vizinhos = tem mais o lugar de Boi, com quatro vizinhos = o lugar da Frágua com seis vizinhos = o lugar de Malhapão de Cima com três vizinhos = o lugar de Malhapão de Baixo com cinco vizinhos = o lugar da Corte com cinco vizinhos = o lugar de Freimoninho com oito vizinhos.

7.     O Orago desta freguesia é Nossa Senhora da Natividade. Tem três altares, convém saber: o altar em que está colocado o tabernáculo em que se adora e venera o Santíssimo Sacramento, e no meio dele no Retábulo que é pintado ao antigo, está em um nicho a milagrosa imagem da dita Senhora, esculpida de vulto em pedra, e ao lado do Evangelho a imagem de S. Pedro, e ao da Epístola a imagem de S. Paulo, pintadas ambas a óleo; e dois colaterais no corpo da Igreja, que são da parte da Epístola Santo António, em pedra de vidro e nomes no retábulo, pintadas as imagens de São Domingos e São João Baptista e da parte do Evangelho está o altar do glorioso São Sebastião com a sua imagem de pedra também em vidro. Não tem naves esta Igreja nem irmandades, tem a porta principal para o poente e a transversa para o sul. Celebra-se a festividade desta soberana Senhora em o primeiro domingo depois do dia da Natividade da mesma Senhora a oito de Dezembro com Missa cantada e sermão a que concorrem os devotos das vizinhanças.

8.     Os párocos desta freguesia intitulam-se Curas apresentados do Reitor de São João do Monte, e renda dá para o Cura cada ano trinta mil réis pouco mais ou menos, por não dar mais côngrua e pé de altar que muito ténue pela pequenez da freguesia, pois os dízimos e mais pensões pertencem ao dito Real Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra como Senhores Donatários.

9.     Não houve em tempo algum nem de presente há nesta Igreja Beneficiados.

10.   Não tem Hospital esta freguesia.

11.   Não tem Conventos de Religiosos nem Religiosas.

12.   Nem Casa de Misericórdia.

13.   Tem esta freguesia uma Capela ou Ermida no lugar de Corte, algum tanto retirada dele para a parte do norte, com porta para o nascente, com o título de Nossa Senhora da Conceição, por estar colocada no único altar, que tem a imagem da mesma Senhora com as mãos levantadas que é de pau esculpida em vulto; é capela muito pequena e particular de um Manuel Gomes, morador no mesmo lugar.

14.   Não acode a esta Capela romagem em dia algum do ano. Somente é costume antigo virem a esta freguesia os moradores da freguesia de Agadão, Bispado de Coimbra, em procissão acompanhada do Pároco com Cruz do povo e quatro guiões de prata, em as duas maiores festividades desta Igreja que são a da Senhora acima referida e a do Santíssimo Sacramento que se soleniza no Domingo do Bom Pastor.

15.   Os frutos desta freguesia que os lavradores recolhem em mais abundância são centeio e milho grosso e miúdo e algum vinho, pouco e verde.

16.   Esta freguesia está sujeita ao governo das justiças de São João do Monte.

17.   Não é couto nem concelho, honra ou behetria.

18.   Não descobri notícia alguma que desta terra nascessem homens que florescessem em letras, armas ou virtudes.

19.   Não se faz nesta terra alguma [feira].

20.   Não tem Correio e os habitadores dela se servem do de Tondela que fica daqui três léguas para a parte do nascente.

21.   Desta freguesia de Mosteirinho à cidade de Viseu capital do Bispado, são seis léguas e a Lisboa capital do Reino são quarenta e duas.

22.   Nem consta que esta terra tenha alguns privilégios ou outras coisas de antiguidade ou dignas de memória.

23.   Nem fonte nem lagoa célebre e memorável.

24.   Não há porto de mar nem é murada esta terra, nem praça de armas nem castelo ou torre alguma antiga nem moderna.

25.    

26.   No terramoto do primeiro dia do mês de Novembro do ano de mil setecentos cinquenta e cinco que a todos esses moradores causou angústia e tribulação, não houve pela misericórdia de Deus ruína alguma, que necessitasse de reparo, nem há mais coisa alguma digna de memória de que se possa dar notícia.

 

Notícias desta Serra

 

A serra em que está situada esta Igreja, freguesia e seus lugares, suposto diga ou se chame a do Caramulo, contudo como está o principal corpo dela fora desta freguesia, não faltarão escritores que dela têm individual notícia, pelo que me não meto a descrevê-la só sem falar em uma serra que se chama do Boi, por principiar junto do lugar de Boi, desta freguesia já mencionada. Esta serra pois faz divisão do Caramulo em um vale pequeno no sítio da Portela da Estaca chegando a Maruje e continua pela parte do sul até à Serra do Buçaco, pelo que terá de comprido quatro léguas.

Não há no território desta freguesia vilas nem no seu distrito fontes de propriedades raras, nem minas de metais, nem canteiros de pedras ou de outros materiais de estimação, nem também há plantas ou ervas medicinais, nem também há mosteiros nem Igrejas de romagem ou imagens milagrosas.

O temperamento do território desta freguesia é muito diferente porque estando no lugar de Mosteirinho, a Igreja está em um côncavo tão quente dos ares e lastro que em tempo nenhum se cobre de neve, e nos mais referidos lugares sim, mas logo se derrete.

Os gados que nesse país se criam, bois, vacas, ovelhas e cabras, e há bastantes pastos de ervas, e há algumas perdizes e coelhos, e em partes se descobrem alguns porcos monteses. Não há lagoa nem fojos notáveis, nem mais coisa alguma digna de memória.

 

Notícias dos Rios desta terra

 

1.     Um rio há somente que tem nome e chama o de Agadão, que nasce em o lugar de Almofala, da freguesia de S. João do Monte.

2.     Esse Rio não nasce nem é caudaloso, corre todo o ano.

3.     Nesse Rio, em o sítio do Couço, entra um ribeiro pequeno, que nasce em a Portela da Estaca.

4.     Não é navegável nem capaz de embarcações.

5.     É de curso arrebatado em toda a sua distância, por correr por fragas e penhascos.

6.     Corre do nascente ao poente pela parte do sul.

7.     A qualidade e espécie de peixes que cria este rio é bordalos e algumas trutas, mas poucas.

8.     Nesse Rio se pesca, mas de verão.

9.     Suas pescarias são livres em todo o Rio e não de senhor algum particular.

10.   Em algumas partes deste Rio se cultivam suas margens e alguns arvoredos que  tem pelas margens deles são silvestres como são medronheiros, carvalhos e salgueiros, pelos lugares da freguesia algumas árvores de fruto,  tais como são macieiras, pereiras e algumas árvores de espinho, carvalhos, sobreiros e castanheiros.

11.   Não consta que tenham virtude particular alguma as suas águas, só serem muito claras, frescas e salutíferas, como são as de todas as fontes desta freguesia.

12.   Não tem este Rio outro nome, antes conserva sempre o mesmo de Agadão como se disse.

13.   Fenece este Rio no Rio de São João do Monte no sítio do lugar da Foz de Agadão.

14.   Este rio como já disse não é navegável, mas tem represas, levadas e açudes para moinhos.

15.   Tem pontes de pau, abaixo direi quantas e em que sítio.

16.   Tem este Rio moinhos particulares dos moradores que estes moinham porque não há moleiros no distrito desta freguesia, e não tem lagares de azeite, noras, pisões ou outro qualquer outro engenho.

17.   Não consta que em tempo algum nem no presente se retirasse ouro das suas areias.

18.   Os povos usam livremente de suas águas, sem pensão alguma para a cultura dos campos em algumas partes porque em outras o não permite o arrebatado do seu curso.

19.   Tem este Rio desde o seu nascimento até onde acaba e principia como já disse no referido lugar de Almofala, e daí pela [parte] do sul corre por baixo dos lugares de Malhapão, onde tem ponte de pau chamada Ponte dos Cavalos e depois passando a vista do lugar de Boi, onde também há ponte de pau chamada a Ponte da Isca, chega ao lugar do Mosteirinho onde tem outra ponte de pau, e passando daí se mete no Bispado de Coimbra, passando por alguns lugares da freguesia de Agadão, como são o lugar do Covo, Felgueira, Guistolinha, Guistola, Lomba, Vila Mendo, até chegar finalmente a morrer no sítio do lugar da Foz de Agadão, incorporado com o Rio que já acima apontei que pela parte do norte vem de São João do Monte e nem se oferece mais coisa alguma notável ou digna de memória que possa noticiar desta terra, serra ou Rios dela.

 

Mosteirinho, seis de Junho da era de mil setecentos cinquenta e oito anos.

O Cura, João Roiz

 

 

 

MOURAZ

 

 

Mouraz

 

Resposta ao que se pergunta desta terra é o seguinte:

1 – Fica na província da Beira alta pertencente ao Bispado de Viseu, concelho e vila do Carvalhal de Mouraz,  o seu termo e Comarca e freguesia do mesmo Mouraz.

2 – El-Rei é donatário e é ao presente o senhor D. José.

3 – Tem vizinhos quinhentos e dezasseis.

4 – Está situada em terra descoberta, e descobrem-se povoações dela, distância de quatro léguas, pouco mais ou menos.

5 – Tem termo seu, compreende cinco lugares e uma vila, chamada o Carvalhal de Mouraz; esta vila tem trinta e quatro vizinhos. Tem mais um lugar chamado Mouraz que tem trinta e um vizinhos. Tem mais outro lugar chamado Couço que tem vizinhos trinta e seis; tem mais outro chamado Saldonas que tem vinte e quatro vizinhos; tem mais lugar chamado Póvoa do Carvalhinho que tem onze vizinhos, tem outro chamado Póvoa d’Adiça que tem quatro vizinhos.

6 – A Paróquia está dentro do lugar por nome Mouraz.

7 – O seu Orago é São Pedro Apóstolo , tem três altares a mesma Igreja: o Altar mor que é o do Orago, e os outros dois são colaterais, um de São Sebastião, outro de Nossa Senhora do Rosário, e não tem naves nem Irmandades a dita Igreja.

8 – O Pároco é Abade e a apresentação é da Mitra Episcopal deste Bispado de Viseu com rendimento em cada um ano trezentos mil réis.

9 – Não tem a Igreja Beneficiados.

10 – Não tem esta freguesia Conventos de Religiosos nem Religiosas.

11 – Não tem também Hospital esta freguesia.

12 – Não tem também a mesma freguesia Casa da Misericórdia.

13 – Tem esta freguesia uma Ermida Orago Nossa Senhora das Neves, pertencente ao Pároco dela, tem Irmandade da mesma Senhora; e tem esta Capela três altares, dois colaterais, um de Nossa Senhora do Carmo, e outro de Santa MARIA, e o Altar Maior que é de Nossa Senhora das Neves. E tem uns terceiros do Carmo, apresentados pelo Pároco da mesma freguesia, e está sita em um Monte fora do lugar; e tem mais três Capelas, a dita freguesia, uma dentro da vila de Carvalhal de Mouraz, Orago de S. João Baptista, e outra no lugar de Couço, de Orago de Santo António, e outra dentro do lugar de Saldonas do Orago de S. Roque.

14 – Acode à dita Capela Romagem e Procissões em o dia do Orago.

15 – Os frutos que os lavradores desta terra colhem com maior abundância é vinho, pão e azeite.

16 – Tem este Concelho Juiz Ordinário e Câmara sujeita ao Corregedor da Comarca.

17 – Não tem Couto, porém é cabeça de Concelho, sujeita ao mesmo Corregedor da Comarca.

18 – Não tem saído desta terra nem há memória que saíssem homens de virtude nem letras ou armas.

19 – Nem tem esta freguesia Feira Franca nem cativa.

20 – Não tem esta freguesia correio, só se serve da vila de Tondela que dista dela meia légua.

21 – Dista da cidade do Bispado quatro léguas, e distará da capital do Reino quarenta e cinco.

22 – Tem esta freguesia um privilégio antigamente que era Donatário o Excelentíssimo e Reverendíssimo Prelado deste Bispado o qual vinha apresentar às Justiças a Vila deste Concelho  e que nesse tempo era costume darem-lhe  de jantar as mesmas justiças, e lhe pagam frutos de algumas terras, de seis, e de sete e de oito ainda, e no tempo em que eram apresentados pelo dito Ex.mo Senhor, não pagavam os sobreditos tributos alguns a Sua Real Majestade.

23 – Não há nesta freguesia nem perto dela, fonte nem lagoa que tenha especial qualidade as suas águas.

24 – Não tem esta freguesia porto de mar, nem memória dele.

25 – Não é esta freguesia murada nem tem praça de armas, nem torre alguma antiga nem castelo.

26 – Padeceu ruína uma Imagem de Nossa Senhora das Neves no terramoto passado de mil setecentos cinquenta e cinco, que caiu a mesma imagem do camarim abaixo do Retábulo e quebrou o pescoço, e esta ruína está já reparada, sita na mesma Capela de Nossa Senhora das Neves.

27 – Não há que dizer desta Freguesia digno de memória.

 

O que se procura nos interrogatórios a respeito da serra é coisa é coisa que não há nesta freguesia.

 

Resposta ao que se procura nos interrogatórios a respeito dos Rios, o que posso informar é o seguinte:

 

1 – Chama-se ao Rio desta freguesia o Dinha, nasce na Boa aldeia.

2 – Não nasce caudaloso e corre todo o ano.

3 – Não entram neles outros Rios em sítio algum e só entra neste um ribeiro que não tem nome.

4 – Não é rio navegável nem capaz de embarcações.

5 – Não é rio de curso arrebatado, é quieto em toda a sua distância, nem em parte alguma dela.

6 – Corre este rio do norte ao sul.

7 – Cria este rio quantidade de peixes grandes e pequenos e a maior abundância deles se chamam bordalos.

8 – Pesca-se neste rio, só excepto em o mês de Abril, Maio e Junho, que são proibidos.

9 – As pescarias deste rio são livres, nem são de senhorio algum particular em todo o rio nem em alguma parte dele.

10 – Cultivam-se as suas margens e tem bastante arvoredo silvestre em suas margens e nenhumas de fruto.

11 – Não tem virtude alguma particular as suas águas.

12 – Conserva sempre este rio em toda a parte o mesmo nome, e o não tem diferente em parte alguma, nem consta nem há memória tivesse outro em tempo algum.

13 – Não morre este rio no mar, só morre no rio Dão, nele se mete aonde chamam Vale do Bispo.

14 – Tem este rio algumas levadas, porém estas não lhe embaraçam a sua torrente.

15 – Não tem este rio ponte alguma, nem de cantaria nem de pau no âmbito desta freguesia onde passa.

16 – Tem este rio seis casas de moinhos  e tem um ribeiro que se mete neste rio, que não tem nome, que tem em sua água dois lagares de azeite.

17 – E não consta que deste rio se tirasse ouro em tempo algum, e nem no presente consta se tire nem disso há memória.

18 – Os povos circunvizinhos usam livremente da água deste rio para a cultura dos mesmos campos e não tem pensão alguma.

19 – Tem este rio em comprimento no âmbito desta freguesia, e donde nasce até onde acaba tem de comprido quatro léguas.

20 – Não há nesta freguesia outra coisa notável nem digna de memória.

 

 

S. JOÃO DO MONTE

 

 

S. João do Monte

 

Em observância de uma carta que me foi patente do Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Dom Júlio Francisco de Oliveira, meu Prelado, entrei a fazer quantas diligências pude para averiguação das notícias que se pedem e contêm nos interrogatórios, que se me remetem; e deitadas as redes, que lancei, recolhendo-as se seguiu, o que agora e suponho  que tenho por certo compatibilidade que pode haver em semelhantes matérias; pois que não satisfiz só com uma informação, mas aproveitei-me de todas as ocasiões recorrentes, que podiam servir para instruir-me.

 

Notícias desta freguesia de S. João do Monte

 

Esta freguesia do concelho de S. João do Monte é da Comarca e Bispado de Viseu, Arciprestado de Lafões e fica na Província da Beira.

 

É fama constante que o Senhor Dom Afonso Henriques primeiro Rei de Portugal fizera doação do território desta freguesia e concelho ao Mestre Garino; e por morte deste ao Real Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, que é ao presente Donatário da Igreja, terra, e se pagam os dízimos, foros e mais pendências ao dito Real Mosteiro, sem que entre neste outro senhorio.

Tem esta Freguesia ao presente duzentos vinte e quatro vizinhos, setecentos e dezasseis pessoas de Sacramento , além dos menores que se contam cento vinte e um  e trezentos setenta e oito.

Na célebre Serra do Caramulo, bem conhecida neste Reino, é que está situada a Igreja desta freguesia, não no maior alto dela, mas em um alto na descida da dita serra para a parte do poente, e à vista da Igreja, se não descobrem se não montes de todas as partes. Só dentro do referido e pequeno vale, se avista a vila de S. João do Monte, o lugar de Vale do Lobo, o lugar de Abóbada: com seus passais, em roda da Igreja, de sorte que fica também no meio deles, e no maior alto desta Serra do Caramulo, junto do lugar de Almofala, está um penhasco de desmarcada altura, a que chamam o bico do Caramulo, a que se sobe com muita dificuldade, e no seu cume se acha uma pedra quadrada ao modo de mesa, que parece feita artificialmente. Deste alto, estando o tempo claro, se vêem muitas terras de Portugal, como são pela parte do nascente, junto à mesma Serra, o delicioso e famigerado Vale de Besteiros, a que se pode apropriar o nome de Jardim da Beira, pelo mimoso de seu país, e excelentes frutas, que produz, e adiantando mais a vista para a mesma parte do nascente se divisa a cidade de Viseu, e toda a Serra da Estrela, e pelo sul os campos de Coimbra, e continuando em roda para poente, tudo à beira mar, desde a barra da Figueira até os ares da cidade do Porto

 

É esta terra de S. João do Monte concelho sobre si, que compreende dezassete lugares, convém a saber: a Vila, com vinte e dois vizinhos = o lugar de Vale do Lobo com vinte e oito vizinhos = o lugar de Abóbada, com onze vizinhos = o lugar de Valdasna com nove vizinhos = o lugar de Almofala com sete vizinhos = o lugar de Teixo com treze vizinhos = o lugar de Dornas com dezassete vizinhos = o lugar de Valeiroso com quatro vizinhos = o lugar de Braçal com doze vizinhos = o lugar de Matadegas com onze vizinhos = o lugar de Belazeima com trinta e três vizinhos = o lugar de Mançores com seis vizinhos = o lugar de Almijofa com dois vizinhos = o lugar de Castelo com dois vizinhos = o lugar de Souto com onze vizinhos = o lugar de Adaires com vinte e dois vizinhos = o lugar de Caselho com seis vizinhos. Além destes, a Póvoa da Foz com um vizinho,  e a Póvoa de Demenderes com outro vizinho, que todos fazem a soma que acima digo de duzentos vinte e quatro vizinhos e compreende mais este Concelho a freguesia de Mosteirinho, anexa a esta Igreja de S. João do Monte, que consta de sete lugares, a saber: Mosteirinho, Boi, Frágua, Malhapão de Cima, Malhapão de Baixo, Corte e Freimoninho.  Do número de seus vizinhos dará conta o Padre Cura, que actualmente paroquia a dita Igreja, e somente a estas duas freguesias é que se estende a jurisdição deste Concelho de S. João do Monte. Investigando a sua demarcação, achei que principia pela parte do nascente no marco que está no Couto à mão direita do caminho, que vai para as lavouras de Paranho; daí pela estrada junto ao Vale de Carros as lajes do Vale Longo, cabeço Junqueira, Vultrágua em Matadegas, e pela Corga vai ter ao Rio, e pelo rio baixo chega à lenteira do Carvalhal e daí a cabeça Cortelho aonde dizem os naturais estivera no tempo dos Mouros uma cidade que se chamava Cortelha;  daqui passa-se o rio e pela costa fora até Vale de Figueira, vem entre Freimoninho e Aljas até detrás de Mosteirinho; daí passa o rio entre o Covo e o Boi, vai por fora até o Cabeço do Boi, vai ao Malhapão de Cima e daí pelo cimo de Jueus, chega ao alto penhasco do Caramulo e depois por cima do quadrado chega à Cancela da Bezerreira e neste sítio parte com dois concelhos que são Guardão e Lafões; daqui vai ter às jeiras fora da Bezerreira e daí até ao cimo vai ter à corga  e daí vai ter a pedra da Solheira, e daí pelo Rio vai ter e acabar no mesmo marco do Couto acima referido.

 

A Igreja desta freguesia existe fora da Vila aquém do Rio para a parte do Sul; porque a Vila fica além do Rio para a parte do norte; e junto à mesma Igreja estão somente as casas das residências dos Reitores com um pátio entre a Igreja e casas murado,  e sorte que, estando fechadas as portas do pátio, ainda se servem os Párocos para a Igreja, pela porta da sacristia, que fica para dentro do pátio; os lugares de que  a mesma freguesia se compõe são os que acima ficam mencionados.

 

O Orago ou Santo Padroeiro desta Igreja é o glorioso S. João Baptista. Tem três altares a Igreja e vêm a ser o Altar mor em que está colocado o tabernáculo, em que se adora e venera o Santíssimo Sacramento, e no lado do Evangelho está a dita imagem de S. João Baptista, esculpida em vulto de pedra, muito bem estufada, cuja imagem é tradição que aqui existe desde o tempo em que os Mouros ocupavam a Espanha, e ao lado da Epístola está toscamente pintada a óleo a imagem de Santo António Português. Tem mais dois colaterais no corpo da Igreja, a saber, da parte da Epístola, o de Nossa Senhora do Rosário, que também é imagem de pedra em vulto, com o Menino Deus no braço esquerdo, e tem uma flor no direito como oferecendo-a ao Menino, estufada de novo com cabelos dourados, e coroa mesmo de pedra prateada, e no retábulo do mesmo altar estão pintadas a óleo as imagens de S. Frutuoso, S.ta Apolónia, Santa Bárbara e Santa Luzia, cujo altar faz costas ao nascente. E da parte do Evangelho está o altar do Glorioso Mártir S. Sebastião, com a imagem do mesmo Santo em vulto também de pedra, cujo altar faz costas ao norte, e ambos estão embutidos na parede com arcos de pedra lavrada, pintados a óleo e dourados, como está o da Capela Mor. Tem esta Igreja uma nave para a parte do Sul, com cinco arcos de pedra; e em todo o vão pela parte de dentro tem a Igreja de comprimento desde a porta principal até à parede posterior ao retábulo da Capela Mor cento e quatro palmos, em que entram dezanove de que consta a Capela Mor e de largura com a nave trinta e seis palmos.  Era esta Igreja muito baixa; porém, na era de mil setecentos quarenta e nove, foi levantada de pé direito, e com frontispício e campanário para a parte do sul, com uma escada de pedra, tudo de novo, e com grande asseio.

O dia mais alegre e a festividade que com maior solenidade se celebra nesta Igreja é a do glorioso Padroeiro dela, S. João Baptista, a vinte e quatro de Junho com Missa Solene e sermão, a que concorre muito povo das vizinhanças, e no último dia do seu oitavário, se soleniza também a festa do mesmo Santo, que lhe dedicam os Irmãos da sua irmandade que passam de duzentos.

E é a única que há nesta Igreja, a que concorrem os ditos irmãos, a utilizar-se do santo júbilo daquele dia.

Os Párocos desta Igreja intitulam-se Reitores, de apresentação do Real Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Rende para o Reitor cento e setenta mil reis pouco mais ou menos, porque os seus rendimentos são incertos, por não ter mais que a côngrua de quarenta mil reis e as benesses de pé de altar, pois os dízimos pertencem ao dito Mosteiro; e apresentam os Reitores desta Igreja duas Igrejas anexas que são a de S. Pedro de Varzielas, que fica para a parte do nascente e a de Nossa Senhora da Natividade de Mosteirinho, que está situada para a parte do Sul

 

Não houve em tempo algum nem de presente há nesta Igreja, Beneficiados.

Não tem convento de Religiosos nem Religiosas.

Não tem Hospital

Não tem Casa de Misericórdia.

 

Tem esta freguesia três capelas ou ermidas, convém a saber: uma no lugar de Dornas acima referido, na entrada do lugar pela parte do norte, com a porta principal para o sul, e a transversa para o nascente com o título de Capela de S. Miguel Arcanjo. É a imagem deste glorioso Arcanjo de pedra e está colocada no altar único que nela há, e ao seu lado para o do Evangelho está uma pequenina imagem da Senhora do Remédio, também de pedra, ambas estufadas de ferro, embutido o retábulo na parede com arco de pedra. Costuma o Pároco desta Igreja ir dizer Missa pelo povo à dita Capela em louvor do santo no seu dia, vinte e nove de Setembro. Há outra Capela a que os naturais chamam da Senhora do Chão, por estar situada ao pé de uma serra a que chamam o sítio do Chão; porém propriamente é de Nossa Senhora da Visitação; está à vista desta Igreja, à distância dos passos da Via Sacra, que nela acaba, principiando nesta Igreja com cruzes de pedra. Tem esta Capela a porta principal para o poente e a transversa para o sul; tem Capela Mor de abóbada de pedra pintada e retábulo dourado com um só altar e no meio dele está colocada a milagrosa imagem desta Soberana Senhora, com um pomo na mão direita como oferecendo-o ao Menino Deus, que tem com o seu braço esquerdo, com um passarinho em ambas as mãos como brincando, e rindo-se para a Senhora. Ao lado do Evangelho está uma antiga imagem de Santo Antão e ao da Epístola a de Santo António, todas de pedra. Tem arco cruzeiro que divide a Capela Mor do corpo da mesma Capela, tem cabido, ou alpendre, ou Galilé, como lhe queiram chamar. Estas duas capelas referidas são próprias dos fregueses desta Igreja, que as fabricaram à sua custa e lhes servem para delas se administrarem os sacramentos aos enfermos. Desta Igreja, distancia de quase meia légua para a parte do norte existe outra Capela que fundou haverá trinta e tantos anos um Ermitão chamado Plácido Francisco sobre um penhasco, donde se descobre o Oceano, desde a barra da Figueira até à vista de Ovar na terra da Feira com a invocação de Nossa Senhora do Bom Despacho. Tem esta Capela a porta principal para poente, a Capela Mor com porta para o norte: está admiravelmente ornada por dentro com três altares. No Altar Mor que tem retábulo dourado ao moderno com todo o primor, está no meio colocada a milagrosa imagem da mesma Senhora sustentando dois Anjos uma coroa que está pendente sobre sua sagrada cabeça, ao lado do Evangelho está S. Plácido, e ao da Epístola, S. Frutuoso; o tecto da Capela Mor todo é de painéis pintado, com suas flores douradas nos cantos dos painéis; te m sacristia para o sul com arco cruzeiro também pintado de novo a óleo e frisos dourados. O colateral da parte do Evangelho também é de talha dourada e nele está a formosa imagem de Nossa Senhora do Livramento e no da parte da Epístola está a imagem do glorioso Santo António, todas de vulto e esculpidas em pau muito bem estufadas de novo ; todo este colateral de Santo António é lavrado em pedra e pintado a óleo, de pedras fingidas ao madeiro com frisos de ouro, tem coro e púlpito, para fora à mão direita da porta principal aberto com um cabido que está sobre a mesma praça, a repará-la das chuvas e grandes tempestades que da parte do mar acometem àquele sítio, que está em um alto desamparado e pegado na mesma Capela pela parte do sul estão casas para habitação do referido Ermitão, que há dois anos faleceu e é hoje Senhor e Administrador da Capela seu herdeiro o Padre Serafim Duarte Lourenço do lugar e freguesia de Destriz, deste Bispado. Logo abaixo da Capela pela parte do sul, está um fraco vale que não consta senão de um pinheiral e continuam na sua endireitura para o nascente uns tojais que tudo o Ermitão tinha comprado para a sustentação da Capela: tem mais esta os requerimentos necessários e cálice para se celebrar.

Celebra-se a festa da Senhora do Chão, de que acima faço menção no dia da Visitação a dois de Julho na sua Capela, com Missa Solene e sermão, a que concorre muita gente das vizinhanças. Em romaria da Senhora do Bom Despacho na sua Capela se celebra a oito de Setembro, dia da Natividade da mesma Senhora, com grande concurso de povo, que com devoção a esta Senhora pelos seus milagres, acode de várias partes.

 

Os frutos que produz o território desta freguesia de S. João do Monte em maior abundância é centeio e milho grosso, suficiente para o sustento dos habitadores e algum vinho, pouco e muito verde.

 

Tem este Concelho um Juiz ordinário que conhece do Cível, Crime e Órfãos, dois vereadores, um procurador do Concelho, que se elegem em Câmara de três em três anos a votos do povo, e com confirmação do Corregedor da Comarca, servem seus ofícios e cargos e há também um escrivão que serve de público policial e nesta Câmara faz sisas e almotaçaria, de que é proprietário Paulo Ferreira, da freguesia de Vila Pouca, freguesia de Pala, Bispado de Coimbra, e actual serventuário a exercitar o ofício por provimento de Sua Majestade, que Deus guarde.

Algum dia dizem que era Couto esta terra: porém hoje denomina-se cabeça do concelho sem que seja honra nem behetria. É tradição que os povos deste território estavam sujeitos às Justiças da vila de Vouzela, concelho de Lafões; e por ficar distante desta vila três léguas, levantaram neste lugar de S. João do Monte pelourinho e se conserva até ao presente como título de vila e seu concelho e termo.

Não descobri notícia alguma de que desta terra saíssem homens que se laureassem em letras, armas ou virtudes.

Não se faz nesta freguesia feira alguma, senão um arraial no dia de S. João Baptista fora dos passais da Igreja para a parte do sul debaixo de uns frondosos carvalhos em que se vendem algumas coisas comestíveis, louças de barro, ferramentas, e alhos por novidade, que vêm de Mealhada, freguesia de Vacariça, Bispado de Coimbra, distante daqui seis léguas, o que tudo se vende livre de qualquer tributo.

Não teve em tempo algum nem tem correio: mas serve-se ou do correio de Tondela que fica daqui em distância de três léguas para nascente,  ou do de Águeda também três léguas para poente.

Desta freguesia de S. João do Monte à cidade de Viseu, capital do Bispado, são cinco léguas e à cidade de Lisboa, capital do Reino, são quarenta e três.

Não sei que esta terra tenha alguns privilégios, ou outras coisas, de antiguidades e dignas de memória.

Não há neste concelho fonte ou lagoa célebre e memorável.

Não é porto de mar, nem é murada esta terra, nem Praça de armas, nem tem castelo, ou torre alguma antiga nem moderna.

No terramoto do primeiro dia do mês de Novembro do ano de mil setecentos cinquenta e cinco que a todos estes habitadores causou tribulação, não houve pela misericórdia de Deus ruína alguma, que necessite situação de reparo.

Nem há mais coisa alguma digna de memória que possa noticiar-se desta terra.

 

Notícias desta serra

 

A serra em que está situada esta Igreja e seus lugares e as duas anexas de S. Pedro de Varzielas e Mosteirinho se chama a serra do Caramulo, porém não posso descobrir a verdadeira etimologia do seu nome.

Corre esta serra de norte a sul. Pela parte do norte, principia no monte Lapão junto ao lugar de Fataunços, concelho de Lafões, e acaba na minha estimação, no alto penhasco do Caramulo, ou algum pouco na direita dele, aonde está um lugar que chamam Jueus, que é da freguesia do Guardão, tendo em todo este comprimento quatro léguas. Não sei em que se fundam os que afirmam que a dita serra acaba no deserto do Bussaco, aonde existe Religiosos no Convento dos Marianos; porquanto, depois de acabar como digo esta Serra no Jueus; se mete entremeio um vale aonde está a Póvoa de Marruje, e depois subindo à parte Má de Estaca principia outra serra que se intitula a serra do Boi, que com seus altos e baixos, continua até ao Bussaco.

Esta serra do Caramulo, em umas partes  é mais alta que outras,  sem que tenha braços ou propriedades naturais. Dos rios que nela nascem e correm pelo distrito desta freguesia, falarei abaixo.

Não tem vilas, nem mais lugares do que os que já referi no distrito desta freguesia.

Também não tem fontes de nome com propriedades raras, só ser abundante de águas de boa qualidade, muito frescas, claras e salutíferas.

Não se sabe que nesta serra hajam minas de metais, ou canteiros de pedras, ou de outros materiais  de estimação.

Não consta que nela haja plantas ou ervas medicinais.

Não há também Mosteiros, nem Igrejas ou Ermidas de romagem, ou imagens milagrosas, além das que acima refiro.

O temperamento desta serra é muito frio, tanto dos ares como do lastro, abundante de neves e geadas no inverno; e não é pequeno favor do Céu durarem tantos anos os naturais neste Caramulo com tanto caramelo.

Os gados que se criam nesta terra são bois, vacas, cabras, e ovelhas, as quais deverão também ter pastos de ervas, mas no Inverno padecem por se cobrirem de neve os montes; e se passam muitas vezes três e quatro dias e mais que os gados não podem sair para o pasto; e é preciso sustentá-los nos currais: mas nem por isso deixa de ser abundante de lacticínios e queijos frescos, tudo são no mais de verão que de inverno. Muitas perdizes e coelhos: a cada passo se encontram por esta serra lobos e em alguns sítios, porcos monteses.

Não tem esta serra lagoa ou fojos notáveis nem mais coisa alguma digna de memória.

 

Notícias dos rios desta terra

 

Dois são os rios desta terra e suavizam aos naturais o desabrido do seu clima. O primeiro chama-se de S. João do Monte. O segundo denomina-se de Almofala. O de S. João do Monte nasce em três partes a saber: no cimo da Misarela, onde chamam as Cabecinhas, em Portela do Guardão e no alto da fonte da Bezerreira. O de Almofala nasce em uma fonte junto ao pé do penhasco alto, ou bico do Caramulo, em os lameirões do quadraço.

Assim um como outro rio não nascem caudalosos e só o são no tempo do inverno; e de verão, se diminuem muito suas águas que apenas chegam para os moinhos; mas nunca secam de todo; todo o ano mais ou menos correm.

Não entram neles outros rios, senão alguns ribeiros, a que os moradores chamam Corgas, e são pequenas que não são dignas de que delas se faça especial menção.

Nenhum deles é navegável nem capaz de embarcações.

Ambos são de curso arrebatado em toda sua distância, por correram por fragas e penhas.

O rio de S. João do Monte corre pela parte do norte de nascente a poente; o de Almofala corre pela parte do sul, também de nascente para poente.

A qualidade e espécie de peixes que cria o rio de S. João do Monte são trutas e bordalos, estes em pouca quantidade, aquelas em abundância. O de Almofala cria barbos, trutas, bogas e bordalos: porém, mais natural e abundante de barbos, que de outros peixes.

Em ambos os rios se pesca só de verão, que é desde o mês de Junho até o de Setembro.

As pescarias destes dois rios são livres, nem há senhor algum particular.

Em algumas partes destes dois rios se cultivam as suas margens; e abundância de suas árvores, assim pelas margens dos rios como por toda a terra, são carvalhos, sobreiros, e poucos castanheiros. Algumas árvores há de frutas: mas pelo desabrido do clima, as não produzem, e quando algum ano vingam, são pouco saborosas; há sim muita cereja em alguns lugares, mas a maior parte delas são bravias.

Não consta que tenham virtude alguma as águas destes rios, só serem muito claras e frias.

Não têm outros nomes estes rios e só os moradores os chamam como querem, dando-lhes a etimologia dos lugares por onde passam, v.g. passam pelo lugar de Mançores e chamam-lhe o rio de Mançores, e assim nos mais lugares, etc.

Juntam-se estes dois rios no sítio do lugar da Talhada, freguesia de Castanheira do Vouga, Bispado de Coimbra.

Nenhum deles, como já disse, é navegável, porém ambos têm represas, levadas ou açudes para moinhos e pisões.

Ambos têm pontes de pedra e de pau, em baixo direi quantas e em que sítios.

Têm estes dois rios pisões e moinhos particulares dos moradores, e não há moleiros nesta freguesia, por terem por desprezo semelhante ofício, e não tem lagares de azeite, noras ou outro algum engenho.

Em tempo algum consta que destes rios se tirou ouro; pois são mais abundantes de pedras que de areias.

Os povos usam livremente sem pensão alguma de suas águas, para a cultura dos campos em algumas partes; porque em outras o não permite o arrebatado de seu curso.

Qualquer destes dois rios terá duas léguas e meia desde onde nascem até onde fenecem. E o de S. João do Monte principia aonde acima apontei e chegando de ser sítio do seu nascimento a fonte por baixo da ponte vão do lugar de Varzielas, corre pela parte do norte ao lugar de Valedasna, que é o primeiro desta freguesia, daí vindo arrimado ao passal desta Igreja e chega a uma ponte de cantaria de pedra que faz passagem para a vila de S. João do Monte que está da parte do norte, defronte desta Igreja. Consta esta ponte de cinco arcos, tem de comprimento quatrocentos e oito palmos, e de largura dezoito, com duas guardas de pedra forte de cinco palmos de alto, haverá quinze anos que foi feita.

Daqui vai continuando o rio no seu curso, e passa pelo lugar de Belazeima, em que há uma ponte de pau, daí pelo lugar de Matadegas, passa a póvoa da Foz, e depois o lugar de Carvalhal, em que há ponte de pau, daí finalmente ao lugar e sítio da Talhada, como acima disse. Deixemos nesta entretalhada este rio e vamos buscar o segundo seu companheiro. O rio de Almofala tem seu princípio nos sítios onde já acima referi e daí pela parte do sul corre perto do lugar de Dornas, onde tem ponte de pau, passa logo à vista do lugar de Teixo, e na endireitura deste sítio tem uma ponte de pau, chamada a ponte da Corte; daí passa os pisões do Souto, onde há outra ponte de pau para passagem do lugar de Castelo, que está junto ao mesmo rio, e defronte do lugar do Souto, que para a parte do norte fica na meia ladeira de um monte, e correndo pela Póvoa de Demenderes, com ponte de pau e daí por Almijofa chega ao lugar de Mançores, onde também há uma ponte de pau para este lugar, que fica ao poente; é esta ponte bem medonha pela sua altura e ser muito estreita. Continua o rio pelo lugar de Alcafaz e finalmente pelo Bertufo chega ao mencionado lugar e sítio da Talhada, e incorporando-se aqui estes dois rios, correm ainda arrebatados por detrás dos passais da sobredita Igreja de Castanheira, e chegando a avistar o lugar de Bolfiar, morrem e fenecem no bem nomeado Rio Alfusqueiro queziloso de todo de sua fúria, vão murmurando todos por Águeda até chegarem à ponte de Almear e aí se reforçam com o famoso Rio Vouga, que despedindo-se ultimamente do deliciosa campo de Angeja, por onde passam, acham a sua sepultura no mar oceano pela Barra de Aveiro, que agora a acharam bem desimpedida para seu descanso.

E não se oferece de presente mais coisa alguma digna de memória e notável, de que se possa dar notícia desta terra, serra e rios dela.

 

Residência de S. João do Monte, 3 de Junho de 1758.

 

O Reitor, Fernando Gomes Leitão

 

S. MIGUEL DO OUTEIRO

 

 

S. Miguel do Outeiro

  

José Henriques de Almeida, Vigário Proprietário nesta Igreja de S. Miguel do Outeiro, Comissário do Santo Ofício.

Dando cumprimento à carta de Sua Ex.ª juntamente com os interrogatórios, que descrevo pela maneira seguinte:

 

1.     Fica esta freguesia de São Miguel do Outeiro na Província da Beira alta, Bispado de Viseu, é freguesia sobre si.

2.     É a apresentação da Igreja de El-Rei N. Sr. É esta vila de Donatário por mercê que o mesmo Senhor fez há quatro anos a José Joaquim de Larre, Provedor dos Armazéns.

3.     Tem trezentos vinte e nove fogos, pessoas maiores oitocentos oitenta e seis, pessoas menores cento e dez, clérigos, trinta e um.

4.     Está situada entre montes e a sua situação é quase planície, ainda que apertada, descobre-se desta Igreja o lugar de Farminhão, que somente dista meia légua.

5.     É termo sobre si, que compreende só esta vila, que tem cento cinquenta e seis vizinhos.

6.     Está a paróquia pegada na vila, para a parte do norte; tem cinco lugares esta freguesia, fora a Matriz, que se chamam: Parada de Gonta, Póvoa da Catarina, Real, Outeiro, Fial.

7.     O seu Orago é São Miguel, tem cinco altares que são: a Senhora do Rosário, São Sebastião, São João, Santo António, o Menino, tem a Igreja duas naves, com três arcos cada uma. Tem três Irmandades: de Nossa Senhora da Póvoa, São Sebastião e Almas.

8.     O Pároco desta freguesia é Vigário, é apresentação do Padroado Real, tem de renda quarenta mil réis, que lhe paga a comenda, sessenta alqueires de pão tão somente.

9.     Não tem nada de beneficiados.

10.   Também não tem convento algum.

11.   Não tem Hospital.

12.   Também não tem casa de misericórdia.

13.   Tem esta vila dentro em si cinco ermidas, com os títulos: o Senhor do Calvário, que está pouca distância fora da vila – São Pedro – a Senhora da Piedade – São Nicolau – A Senhora do pé da Cruz, de que é Senhor António Lobo. Em o lugar de Parada, há duas Capelas: a Senhora da Conceição, que é do povo, e a de Santo António, de que é Administrador o Doutor Diogo Nunes Teixeira. Tem o lugar de Póvoa da Catarina uma Capela que é do povo com a invocação Nossa Senhora da Purificação. Tem o lugar de Real uma Capela que é do povo, com o título Senhora da Penha de França. Tem o lugar de Outeiro outra Capela com o título a Senhora das Neves. O lugar de Fial tem uma que também é do povo, com a invocação Santo António.

14.   A nenhuma destas Capelas acode romagem alguma, somente os fregueses.

15.   Os frutos que nesta freguesia se recolhem em mais abundância é vinho.

16.   Tem esta vila Juiz ordinário com dois vereadores, um procurador e um almotacel, e um escrivão da Câmara, que todos per si fazem audiências sem estarem a outra Justiça sujeitos .

17.   Não é Couto, e só é concelho sobre si.

18.   Tem florescido nesta vila em letras o Doutor João de Oliveira, o Doutor Manuel de Figueiredo, o Doutor António Francisco Duarte, o Desembargador Gregório Dias da Silva, o Doutor Manuel de Oliveira; em armas, o Capitão Manuel Antunes, o Furriel de Cavalos, João Antunes Pereira e Manuel de Loureiro Castelo Branco, Tenente de Cavalos.

19.   Não tem feira alguma esta freguesia.

20.   Não tem correio e serve-se do que vem da cidade de Viseu, que dista duas léguas.

21.   Dista a Cidade capital duas léguas e a de Lisboa, cinquenta léguas.

22.   Não tem privilégio algum, somente o da Bula e Tabaco, que ocupam duas pessoas.

23.   Não há lagoa nem fonte célebre, somente uma que proximamente se descobriu em a quinta de Carvalhiços, chamada água férrea, que dizem os médicos tem grandes virtudes.

24.   Não tem porto de mar.

25.   Não tem coisa alguma que diga respeito a este capítulo.

26.   Também no Terramoto não padeceu ruína alguma.

27.   Não há coisa mais alguma [digna de] memória, que nestes capítulos se possa relatar.

 

Quanto aos capítulos de serras e rios não tenho nada notável para dizer desta freguesia, pois nesta terra somente alguns moinhos de pão e azeite, e ser terra salutífera, com muitos sabres de árvores silvestres e de fruto.

 

José Henriques de Almeida

 

 

 

 

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