12-7-2004

 

Rupert Brooke

(1887-1915)

 

 

    

Rupert Brooke nunca foi considerado um grande poeta, mas, como era um moço bonito, escrevia versos românticos e morreu durante a 1.ª Guerra Mundial, com 28 anos, ficou como símbolo da juventude dourada inglesa mandada para aquela carnificina, a primeira e última guerra democrática, em que graduados de Oxford e Cambridge e a massa foram sacrificados nas mesmas trincheiras.
     Um dos seus poemas mais famosos, The Old Vicarage, Grantchester, é uma espécie de suma sentimental da Inglaterra vista de longe, de um paraíso pastoral lembrado por um dos seus exilados numa Europa em decomposição, com suas evocativas linhas finais: “Stands the Church clock at ten to three?/And is there honey still for tea?” E foi Rupert Brooke quem escreveu, no começo da guerra, o chamamento poético - intitulado 1914 - para a sua geração de aristocratas ir morrer com glória pelos verdes campos ingleses. No poema ele antecipa sua própria morte, com palavras que dariam arrepios em guerreiros românticos ainda por nascer.
“If I should die, think only this of me:/That theresome corner of a foreign field/That is forever England.” (E se eu morrer, pense apenas isto de mim: que há um canto numa terra estranha que será para sempre a Inglaterra.)
     Brooke morreu servindo na marinha inglesa, na ilha grega de Skyros, onde está sepultado, e onde há um monumento à sua memória. Pelo monumento não se fica sabendo que ele não morreu em ação e sim vítima de disenteria. Mas o velho John Ford dizia que, quando os fatos desmentem a lenda, se deve publicar a lenda. Um pequeno detalhe antipoético não deveria ter o poder de transformar o mito de um jovem deus trágico numa história de ardor juvenil frustrado, significando muito pouco.
     Esquecido o detalhe, permanecem a morte prematura numa terra estranha e o símbolo, literariamente satisfatório, de patriotismo ou de juventude martirizada. De qualquer forma, a poesia vence a disenteria.
     Pelo menos Brooke morreu moço. Se vivesse muito, os detalhes se acumulariam e ele não teria a reputação que tem hoje, e que cresce apesar dos seus versos e do fim sem glória

 

    LUIS FRANCISCO VERÍSSIMO, em Diário do Nordeste, Caderno 3,

    Fortaleza, Ceará - Domingo 20 de junho de 1999

 

Rupert Brooke

 

 

 

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Biography

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INDEX of the Poems:

 

Peace

SPRING SORROW

THE DEAD

The Old Vicarage, Granchester
The Soldier

TIARE TAHITI

 

TIARE TAHITI

Mamua, when our laughter ends,
And hearts and bodies, brown as white,
Are dust about the doors of friends,
Or scent ablowing down the night,
Then, oh! then, the wise agree,
Comes our immortality.
Mamua, there waits a land
Hard for us to understand.
Out of time, beyond the sun,
All are one in Paradise,
You and Pupure are one,
And Tau, and the ungainly wise.
There the Eternals are, and there
The Good, the Lovely, and the True,
And Types, whose earthly copies were
The foolish broken things we knew;
There is the Face, whose ghosts we are;
The real, the never-setting Star;
And the Flower, of which we love
Faint and fading shadows here;
Never a tear, but only Grief;
Dance, but not the limbs that move;
Songs in Song shall disappear;
Instead of lovers, Love shall be;
For hearts, Immutability;
And there, on the Ideal Reef,
Thunders the Everlasting Sea!

And my laughter, and my pain,
Shall home to the Eternal Brain.
And all lovely things, they say,
Meet in Loveliness again;
Miri's laugh, Teipo's feet,
And the hands of Matua,
Stars and sunlight there shall meet,
Coral's hues and rainbows there,
And Teura's braided hair;
And with the starred `tiare's' white,
And white birds in the dark ravine,
And `flamboyants' ablaze at night,
And jewels, and evening's after-green,
And dawns of pearl and gold and red,
Mamua, your lovelier head!
And there'll no more be one who dreams
Under the ferns, of crumbling stuff,
Eyes of illusion, mouth that seems,
All time-entangled human love.
And you'll no longer swing and sway
Divinely down the scented shade,
Where feet to Ambulation fade,
And moons are lost in endless Day.
How shall we wind these wreaths of ours,
Where there are neither heads nor flowers?
Oh, Heaven's Heaven! -- but we'll be missing
The palms, and sunlight, and the south;
And there's an end, I think, of kissing,
When our mouths are one with Mouth. . . .

`Tau here', Mamua,
Crown the hair, and come away!
Hear the calling of the moon,
And the whispering scents that stray
About the idle warm lagoon.
Hasten, hand in human hand,
Down the dark, the flowered way,
Along the whiteness of the sand,
And in the water's soft caress,
Wash the mind of foolishness,
Mamua, until the day.
Spend the glittering moonlight there
Pursuing down the soundless deep
Limbs that gleam and shadowy hair,
Or floating lazy, half-asleep.
Dive and double and follow after,
Snare in flowers, and kiss, and call,
With lips that fade, and human laughter
And faces individual,
Well this side of Paradise! . . .
There's little comfort in the wise.

Papeete, February 1914

TIARE TAHITI

 

 

Mamua, quando nossa risada cessar,

E nossos corações e corpos, marrom e branco,

Virarem pó na porta de nossos amigos,

Ou fragrância soprando pela noite,

Então, oh! então, os sábios concordam,

Vem a imortalidade.

Mamua, lá uma terra nos espera

Difícil de entender.

Além do tempo, além do sol,

Tudo é uma coisa só no Paraíso,

Você e Pupure são um,

E Tau, e os canhestros sábios...

Lá estão os Eternos, e os

Bons, os Encantadores e os Verdadeiros,

E Modelos, cujas cópias terrenas eram

As bobagens que conhecíamos;

Lá está a Face, cujos fantasmas somos nós;

O real, a Estrela que nunca se põe;

E a Flor, das quais adoramos as sombras

Fracas e desvanecidas aqui;

Nunca uma lágrima, apenas Tristeza;

Dança, mas não membros que se movem;

Músicas na Música desaparecerão;

Ao invés de amantes, haverá Amor;

Para os corações, Imutabilidade;

E lá, no Recife ideal,

Troveja o Mar Eterno!

 

E minha risada, e minha dor,

Irão morar no Cérebro Eterno.

E todas as coisas encantadoras, dizem,

Encontram-se no Encanto de novo;

A risada de Miri, os pés de Teipo,

E as mãos de Matua,

Estrelas e a luz do sol lá se encontrarão,

As cores dos Corais e do arco-íris,

E as tranças de Teura;

E o branco estrelado de Tiare,

E os pássaros brancos no escuro desfiladeiro,

E as brilhantes chamas à noite,

E jóias, e o verde-escuro da noite,

E alvoradas de pérola e ouro e vermelho, encontrarão,

Mamua, sua cabeça muito mais encantadora!

E não haverá mais quem sonhe

Debaixo das samambaias, com a frágil matéria

Olhos de ilusão, boca que parece

Sempre entrelaçada no amor humano.

E você não vai mais dançar e se agitar

Divinamente na sombra cheirosa,

Onde os pés no Movimento desaparecem,

E luas se perdem no Dia interminável.

Como vamos fazer estas nossas guirlandas

Onde não há cabeças nem flores?

Oh, o Céu é o Céu! - mas vamos sentir falta

Das palmeiras e da luz do sol, e o sul;

E acabam, eu acho, os beijos,

Quando nossas bocas forem uma Boca . . .

 

'Tau here', Mamua,

Coroe seu cabelo, e venha!

Ouça o chamado da lua,

E as fragrâncias sussurrantes que vagam perdidas,

Pela quente, preguiçosa lagoa.

Vamos rápido, de mãos - humanas - dadas,

Pelo caminho escuro e florido,

Pela brancura da areia,

E no carinho suave da água,

Banhar a mente de bobagens,

Mamua, até amanhecer.

Passar o luar cintilante lá,

Procurando no fundo silencioso

Braços e pernas brilhantes e cabelos escuros,

Ou flutuando preguiçosamente, quase dormindo.

Mergulhar e brincar na água,

Emaranhar-se em flores, e beijar e chamar,

Com lábios que desaparecem, e risada humana

E rostos individuais,

Este lado do Paraíso ! . . .

Não há muito consolo nos sábios.

 

Papeete, fevereiro de 1914

 

 
 

 

 

SPRING SORROW

All suddenly the wind comes soft,
And Spring is here again;
And the hawthorn quickens with buds of green
And my heart with buds of pain.

My heart all Winter lay so numb,
The earth so dead and frore,
That I never thought the Spring would come,
Or my heart wake any more.

But Winter’s broken and earth has woken
And the small birds cry again.
And the hawthorn hedge puts forth its buds,
And my heart puts forth its pain.

MÁGOA DE PRIMAVERA

De repente o vento surge suave,
E a Primavera está aqui de novo;
E o espinheiro apressa-se com botões de verde
E o meu coração com botões de dor.

O meu coração permaneceu todo o Inverno tão entorpecido,
A terra tão morta e gelada,
Que eu nunca pensei que a Primavera viria,
Ou o meu coração alguma vez despertaria.

Mas o Inverno partiu e a terra despertou
E as pequenas aves cantam de novo.
E a cerca de espinheiro apresenta os seus botões,
E o meu coração apresenta a sua dor.

 

The Soldier

If I should die, think only this of me:

That there's some corner of a foreign field
That is for ever England. There shall be
In that rich earth a richer dust concealed;
A dust whom England bore, shaped, made aware,
Gave once her flowers to love, her ways to roam;
A body of England's, breathing English air,
Washed by the rivers, blest by suns of home.
And think, this heart, all evil shed away,
A pulse in the eternal mind, no less
Gives somewhere back the thoughts by England given;
Her sights and sounds; dreams happy as her day;
And laughter, learnt of friends; and gentleness,
In hearts at peace, under an English heaven.
 

 

O SOLDADO

Se eu acaso morrer, de mim pensai somente:

há um recanto, lá numa terra estrangeira,

que há de ser a Inglaterra, eterna, eternamente.

Nessa terra tão rica, - escondida, uma poeira

mais rica existirá, que a Inglaterra fez,

e modelou, e a que deu alma, e a que, uma vez,

deu flores para amar, caminhos onde errar,

um corpo da Inglaterra, aspirando o ar inglês,

que os rios banham e abençoa a luz solar.

De todo mal despido, este meu coração,

que no espírito eterno agora é pulsação,

restitui à Inglaterra, enfim, os pensamentos

que ela lhe deu: suas paisagens e seus sons,

sonhos felizes como o esplendor do seu dia;

e o riso que a amizade ensina, e a palidez,

nos corações em paz, por sob um céu inglês.

 

(1915)

 

Tradução de ABGAR RENAULT

 

 

 

THE DEAD

 

These hearts were woven of human joys and cares,

      Washed marvellously with sorrow, swift to mirth.

The years had given them kindness. Dawn was theirs,

      And sunset, and the colours of the earth.

These had seen movement, and heard music; known

      Slumber and waking; loved; gone proudly friended;

Felt the quick stir of wonder; sat alone;

      Touched flowers and furs and cheeks. All this is ended.

 

There are waters blown by changing winds to laughter

And lit by the rich skies, all day. And after,

      Frost, with a gesture, stays the waves that dance

And wandering loveliness. He leaves a white

      Unbroken glory, a gathered radiance,

A width, a shining peace, under the night.

 

OS MORTOS

De humanas alegrias e cuidados

foram tecidos estes corações.

Prontos para o prazer, foram lavados

pela tristeza prodigiosamente.

O tempo deu-lhes bondade. O poente

foi seu, e a aurora, e as cores que há na terra

 

Ouviram música, e aventuras viram;

o sono conheceram, e a vigília;

amaram; orgulhosos se partiram,

cercados de amizades, e sentiram

a repentina comoção do espanto;

sentados, muita vez a sós ficaram;

tocaram flores, faces e peliças,

e todas essas coisas se acabaram.

Águas há que se riem, assopradas

pelos ventos mudáveis e que são

pelo céu vivo, ao dia, iluminadas.

Depois, com um gesto, a geada faz parar

ondas que dançam e a beleza a errar,

e deixa um resplendor alvo e contínuo,

um brilho recolhido, uma amplidão,

uma paz luminosa sob a noite.

 

(1914)

Tradução de ABGAR RENAULT

 

 

Peace

Now, God be thanked Who has matched us with His hour,
And caught our youth, and wakened us from sleeping,
With hand made sure, clear eye, and sharpened power,
To turn, as swimmers into cleanness leaping,
Glad from a world grown old and cold and weary,
Leave the sick hearts that honour could not move,
And half-men, and their dirty songs and dreary,
And all the little emptiness of love!

Oh! we, who have known shame, we have found release there,
Where there's no ill, no grief, but sleep has mending,
Naught broken save this body, lost but breath;
Nothing to shake the laughing heart's long peace there
But only agony, and that has ending;
And the worst friend and enemy is but Death.

 

Adesso, sia ringraziato Dio che ci ha misurati con la Sua ora,
E ha preso la nostra giovinezza, e ci ha risvegliati dal sonno….
Con la mano resa sicura, l’occhio puro e il potere affinato,
Per emergere, come nuotatori che saltano nella purezza,
Felici da un mondo divenuto vecchio e freddo, e stanco,
Lascia i cuori malati che l’onore non potrebbe commuovere
E i mezzi uomini, e le loro sporche canzoni, e monotone
E tutto il piccolo vuoto d’amore.

 

 

 

 

The Old Vicarage, Granchester
 

Cafe des Westens, Berlin, May 1912)

Just now the lilac is in bloom,
All before my little room;
And in my flower-beds, I think,
Smile the carnation and the pink;
And down the borders, well I know,
The poppy and the pansy blow...
Oh! there the chestnuts, summer through,
Beside the river make for you
A tunnel of green gloom, and sleep
Deeply above; and green and deep
The stream mysterious glides beneath,
Green as a dream and deep as death.
- Oh, damn! I know it! and I know
How the May fields all golden show,
And when the day is young and sweet,
Gild gloriously the bare feet
That run to bathe
Du Lieber Gott!

Here am I, sweating, sick, and hot,
And there the shadowed waters fresh
Lean up to embrace the naked flesh.
Temperamentvoll German Jews
Drink beer around; - and here the dews
Are soft beneath a morn of gold.
Here tulips bloom as they are told;
Unkempt about those hedges blows
An English unofficial rose;
And there the unregulated sun
Slopes down to rest when day is done,
And wakes a vague unpunctual star,
A slippered Hesper; and there are
Meads towards Haslingfield and Coton
Where das Betreten's not verboten.
 

... would I were
In Grantchester, in Grantchester! -
Some, it may be, can get in touch
With Nature there, or Earth, or such.
And clever modern men have seen
A Faun a-peeping through the green,
And lelt the Classics were not dead,
To glimpse a Naiad's reedy head,
Or hear the Goat-foot piping low:...
But these are things I do not know.
I only know that you may lie
Day-long and watch the Cambridge sky,
And, flower-lulled in sleepy grass,
Hear the cool lapse of hours pass,
Until the centuries blend and blur
In Grantchester, in Grantchester
Still in the dawnlit waters cool
His ghostly Lordship swims his pool,
And tries the strokes, essays the tricks,
Long learnt on Hellespont, or Styx.
Dan Chaucer hears his river still
Chatter beneath a phantom mill.
Tennyson notes, with studious eye,
How Cambridge waters hurry by
And in that garden, black and white,
Creep whispers through the grass all night;
And spectral dance, before the dawn,
A hundred Vicars down the lawn;
Curates, long dust, will come and go
On lissome, clerical, printless toe;
And oft between the boughs is seen
The sly shade of a Rural Dean
Till, at a shiver in the skies,
Vanishing with Satanic cries,
The prim ecclesiastic rout
Leaves but a startled sleeper-out,
Grey heavens, the first bird's drowsy calls,
The falling house that never falls.

God! I will pack, and take a train,
And get me to England once again!
For England's the one land, I know,
Where men with Splendid Hearts may go;
And Cambridgeshire, of all England,
The shire for Men who Understand;
And of that district I prefer
The lovely hamlet Grantchester.
For Cambridge people rarely smile,
Being urban, squat, and packed with guile;
And Royston men in the far South
Are black and fierce and strange of mouth;
At Over they fling oaths at one
And worse than oaths at Trumpington,
And Ditton girls are mean and dirty,
And there's none in Harston under thirty,
And folks in Shelford and those parts
Have twisted lips and twisted hearts,
And Barton men make Cockney rhymes,
And Coton's full of nameless crimes,
And things are done you'd not believe
At Madingley, on Christmas Eve.
Strong men have run for miles and miles,
When one from Cherry Hinton smiles;
Strong men have blanched, and shot their wives,
Rather than send them to St. Ives;
Strong men have cried like babes, bydam,
To hear what happened at Babraham.
But Grantehester! ah, Grantchester!
There's peace and holy quiet there,
Great clouds along pacific skies,
And men and women with straight eyes,
Lithe children lovelier than a dream,
A bosky wood, a slumberous stream,
And little kindly winds that creep
Round twilight corners, half asleep.
In Grantchester their skins are white;
They bathe by day, they bathe by night;
The women there do all they ought;
The men observe the Rules of Thought.
They love the Good; they worship Truth;
They laugh uproariously in youth;
(And when they get to feeling old,
They up and shoot themselves, I'm told)...

Ah God! to see the branches stir
Across the moon at Grantchester!
To smell the thrilling-sweet and rotten
Unforgettable, unforgotten
River-smell, and hear the breeze
Sobbing in the little trees.
Say do the elm-clumps greatly stand
Still guardians of that holy land?
The chestnuts shade in reverend dream,
The yet unacademic stream?
Is dawn a secret shy and cold
Anadyamene, silver-gold?
And sunset still a golden sea
From Haslingfield to Madingley?
And after, ere the night is born,
Do hares come out of the corn?
Oh, is the water sweet and cool
Gentle and brown above the pool?
And laughs the immortal river still
Under the mill, under the mill?
Say, is there beauty yet to find?
And Certainty? and Quiet kind?
Deep meadows yet, for to forget
The lies, and truths, and pain? ...oh! yet
Stands the Church clock at ten to three?
And is there honey still for tea?