8-12-2005

 

 

O texto que a seguir se reproduz foi publicado em 1641, sem indicação do autor, impresso à custa de Lourenço de Anveres e na sua oficina. É, porém unanimemente atribuído ao Padre Nicolau da Maia de Azevedo (nascido em 1591, ignorando-se a data em que faleceu), filho de João Rodrigues da Maia  e de Antónia Francisca Figueira , irmão de Vasco de Azevedo Coutinho. Segundo Barbosa Machado, foi Beneficiado da Igreja Paroquial de S. Mamede e Cruciferário do Arcebispo de Lisboa, D. Rodrigo da Cunha, a quem acompanhou no cortejo que se seguiu à defenestração de Miguel de Vasconcelos.

Não é um texto literário. É um relato cheio de entusiasmo e de fervor patriótico  da Restauração do Reino de Portugal em 1 de Dezembro de 1640 . Ignoro se está transcrito em qualquer livro da actualidade. Foi integralmente reproduzido num livrinho publicado por Roque Ferreira Lobo (1743-1828), em 1803, com o título "Historia da feliz acclamação do Senhor Rei D. João o Quarto" (online em http://books.google.com). Este nada alterou, tendo-lhe acrescentado, no final, em notas de roda pé, as carreiras dos participantes na Aclamação de D. João IV, como então se dizia.

Nesta transcrição, actualizei a grafia, mas não a pontuação. Mantive o título tal qual.

 

 

RELAÇÃO  de tudo o que passou na felice aclamação do mui Alto & mui Poderoso Rei D. JOÃO O QUARTO nosso Senhor, cuja Monarquia prospere Deos por largos annos.

Dedicada aos Fidalgos de Portugal

 

Com todas as Licenças necessárias.

Em Lisboa à custa de Lourenço de Anveres e na sua Officina.

 

 

LICENÇAS

 

Vi esta Relação do sucedido na feliz Aclamação d’El-Rei D. João IV, nosso Senhor, que Deus guarde: não tem coisa contra a nossa Santa Fé, ou bons costumes: antes me parece acertado, que ao mundo se divulgue a ressurreição do valor, e brio Português tantos anos com o Reino sepultado; e que para sempre viva a memória dos que empreenderam e efectuaram tão gloriosa acção, conservando-lhe em seus descendentes a emulação de adquirirem (conservando) igual glória à que seus maiores (ganhando) lhes deixaram, e em todo o Reino a lembrança do que deve às casas dos valorosos libertadores da Pátria.

S. Domingos de Lisboa, 23 de Setembro 1641.

Fr. Fernando de Menezes

 

 

Vistas as informações, pode-se imprimir a Relação inclusa e depois de impressa, tornará ao Conselho, para se conferir com o original, e se dar licença para correr, e sem ela não correrá.

Lisboa, 24 de Setembro de 1641.

Fr. João de Vasconcellos

Pero da Silva

Francisco Cardoso de Torneio

Sebastião Cezar de Menezes

 

Pode-se imprimir.

Lisboa, 25 de Setembro de 1641.

O Bispo de Targa

 

 

Que se possa imprimir, vistas as Licenças do Santo Oficio, e do Ordinário, e não correrá sem tornar a esta Mesa, para se taxar.

Lisboa, 27 de Setembro de 1641.

Cezar. Ribeiro.

 

 

Está conforme com o seu original, em S. Domingos de Lisboa, 8 de Outubro de 1641.

Fr. Fernando de Menezes.

 

Visto estar conforme com o original, pode correr esta Relação.

Lisboa, 8 de Outubro de 1641.

Fr. João de Vasconcellos

Pero da Silva

Francisco Cardoso de Torneio

Sebastião Cezar de Menezes

 

 

Taxam esta Relação em trinta Reis.

Em Lisboa, a 8 de Outubro de 1641

Menezes. Ribeiro

 

 

P R I V I L É G I O

 

D. João por graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, de aquém e além-mar em África, Senhor da Guiné, etc. Faço saber que havendo respeito ao que na Petição atrás escrita, diz o Licenciado Nicolau da Maia e visto as causas que alega, hei por bem e me apraz, que nenhuma pessoa, com pena de duzentos cruzados, possa imprimir a Relação de tudo o que se passou na feliz Aclamação minha, de que na dita Petição faz menção, senão Lourenço de Anveres nela nomeado, como pede. E mando às justiças, Oficiais, e pessoas a que esta Provisão for mostrada, e o conhecimento dela pertencer, que a cumpram e guardem inteiramente como nela se contem. El-Rei nosso Senhor o mandou pelos Doutores Sebastião Cezar de Menezes, e Antonio Coelho de Carvalho, ambos do seu Conselho, e Desembargadores do Paço. E Francisco Ferreira a fez em Lisboa a 7 de Outubro de 1641.

Sebastião Cezar de Menezes

Antonio Coelho de 1641

 

 

AOS FIDALGOS DE PORTUGAL

 

Depois de andarem tantos papeis, por várias partes deste Reino, divulgando os acontecimentos maravilhosos, que houve desde o primeiro de Dezembro de 1640, até o presente, não era justo que faltasse a verdadeira notícia de tudo o que houve na feliz Aclamação d’El-Rei nosso Senhor; e assim fiz muitas diligências por achar quem me escrevesse esta Relação, a qual dedico a Vossas Mercês; porque, como vão nela tão interessados, conhecerá o Leitor que deve de estar ajustada com a verdade; pois me atrevo a dedicá-la aos mesmos que obraram tudo o que nela se contém. Sirvam-se pois Vossas Mercês de a apadrinharem, que eu saberei convocar os engenhos, e empregar-me sempre no serviço de Vossas Mercês.

Lourenço de Anveres

  

 

RELAÇÃO de tudo o que passou na felice Aclamação do mui Alto & mui Poderoso Rei D. JOÃO O QUARTO, nosso Senhor, cuja Monarquia prospere Deos por largos anos.

 

Em Novembro do ano de 1638 veio o Senhor D. Duarte de Alemanha a esta Cidade de Lisboa, e enquanto se chegava a hora de tornar-se outra vez a continuar as guerras, em que havia tantos anos, que ajudava ao Imperador, foi aposentado por D. Francisco de Faro, na quinta do seu sogro Francisco Soares.

E como se ocultou às visitas, nenhum Fidalgo houve que lhe pudesse falar. Porém D. António Mascarenhas, tanto que soube da sua chegada (levado do grande amor, com que venerava a Sereníssima Casa de Bragança; e do zelo da Pátria, em que desde seus primeiros anos, procurou sempre imitar a seu Pai D. Nuno Mascarenhas), fez muitas diligências pelo ver, e alcançada a licença, lhe deu conta das insofríveis calamidades, que este Reino padecia.  Procurou persuadi-lo a que não se fosse para Alemanha, em tempo que o seu valor devia empregar-se em conseguir a liberdade da Pátria; e restituir ao Duque seu Irmão o Cetro, que por tantos títulos lhe era devido. Assegurou-lhe que a Nobreza de Portugal estava descontente, e nomeou-lhe alguns Fidalgos, que de todo coração (como verdadeiros Portugueses) se haviam deliberado a sacudir o jugo de Castela, fundando a esperança de tão heróica empresa no amparo da excelsa Casa de Bragança. Lembrou-lhe que este amor, e este zelo herdara de seus maiores, pois já seu Pai D. Nuno Mascarenhas fora a Vila Viçosa no ano de 1617, em que ao Porto de Lisboa veio a frota de Índias, só com ânimo de persuadir ao Duque D. Teodósio , Pai de Sua Majestade, a que se lembrasse do mortal agravo, que El-Rei de Castela lhe fazia, em lhe usurpar o Reino, de que ele era legítimo sucessor, e que a isto respondera que não era ainda chegada a hora da restauração de Portugal. Lembrou-lhe também que o amor,  e o zelo da Pátria o inquietavam de tal maneira, que no ano de 1637 , quando foi a alteração do Alentejo, fora a Évora a admoestar aos cabeças daquela parcialidade, que não desistissem do começado, e que para que a empresa tivesse bom sucesso, pedissem amparo à Casa de Bragança. Enfim discorreu sobre a matéria com tal afeito, que fez grandíssimo abalo no coração deste Príncipe; e D. Francisco de Faro encontrando a Jorge de Melo, lhe rogou que fosse visitar o Senhor D. Duarte, o que ele fez logo, e tanto que chegou a ver-se em sua presença, lhe disse: Senhor, donde se vai Vossa Excelência, quando o Reino está lutando com as ondas de um pego de contínuas vexações?  e quando El-Rei de Castela (em vingança do desgosto que lhe deu a alteração de Évora) nos quer aniquilar e reduzir á mesma infelicidade de Galiza? O Duque é o legítimo Rei de Portugal; se ele não quiser aceitar o Cetro, aceite-o Vossa Excelência, que nós saberemos sacrificar a vida em sua defesa. A isto respondeu o Senhor D. Duarte, que Deus ordenaria as coisas, como melhor nos estivesse a todos; e que oferecendo-se ocasião viria de donde quer que se achasse; e não nos faltaria com seu amparo. Com isto se foi para Alemanha.

Sucedeu que no seguinte ano de 1639 veio de Vila Viçosa a Almada El-Rei nosso Senhor, sendo Duque , e como o zelo Português alterava os espíritos de muitos Fidalgos, foram alguns a Almada a visitá-lo, e rosto a rosto lhe manifestaram seu desejo , e os que mais instâncias faziam eram D. António Mascarenhas, D. Antão de Almada, D. Miguel de Almeida, Francisco de Melo, Monteiro-Mor do Reino, e Pero de Mendonça, Alcaide-Mor de Mourão. Toda esta Cidade concorreu a Almada. Os Fidalgos iam a dar mostras do seu bom ânimo; e a mais gente a consolar-se em ver o ramo, que Deus nosso Senhor nos tinha deixado da Soberana Árvore dos Reis de Portugal. A todos o Duque favorecia com generosa benignidade criando nos corações um eficaz amor, produzido do natural agrado de seus olhos. E como estava para vir a Lisboa a visitar a Duquesa de Mântua, D. António Mascarenhas lhe disse: “Senhor, tenho convocado todos os cidadãos, para o dia que Vossa Excelência houver de passar a Lisboa: esse dia há-de ser nosso, faça-no-lo Vossa Excelência alegre”. E porque esta sua proposta não foi admitida, ficou mui triste, e quando foi da entrada não quis tornar a Almada com os mais Fidalgos, que iam no acompanhamento, os quais à vista dos regalos, e das honras que el-Rei Nosso Senhor lhes fez, deram tão grandes mostras de agradecimento, que diz o Padre Nicolau da Maia, que em Almada lhe dissera el-Rei Nosso Senhor, que havia por bem empregada a jornada, que fizera, só pela boa vontade que experimentara nos Fidalgos, e na mais gente que lhe assistira; pelos quais havia de empenhar a pessoa, e o Estado: quase profetizando o que agora mostrou por experiência.

Em quanto el-Rei Nosso Senhor assistiu nesta Vila, não descansavam os Fidalgos, porque de contínuo o estavam persuadindo, e lhe intimavam as razões que havia para que ele com sua grandeza desse calor à temerária, e nunca vista empresa, a que todos estavam deliberados. Até que uma tarde disse ao Monteiro-mor que ainda não havia ocasião, e só esta palavra soltou de quantas vezes lhe falaram na matéria; com a qual todos ficaram com esperança, de que algum dia poderiam ver logrado o seu desejo. Tudo ouvia el-Rei Nosso Senhor e calava: observando o segredo de tal maneira, que os Fidalgos que nisto lhe falavam, diziam: Vamos a Almada que o Duque é grande Confessor: ouve, e cala. Alguns havia, que também desejavam ver o Reino fora da sujeição de Castela, porém queriam que fosse vindo el-Rei D. Sebastião, com uma poderosa armada, com que o Reino ficasse forte e seguro de modo que a empresa não fosse de perigo, e quando se lhes dava conta do negócio, perturbavam-se e não cessavam de encarecer as grandes dificuldades, que na empresa havia: não porque lhes pesasse de ser o Duque nosso Rei; mas parecia-lhes que não teríamos forças bastantes para resistir ao ímpeto de Castela. E como estes Senhores eram ricos, não queriam que na empresa houvesse perigo; e por essa razão se lhes não deu conta da deliberação última nem do dia, em que se havia de pôr por obra, senão na derradeira semana, quando já não havia lugar de dúvidas.

Foi-se el-Rei Nosso Senhor para Vila Viçosa, e os Fidalgos ficaram desconsolados, e quase com a esperança perdida, vendo que se ia sem resolver nada; porém o Monteiro-mor não desistia, dando por cartas notícia do negócio ao Marquês de Ferreira, e rogando-lhe que apadrinhasse este honrado pensamento. O Marquês fazia saber tudo a el-Rei Nosso Senhor, e procurava todos os meios eficazes para o persuadir, e o mesmo fazia o Conde de Vimioso, e quem apertou com mais fervor, e mais espírito foi Jorge de Melo, depois que veio para Lisboa, de Coimbra, donde havia estado, por Mestre de Campo, do terço que ali levantou, enquanto el-Rei Nosso Senhor assistiu na Vila de Almada e como ele e seu irmão correram sempre com muita amizade com o Marquês e com seu Irmão D. Rodrigo de Melo, por razão do grande parentesco que tem com esta Casa; eles eram os que davam aviso de tudo o que os Confederados deliberavam, e do estado das coisas do Reino de Castela, com todas as mais circunstâncias concernentes ao intento. Não perdiam ponto estes Senhores, assim em mandar avisos, como em dispor as coisas, e em preparar com bom modo a última resolução, fazendo juntas em Emxobregas, em casa de Jorge de Melo, nas quais D. Miguel de Almeida, D. Antonio Mascarenhas, Pero de Mendonça, D. Antão de Almada, e o mesmo Senhor da Casa, eram os que alhanavam as dificuldades. O Monteiro-mor como residia em Santarém não assistia nas juntas, porém por cartas apertava e fazia grandíssimas diligências.

Pero de Mendonça ia muitas vezes a Vila Viçosa a visitar el-Rei Nosso Senhor, só para ver se podia conquistá-lo: e era tão grande o fervor e afeito com que lhe falava, que nas cortesias o tratava como Rei, e se ele o queria acompanhar, até à porta lhe dizia: não se mova Vossa Excelência, que lhe quero beijar os pés como legítimo e verdadeiro Rei de Portugal e Senhor nosso. Porém nenhum meio havia que fosse bastante para lhe dobrar a vontade, e para fazer que se resolvesse de todo. E viram-se os Fidalgos em tal desesperação que determinavam fazer vir de Alemanha o Senhor D. Duarte, e elegeram para esta jornada ao Padre Nicolau da Maia, de quem fiavam os maiores segredos, que na matéria havia; porém, esta determinação não teve efeito, porque não estavam de todo desesperados, de que el-Rei Nosso Senhor aceitasse.

Nesta Cidade assistia por agente da Casa de Bragança o Doutor João Pinto Ribeiro, Homem merecedor de grandes Cargos,  por sua qualidade  e por seu talento. Ele comunicava o negócio com D. Antão de Almada, D. Miguel de Almeida, e Jorge de Melo, e buscava os meios convenientes para que o intento se prosseguisse e se executasse com felicidade.

Estavam já os Confederados tão resolutos, que queriam no mês de Agosto de 1640 e no seguinte de Setembro, reduzir a acto o que tanto se desejava, assim por restituir à Casa de Bragança o Reino que Castela lhe usurpara, como por estorvar à Pátria as novas perseguições, que segundo vulgarmente se dizia, estavam prevenidas, e se hoje Deus Nosso Senhor nos não acudira, haviam de estar executadas; as quais eram unir as Coroas, introduzir Ministros Castelhanos no Governo, acrescentar os presídios, quebrar os privilégios, consumir os homens aptos para as armas nas guerras pertencentes à Coroa de Castela, meter o papel selado, os quartos, as alcavalas, e todos os mais tributos que atenuaram e destruíram de todo o ponto a Monarquia de Espanha. E este honrado zelo do bem comum moveu os corações destes Fidalgos com tanto assombro que porque o tirano que fulminava a ruína da terra, a quem devia o ser não visse logrado seu infame pensamento, queriam cerrar os olhos a todas as dificuldades, e aclamar ao Duque por Rei, ainda que ele não viesse nisso, porque em tal caso ou recorreriam ao Senhor Dom Duarte, ou quando de todo ponto faltasse cabeça, se governaria o Reino como República, e Senhoria livre. Esta última calamidade estava tão próxima, que naquele mesmo tempo se soube que na Secretaria, por Decreto do Conselho Real, se escreviam cartas para Fidalgos, em que el-Rei Philipe lhes fazia a saber, que cumpria a seu serviço que o acompanhassem na jornada, que fazia para o Reino de Catalunha, com ânimo de tirar a nobreza de Portugal , porque não houvesse quem impedisse as tiranias, que lhe estavam preparadas. Como esta novidade causou geral perturbação (em particular nos nobres) pareceu acertado suspender a aclamação até que apertados os Fidalgos considerassem, que o seu único remédio era elegerem Rei natural. Enquanto a nobreza afligida e estimulada com os rigores de. Miguel de Vasconcelos, se queixava da força que se lhe fazia, os Confederados iam com novo alento continuando, e fizeram grandíssimas diligências, por ver se podiam com o segredo devido atrair a si o povo, pela qual razão o Padre Nicolau da Maia, deu parte de tudo o que estava ordenado, aos Juízes do Povo, aos Escrivães, aos vintequatros, e aos Misteres, e a muitos Oficiais capazes de se fazer deles a confiança que o caso pedia. Porém como o exemplo do mau sucesso de Évora lhes fazia recear o castigo, todos se recolhiam temerosos; mas pôde tanto o zelo e o afeito do Padre Nicolau da Maia, que (ainda que com muito trabalho) os reduziu e os levou a casa de D. Antão de Almada, donde assentaram que o Povo estaria prevenido, para seguir a nobreza, quando fosse necessário, com condição, que os Fidalgos traçariam o negócio de tal modo, e fariam que o empenho fosse tão grande, que uma vez metidos nele não pudessem tornar atrás. Desta maneira ficaram conformes; e foi isto de muita importância, porque semelhantes empresas não se podem levar ao cabo, sem o séquito do povo.

Quase todos os Nobres puseram dúvidas à ida de Catalunha e somente o Conde de Vila Nova se deliberou a ir, mas Jorge de Melo lhe disse, que deixasse ir primeiro os Fidalgos mais velhos, e diante de alguns amigos lhe disse também Pero de Mendonça, que na jornada que queria fazer, era bem que se aconselhasse com homem que falasse a sua língua, e não com o Conde Bainere, que era Estrangeiro, e servia à Duquesa de Mântua, porém ele sem embargo de tudo, se pôs a caminho, donde passou grandes moléstias, e depois de chegar a Madrid, era sua prática ordinária, que mais sentira o trabalho que tivera em se livrar dos Fidalgos que lhe aconselhavam que não fosse, que o que passara no caminho; e este dito foi a razão porque os ânimos se afervoraram., e se apressou a execução.

Ia crescendo grandemente o número dos zelosos, e já havia chegado a notícia do Ilustríssimo Senhor D. Rodrigo da Cunha Arcebispo de Lisboa, o qual o comunicou a alguns parentes e amigos. Também D. João Pereira o declarou a muitos sujeitos bons da freguesia de S. Nicolau, de que é Prior. E quem com os Capatazes da Misericórdia , e os mais autorizados do Povo tratava o negócio com grande prudência, e segredo, era o Doutor Estêvão da Cunha, Deputado do Santo Ofício. E não era  inferior o zelo com que fazia as mesmas diligências João Cardoso, que foi admitido na Confederação, por ser homem de qualidade, e digno por suas partes de se fiarem dele coisas de muito porte. E o Padre Frei Luís de Abreu, trabalhou também muito em facilitar com razões os perigos que alguns consideravam na empresa, e verdadeiramente que é digno de admiração assim o talento, como o zelo que este Religioso mostrou em todas as ocasiões, que no particular se ofereceram. Veio D. António Tello da Beira, adonde havia ido, por Mestre de Campo de um terço que .El-Rei de Castela lhe mandou ali levantar, e D. Miguel de Almeida, e D. Antão de Almada o informaram de tudo o que se passava, e ele se mostrou em todas suas acções tão fino Português, e tão amante da Pátria, que todos faziam grandíssima estimação de seu valor.

Pedia já o negócio a última resolução, e para se tomar assento nas coisas, se foram continuando as juntas que em Emxobregas se faziam, em casa de Jorge de Melo, donde estava por hóspede seu Irmão o Monteiro-mor que havia dois meses, que viera de Santarém. Ordenou-se em Conselho, que Pero de Mendonça fosse a Vila Viçosa, e o Monteiro-mor a Évora: um a intimar a el-Rei Nosso Senhor, de como os apaixonados não esperavam mais que o seu beneplácito, e outro a admoestar ao Marquês de Ferreira, e a seu Irmão D. Rodrigo de Melo, que era tempo de meter todo o cabedal e fazer que el-Rei Nosso Senhor se acabasse de resolver. Estando pois esta jornada prevenida, veio do Brasil nova ao Monteiro-mor de que seu Filho Manuel de Melo era morto, e por esta razão a sua ida não teve efeito; porém Pero de Mendonça se pôs logo a caminho; e chegando a Vila Viçosa deu conta mui por extenso a el-Rei Nosso Senhor, de como os ânimos estavam dispostos, as armas prevenidas, o inimigo descuidado, Castela no maior aperto, a fortuna favorável, e a ocasião chamando-nos, e abrindo-nos o caminho mais fácil, que podia haver para a nossa liberdade. A cabo de alguns dias, escreveu este Fidalgo, que no Alentejo andava a caça levantada, e que deu a entender, que ainda el-Rei Nosso Senhor, não estava tão dócil como nós havíamos mister. Porém depois veio, e trouxe tão boas novas, que acordaram os Senhores da Junta, que o Doutor João Pinto Ribeiro fosse a Vila Viçosa ; o que ele pôs logo por obra, publicando que ia a tratar de uma doação, que o Conde de Odemira fazia à Casa de Bragança, e tanto que este último Embaixador se viu em Vila Viçosa, considerou que facilitaria o negócio, e a felicidade seria certa, se acrescentasse ao seu grande talento, o do Secretário António Pais Viegas, criado a quem a Casa de Bragança se deve com todo o encarecimento agradecida, assim pelo grande cuidado, com que há muitos anos, que se desvela em seu serviço, como porque desejou sempre com tanto afecto ver a seu Senhor, colocado no trono, que el-Rei de Castela por força de armas lhe usurpara; que quando lhe aconselhou que viesse a Almada, foi, porque sabendo o que os Fidalgos de Portugal determinavam, entendeu que para aquela determinação, seria de muita importância que o Duque viesse a parte donde os Fidalgos pudessem manifestar-lhe facilmente seu desejo. Em fim estes dois sujeitos foram os que acabaram de persuadir a el-Rei Nosso Senhor. E tanto que alcançaram dele a resposta na conformidade que esperavam, se veio o Doutor João Pinto Ribeiro para Lisboa, com uma carta, em que el-Rei Nosso Senhor dizia aos Fidalgos, que da sua parte lhe propusera o Doutor João Pinto Ribeiro, o que eles para liberdade da Pátria, e exaltação da Casa de Bragança tinham determinado, e que consideradas as muitas razões, que havia para se levar ao cabo a tal acção, oferecia seu favor, e aceitava a proposta que lhe faziam, e dava poder ao mensageiro, para em seu nome ordenar e dispor tudo, como melhor, e mais seguro parecesse. Foi lida esta Carta sábado véspera de Santa Catarina 24 de Novembro de 1640, no Paço do Duque, em casa do mesmo Doutor João Pinto Ribeiro, logo se determinou o dia , em que se havia de fazer a milagrosa aclamação, e foi o primeiro de Dezembro, que era o sábado seguinte, e ordenou-se, que se começasse pela morte do Secretário Miguel de Vasconcellos. Fez-se este Conselho com tão grande alegria de todos os circunstantes, que Jorge de Mello disse, toquemos a campainha, e ponhamos as capas, por cima das cabeças, como se faz na relação quando se sentencia à morte algum delinquente. Levantou-se logo D. Antonio Tello, e tomando a mão a todos, protestou que ele havia de tirar a vida ao Secretário Miguel de Vasconcellos, e todos os mais de quem se pudesse presumir que seguiriam a voz del-Rei de Castela: ultimamente se resolveu que o aviso que se havia de mandar a el-Rei nosso Senhor, de que o sábado seguinte se havia de dar princípio à restauração de Portugal saísse de Lisboa, em tempo que por nenhum modo pudesse vir de lá nova ordem, porque estando as coisas nestas alturas, qualquer novidade, e a menor dilação causaria irreparável dano, que as deliberações tão arriscadas hão-se de prevenir e dispor com muito vagar e dilatada consideração, mas hão-se de executar a olhos cerrados com grandíssima pressa; porque de outra maneira não se logram. Chegou o aviso e nesse mesmo momento saíram de Vila Viçosa nove próprios, uns trás outros por diversas vias, com cartas, em que el-Rei nosso Senhor dava conta ao Senhor D. Duarte, e lhe mandava que se saísse logo das terras do Imperador, e se viesse para Portugal, e se até este ponto se havia feito esta diligência, não foi porque não conhecessem todos a grande necessidade que para a ocasião havia da pessoa do Senhor D. Duarte, sendo porque chamá-lo, antes del-Rei nosso Senhor se resolver, seria não somente fazer um muito grande dispêndio, a risco de não aproveitar; mas também dar motivo para que os que no conselho de Castela andavam já desconfiados, e com receios, presumissem alguma coisa, e em tal caso a menor suspeita bastaria para perdição geral de tudo e a razão de estado pedia que não se abalasse de Alemanha este Príncipe , se não depois de estar a empresa em acto próximo, de modo que não se pudesse dar caso que viesse, sem ela ter efeito: além de que, no instante em que se soube da resolução del-Rei nosso Senhor, lançaram logo da ocasião, e não quiseram esperar todo o tempo que era necessário para ir a Alemanha e vir.

Desde o Domingo até a sexta feira daquela venturosa semana, se fizeram com grande fervor, e diligência infinitas preparações, ajuntaram-se as armas que para o efeito eram mais acomodadas, deu-se ponto aos amigos e parentes, e muitos convidavam para um empenho grande, que sábado às nove horas da manhã, haviam de ter no Terreiro do Paço, sem declararem o que era. Não se passou noite nenhuma em que não houvesse junta em casa de João Pinto Ribeiro. Iam os Fidalgos a ela com grande recato, porque importava já muito a dissimulação, e donde quer que a cada um deles lhe anoitecia se apeava, e embuçados entravam no paço do Duque, em cujas salas tudo era sombras, e horror, e somente na casa mais oculta (que era aonde se fazia o Conselho) estava uma candeia tão desviada, e com tão pouca luz, que escassamente alumiava.

Quarta feira á noite entrou na junta um Fidalgo a quem naquele mesmo dia um parente seu revelara muitas coisas que Dom Antão de Almada, lhe havia dito acerca do negócio, e não obstante, que o tal Fidalgo se queria unir aos Confederados, com ânimo de arriscar a vida pela Pátria, como depois fez, achava na empresa alguns inconvenientes, e propô-los todos, para que se considerassem devagar, e se visse o meio que poderia haver, para que não sucedesse alguma desgraça; e porque todos estes inconvenientes e outros muitos mais estavam já alhanados, presumiram os circunstantes que este Fidalgo vinha com pouco gosto de entrar na parcialidade, e como ele era sujeito superior por qualidade e por partes, fez tanto abalo que os mares estiveram quase revoltos, e houve quem avisou a el-Rei Nosso Senhor, que se não fizesse lá coisa nenhuma, por quanto cá se suspendia o que estava determinado. E a manhã seguinte que foi a Quinta-feira, se ajuntaram alguns no Jardim de Dom Antão de Almada, donde se disse que o dia de antes se havia embarcado certo Fidalgo parente do que propôs as dúvidas ( que era também sujeito mui capaz, e estava do mesmo parecer) e se presumia que passava á banda d’além, donde então assistia Miguel de Vasconcellos, a revelar-lhe o segredo, este receio perturbara, e confundira os corações, porém estavam todos, tão firmes, tão constantes, tão intrépidos, e deliberados, que houve muitos que eram de parecer, que logo dali se fossem ao Paço, e dessem de punhaladas a Miguel de Vasconcellos, e aclamassem a el-Rei Nosso Senhor. Outros diziam que melhor era entrar à noite, na casa donde ele costumava dar conversação a seus amigos, e tirar-lhes a vida a todos, o que Dom Miguel de Almeida reprovou, advertindo que o provérbio nos ensinava, que o que se faz à noite pela manhã se via, e com boas palavras foi aplacando, aquela demasiada paixão, nascida de valor estimulado, e acabou com todos que se não adiantassem, e que se prevenissem, não só das armas corporais, mas ainda das espirituais, para sábado porém por obra o seu pensamento, na conformidade, que se ordenara, o que todos já reduzidos aprovaram.

Sexta-feira depois de estar prevenido tudo quanto era necessário para a defesa da vida, seguindo o parecer de Dom Miguel de Almeida, se confessaram todos, e se prepararam pedindo a muitos Religiosos orações, e missas , e dispondo-se como quem havia de entrar em um conflito, em um transe, e em um perigo tão atroz, tão horrível, tão estupendo, e tão alheio do que até agora viram quantas repúblicas houve no Universo. À tarde deste mesmo dia, foram alguns dos mais autorizados do povo a manifestar aos Fidalgos, que estavam com grande zelo, e vigilância, prevenidos para o sábado seguinte; alegraram-se os Fidalgos, vendo que na ocasião era certo que o povo os havia de seguir. Amanheceu o desejado dia, e além de outras muitas circunstancias, que nele houve, para se presumir com sólido fundamento, que foi este impulso disposto, e governado pela vontade divina, se considerou grande mistério em repetir então a Igreja, aquelas palavras da Epístola ad Romanos Cap. 13, quando o glorioso Apóstolo S. Paulo diz, que é já hora de despertarmos, porque está a nossa salvação mais perto do que presumimos

Fratres hora est jam nos de somno

Surgere , nunc enim proprior est nostra

Salus; quam cum credimus.

 

que parecia, que o mesmo Deus nos estava dizendo, que era já chegada aquela feliz hora, que ele prometera a el-Rei Dom Afonso Henriques. Deu-se enfim o ponto para as nove horas da manhã, e deu-se ordem a todos, para que poucos a poucos, por vários caminhos se juntassem no Terreiro do Paço o que se fez com recato e boa disposição: que uns em coches, outros a cavalo, outros a pé, se dividiram em troços, por todo aquele espaço, que há desde o Arco dos Pregos, até o Arco do Ouro. Andava já o segredo tão público, que o dia de antes uma criada de Dom Antão de Almada, mandou um negro a casa de certa Senhora, cujo marido estava perseguido e preso por Miguel de Vasconcellos, e depois de estar o negro no pátio, veio ela a uma varanda, e com muito desenfado lhe advertiu em alta e inteligível voz, que dissesse àquela Senhora, que se não agastasse que amanhã havia de ir o Senhor Dom Antão de Almada, com outros Fidalgos a matar ao Secretário, e a soltar ao Senhor seu marido. E Dom António Mascarenhas encontrando no claustro de São Francisco de Emxobregas, a Miguel de Vasconcellos, passou por ele sem lhe tirar o chapéu, e perguntando-lhe alguns Fidalgos, e alguns Religiosos do mesmo Convento, porque não falava ao Secretário, respondeu que entendia que era espécie de traição fazer cortesia a um homem, a quem ele sabia de certo que havia de tirar a vida. Também o Doutor João Pinto Ribeiro quando esta prodigiosa manhã, veio de sua casa, à porta da Capela, a esperar que se juntassem os Fidalgos, encontrou no caminho um dos amigos, a quem ele havia convidado, sem lhe dizer o para quê, o qual como andava desejoso de saber este segredo lhe rogou que lhe dissesse aonde iam e ele lhe respondeu: não é nada, imos aqui abaixo à sala dos Tudescos a tirar um Rei e pôr outro, e logo nos tornamos para casa. Mas nenhuma coisa houve de tanto assombro (em razão de andar o segredo já na praça) como haver naquela mesma hora, em que o conflito estava próximo, quem sem saber nada, do que se preparava, entrou na Secretaria, e avisou a Miguel de Vasconcellos, admoestando-o, que se saísse por aquela porta do forte, que olha para o mar, e que sem demora se metesse na sua gôndola, e se passasse a outra banda:  porém já neste tempo de estarem unidos, e resolutos, pouco importava que o segredo se não observasse com todo o rigor, porque urna vez chegado o intento àqueles termos, não podia deixar de ter efeito, quanto mais, que se era decreto de Deus que Portugal restaurasse a perdida liberdade, que descuido, que estorvo, ou que embaraço podia haver que lhe fizesse impedimento?

Neste comenos deu o relógio nove horas, e como quando o fogo de uma mina ateia na pólvora, e saem num mesmo instante por várias aberturas da terra (em cópia larga com medonho ímpeto) mil raios, e mil despedaçados e abrasados mármores, assim feros, assim terríveis, e assim furiosos, saíram num mesmo instante alguns Fidalgos dos coches: e logo foram em seu seguimento, com a mesma deliberação, os mais que ou a cavalo ou a pé vinham para aquele efeito. Subiram todos intrépidos por uma e outra escada do Paço, já com as armas prontas, e dispostos para ver a cara ao mais estupendo transe , em que desde que houve guerras no mundo , se viu o coração humano.

Ficou junto ao Forte um coche, em que estava Jorge de Mello, e seu Primo Estêvão da Cunha e António de Mello de Castro de cujo valor os Senhores da junta fiaram atalhar o passo ao Capitão Castelhano, que naquele dia estava de guarda, em caso que ele quisesse fazer alguma demonstração. Tinham estes Fidalgos já ao redor de si, alguns homens, que se lhe chegaram, e outros que o Padre Nicolau da Maia convocou, e não esperavam mais que ouvir o estrondo da primeira pistola, na Sala do Paço, donde já os soldados da guarda real, vendo entrar por uma e outra porta tanta quantidade de Fidalgos, se levantavam todos sobressaltados, confusos, afligidos, e suspensos, com ânimo somente de cerrarem as portas, que vão para as salas do forte e para os quartos altos, mas de se valerem também das alabardas quando de improviso, ao som de muitas armas de fogo que juntas se dispararam, meteu Dom Miguel de Almeida mão à espada e gritando..... Liberdade, liberdade:  Viva El-Rei Dom João o IV. discorreu por uma e outra parte da sala, e logo veio à Varanda que cai sobre o Terreiro do Paço donde mostrando-se ao povo , disse desta maneira: Valorosos Lusitanos, é chegada a hora de acudirmos pela reputação de Portugal, e de comprar com nosso sangue a liberdade da pátria. O Duque de Bragança é nosso legítimo Rei e Senhor natural. Deve-se-lhe a Coroa de direito. O Céu por nosso meio lha restitui hoje, para que o Reino com as tiranias de Castela se não acabe de todo, antes ressuscite e torne a ver-se tão próspero como o lograram os antigos Portugueses: no que podemos estar certos, porque é força que se cumpra a palavra que Deus nosso Senhor nos Campos de Ourique deu ao primeiro Monarca. da Lusitânia. Aqui este zeloso e ilustre velho (oferecendo por testemunho da sua lealdade as lágrimas, que caindo-lhe de quatro em quatro pelo rosto o faziam mais venerável, e levantando a um mesmo tempo a espada e a voz) repetiu muitas vezes: liberdade, liberdade, viva El-Rei Dom João o IV. ao que todo aquele povo, que estava presente, e prevenido já na conformidade que os Misteres, e os mais haviam prometido aos Fidalgos, correspondeu, com um dilúvio de vivas, cujos ecos pareceu que moviam, e arrancavam de seu eixo as esferas. E isto serviu de sinal a Jorge de Mello e aos Fidalgos, que com ele estavam no coche esperando pela ocasião: e com o brio que em tão ilustres Senhores, sempre reconheceu o mundo, saíram à praça, e todos vibrando espadas, e disparando pistolas, puseram em fugida a quantos Castelhanos, em vão guardavam aquele posto, os quais com grande pressa iam já enviando-se às armas, e ainda um deles andou tão diligente, e tão atrevido, que pôde alcançar um mosquete, e deu com ele na cabeça ao Alferes Marcos Leitão de Lima, de que provavelmente morreria, se a anta que lhe adornava a parte interior do chapéu, não resistira ao temerário golpe.  O Padre Bernardo da Costa comovido da insolência deste soldado, deitou a capa no chão, e meteu a mão a uma espada e broquel, que para este fim ocultamente trazia, e furioso se meteu na praça de armas , despejando a estocadas o caminho, e foi trás dele o Capitão Jordão de Barros de Sousa, com alguns outros da sua companhia; e todos se portaram com tanto valor, que desesperados os inimigos de remédio, desocuparam o Campo , e os nossos ficaram Senhores dele. Jorge de Mello tanto que viu vencida esta dificuldade , subiu a Sala dos Tudescos, e se meteu com os mais. Já Marcos António de Azevedo, e Paulo de Sá, arremessando-se às alabardas, as haviam botado no chão, com ajuda do Licenciado Gabriel da Costa, quaternário da Sé de Lisboa.

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