8-11-2006
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Henrique Caiado (1470 ? - 1509)
Hermicus Caiadus
Em 1878 num livro sobre a vida e obra de António Urceo chamado Codro o italiano Carlo Malagola (transcrito aqui) lamentava que os portugueses não dessem mais atenção ao poeta novilatino Henrique Caiado cuja obra apreciava. Em 1994 o Prof. Américo da Costa Ramalho pelo contrário achava injusto que no estrangeiro se desse tanta atenção a Henrique Caiado passando-o à frente de outros poetas portugueses de grande mérito que escreveram em latim como André de Resende Diogo de Teive Inácio de Morais e Diogo Pires. Ao fim e ao cabo ambos têm razão. No decurso do sec. XX a obra de Henrique Caiado foi sendo estudada e divulgada as Éclogas republicadas e traduzidas para francês e português os epigramas publicados em tradução italiana e publicadas alguns artigos importantes sobre ele. No entanto a monografia pretendida por Malagola está ainda por escrever. Falta traduzir o segundo livro de epigramas e sobretudo falta anotar o livro de poesia de Caiado indicando ainda que brevemente a identificação e biografia de todos os coetâneos a quem ele dedica os seus epigramas ou que simplesmente menciona na sua poesia. Malagola menciona ainda quatro epigramas publicados em livros de Direito de André Barbazza (1400-1479) que não são conhecidos em Portugal e que transcrevi (certamente com erros - do que peço desculpa) aqui.
Henrique Caiado que mais tarde adoptou o nome poético de Hermicus Caiadus nasceu em Lisboa filho de Álvaro Caiado por volta de 1470. Concordamos com quem diz que não deve ter nascido em 1475 pois isso implicaria a publicação do seu primeiro livro com seis éclogas aos 21 anos o que é improvável. Estudou latim e gramática em Lisboa com Pedro Rombo como refere André de Resende na Oratio pro rostris:
Multum tamen nostra memoria Lusitanam nationem honestavit Hermicus Caiadus poeta veteribus conferendus quem Desiderius Erasmus acerrimi viri judicii alterque nostri seculi in judicandis scriptoribus Aristarchus ita laudat ut eius de Hermico nostro elogium magnam illis gentibus invidiam faciat quibus Lusitanum nomen gratiosum non est. Hic tamen idem vates egregius antequam fatalem sibi Italiam adiisset prima musarum stipendia in hac schola sub Rhombo grammatico emeruit.
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Todavia em nossos dias muito honrou a nação lusitana Henrique Caiado poeta comparável aos antigos que Desidério Erasmo varão de agudíssimo engenho um segundo Aristarco no julgar os escritores do nosso século de tal modo louva que fazendo o elogio do nosso Henrique grande inveja causa aos povos que não gostam do nome lusitano. Este mesmo notável vate iniciou nesta Escola a sua carreira literária sob a orientação do gramático Rombo antes de partir para a Itália que lhe foi fatal.
Tradução do Dr. Miguel Pinto de Menezes
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Foi estudar para Itália como era costume em Portugal naquele tempo. Dirigiu-se a Bolonha onde conheceu Cataldo Parísio Sículo que veio para Portugal em 1486. Calcula-se que tenha chegado àquela cidade em 1485 com a intenção de estudar Direito. No entanto o jovem estudante é atraído pelo estudo das Humanidades e desloca-se para Florença. Porém tem o desgosto do falecimento do seu mestre por pouco tempo Ângelo Poliziano ou Politianus que faleceu em 24 de Setembro de 1494. Tem lições de Marcelo Virgílio Adriani (1464-1521). Regressa a Bolonha onde é aluno de Filipe Beroaldo Sénior (1453-1505) por quem demonstra muita admiração nos seus versos. Filipe Beroaldo era muito amigo de outro português Luis Teixeira e existe uma interessante troca de correspondência entre os dois:
Ludovicus Tessira Lusitanus Philippo Beroaldo suo S.
Poemata Lusitani nostri quae disiuncta alias ac divulsa membratim plaeraque percurrimus ea nuper in unum veluti corpus redacta ab ipso et composita opus conflarunt purum spatiosum varium quod maturius intuenti atque libranti singula et admirationem summam afferre possit et delectationem adeo ut vere mihi videar dicturus disciplinas omnes animorum nostrorum usibus caelo demissas poesim deliciis. Utinam quae ego de carminibus eius quae de ingenio conceperim vulgare possim citra assentationis suspitionem. Ostenderem quippe quantopere poeta noster non modo inter Hispanos excellat sem etiam urgeat vestrates. Dicerem antiquitatem ab eo apertissime provocatam. Inclyto Luistaniae Principi meo gratularer etiam cuius imperii felicitate et providentia non solum novus orbis nova sidera refulgent sed (ut fortunae suae dominum penitus extitisse constaret) novi et praestantissimi vir ingenii inter tot moracula visitur ne desit scilicet qui tam nuper inventa divinitus quam quae in praesentia Rex Sanctissimus fortissime molitur possit litteris mandare. Sed quoniam de clarorum hominum laudibus quanto serius iudicium tanto verius existimatur simul ne civem meum videar indulgentius extulisse in te Beroalde doctissime hoc totum reiicio a quo utpote civitatis oraculo responsa omnes tam legitime ferre possumus quam tu dare. Vale Bononiae Kl. Febru. MD. I.
Philippus Beroaldus Ludovico Tessirae Equiti Lusitano suo S.
Consulis me per epistolam luculenter scriptam quid de municipis tui ingenio poetico quid de poematis sentiam. Accipe summatim. Est Hermicus Lusitanus in contendis poematis inegniosus elegans florulentus; habet Venerem habet salem. Sunt illi verba Latina sententiae poeticae versus emuncti. Concludit ex epigrammatistarum lege decenter et salse. Ego quidem antiquos scriptores suspicio non tamen ut recentiores despiciam. Et mehercules cum Hermici versículos bene tornatos cum scripta tua doctrinam Graecam Latinamque mire redolentia perlego subit recordatio Hispaniam saeculo prisco máximos philosophos facundissimos oratores claríssimos poetas peperisse quae nostro quoque aevo cum haudquaquam effoeta sit pariat ingenia ingenuarum artium foecunda nec ab illa avorum beatitate vel tantillum degenerantia. In quibus tu Ludovice mi cumprimis enitescis unaque tecum Hermicus cuius Musa plane musica est cui quantum novitas derogat auctoritatis tantum elegantia conciliat gratiae. Vale et nos dilige quia te diligimus. Bononiae idibus Febr. M. D. I.
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Carta de Luís Teixeira a Filipe Beroaldo – 1-2-1501
Os poemas do nosso Português que na maior parte aliás percorremos um a um separados e desligados foram há pouco reduzidos e organizados como que em um só corpo formando uma obra simples extensa e vária susceptível de proprcionar a máxima admiração e prazer a quem os ler e analisar mui de espaço um por um. A tal ponto que verdadeiramente me parece que posso dizer que todas as ciências desceram do céu para nosso proveito e a poesia para nossa delícia. Oxalá eu pudesse divulgar sem suspeita de lisonja o que penso dos seus versos e do seu engenho. Mostraria por certo não só quanto o nosso poeta sobressai entre os Hispanos mas também quanto rivaliza com os vossos. Diria que ele compete abertissimamente com os antigos. Felicitaria também o meu ínclito Príncipe de Portugal não só por sob o seu feliz e providente império um novo mundo e novas estrelas refulgirem mas também (e assim se saberá que foi totalmente senhor da sua fortuna) por se ver entre tantas maravilhas um homem de talento novo e prestantíssimo certamente para que não falte quem possa escrever tanto aquilo que há pouco por mercê de Deus foi descoberto com o que agora o Augustíssimo Rei mui corajosamente planeia. Mas porque quanto mais sério for o juízo sobre os méritos dos homens ilustres mais verdadeiro se considera e ao mesmo tempo para não parecer exalçar com excessiva benevolência o meu concidadão remeto tudo isto para ti doutíssimo Beroaldo de quem como oráculo da cidade que és todos podemos tão legitimamente receber uma resposta como tu dá-la. Adeus. Bolonha 1 de Fevereiro de 1501.
Carta de Filipe Beroaldo a Luis Teixeira - 13-2-1501
Consultas-me em carta elegantemente escrita sobre o que penso do talento poético do teu concidadão e dos seus poemas. Ei-lo resumidamente. O Português Henrique é engenhoso elegante e florido na feitura dos poemas; tem graça tem sal. São latinas as suas palavras poéticas as sentenças polidos os versos. Remata segundo a norma dos epigramatistas com elegância e com espírito. Eu admiro realmente os escritores antigos mas não todavia por forma a desprezar os modernos. E palavra de honra quando leio os bem torneados versinhos de Henrique e os teus escritos admiravelmente perfumados de saber grego e latino vem-me à memória que a Espanha produziu nos tempos antigos os maiores filósofos os mais fecundos oradores os mais ilustres poetas sendo ela no entanto também no nosso tempo capaz uma vez que não está de modo nenhum esgotada de criar engenhos fecundos nas Belas-Artes em nada desmerecedores daquela felicidade dos antepassados. E entre estes tu meu caro Luis brilhas em primeiro lugar e juntamente contigo Henrique cuja musa é esplendidamente harmoniosa e na qual quanto de autoridade lhe derroga a novidade tanto de gracioso lhe concilia a elegância. Adeus e estima-nos porque te estimamos. Bolonha 13 de Fevereiro de 1501.
Tradução do Dr. Miguel Pinto de Menezes
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Entretanto seu tio Nuno Caiado e o próprio Rei de Portugal insistiam com ele para que se dedicasse ao estudo do Direito:
Ad Nonium Caiadum
Discere me cogis Noni civilia iura Et donare iubes iam mea plectra rude. Dulcia quis trucibus permutat carmina rixis? Quis præfert nostris iurgia rauca iocis? Sunt leges lachrymae questus periuria lites Invetitumque nefas implicitique doli. Quis sordes æquis oculis spectare reorum Quis fletus duro pectore ferre potest? Men nugas audire fori mendacia? Vanis Men præbere aures causidices faciles? Ut iuvat historias veterum monumenta virorum Perlegere et mores inspicere inde hominum! Quid referam arcana sensus in nube latentes? Quid referam abstrusis mystica sacra modis? Adde et convexi claríssima lumina mundi Et rerum causas noticiamque deum. Hæc ego Pactolum si quis mihi tradat et Hermum Non vendam: est cunctis vitaque morsque eadem. Quod si divitiis opus est fulvoque metallo Esse inopes musas non patiere mihi. Tecta ducum subeant alii procerumque penates: Tu mihi pro cunctis regibus esse potest.
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A Nuno Caiado
Obrigas-me Nuno a aprender o direito civil e mandas-me até desfazer-me da minha cítara. Mas quem troca os doces cantos por violentas disputas? Quem prefere os ásperos litígios às nossas brincadeiras? As leis implicam lágrimas queixas perjúrios disputas delitos que não se podem impedir e enganos inevitáveis. Quem pode fixar com olhar sereno os pecados dos culpados comp se podem suportar os prantos com ânimo insensível? Eu escutar como palermices as mentiras do foro? Eu dar ouvidos atentos aos estúpidos dos advogados? Como é agradável ler atentamente a história que recorda os feitos dos varões antigos e assim conhecer os costumes dos homens! Porque deveria aprender os pensamentos escondidos numa nuvem arcana? Porque deveria descrever os mistérios sagrados em modos incompreensíveis? Junta-lhe também as luzes esplendorosas da abóbada do universo as causas das coisas e o conhecimento dos deuses. Ainda que me dessem o Pátolo ou o Ermo eu estas coisas não as venderia: a vida e a morte são as mesmas para todos. Porque se eu tivesse necessidade de riquezas e do amarelo metal tu não suportarias certamente que as musas me fossem pobres. Que outros se curvem debaixo das casas dos duques e das moradas dos mais poderosos: tu podes substituir para mim todos os reis.
Tradução feita a partir da versão italiana de Rita Biscetti |
Já depois de publicados os seus livros decide-se finalmente a estudar Direito a sério:
Ad Nonium Caiadum
Legibus incumbo Noni tua iussa secutus: Namque iubere potes et pater et dominus. Ingenium Musas vitam tibi debeo: Cæsar Non dare plura potest non dare plura deus.
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A Nuno Caiado
Nuno ocupo-me agora com as leis seguindo as tuas ordens; na realidade podes dar-me ordens quer como pai quer como senhor. A ti devo a minha inteligência a inspiração poética a própria vida: César não pode dar mais nem mesmo um deus pode dar mais.
Tradução feita a partir da versão italiana de Rita Biscetti
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As poesias de Henrique Caiado revelam-nos um carácter divertido folgazão amigo de agradar dedicando poemas a toda a gente que apreciava ou simplesmente conhecia. Em face da sua obra Luís de Matos indica as seguintes estadias:
Bolonha – Janeiro de 1495
Florença – 2.º semestre de 1495
Bolonha – Fevereiro a Outubro de 1497
Ferrara – Setembro de 1500 a Janeiro de 1501
Bolonha – Fevereiro de 1501
Pádua – Novembro de 1503
Pádua – Julho e Dezembro de 1503.
Entretanto trabalhos mais recentes em Itália dizem-nos que em 28 de Outubro de 1499 Caiado celebrou com as autoridades de Rovigo um contrato para exercer as funções de professor da Escola Pública local com a remuneração de 80 Escudos anuais substituindo Ludovico Ricchieri que tinha pedido a demissão antes do fim do seu contrato. Antes de ir para Rovigo Caiado estava em Ferrara onde era amigo de Celio Calcagnini. A Oitava Écloga é dedicada a Zaccaria Contarini podestà de Rovigo a quem oferece ainda três epigramas (págs. 161 165 e 168 do software). A 13 de Agosto de 1500 deixa o ensino em Rovigo e regressa a Ferrara onde fica pelo menos até Janeiro de 1501 (carta dedicatória da 3.ª Silva a Rainiero Iacobelli).
Constata-se assim que Henrique Caiado era um autêntico "andarilho" em Itália. A sua facilidade em fazer versos fazia dele um tipo simpático tanto assim que diziam "Ecce vadit theca apollinaris!" "Lá vai o cofre de Apolo!" diz-nos o P.e António dos Reis no seu Corpus.
Em 24 de Outubro de 1503 Caiado proferiu o discurso de abertura solene do ano escolar. O ano escolar iniciava-se no dia de S. Lucas a 18 de Outubro e cada ano era escolhido um aluno para pronunciar um discurso diante das autoridades civis dos professores e dos alunos.
Entretanto em 1 de Abril do mesmo ano fora impresso em Veneza um discurso proferido em Caltagirone pelo seu colega de curso Antonino Barbara Sículo que incluía entre outros um epigrama composto por Caiado.
Barbosa Machado afirma que ele se licenciou em Direito na Universidade de Pádua em 1503. Isto não é verdade. Em 15 de Outubro de 1504 no doutoramento i.u. de Filippo Decio (E.M. Forin 5.º volume n.º 347) ele é indicado como testemunha com o qualificativo i.u. scolaris. A mesma Elda Martellozzo Forin afirma que no Verão de 1505 ele era ainda estudante quando fez o elogio fúnebre do Professor Francesco Fazi que teve depois honras de publicação.
Henrique Caiado estudante de Direito iure utroque anda mal de finanças pois diminuíram ou desapareceram mesmo as mesadas de Lisboa. Liga-se então a dois estudantes alemães abastados Marco Fugger (Fucharus) e Paldolfo Rem (Remus). Dá lições de Humanidades a este último. Marco Fugger é uma espécie de chefe do grupo. Caiado e Rem são conselheiros (conciliarii) do sector jurídico da Universidade representando as respectivas nacionalidades.
No final de 1505 Pandolfo Wolfgang Rem escreve uma composição que acompanhada de um epigrama de Caiado dedicado a Fugger é publicada sob o título “Pandulphi Volphgangi Remi Germani Oratio habita Patavii cum quaestiuncula pulcherrime discussa ab ipso an diebus festis legere studere et scribere liceat. Venetiis : Bernardinus Vitalis Venetus 1506. X. cal. Februarii”.
Caiado era aluno de Francesco Fazi que veio a falecer no início do Verão de 1505. Caiado pronunciou a oração fúnebre que foi depois impressa em livrinho publicado em 1507. A 7 de Julho de 1505 o Reitor reúne os conselheiros que escolhem para sucessor de Fazi o siciliano Giovanni Speraindio eleito com os votos de Caiado e de Rem.
A 29 de Julho é feita contra Caiado a acusação de que dá lições privadas e por isso não é financeiramente independente. Duas das testemunhas indicadas os irmãos Francesco e Girolamo Soncin dizem mesmo que no ano anterior tinham comprado o voto de Caiado por oito ducados.
Apesar de tudo Caiado é reconfirmado como Conselheiro para o ano lectivo 1505-1506.
No final do ano lectivo Caiado é condenado pelo Reitor perdendo o direito de voto. Recorre para o “Podestà” que anula a sentença do Reitor.
No início do ano lectivo 1506-1507 Pandolfo Rem sai doutorado em Direito Civil com grandes louvores sendo-lhe atribuída a cátedra de “Decretos”. Caiado é nomeado leitor de “Autênticos”.
Entretanto o Conselheiro alemão Giovanni Colono ausenta-se por dois meses e nomeia seu substituto Caiado que nessa qualidade participa na Assembleia da Universidade de 21 de Outubro na qual se chama severamente a atenção dos professores para o respeito do antigo costume de “disputar” ao menos durante meia hora no final de cada lição ordinária.
A 31 de Outubro Caiado aceita substituir como conselheiro da “nação” húngara Luís de Cáceres que tem de partir de Pádua. Mais tarde torna-se também Conselheiro da “nação” inglesa. Mas não leva a cabo o mandato pois desaparece da cidade sem aviso prévio. Constatando que a sua ausência dura há vários meses a 14 de Março de 1507 o Reitor declara-o demitido e substitui-o por Pietro Merni.
É enorme a lista das pessoas a quem Henrique Caiado dedicou poemas tanto portugueses como italianos:
António Galeazzo Bentivoglio
Mino Rossi
Guido Pepoli
Antonio Albergati
Cavaliere Casio
Niccolò Rangoni
Ludovico Bianchi
Gianfrancesco Aldrovondi
Angelo Ranuzzi
Bartolomeo Barbazza
Antonio Urceo detto Codro
Filippo Beroaldo Junior
Andrea Magnoni
Costanzo Claretti de Cancellieri
Bartolomeo Bianchini
Pandolfo Collenuccio
Antonio Tebaldeo
Celio Calcagnini
Tito e Ercole Strozzi
Benedetto Barbazza
Thomas Langton
D. Pedro Bispo da Guarda
Diogo de Sousa
Febo Moniz
Diogo Pacheco
Luís Melo Martim Figueiredo
Luís Teixeira
João Castelo Branco
Gomes de Lisboa
Nuno Caiado seu tio
Arcediago Luís Caiado seu irmão doctor in utroque
Lourenço Moniz
Cataldo Parísio Sículo
Henrique Caiado aparece referido muito apreciativamente na obra de Lilio Gregório Giraldi Dialogi duo de poetis nostrorum temporum publicada em 1551:
"Hermicus Caiadus
noster poeta Lusitanus fuit Ulysiponensis in epigrammatibus felix in
oratione soluta facilis ac promptus ut ait Erasmus in Ciceroniano".
Quae cum de Hermico dixisset Didacus:
"Videris mihi – inquam – Pyrrhe
parum de facie quod dicitur et corporis filo Hermicum novisse qui tam
pauca de eo tu et Erasmus dicatis. Fuit enim
Hermicus Caiadus
poeta vester qui in Lusitania He<n>ricus vocabatur obesulus corpore
sermone festivus in Italia Florentiae et Bononiae versatus Politiani
et Beroaldi tempore quorum et disciplina et familiaritate usus. Fuit et
hic Ferrariae ubi consuetudine mea et Coelii Calcagnini usus est sed
imprimis Petri Ant(onii) Actioli et N(icolai) Iacobeli causidici eximii:
Nic(olaum) vero Paniciatum virum probum et doctum ac etiam poetam
nostratem qui hic publice profitebatur aversabatur quod austerior cum
sermone tum moribus videretur. Dialogi duo de poetis nostrorum temporum Florentiæ 1551 online aqui
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A certa altura a obra de Caiado chegou ao conhecimento de Erasmo de Roterdão (1469-1536). E é este humanista quem nos dá notícia da sua morte em 1509 ocorrida de um modo muito estranho sufocado pelo álcool do vinho:
Vinaria angina
De αργυραγχη i.e. angina argentaria quae multis praeter Demosthenem vocem intercipit jam antea diximus. At Festus Pompeius indicat joco jactatum in eos qui vino praefocantur laborare vinaria angina quam οιναγχην possis dicere. Ipse novi Romae quendam haud vulgariter eruditum qui hac angina serio periit. Hermicus appellabatur natione Lusitanus. Correptus erat febricula vir corpore supra modum obeso et ob id spirutuosus. Decumbentem invisit Christophorus Fischerus patria Anglus. “Vin tu” inquit “Hermice auscultare medicis meras nugas praescribentibus? Bono vino rectius proluetur hoc malum” simulque iussit adferri vinum Corsicum quadrimum. Propinavit aegroto iubens bono esse animo. Ille persuasu hausit ac mox intercluso spiritu coepit animam agere. Quosdam ebrietas e taciturnis reddit loquacissimus quosdam contra tam mutos quam ullus est piscis citra valetudinis periculum. Utinam haec οιναγχην minus frequens esses apud Germanos.
(Adagia 3702) online pags. 246 e 247
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Conheci pessoalmente em Roma um homem de uma erudição pouco comum que morreu desta espécie de angina. Chamava-se Henrique e era de nacionalidade portuguesa. Excessivamente obeso e por isso propenso a faltas de ar tinha ficado com um pouco de febre. Estava acamado quando o Inglês Christophe Fisher o veio visitar e lhe disse: “Henrique vais dar atenção aos médicos e às suas estúpidas receitas? Com um bom vinho vais curar a tua maleita.” Assim fez-lhe trazer um vinho da Córsega de quatro anos. Serviu-o ao doente dizendo-lhe para não se preocupar. Este seguiu o seu conselho e bebeu com abundância mas perdido o fôlego entregou a alma a Deus.
Tradução feita a partir da versão francesa de M. Bataillon
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Apesar desta notícia de certo modo depreciativa sobre o nosso poeta Erasmo tinha consideração por ele como se vê do seguinte trecho:
Et Lusitanos aliquot eruditos novi qui vulgaverint ingenii sui specimen; neminem novi praeter Hermicum quendam im epigrammatibus felicem in oratione soluta promptum ac felicem ad argumentandum dexterrimae dicacitatis.
De Ciceroniano online aqui
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Conheço também alguns portugueses eruditos que deram provas do seu engenho mas não conheço nenhum excepto um certo Henrique feliz nos epigramas pronto e fácil na prosa e de habilíssima mordacidade na argumentação.
Tradução de Miguel Pinto de Menezes
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Erasmo escreveu ainda um “Epitáfio para um palhaço bêbado” com estes versos:
Epitaphium Scurrulae temulenti. Scazon
Pax sit viator tacitos hos legas versus Ut sacra verba mussitant sacerdotes Ne mihi suavem strepitus auferat somnum Repetatque vigiles ilico sitis fauces. Nam scurrula hocce sterto conditus saxo Quondam ille magni clarus Euii mystes Ut qui bis octo lustra perbibi tota. Oculis profundus deinde somnus obrepsit Ut fit benigno membra cum madent Baccho Atque ita peractis suaviter bonis annis Idem bibendi finis atque vivendi Fuit. Sed etiam me aliquis ebrium credat Aut somniare qui ista dormiens dicam Vale viator iam silenter abscede.
(Carmina ASD 52.) online aqui págs. 347 e 348
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Epitáfio de um palhaço bêbado
Paz ó viandante lê estes versos baixinho como os padres murmuram as palavras sagradas por medo que o ruído não me interrompa o doce sono e que a sede não chegue à minha garganta desperta. É o que eu fui outrora eu aquele palhaço que ressona escondido sob esta pedra eu fui o sacerdote famoso dos mistérios de Baco. Eu bebi durante duas vezes oito lustres depois o sono profundo insinuou-se nos meus olhos como quando o corpo é penetrado por uma feliz embriaguez. Desta maneira cheguei docemente ao fim desta feliz existência e cessei ao mesmo tempo de beber e de viver. Mas talvez ainda pensem que estou ébrio ou que estou a sonhar se falo assim a dormir. Adeus viandante retira-te em silêncio.
Tradução feita a partir da versão francesa de M. Bataillon
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Referir-se-ia ainda aqui a Henrique Caiado? Entendemos que não embora possa ser uma fantasia poética inspirada pelo mesmo acontecimento. O comentador de Erasmo Harry Vredeveld discordando de M. Bataillon entende porém que o epitáfio se refere verdadeiramente a Caiado dizendo até que a rima do verso 11 bibendi e vivendi parodia o vício ibérico de trocar os bês pelos vês. Quanto a "bis octo lustra" considera uma simples hipérbole já que Caiado morreu antes de completar quarenta anos.
Erasmo recebera de poeta húngaro Jacobus Piso (1480-1527) uma carta com o seguinte post scriptum:
Roma pridie Cal. Iulias M. D. IX. ............................................................................. Expecto abs te epitaphia scurrulae istius merobibi. Te precor ne me fallas. Ab aliis doctis tuis amicis alia super eo impetrabis et ad me mittes. Online aqui , pag. 290
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Espero o teu epitáfio do palhaço bebedor de vinho puro. Não me faltes à tua palavra por favor. Vais saber dos outros amigos que tens entre os eruditos todos os detalhes sobre o assunto que depois me enviarás.
Tradução feita a partir da versão francesa de M. Bataillon
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O Epitáfio acima transcrito parece dar satisfação a este pedido. Erasmo deveria conhecer também o epigrama composto por volta de 1425 por António Beccadelli chamado Panormita (1394-1471) que o incluiu no Hermaphroditus II n.º 12 em que o ébrio também se chamava Erasmo:
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12. Epitaphium Haerasmi Biberii ebrii
Qui legis Haerasmi sunt contumulata Biberi Ossa sub hoc sicco non requieta loco. Erve vel saltem vino consperge cadaver; Eripe: sic quaeso sint rata quaeque voles! Ossa sub oenophoro posthac erepta madenti Conde natent temeto fac: requietus ero
Online aqui
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Jacobus Piso escreveu ainda onze epigramas sobre o assunto conforme referência em artigo publicado na Hungria sobre o assunto (ver abaixo) de que (claro) só percebemos o resumo em inglês. Este Jacobus Piso era na altura ainda jovem (29 anos) e talvez algo destravado. Tinha estado em Itália mas não é provável que conhecesse Caiado. Erasmo demonstra por ele também bastante consideração:
Huius commemoratio nos deduxit in Pannoniam nam illic nunc agit ubi neminem noui praeter Iacobum Pisonem studiosum eloquentiae Tullianae candidatum sed primum aula deinde calamitas nuper etiam mors hominem nobis abripuit.
De Ciceroniano online aqui |
A "moda" continuou com dois amigos e imitadores de Erasmo. Helius Eobanus Hessus (1488-1540) incluiu dois epigramas com os títulos Divitis Avari Epitaphium e Adulescentis Prodigi et Ebriosi Epithaphium Phaletium no seu livro Hymnus Pascalis (1515) que podem ser lidos aqui. Gilbert Cousin (Cognatus) (1505-1567) redigiu o que se transcreve incluído na Opera multifarii argumenti:
Iacobi Normani Hippocratis ventris et temulenti epitaphium
Me (ut fit) silenter hic viator aspice Ne placidus hic si me reliquerit somnus Rursum atra miseras occupet sitis fauces; Nam quod loquor nunc somniare me credas.
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Resta falar num episódio em que aparece o nome de Caiado mas para o qual ele não deve ter sido visto nem achado. Em 1505 Valentim Fernandes Valentinus Moravus ou Valentin Fernandez Aleman escreve a dois epigrafistas de nomeada Hieronymo Münzer (ou Hieronimus Monetarius) de Nurenberga e a Conrad Peutinger dizendo-lhes que a 9 de Agosto daquele ano fora desenterrada uma pedra com um oráculo predizendo os feitos dos navegadores portugueses (Carta a Hieronimus Monetarius aqui uma versão francesa aqui). Tratava-se evidentemente de um documento falso. Mas em en 1565 Gaspar Barreiros em Censura in quendam auctorem qui sub falsa inscriptione Berosi Chaldaei circunfertur Gaspare Varrerio auctore atribui a Henrique Caiado a falsificação. A monografia referida a seguir de A. Momigliano rejeitou esta acusação porque Caiado não estava em Portugal nessa altura e com toda a probabilidade nunca regressou a Portugal antes de falecer.
Henrique Caiado tinha uma grande consideração por seu irmão que é identificado como Doutor iuris utroque e Arcediago de Lisboa a quem dedicou o seguinte epigrama:
Ad Ludovicum Cauadum Archidiaconum
Si pietas si prisca fides coleretur et esset in pretio uirtus sanctaque relligio conspicuus meliore loco Ludouice sederes fulgeretque apice frons tua purpureo et te pastorem peteret sibi ouile Tonantis et nulli errarent per tua rura lupi aurea sed fuluo splenderent saecla metallo aeternumque scelus exilium lueret. Sed quoniam sua fata regunt hominesque deosque et Fortuna uices fertque refertque suas uiue boni solum decus et noua gloria fratris uiue diu nostri praesidium generis. Sit satis et patria locus haud postremus in urbe sit satis et meritis deesse tuis aliquid. |
Ao Arquidiácono Luís Caiado
Se a piedade se a antiga probidade fossem cultivadas e o justo valor fosse dado à virtude e à santa religião mais famoso e em lugar de mais relevo ó Luis terias assento e havia de resplandecer a tua fronte com o barrete de púrpura e o rebanho havia de reclamar-te por pastor ao Tonante e por tuas pastagens lono algum vaguearia; mas pelo contrário séculos de oiro haveriam de refulgir com o louro metal e o crime eterno seria condenado ao exílio. Mas já que fados próprios regem homens e deuses e a Fortuna faz e desfaz as suas voltas vive honra única do bem e nova glória do teu irmão vive por largo tempo protecção de nossa raça. Possa bastar-te um lugar não derradeiro na cidade pátria Possa bastar-te até que fique um pouco aquém de teus merecimentos. |
Tradução do Prof. Doutor Carlos Ascenso André (em Mal de Ausência) cuja autorização para a sua reprodução se agradece. |
Aqui ficam mais alguns dos epigramas de Henrique Caiado com tradução feita a partir da versão italiana de Rita Biscetti:
Ad Rectorem Bononiensem
Quantus honos fuerit tibi quantaque gloria rector Et quantis te omnes laudibus extulerint Hic novisse potes: nemo non lætus abivit Nemo non fartus nemoque non titubans. Cantavere omnes Bacchum baccheaque sacra: Bentivolus Galeax ebrius ipse fuit. Ipse loquebatur ego centum tum denique linguis Et cecini súbito carmina mille pede.
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Ao Senhor de Bolonha
Senhor quão grande tenha sido a tua dignidade quão grande a tua glória e com quantos louvores todos te tenham celebrado podes aferi-lo do seguinte: ninguém se foi embora que não fosse contente ninguém que não tivesse comido com abundância e ninguém que não tivesse bebido também com abundância. Todos celebraram Baco e os ritos báquicos; o próprio Galeazzo Bentivoglio estava ébrio. Eu mesmo já falava em cem línguas e pus-me a cantar de improviso mil poemas bem ritmados.
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Ad Pestinum
Militia et Musis ætas gaudebat avorum Cumque bonis agros artibus excoluit. Tempora nostra Venus Bacchus ludusque gubernant Et quidquid morum deteriora parit. Hinc Pestine liquet quam sit laudanda vetustas; Nos nati – misera o sæcula! – fæce hominum.
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A Pestino
A era dos nossos Avós gozava da milícia e das Musas e cultivou os campos com artes honestas. Mas o nosso tempo é governado por Vénus por Baco e pelos jogos e por tudo o que contribui para a deterioração dos costumes. Por isso Pestino torna-se claro quanto devem ser louvados os antigos. Nós ao invés nascemos – ó séculos infelizes – do refugo dos homens.
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Ad Laurentium Monizium
Nuntius aëris Rhombum cecidisse sagittis Dixerat ingratus nuntius ille mihi: Præceptoris enim nostræ præpono salutem Cuius ab ingenio carmina nostra fluunt. Quidquid doctrinæ quidquid mihi contigit artis Ille dedit princeps grammaticumque decus. Vivere Laurenti docuit tua littera Rhombum Lettera Castalii tincta liquore lacus. Nestoreos Rombo concedat Iuppiter annos Tithoni vivat Rhombus et ipse dies. Et tibi lætitiam tantam qui forte tulisti Contingat longæ posteritas honos.
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A Lourenço Moniz
Um mensageiro tinha dito que Rombo caíra ferido pelas velozes setas mensageiro que se me tornou muito antipático: de facto eu anteponho a salvação do meu mestre à minha já que os meus poemas derivam da sua inteligência. Tudo o que eu tenho de ciência e arte foi ele quem mo deu príncipe e glória dos gramáticos. A tua carta Lourenço informou-me que Rombo está vivo uma carta tingida na água do Lago Castálio. Que Júpiter conceda a Rombo os anos de Questor que o próprio Rombo possa viver os dias de Titão. E que também a ti que me trouxeste tanta alegria caiba a honra de uma longa posteridade.
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Epitaphium Camilli Vitelli
Quisquis ad has partes venisti forte viator Siste pedem et saxis carmina sculpta lege. Hic iacet (heu passus crudelia fata!) Camillus Armipotens hosti terror ubique suo. Belli fulmen era pallorque Vitellus in armis: Obfuit huic tantum maxima vis animi. Lux patriæ generisque dectus spes una suorum E medio vitæ tramite raptus obit. Terra cadaver habet virtutis tempore in omni Nomen erit cœli spiritus alta petit.
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Epitáfio de Camilo Vitélio
Ó tu peregrino que por acaso chegaste a estes lugares trava os teus passos e lê os versos esculpidos no mármore. Aqui jaz (infelizmente vítima de um cruel destino) Camilo poderoso nas armas por todo o lado terror dos seus inimigos. Vitélio era um raio na guerra e um terror entre as armas. Só o prejudicou a sua enorme força de ânimo. Luz da pátria e esplendor da sua raça única esperança dos seus morreu raptado do meio do caminho da sua vida. A terra possui os seus restos mas a fama da sua virtude viverá todo o tempo e o seu espírito sobe ao alto dos céus.
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ADENDA: Uma honrosa referência a Caiado é a que lhe faz Bartolommeo Bianchini na biografia que precede a edição de Basileia das obras de António Urceo Codro (1540) com o título "Codri Vita a Bartholomæo Blanchino Bononiensi condita ad Mimum Roscium Senatorem Bononiensem"
A plerisque quidem Epitaphia in Codrum graphice et eleganter scripta fuere sed præcipue ab duobus clarissimis viris Hermico Caiado Poëta Lusitano et Philippo Beroaldo Juniore quos ego viros ob eorum beatissimam ingenii mgnitudinem valde et amo et exosculor dunque vivam amabo.
Dados do livro:
Antonii Codri Urcei in florentioribus Italiae gymnasiis olim cum felicissimo loco illic fuerunt meliores litterae professoris cum philosophiae linguam moresque formantis tum reconditas rerum causas tractantis opera quae extant omnia : sine dubio non vulgarem utilitatem allatura grammaticen dialecticen rhetoricen physica profitentibus : in utriusque enim linguae Graecae Latinae autoribus loca hactenus non intellecta explicantur mirabili ingenii iudiciique acumine : lucubrationum elenchon versa pagina enumerabit
Basileae : per Henricum Petrum 1540
431 p.
Online: http://www.literature.at/webinterface/library/ALO-BOOK_V01?objid=1483
LIVROS PUBLICADOS
1496 – Eclogae Bolonha Impr. Justinianus de Ruberia (6 primeiras éclogas)
1501 – Aeglogae et silvae et epigrammata Hermici Bolonha Impr. Beneditus Hectoreus (9 éclogas 3 silvas e 2 livros de epigramas).
Online: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k60268c
Indice (páginas do software): Éclogas - 9; Silvas - 69; Epigramas - 1.º livro - 96; Epigramas - 2.º livro - 135.
Online na Biblioteca Digital da Un. de Coimbra: http://bdigital.sib.uc.pt/bg5/UCBG-VT-19-7-1/UCBG-VT-19-7-1_item1/P2.html
Éclogas - 6; Silvas - 35; Epigramas - 1.º livro - 49; Epigramas - 2.º livro - 69
1504 – Hermici oratio cum epistola ad Bartholomeum Blanchinum Bononiensem Veneza Impr. Bernardinus Vitalis Venetus. (3 textos)
1507 – Hermici oratio cum epistola ad Ludovicam Leonem Patavinum iuris consultum Veneza Impr. Bernardinus Vitalis Venetus. (3 textos)
P.e António dos Reis Corpus illustrium poetarum Lusitanorum Lisboa 1745 1.º vol. Pgs. 35-259
Online: http://books.google.pt
Nota: A transcrição no Corpus do 1.º livro de epigramas omitiu certamente por lapso o epigrama VI De Rectore Bononiensi ficando a numeração errada a partir daí. O mesmo aconteceu na tese de Adalberto de Azevedo mas não no texto de Rita Biscetti. Também no 2.º livro de epigramas não foram transcritos 9 epigramas.
TEXTOS CONSULTADOS
Bibliotheca lusitana historica critica e cronologica : na qual se comprehende a noticia dos authores portuguezes e das obras que compuserão desde o tempo da promulgação da Ley da Graça até ao tempo presente por Diogo Barbosa Machado (1682-1772) 4 vols. 1741. Transcrito aqui.
Innocencio Francisco da Silva Diccionario bibliographico portuguez e estudos applicaveis a Portugal e ao Brasil
Nicolau António Bibliotheca Hispana noua : sive Hispanorum scriptorum qui ab anno MD ad MDCLXXXIV floruere notitia / auctore D. Nicolao Antonio ; tomus secundus Madrid Apud Joachimi de Ibarra. 1788. Online aqui (págs. 601 e 602 do software).
A. Moreira de Sá Humanistas portugueses em Itália e subsídios para o estudo de Frei Gomes de Lisboa dos dois Luíses Teixeiras de João de Barros e de Henrique Caiado Lisboa Imp. Nacional - Casa da Moeda D.L. 1984. 203 pgs.
Artur Beleza Moreia de Sá Duas obras desconhecidas de Henrique Caiado Lisboa 1956 Sep da Rev. Facul. de Letras de Lisboa 22.
Américo da Costa Ramalho Origem e início do humanismo em Portugal in Para a história do humanismo em Portugal vol. III Lisboa INCM 1998.
Américo da Costa Ramalho Um epigrama de Henrique Caiado in Para a história do humanismo em Portugal vol. III Lisboa INCM 1998.
Américo da Costa Ramalho «Pedro Sanches sobre Henrique Caiado» Boletim de Estudos Clássicos. Coimbra. 37 (Junho de 2002) 97-98
Online: http://www.uc.pt/eclassicos/publicacoes/conteudo1_bec_detalhes.php?PnID=37
Américo da Costa Ramalho «Hermici Cayado. Ad Cataldum Parisium Siculum. Epigramma» Boletim de Estudos Clássicos. Coimbra. 33 (Junho de 2000) 95-96
Online http://www.uc.pt/eclassicos/publicacoes/conteudo1_bec_detalhes.php?PnID=33
Américo da Costa Ramalho «Hermici Cayado Ad Emmanuelem Regem Epigramma" “Boletim de Estudos Clássicos. Coimbra. 30 (Dezembro de 1998) 149-150
Online: http://www.uc.pt/eclassicos/publicacoes/conteudo1_bec_detalhes.php?PnID=30
Tomás da Rosa As éclogas de Henrique Caiado traduzidas e comentadas. Coimbra 1954 sep. de Humanitas vols. 2 e 3 da nova série
Litteratos portuguezes na Italia ou collecção de subsidios para se escrever a Historia Litteraria de Portugal que dispunha e ordenava Frei Fortunato Monge Cistercense in António de Portugal de Faria Portugal e Itália Leorne Tip. De Raphael Giusti 1905 237 págs.
António Domingues de Sousa Costa Portugueses no Colégio de S. Clemente e Universidade de Bolonha durante o século XV Real Colegio de España Bolonia 1990 2 vols. ISBN 84-600-7452-8 pgs. 793 a 824h
Nuno J. Espinosa Gomes da Silva Humanismo e Direito em Portugal no século XVI Lisboa 1964 Tese de doutoramento pgs. 147 a 171 em especial pgs. 156 e ss.
“Henrique Caiado” in Dicionário de literatura: literatura portuguesa e literatura brasileira literatura galega estilística literária -dir. Jacinto do Prado Coelho Porto Figueirinhas 1978
“Henrique Caiado” in Contemporaries of Erasmus - a biographical register of the Renaissance and Reformation Peter G. Bietenholz Thomas B. Deutscher Toronto Univ. of Toronto Press 1985-87.
“Henrique Caiado” de Luis de Matos in Dicionário de História de Portugal - organ. Joel Justino Baptista Serrão Lisboa Iniciativas Editoriais. 1970.
“Henrique Caiado” in Musae reduces. Anthologie de la poésie latine de la Renaissance. 2 vols. E.J. Brill 1975. ISBN 2-251-69400-5
"Henrique Caiado" de Carlos Ascenso André in Biblos : enciclopédia Verbo das literaturas de língua portuguesa direcção de José Augusto Cardoso Bernardes Lisboa Verbo (1995-1999)
Carlos Ascenso André - Mal de ausência: o canto do exílio na lírica novilatina portuguesa do século XVI Tese de doutoramento Faculdade de Letras Editora Minerva Coimbra 1992 673 págs ISBN 972-9316-42-2
Rita Biscetti Contributo alla storia dell'umanesiano portoghese - il primo libro degli Epigrammi di Henrique Cayado Paris - Fundação Calouste Gulbenkian - 1978 sep. do Arguivo do Centro Cultural Português 13
Les "Églogues" d'Henrique Caiado ou l'humanisme portugais a la conquête de la poesie neo-latine - texte présenté traduit et commenté par Claudie Balavoine Lisboa Fund. Caloute Gulbenkian 1983 246 pgs.
Marcel Bataillon La mort d’Henrique Caiado in Études sur le Portugal au temps de l’humanisme Coimbra Universidade 1952.
Carlo Malagola Della vita e delle opere di Antonio Urceo detto Codro - studi e ricerche Bologna Tip Fava e Garagnani 1878 597 págs. (transcrito aqui)
Acta Graduum Academicorum ab Anno 1406 ad Annum 1550 a cura di Elda Martellozzo Forin Padova Antenore 1968-1971- 7 vols.
Elda Martellozzo Forin "A Padova col Caiado: Marco Fugger e Pandolfo Rem (1504-1508)" cap. III do texto "Studenti e dottori tedeschi a Padova nei secoli XV e XVI" in Quaderni per la storia dell'Università di Padova n.º 4 Padova 1971 pgs. 76-97.
Francisco Rebelo Gonçalves Recensão de The Eclogues of Henrique Cayado edited with introduction and notes by Wilfred P. Mustard Baltimore The Johns Hopkins Press 1931 98 pgs. in Obra completa 1.º vol. Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian 1955.
The Eclogues of Henrique Cayado edited with introduction and notes by Wilfred P. Mustard Baltimore The Johns Hopkins Press 1931 98 pgs.
Adalberto de Azevedo Apreciação literária do (1.º) livro de epigramas de Henrique Caiado Lisboa 1953 Tese (dactilografada) apresentada à Fac. de Letras de Lisboa 33 fls.
Tomás da Rosa Pereira Júnior O bucolismo em Caiado e Bernardim 1950 Tese (dactilografada) apresentada à Fac. de Letras de Lisboa 136 fls.
Musae reduces : anthologie de la poesie latine dans l'Europe de la Renaissance / textes choisis présentés et traduits par Pierre Laurens; avec la collaboration de Claudie Balavoine. - Leiden : E. J. Brill 1975. - 2 vol.
Poems Collected Works of Erasmus Volume 85 Clarence H. (TRN) Miller Harry (EDT) Vredeveld University of Toronto Press 1993 ISBN 0802028675 835 pags.
Arnaldo Momigliano Enrico Caiado e la falsificazione di C.I.L. II 30 in Studi in onore di Enrica Malcovati sep. de Athenaeum nuova série - vol. XLII fascicolo i-IV - 1964 Università di Pavia pag. 3-11.
Primo Griguolo Notizie sulla scuola pubblica di Rovigo Lodovico Ricchieri ed Ermico Caiado in Italia Medioevale e Umanistica XXXV (1992) a cura di Giuseppe Billanovich Augusto Campana Carlo Dionisotti Mirella Ferrari Paolo Sambin Editrice Antenore Padova MCMXVII pag. 421-429.
Primo Griguolo Grammatici Notai e Uomini di Cultura nel Polesine tra XIV e XVI secolo - Ricerche d'Archivio Venezia Deputazione Editrice 2001.
Domenico Maffei Chiose su Henrique Caiado in Italia medioevale e umanistica n.º 38 1995 Padova pág. 365-370.
Jankovits Lázló Erasmus Piso és az iskákos bohóc in Humanista Müveltség Pannóniában 2000.
Online: http://www.neumann-haz.hu/muvek/humanistamuv/humanistamuv.pdf
Pode ler-se um texto do mesmo autor de conteúdo muito semelhante traduzido do italiano aqui.
NOTA: Agradeço toda a ajuda que me foi prestada na recolha de bibliografia por parte do Centro per la Storia dell'Università di Padova.
HENRIQUE CAYADO filho de Alvaro Cayado e de sua consorte Anna ornada de todos os dotes da natureza teve por patria a inclita Cidade de Lisboa onde na idade da adolescencia aprendeo os preceitos Gramaticaes de Gonçalo Rombo celebre professor de letras humanas. Anhelando o seu talento que era prespicas instruirse com sciencias mayores se resolveo passar a Italia atrahido da fama do grande Filologo Angelo Policiano a cujo dezejo condescendeo seu Pay o qual obtendo faculdade delRey (a quem era muito aceito pellas açoens politicas e militares que em obsequio desta Coroa tinha obrado) para que seu filho sahisse de Portugal o mandou abundantemente provido de tudo quanto lhe era necessario para Bolonha em cuja Universidade havia frequentar o estudo da Jurisprudencia Cesaria porem como o seu genio se não inclinasse a esta Faculdade dedicou toda a aplicação à cultura das letras humanas em que com summa deleitação consumia o tempo. Florecia neste tempo em Bolonha Cataldo Parisio natural de Sicilia sublime cultor do Parnasso de cujo magisterio sahio tão egregiamente instruido que chegou a competir na suavidade da metrificação com o Mestre eternizando em o Epigramma seguinte os progressos que fizera na Poezia com as suas instruçoens.
Otia si qua tibi fuerint si quando vacabit
Versiculos nostros docte Catalde leges:
Versiculos e fonte tuo quos hausimus quos
Dictare haud dubie visus es ipse mihi
Formasti ingenium primus primusque per altos
Duxisti Iucos antraque Pieridum:
Á te principium Musae tibi nostra Thalia
Supplicat s e vult te genitore satam.
Mirari noli si degeneravimus usquam
Nam liquido interdu manat ab amne lutu
De Bolonha se transferio a Florença ancioso de ver a Angelo Policiano cujo afecto querendo conciliar lhe offereceo hum Poema em seu louvor do qual inferio Policiano o sublime enthusiasmo da sua Musa. Nadando por devertimento em hum viveiro de peixes que estava nos arrabaldes de Florença quasi esteve para exhalar o espirito por cauza do excesso de frio que lhe ocupou todo o corpo cujo tragico sucesso descreve na Egloga segunda em que juntamente lamenta com enternecidas expressõens a morte de Angelo Policiano. Em todas as Cidades de Italia que discorreo erão os mais celebres eruditos os Panegiristas do seu talento como forão em Bolonha Roberto Lantono e Mino Roscio Dictador e em Ferrara Gregorio Giraldo e Celio Calcagnino chegando a tal aclamação que o povo com o dedo o mostrava como erario das delicias do Parnasso. As suas Eglogas erão lidas com geral aplauzo das quais tinha elle formado tão alto conceito que lhe parecião iguaes às de Virgilio como insinuou na Carta escrita ao Duque Hercules. Virgilius decem Eclogas Ego dum taxat novem edidi ne cum Poeta eminentissmo certare de numero viderer. A fama que tinha adquerido em o estudo das letras amenas como a natural aversão à Jurisprudencia totalmente o separou de se aplicar a esta Faculdade que seu Pay o mandara estudar e sendo severamente increpado por seu Tio Nuno Cayado de não ter obedecido àquelle preceito lhe respondeo nesta forma.
Discere me cogis Noni Civilia Jura
Et donare jubes jam mea plectra rude.
Dulcia quis trucibus permutat carmina rixis?
Quis praefert nostris jurgia rauca jocis?
Sunt reges lacrymae quaestus perjuria lites
In vetitumque nefas impliciteque doli.
Quis verdes aequis oculis spectare reorum
Quis flectus duro pectore ferre potest;
Men nugas audire fori mendacia ? vanis
Men praebere aures causidicis faciles?
Ut juvat historias veterum monumenta virorum
Perlegere mores inspicere inde hominum.
Quid referam arcaná sensus in nube latentes?
Quid referam obstrusis mystica sacra modis?
Adde et conuexi clarissma lumina mundi
Et rerum causas notitiamque deùm.
Haec ego Pactolum siquis mihi tradat Hermum
Non vendam est cunctis vitaque morsque eadem.
Quod si divitiis opus est fulvoque metallo
Esse inopes Musas non patiere mihi.
Tecta Ducum subeant alii Procerumque penates
Tum mihi pro cunctis Regibus esse potes.
Agravado o Tio do pouco fructo que colhera com a exhortação feita ao sobrinho se vingou negando-lhe a assistencia do dinheiro com que se alimentava e vestia de cuja opressão se queixou com estas vozes a Bartholameo Blanchino.
Nocte dieque famem patitur Blanchine Poeta
Incedit nudus pene Poeta miser.
Não erão poderosas estas molestias para que suspendendo o comercio das Musas frequentasse o estudo da Jurisprudencia até que obrigado do preceito delRey D. Manoel preferio Iustiniano a Apollo e no espaço de tres annos tal foy o progresso que a perspicacia do seu talento unida à felicidade da memoria fez naquella Faculdade em a Universidade de Padua que foy laureado com as insignias doutoraes e na mesma Academia a 23 de Outubro de 1503 recitou huma Oração em louvor da Jurisprudencia que mereceo aplauzo universal a qual no anno seguinte se publicou impressa por Bernardino Vital. Restituido a Portugal assistio pouco tempo na sua patria pois sentindo que lhe fosse anteposto em hum lugar Juridico outra pessoa muito inferior ao seu merecimento para não experimentar segunda injustiça se retirou para huma Quinta situada em huma meya legoa distante de Lisboa onde desgostozo acabou a vida.
Adriano Baillet Jugem. des Scavans Tom. 4. pag. mihi 304. escreve que elle morrera em Roma no anno de 1508 de huma grande porção de vinho que para remedio da doença que padecia lhe deu hum Inglez seu amigo chamado Christovão Fischer persuadindo-o a que desprezando os medicamentos receitados pelos Medicos bebesse aquelle eficaz Besoartico produzido em Corsega e conservado havia quatro annos. Teve a estatura pequena corpo grosso practica jovial e summamente prompto em as respostas. Diversos authores celebrárão a sua memoria com elegantes Elogios como são Filippe Beroaldo in Epist. ad Ludou. Teixeram dizendo Est Hermicus Lusitanus in condendis Poematis ingeniosus elegans florulentus: habet venerem habet salem sunt illi verba latina sententiae poeticae versus emuncti.Desider. Erasmo in Ciceroniano lhe fez o seguinte Elogio.Et Lusitanos aliquod eruditos novi qui vulgaverinte ingenii sui specimen neminem novi praeter Hermicu quemdam in Epigrammatibus felicem Sin oratione soluta facilem ac promptum ad argumentandum dexterrimae dicacitatis. Faria e Souza Fuent. de Aganip. 4. Part. n. 3. e 4. Eglogas de nuestro Portuguez Henrique Cayado que las dedico al Rey D. Manoel con otros Poemas no son infelices. Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. pag. 432. col. 2. floruit latina eruditione Poesi. Resende in Orat. habit. in Acad. Olyssip. anno 1537 . Poeta veteribus conferendus. Lilius Girald. de Poet. sui Temp. Dialog. 2. ¨ Fuit Hermicus Cayadus Poeta vester qui in Lustania Henricus vocabatur sermone festivus in Italia Florentiae Bononiae versatus Politiani Beroaldi tempore quorum disciplina familiaritate usus. Ludou. Teixeira in Epistol. ad Beroald. Utinam quae ego de Carminibus Cayadi quae de ingenio conceperim vulgó possim citra assentationis suspicionem. Ostenderem quippe quantopere Poeta noster non modó inter Hispanos excellat sed etiam urgeat vestrates.Morery Diccion. Historique. Poete celebre.Maced. Flor. de Espan.cap. 8. Excel. 11. Damian. de Goes Hispan. no Tit. de vir doctis. Ioan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Liter. lit. H. n. 5.Leytão Not. Chronol. da Universidade de Coimb. pag. 414. §. 895. Excellente Poeta Jurisconsulto. Petrus Sanches in Epist. ad Ignatium de Moraes.
Cayada de gente tibi venit Hermicus ille
Hermicus Ausonia cunctis notissimus urbe
Qui cecinit Sylvas pecudesque numimina ruris
Quem saepe inflantem calamos dulce sonantem
Tectus arundinibus summis audivit ab undis
Mincius ipse pater fluctus Tponere raucum
Jussit murmur aquae labentis ut altius aure
Attentá molles numeros cerba notaret.
Credebatque senex Musam manesque Maronis
Populeas inter frondes in vallibus illis
Errare Sylvas sedesque revisere amatas.
O Padre Antonio dos Reys Enthusiasm. Poet. n. 167.
Cayadus ab ipso
Virgilio haud multùm distans super ardua collis
Ibat ab ore melos fundendo dulcius illo
Quo placata olim Plutonia Regna canenti
Eurydicem tribuere viro.
Publicou.
Eclogae Sylvae Epigrammata . Bononiae apud Benedictum Hectorem 1501 . 4.
Chegando hum exemplar desta obra às mãos do Summo Pontifice Alexandre VII. insigne Poeta Latino julgou ser digno o seu author de ornar a Bibliotheca Hispana em que naquelle tempo trabalhava indefessamente o famoso Nicolao Antonio a quem remeteo o exemplar pelo eruditissimo Monge Cisterciense Fr. Ioão Bona que depois foy elevado á Purpura Romana. Sahio esta obra segunda vez impressa em nobre caracter e elegante forma no 1. Tom. Do Corpus Illustr. Poetar. Lusitanor. qui latine scripserunt. Lisbonae Typis Regalibus Sylvianis Regiaeque Academiae 1745 .4. desde pag. 51. até 259.