13-9-2000
Ulrike von Levetzow, here
Erlkönig
Wer reitet so spät durch Nacht
und Wind? Mein Sohn, was birgst du so bang dein Gesicht? - "Du liebes Kind, komm, geh mit mir! Mein Vater, mein Vater, und hörest du nicht, "Willst, feiner Knabe, du mit mir gehn? Mein Vater, mein Vater und siehst du nicht dort "Ich liebe dich, mich reizt deine schöne
Gestalt; Dem Vater grauset's, er reitet geschwind,
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THE ERL-KING
Who rides there so late through the night dark and drear?
"My son, wherefore seek'st thou thy face thus to hide?"
"Oh, come, thou dear infant! oh come thou with me!
"My father, my father, and dost thou not hear
"Wilt go, then, dear infant, wilt go with me there?
"My father, my father, and dost thou not see,
"I love thee, I'm charm'd by thy beauty, dear boy!
The father now gallops, with terror half wild, 1782. Translated by Edgar Alfred Bowring
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Wanderers NachtliedÜber allen Gipfeln
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THE WANDERER'S NIGHT-SONG. THOU who comest from on high,
Who all woes and sorrows stillest,
Hearts with twofold balsam fillest,
What are pain and rapture now? To my bosom hasten thou! 1789 Translated by Edgar Alfred Bowring
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Lebensregel
Willst du dir ein hübsch Leben
zimmern,
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THE RULE OF LIFE.
IF thou wouldst live unruffled by care, 1815 Translated by Edgar Alfred Bowring
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Das Göttliche
Edel sei
der Mensch,
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O DIVINO
Nobre Seja o homem, Solicito e bom! Pois isso apenas O distingue De todos os seres Que conhecemos.
Louvemos os seres Supremos, ignotos, Que pressentimos! A eles deve igualar-se o homem! Que o seu exemplo nos ensine A crer naqueles.
Pois insensível É a Natureza: O Sol alumia Os maus e os bons, E o criminoso Vê como os melhores Brilhar Lua e estrelas.
O vento e as torrentes Trovão e granizo, Desabam com estrondo E atingem No seu ímpeto Um após outro.
Também a sorte anda Às cegas entre a multidão E escolhe, ora os cabelos Inocentes do menino, Ora a cabeça calva Do culpado.
Grandes leis Eternas, de bronze, Regem os ciclos Que todos temos de percorrer Na nossa existência.
Mas só o homem Consegue o impossível: Pois sabe distinguir, Escolher e julgar; Por ele o instante Ganha duração.
Só ele pode Premiar os bons, Castigar os maus, Curar e salvar, Unir com sentido O que erra e se perde.
E nós veneramos Os imortais Como se homens fossem, E em grande fizessem O que em pequeno os melhores Fazem ou desejam.
Que o homem nobre Seja solícito e bom! incansável, crie O útil, o justo, E nos seja exemplo Daqueles seres que pressentimos!
Tradução de João Barrento
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Der Fischer
Das Wasser rauscht', das Wasser schwoll,
Sie
sang zu ihm, sie sprach zu ihm:
Labt sich die liebe Sonne nicht,
Das
Wasser rauscht', das Wasser schwoll, (1778)
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O PESCADOR
A água espumava, a água subia, Junto dela, o pescador Tranquilo a sua linha seguia, De coração sem temor. E assim sentado, assim a olhar, Vê a onda crescer e abrir; E sai da agitação do mar Uma donzela a escorrer.
E ela cantou, e ela falou: «Porque atrais a minha prole Com a tua astúcia e o engenho teu, Para o calor mortal do Sol? Se fosses peixe saberias Como no fundo se está bem, E assim como estas mergulharias, E salvavas-te enfim.
Não se deleita o Sol no mar, E a Lua? É vê-los Voltarem depois. ao respirar As ondas, bem mais belos! Não sentes a atracção do céu, Do húmido azul transfigurado? E não te atrai o rosto teu Para aqui, eterno e orvalhado?»
A água espumava, a água subia, Já os pés lhe molhava, Já o coração ansiava. E ela falou, e ela cantou, Ele não resistiu: Atrai-o ela, ele se afundou, E ninguém mais o viu.
Tradução de João Barrento
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Trilogie der Leidenschaft
An Werther
Noch einmal
wagst du, vielbeweinter Schatten, Des Menschen Leben scheint
ein herrlich Los: Nun glauben wirs zu kennen!
Mit Gewalt Doch erst zu früh und dann zu
spät gewarnt,
Du lächelst,
Freund, gefühlvoll wie sich ziemt:
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TRILOGIA DA PAIXÃO
A Werther
Uma vez mais, fantasma tão chorado, À luz do dia te atreves a aflorar, Entre as flores novas te encontro, no prado, E não te faz tremer o meu olhar. É como se vivesses na manhã, Quando, num campo, o orvalho nos alivia, Depois do dia e seu ingrato afã O último raio de sol nos delicia; Eleito eu para ficar, tu para partir, Adiante foste — sem muito perder.
Parece a vida humana uma bela surpresa: O dia, que prazer! E a noite, que grandeza! E nós, plantados num paraíso tal. Mal desfrutamos do magnífico sol, Em ambições e lutas confundidos Ou connosco ou com o mundo envolvidos; Ninguém completa o outro em sã partilha, Lá fora há sombras quando noss’ alma brilha Um brilho externo cega o meu turvo olhar, Está perto a sorte — e deixamo-la passar.
Julgamos conhecê-la! E à força então Vence a mulher e a sua sedução: O jovem, feliz como na infância o era Transforma-se na própria Primavera, Pergunta, estupefacto : que aconteceu ? Olha em redor, e o mundo é todo seu. Pressa incontida arrasta-o para o longe, Nem muralha nem palácio o constrange; Como bando de pássaros rasando As copas, ele a amada vai rondando Busca, do éter que deixar pretende, O olhar fiel, e é este que o prende.
Mas prematuro, ou tardio, e o aviso, Algo lhe tolhe o voo, sente-se preso, Alegre o encontro, penosa a despedida, O reencontro alegra-o mais ainda, E num momento anos recupera, Mas o pérfido adeus já os espera.
Sorris, amigo, como convém, sensível, Deu-te fama a partida terrível Celebrámos teu destino fatal, Cá nos deixaste, para o bem e para o mal: Depois voltámos ao trilho indistinto Das paixões perdidas no labirinto; Enredámo-nos de novo na má sorte, Na partida por fim — partida é morte! Canta o poeta, e como nos apraz, Fugindo à morte que a partida traz! Mergulhado em tal dor — culpa nem tanto —. Que um deus lhe dê dizer seu sofrimento.
Tradução de João Barrento
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Elegie
Und wenn der Mensch in seiner Qual verstummt,
Was soll ich nun vom Wiedersehen hoffen,
So
warst du denn im Paradies empfangen,
Wie
regte nicht der Tag die raschen Flügel,
Der
Kuß, der letzte, grausam süß, zerschneidend
Und
nun verschlossen in sich selbst, als hätte
Ist
denn die Welt nicht übrig? Felsenwände,
Wie
leicht und zierlich, klar und zart gewoben
Doch nur Momente darfst dich unterwinden
Wie
zum Empfang sie an den Pforten weilte
Ins
Herz, das fest, wie zinnenhohe Mauer,
War
Fähigkeit zu lieben, war Bedürfen
Und
zwar durch sie! – Wie lag ein innres Bangen
Dem
Frieden Gottes, welcher euch hienieden
In
unsers Busen Reine wogt ein Streben,
Vor
ihrem Blick wie vor der Sonne Walten,
Es
ist, als wenn sie sagte: Stund um Stunde
Drum tu wie ich und schaue, froh verständig
Du
hast gut reden, dacht ich: zum Geleite
Nun
bin ich fern! Der jetzigen Minute,
So
quellt denn fort und fließet unaufhaltsam –
Fehlts am Begriff: wie sollt er sie vermissen?
Verlasst mich
hier, getreue Weggenossen!
Mir ist das
All, ich bin mir selbst verloren,
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Elegia
E quando o homem emudece de dor Um deus me deu dizer tudo o que sofro.
Que hei-de eu então do reencontro esperar, Do botão deste dia inda fechado? Paraíso e inferno, de par em par Se abrem ao meu espírito desvairado Não tenho dúvidas! Ao céu vai subir, P’ra nos braços a ti te receber.
E assim no paraíso já te vejo, No eterno e belo reino, sem merecê-lo; Não te restou esperança, ânsia, desejo, Era esta a meta do mais íntimo anelo, E ante uma tal beleza nasce o espanto, Secou a fonte de nostálgico pranto.
Que célere o bater de asas do dia! Um a um os minutos a ceder! À noite, o beijo - o selo que nos unia: E assim será com o Sol que há-de nascer. Correm as horas, iguais e indolentes, Todas irmãs, e todas tão diferentes.
O beijo, o derradeiro, doce cruel, Rasga a trama sublime deste amor. O pé apressa-se, pára, foge do umbral, Expulso pelo anjo de espada a flamejar; Fixa o olhar o caminho, enfadado, Volta-se, triste — o portão está fechado.
Fechado em si agora o coração. Como se nunca aberto se tivesse Nem, com os astros em competição, Com ela horas de sonho disfrutasse; E arrependimentos, cuidados, desprazer, Como ar de chumbo sobre ele a pesar.
Mas não nos resta o mundo? - Estes rochedos. De sombras sacras não estão coroados? Não sazona a colheita? E os campos verdes Não se estendem por rios, bosques e prados? E não se arqueia a cósmica grandeza, Ou rica em formas, ou nua de beleza?
Grácil e leve, em claro tecido, aéreo, Paira, seráfica, entre brumas estelares, Como que a ela igual, no azul etéreo, Forma esbelta, de diáfanos vapores: Assim a viste dançando, esplendorosa, Das formas graciosas a mais graciosa.
Mas só por uns instantes ousaras Um fantasma reter em seu lugar; Volta ao coração! Aí a encontrarás, Em mil formas se oferecendo ao teu olhar; E uma verás em muitas convertida, Em milhares delas, cada vez mais querida.
Ficava às portas, como para receber-me, Passo a passo me levando ao desvairo; Depois do último beijo inda alcançar-me Para nos lábios me pôr o derradeiro: E fica-me essa imagem clara e viva No coração fiel a fogo escrita.
Muralha alcandorada, o coração, Que a guarda em si e se guarda para ela, Que por ela se alegra com a própria duração, Só de si sabe quando ela se revela, Se sente livre nessa amada prisão, E por ela bate, todo gratidão.
Se morta e apagada estava em mim A vontade de amar, de ser amado, Logo o desejo de nova acção senti, De decisões, projectos esperançados! E se é verdade que o amor inspira o amante, Eu próprio disso sou prova eloquente;
E a ela o devo! Que angústia interior, No corpo e n’ alma odiada opressão: Assediado por imagens de terror, No deserto vazio do coração: Mas nasce a esperança no conhecido umbral, E ela mesma aparece, um claro Sol.
À paz de Deus que neste mundo a vós a razão consola — é o que lemos — Comparo do amor a serena paz Na presença do ser que mais amamos’ Repousa o coração, e nada abala Este forte sentir de ser só dela.
Na nossa alma pura há uma saudade De só nos darmos, em gesto livre e grato, A uma pura, ignota, alta entidade, Desvelando em nós o eterno Inominado; Devoção lhe chamamos, e eu sinto Esse êxtase quando ante ela me encontro.
O seu olhar, como a força do Sol, O seu hálito, como a brisa de Maio, Faz degelar, como em cripta invernal, O egoísmo que o tempo inteiriçou; Não há interesse, vontade, que resistam, Quando ela chega logo eles se dissipam.
É como se dissesse: «De hora a hora Amavelmente a vida nos é dada, O que ontem foi, mal o temos agora. A ciência do futuro é-nos vedada: E sempre que à noitinha tive medo, O pôr do Sol me encontrou vivo e ledo.
«Por isso, faz como eu e olha, sensato, O instante de frente, sem adiar! Enfrenta-o logo, benévolo, animado, Quer para o prazer da acção, quer para amar: Onde estiveres, sê tudo, infantilmente, E serás tudo, insuperável sempre.»
Tu falas bem, pensei, e a ti te deu Um deus por companhia o dom do instante, E cada um num instante se sente a teu Lado ao dom dos Fados pretendente; Assusta-me o sinal que a num de ti Me afasta — tanto saber para quê?
Estou longe agora! Ao minuto que passa Que coisa convém mais? Não sei dizer; Algo de bom me oferece, com a beleza, Mas só me pesa, tenho de o repelir; Move-me a ânsia indócil que há em mim E o que me resta são lágrimas sem fim.
Brotai então, e correi sem parar, Mas o fogo interior não esfriareis! Um furor louco meu peito quer rasgar, Vida e morte entram em luta feroz. Para a dor do corpo mezinha iria achar, Mas falta ao espírito a decisão, o querer,
E o entendimento: como passar sem ela? E mil vezes convoca a sua imagem, Que ora lhe é roubada, ora vacila, Nítida agora, depois uma miragem; Virá alguma vez consolação Do vaivém das marés do coração?
Deixai-me aqui, meus fiéis companheiros, Entre pântano e musgo, numa fraga; O mundo abre-se a vós. Ide, ligeiros! Sublime e grande é o Céu, a Terra larga; Estudai, juntai os factos, e na procura Balbuciai os segredos da Natura.
Perdi o Todo, de mim já me perdera, Eu, ainda há pouco o eleito dos deuses. À prova me puseram, veio Pandora Cheia de bens, e inda mais de reveses: A uma pródiga boca me prenderam, E com a separação morte me deram.
Tradução de João Barrento
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Aussöhnung
Die
Leidenschaft bringt Leiden! – Wer beschwichtigt
Da schwebt hervor Musik mit
Engelschwingen,
Und so das Herz
erleichtert merkt behende,
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Reconciliação
Paixão traz sofrimento! — Quem alivia De tanta perda o coração ferido? Esvaem-se as mais belas horas do dia. Para a beleza em vão foste escolhido! Opaco o espírito, os desígnios confundidos; A grandeza do mundo escapa-se aos sentidos!
Mas eis que em asas de anjo vem pairando A música, que mil sons com sons casa, A natureza humana penetrando, Em rica dádiva de eterna beleza: Os olhos húmidos sentem o supremo dom Do divino valor da lágrima e do som.
E o coração aliviado sabe então Que vive e bate e quer continuar, Dando-se todo, em pura gratidão Pelas graças que ela lhe quis dar. Sentiu-se aí — ah, se assim sempre for... A dupla felicidade dos sons e do amor. Tradução de João Barrento
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As traduções para Português foram extraídas de Obras Escolhidas de Goethe, POESIA, Selecção, Tradução, Prefácio e Notas de João Barrento, Círculo de Leitores, Lisboa, 1993, ISBN 972-42-0713-7 |
Meeres Stille
Tiefe Stille herrscht im Wasser,
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Mar calmo
Uma calmaria profunda paira sobre as águas Inerte jaz o mar, E, preocupado, o barqueiro contempla A lisa superfície em redor. Nenhuma brisa de lago algum! Terrível quietude fúnebre! Na vastidão imensa Nenhuma onda se agita.
Feliz viagem
Rasgam-se as brumas, o céu brilha claro e Eolo desata a laçada inquietante. Sussuram os ventos, agita-se o barqueiro. Depressa ! Depressa! Cindem-se as ondas, aproxima-se a lonjura, Já avisto a terra!
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Beethoven musicou em 1822 estas duas poesias para coro e orquestra - Op. 112, dedicada a Goethe. Esta Cantata foi interpretada na Festa da Música no Centro Cultural de Belém, em 22 e 23-4-2005. A tradução para Português é a do programa que então foi distribuído. |
Outras
poesias de Goethe no original alemão,
aqui
Em tradução para inglês, aqui.