2-9-2014

 

António Pires, o Meia Noite, relaxado no Auto da Fé de 17 de Outubro de 1660

 

 

A saga de António Pires, por alcunha o Meia Noite, nascido em Portalegre, mas morador em Abrantes  há cerca de 15 anos à data da sua prisão, é conhecida. Vem referida nas Notícias Recônditas, e por João Lúcio de Azevedo e António Joaquim Moreira. Estas fontes parecem acreditar que ele era cristão velho mas os dados do processo  levam à conclusão contrária, o que não significa que a Inquisição tivesse alguma razão em o condenar.

Nascera ele em Portalegre, filho de um pai com a mesma alcunha de o Meia Noite, de família originária da Sertã. A sua mãe ficara órfã muito cedo e fora depois criada por uma família de cristãos novos com a alcunha de os “Coxos”. Teve ele a ideia, desde muito novo, de se fazer passar por cristão velho e nunca reconheceu que tivesse algumas raízes de cristão novo. A genealogia que declarou no processo, porém, tem muitos buracos. Quando ele foi preso, seu pai entregou na Inquisição uma nota justificativa de o filho ser cristão velho, mas não é convincente, pois ele não diz o nome do bisavô materno. E não se percebe, se a mãe provinha de cristãos velhos, como é que, tendo ficado órfã,  foi criada por cristãos novos.

A Inquisição interrogou várias dezenas de testemunhas, mas não recolheu provas palpáveis de que era cristão novo, apenas a fama e rumor constantes de que o era e, nessa altura, já se contentava com essa prova.  Poderia, porém, ter provado a ascendência de sangue judaico, se tivesse também interrogado cristãos novos, de modo a integrar uma completa genealogia do Réu. Bastaria, por exemplo, estabelecer a ligação do Réu à família dos “Coxos” que foram julgados na Inquisição de Évora; isso não foi feito. Mas era tradição que, nas provas de limpeza de sangue, se interrogassem apenas cristãos velhos. Estes, porém, não conheciam os meandros dos parentescos dos cristãos novos.

António Pires, o Meia Noite, tinha mau feitio e era conflituoso, nomeadamente quando ia fazer feiras como mercador de panos. Para além disso, o seu sucesso como comerciante suscitava invejas na vila de Abrantes. Quando começaram as prisões de cristãos novos na vila, não tiveram alguns qualquer dúvida em o acusarem também a ele. Fizeram-no apesar de ele, afirmando-se cristão velho, estar absolutamente inocente de práticas judaicas ou de declarações formais de judaísmo.

Começou por se defender, declarando-se cristão velho, no que persistiu até final. A Inquisição caiu no logro e fez uma grande investigação para provar o contrário.  Fazê-lo, era reconhecer que o que interessava era a qualidade do sangue, a raça, e não as convicções religiosas. A Mesa da Inquisição deu conta do absurdo da situação e por maioria (sete contra dois) não o condenou à morte, recomendando que ele fosse a tormento, para purgar a sua “culpa”, o que lhe permitiria salvar a vida.

É interessante comparar os argumentos dos dois grupos:

- para a maioria, as testemunhas têm pouco ou nenhum crédito; para os minoritários, as testemunhas são de bom crédito

- para a maioria, as contraditas arguidas pelo Réu tinham diminuído o crédito das testemunhas;  para os outros, não haviam provado coisa particular contra elas.

O Conselho Geral, porém, determinou que ele fosse relaxado, condenou-o à morte sem apelo nem agravo, mas também sem justificação.

 

NOTAS:

1 – Nem sempre, todavia, semelhante modo de defesa era profícuo. Assim sucedeu ao preso António Pires, de alcunha o Meia-noite, mercador de Abrantes, justiçado em 1660, igualmente em Lisboa. Acusado de judaísmo, por indivíduos da mesma terra, inimigos seus, não lhe valeu a qualidade de cristão velho. As inquirições a que procedeu o Santo Oficio não deram resultado cabal; o homem teria talvez costela israelita, e como tal foi julgado. A verdade é que, de princípio a fim, negou ser infiel à fé de Cristo. Alegava e provou a inimizade dos cristãos novos de Abrantes; que em público falava contra eles e os apodava de judeus; que fizera um escrito anónimo em que os injuriava. Nada d'isso convenceu os Inquisidores, que por negativo o condenaram. Já de mãos atadas, na véspera do auto, quando, para movê-lo a confissões, lhe deram a conhecer a sentença, continuou a sustentar que sempre fora bom católico. É fama que, terminado o auto e a caminho do suplício, bradava aos circunstantes ser cristão velho e que inocente morria. Tudo leva a crer que a vingança lhe preparou o fim lastimoso.

(in História dos Cristãos Novos Portugueses, de João Lúcio de Azevedo, pág. 139)

 

2 –No livro citado de Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva, diz-se a págs. 192: “(…) a Inquisição punia quem ela [a Rainha] promovia ou se ligara à Companhia do Brasil .Em 1660, foi António Pires, o Meia Noite, mercador com sangue cristão novo, que tinha “sido fintado” para a criação da Companhia (…)” Não está certo. António Pires fora de facto “fintado”, mas ele deduziu embargos na Justiça alegando ser cristão velho e conseguiu ser dispensado do pagamento. No processo ele usou esse facto como prova da sua cristãvelhice.

 

 

GENEALOGIA

 

LINHA PATERNA

 

Estêvão Pires sertainho (da Sertã) veio criança para Ribeira de Nisa e casou com Maria Gonçalves que de Sobreira Formosa veio também para Ribeira de Nisa e tiveram:

              

               Estêvão Pires o Meia Noite, que casou com Isabel de Torres

               Gaspar Gonçalves que foi casado com uma Fulana de Ceia, que foi para Angola e não tiveram filhos

               Pedro Fernandes Sertainho que casou com Brites Caldeira, do Crato e tiveram

                                           António Fernandes Sertainho

               Bartolomeu Fernandes, que casou com mulher de que não sabe o nome e tiveram

                                           Filha de quem não sabe o nome, casada com Filipe de S. Tiago, estalajadeiro.

               Outro tio de quem não sabe o nome, nem com quem casou e deixaram

                                           Madalena Lopes, já defunta, foi casada com Manuel Gonçalves, cristão velho

                                           Brites Fernandes, já defunta, foi  casada com um sobreireiro a que chamam o Palmeiro

                                           Outra de que não sabe o nome,  também defunta, e foi casada com o Grego, carpinteiro, cristão velho.

                                                       Todas três viveram em Portalegre

               Outro tio de quem não sabe o nome, casada não sabe com quem, e que deixou

                                           Filha de quem não sabe o nome, casada em Portalegre com Manuel do Crato, cristão velho e ainda é viva

 

 

LINHA MATERNA

 

Branca Dias esteve casada com um cristão novo, de alcunha o Quatorzeno, que faleceu. Ela casou de novo com homem natural da Ribeira de Marvão, cujo nome não sabe e de cujo casamento  teve

               Isabel de Torres que casou com Pedro Fernandes  que faleceram ambos novos e deixaram os filhos órfãos:

                                               Isabel de Torres, que casou com Estêvão Pires, o Meia Noite e tiveram

                                                                   António Pires o Meia Noite, o declarante, que casou com Catarina Dias Barreto e tiveram

                                                                                          Estêvão Pires, de 18 anos

                                                                                          António, de 11

                                                                                          Brites Mendes, de 19

                                                                                          Catarina Barreto, de 15

                                                                                          Maria, de 10

                                                                                          Outra cujo nome lhe não lembra, de 14

                                                                   Maria Gonçalves, casada em Castelo Branco com Manuel Vogado, cristão velho, que toca baixão, de que não tem filhos

                                                                   Brites Lopes, casada em Portalegre com Lourenço Fernandes que foi soldado e agora é pastor, de quem não tem filhos, posto que ouviu dizer que agora anda prenhe

                                             Afonso que era mudo e, sendo solteiro, se ausentou para Castela

                                             Brás de Torres, sacerdote, que foi para as Índias de Castela por confessor da mulher de um vice-Rei, era músico e faleceu em Buenos Aires

                                             Branca Dias, já defunta que foi casada em Alter do Chão com um mulato chamado Manuel Drago, de quem não teve filhos; fora casada a primeira vez no Crato com um albardeiro, de quem teve

                                                                   Catarina Dias, já defunta que fora casada com Pedro Fernandes, sombreireiro, cristão velho

                                             Brites Vaz ou Brites Lopes,  não sabe se é defunta porque estava entrevada em Portalegre, onde foi casada a primeira vez com Sebastião Rodrigues, cristão velho, do qual teve

                                                                   Maria Gonçalves, defunta casada em Alter do Chão, mas não sabe o nome do marido

                                                                            foi casada a segunda vez com António Gonçalves, de quem não teve filhos.

 

 

Processo n.º 4791, da Inquisição de Lisboa, contra António Pires, por alcunha o Meia Noite, natural de Portalegre e residente em Abrantes, preso em 3 de Abril de 1656

 

fls. 5 img. 9 – 24-3-1656 – Mandado de prisão

fls. 6 img. 11 – 3-4-1656 – Auto de entrega nos cárceres dos Estaus

fls. 7 img. 13 – 2-11-1657 – No cárcere com o Conde (de Vila Franca?)

15-7-1658 – No cárcere com Bento da Gama (Pr. n.º 11826)

 

CULPAS

 

fls. 8 img. 15 – 16-8-1655 – Depoimento de Filipe Tomás de Miranda, c.n., natural e morador em Abrantes – Pr. n.º 7515.

fls. 9 v img. 18 – 26-10-1655 – Outro depoimento do mesmo.

fls. 10 v img. 20 – 25-8-1655 – Dep. de Francisco de Siqueira, c.n., natural de Fronteira e residente em Lisboa – Proc. n.º 8426, Relaxado no Auto de Fé de 29-10-1656

fls. 12 img. 23 – 22-3-1656 – Dep. de Simão Álvares, c.n., viúvo, morador em Abrantes – Pr n.º 635

fls. 16 img. 31 – Em 23 de Março de 1655, o Promotor de Justiça requer a prisão do Réu. Na mesma data um Assento da Mesa, assinado por dois Inquisidores, decretou a prisão.

fls. 17 img. 33 – 16-5-1656 – Dep. de Manuel Vaz de Leão, que tem ¾ de c.n., filho de João Vaz de Leão, natural e morador em Abrantes – Pr. n.º 10227.

fls. 20 v img. 40 – 12-6-1656 – Dep. de Jorge Henriques Nunes, c.n., natural do Fundão e residente em Lisboa – Pr. n.º 4495

fls. 22 img. 43 – 2-10-1656 – Dep. de Maria Henriques, mulher de Filipe Tomás de Miranda, c.n., natural e residente em Abrantes – Proc. n.º 639, no tormento.

fls. 24 img. 47 – 25-10-1656 – Dep. de Duarte Moreno, c.n., natural do Fundão e residente em Lisboa – Pr. n.º 9212.

fls. 26 img. 51 – 28-2-1658 – Dep. de Diogo Álvares, c.n., natural de Abrantes e residente em Lisboa – Pr. n.º 9211.

fls. 28 img. 55 – 5-12-1658 – Dep. de Francisco Vaz Campos, c.n., natural de Teixoso e residente em Lisboa – Pr. n.º 9214.

fls. 30 img. 59 – 6-12-1658 – Dep. de Luis de Castro, c.n., natural e morador em Lisboa – não aparece o processo, é o n.º 34 dos homens no Auto da Fé de 15-12-1658

fls. 32 v img. 64 – 5-12-1658 – Outro dep. de Francisco Vaz Campos

fls. 36 img. 71 – 11-12-1656 – Carta de Estêvão Pires assegurando que o Réu e cristão velho, com os seguintes argumentos:

Pais do Réu: Estêvão Pires e mãe Isabel Torres, naturais de Portalegre

Avós paternos: Estêvão Pires e Maria Gonçalves, ele da Sertã, donde veio criança para Ribeira de Nisa, ela de Sobreira Formosa, donde veio também criança para Nisa

Avós maternos: Pedro Fernandes, mercador em Portalegre, e Isabel de Torres da mesma cidade.

Bisavô, pai de Pedro Fernandes, casado com Branca Dias

A Branca Dias foi de facto casada com um cristão novo chamado Catorzeno, mas ele morreu e ela casou de novo  com um homem natural da Ribeira de Marvão, o qual era cristão velho de todos os quatro costados e desse 2.º marido houve a Branca Dias Pedro Fernandes sogro do suplicante (Pai do António Pires)

fls. 38 img. 75 – 10-4-1656 – Inventário

Tem quatro moradas de casas na vila de Abrantes.  umas delas sitas na Rua da Barca, que traz de aluguer e mora à Ceboleira que tem de obrigação duas Missas em S. Domingos. Devem-lhe o aluguer de dois anos e só tem recebido treze tostões. Não sabe quanto dinheiro tinha em casa.

Tem 5 ou 6 colheres de prata e dois garfos, dois púcaros e mais 5 ou 6 anéis de ouro.

Não sabe “dar razão” dos móveis, o que poderá fazer sua mulher.

Tem um escravo negro de Angola, de nome Mateus, já de 30 anos.  Tem uma mula preta com cinco anos. Tem uma loja de panos de cor que não sabe quanto valerá. Tem uma armação de tafetás, com 180 panos.

Descreveu a seguir as dívidas activas e passivas que tinha.

 

fls. 48 img. 95 – 11-4-1656 – GENEALOGIA

Disse chamar-se António Pires, por alcunha o Meia Noite, tem 50 anos, natural de Portalegre e morador em Abrantes e que é cristão velho.  É filho de Estêvão Pires, chamado também o Meia Noite, que vive em Portalegre e de Isabel de Torres, já defunta, ambos naturais de Portalegre.

Seus avós paternos foram Estêvão Pires e Maria Gonçalves, já defuntos, ele natural da Sertã, donde veio criança para Ribeira de Nisa, e ela da Sobreira  donde veio também para Ribeira de Nisa.

E seus avós maternos são também defuntos e se chamaram Pedro Fernandes, marchante de Portalegre e Isabel de Torres, natural da mesma cidade.

Por via paterna tem dois tios de que sabe o nome e outros dois de quem o não sabe, todos defuntos. Um chamou-se Gaspar Gonçalves, que se ausentou para Angola e foi casado com uma fulana de Ceia, sobrinha do deão Manuel de Ceia, Comissário do S.to Ofício em Portalegre, e não tiveram filhos. O outro era Pedro Fernandes, de Ribeira de Nisa, casado com uma Fulana Caldeira, cristã velha, de quem teve António Fernandes, que vive da sua fazenda em Ribeira de Nisa e foi casado quatro ou cinco vezes; outro é Bartolomeu Fernandes, que casou duas vezes não sabe com quem, e que tem uma filha de que não sabe o nome, a qual de presente vive em Portalegre, casada com Filipe de S. Tiago, estalajadeiro.

A um dos tios de que não sabe o nome, ficaram três filhas já defuntas,  a saber, Madalena Lopes, casada com Manuel Gonçalves, cristão velho; Brites Fernandes casada com um sobreireiro a que chamam o Palmeiro; e da outra filha não sabe o nome mas foi casada com o Grego, carpinteiro, cristão velho e todas viverão na cidade de Portalegre.  Do outro tio de que não sabe o nome, ficou uma filha cujo nome não sabe, casada em Portalegre com Manuel  do Crato, cristão velho e ainda é viva.

Por via materna teve dois tios e duas tias, a saber: Afonso, que era mudo e, sendo solteiro, se ausentou para Castela; Brás de Torres, sacerdote, que foi para as Índias de Castela por confessor da mulher de um vice-Rei e era músico e faleceu em Buenos Aires. E as duas tias se chamaram Branca Dias e Brites Lopes. A dita Branca Dias é falecida e foi casada em Alter do Chão com um mulato chamado Manuel Drago de quem não teve filhos, e fora primeiro casada no Crato com um albardeiro, de quem teve Catarina Dias, já defunta que fora casada com Pedro Fernandes, sombreireiro, cristão velho.  E a dita Brites Lopes, não sabe se é falecida porque estava entrevada em Portalegre, onde foi casada a primeira vez com Sebastião Rodrigues, cristão velho, do qual teve Maria Gonçalves, defunta, casada em Alter do Chão, mas não sabe o nome do marido, e a mesma sua tia foi casada segunda vez  com António Gonçalves, de quem não teve filhos.

Ele declarante tem duas irmãs vivas a saber: Maria Gonçalves, casada em Castelo Branco com Manuel Vogado, cristão velho, que toca baixão, de que não tem filhos; e Brites Lopes, casada em Portalegre com Lourenço Fernandes que foi soldado e agora é pastor, de quem não tem filhos, posto que ouviu dizer que agora anda prenhe.

Ele é casado com Catarina Dias Barreto, da qual tem dois filhos e quatro filhas: Estêvão Pires, de 18 anos, António de 11; Brites Mendes, de 19, Catarina Barreto, de 15, Maria, de 10 e outra cujo nome lhe não lembra, de 14 anos.

fls. 52 v img. 104 – 1-6-1656 – Sessão in genere

Negou que alguma vez tivesse tido alguma prática judaica.

fls. 56 img. 111 – 28-7-1656 – Sessão in specie

Disse que todos os ditos das testemunhas eram falsos nem tinha acontecido o que diziam.

fls. 54 img. 117 – 29-7-1656 – Admoestação antes do libelo – Libelo com os primeiros seis testemunhos. Ouvida a leitura, disse que era tudo falso e que se queria defender, e para isso pedia se lhe desse procurador.

fls. 62 img. 123 – 7-8-1656 – Juramento do Procurador L.do António de Magalhães

fls. 62 v img. 124 – 7-8-1656 – Estância com o procurador

fls. 63 img. 125 – Traslado do libelo devolvido pelo procurador. Defesa – contestação por negação.  Disse ser cristão velho, sem parte alguma de sangue da nação Hebreia.

Disse que seu avô paterno, Estêvão Pires é irmão de Pedro Anes, de Joanne Anes, de Gonçalo Anes e de Catarina João e, por morte de um homem vieram todos homiziados para Portalegre, e é da geração dos Motas da Sertã, e nem numa nem na outra família houve alguma vez  fama ou rumor de mistura de sangue de cristãos novos.

Diz que, por parte de sua mãe, é neto de Pedro Fernandes, curtidor, natural e morador em Portalegre onde depois foi marchante, indo depois para Castela, onde morreu. Sua avó materna foi Isabel de Torres, irmã de Brás de Torres, clérigo de missa, e de João de Torres e de Manuel de Torres, oficiais da Corte.

Diz que os seus inimigos o arrolaram na finta da Companhia Geral, o que ele embargou, tendo conseguido sentença favorável, e nada pagou.

Nunca foi preso qualquer ascendente dele por cristão novo.

Diz que ele é cristão observante de todos os deveres de católico e frequenta os sacramentos.

Diz que, quando chegou a Abrantes, aforou uma casa para viver a Manuel Freire de Macedo, onde costumavam morar cristãos novos e que estes levaram isso muito a mal. Depois ele escreveu uma carta com um pau, para não lhe conhecerem a letra, em que insultava os de Nação, chamando-lhes bichos, cães e perros e outros nomes afrontosos. Deitou a carta na loja de Francisco de Sequeira, cristão novo, preso já segunda vez pelo Santo Ofício, o qual lhe conheceu a letra e divulgou o conteúdo da carta.

Diz que todos os de Nação são seus inimigos.

Indicou testemunhas.

fls. 70 img. 139 – 9-8-1656 – Despacho de recebimento da defesa.

Recebida a defesa, com excepção de dois artigos com matéria de contraditas, que poderão ser arguidas mais tarde.  “E outrossim na forma do Regimento, se perguntem nos lugares de origem dos pais e avós do Réu e em cada um até dez ou doze testemunhas cristãs velhas, e sem suspeita que bem conhecessem tais pessoas para que declarem se eles e o Réu seu descendente são cristãos velhos e sem raça alguma de cristãos novos, ou se pelo contrário tem alguma parte desta Nação, quanta e por que via, e se disso houve fama ou rumor em algum tempo e donde se originou a dita fama, procurando-se que as testemunhas sejam das mais antigas nos ditos lugares (…)”

fls. 71 img. 141 – 18-9-1656 – O P.e Diogo Nunes da Cabaça recebe a delegação da Inquisição de Évora para interrogar testemunhas.

fls. 72 img. 143 – 11-8-1656 – Comissão da Inquisição de Lisboa à Inquisição de Évora, para a audição das testemunhas

fls. 74 img. 147 – 6-9-1656 - – A Inquisição de Évora delega a audição das testemunhas no L.do P.º Diogo Nunes da Cabaça, Pároco da Paroquial e S.ta Maria Madalena e Comissário do S.to Ofício em Portalegre.

fls. 77 img. 153 – 18-9-1656 -  Audição das testemunhas

- Bento da Fonseca, de 70 anos, natural e morador em Portalegre, na Rua dos Silveiros – Tem o Réu por legítimo cristão velho, sem raça alguma de cristão novo, nem disso alguma vez houve fama ou rumor.  Reconhece porém que não conheceu os avós paternos e maternos do Réu. Disse também que a mãe do Réu se criou em casa de uns mercadores chamados os “Coxos”, que eram cristãos novos; destes, mais tarde, uns fugiram, outros foram presos. Não sabe se a mãe do Réu e suas irmãs estavam naquela casa como criadas ou como parentes. Mas os Torres que há na cidade são todos cristãos velhos. Disse mais que sabe que a mulher do Réu é legítima cristã velha.

- Manuel Dias, de 48 anos, mercador, natural e morador em Portalegre, a S. Lourenço -  Disse que o pai do Réu sempre foi tido e havido por cristão velho legítimo (ainda é vivo). Não conhece a geração da mãe do Réu, Isabel de Torres. Sabe que ela se “lograva” com uns mercadores denominados os “Coxos” que eram da Nação Hebreia e desses, uns fugiram, outros foram presos, mas não sabe se eram parentes dela ou não.

- José Carvalho, de 54 anos, natural e morador em Portalegre, na Rua da Carreira, freguesia da Sé – Sempre teve o Réu por legitimo cristão velho, conhecendo muito bem os pais dele.  Disse também que a mulher do Réu é cristã velha legítima.

fls. 81 v img. 162 – 22-9-1656 –

- Pedro Fernandes Frade, de 72 anos, natural e morador em Ribeira de Nisa, termo de Portalegre -  Sempre teve o Réu por cristão velho legítimo, mas não sabe de onde procedem seus pais. Não conheceu os avós paternos do Réu.

fls. 84 img. 167 – 21-6-1658 -  O L.do Francisco Nunes Correia, Comissário do S.to Ofício e Prior de Igreja de S.ta Maria do Castelo, em Abrantes acusa a recepção da Comissão da Inquisição de Lisboa para interrogar testemunhas.

fls. 85 img. 169 – 15-6-1658 – Comissão da Inquisição de Lisboa ao L.do Francisco Nunes Correia, Comissário do S.to Ofício e Prior de Igreja de S.ta Maria do Castelo, em Abrantes para interrogar testemunhas.

fls. 88 img. 175 – 21-6-1658

- Jerónimo Dias, de 64 anos, casado, natural e morador em Abrantes – Tem o Réu por cristão novo, embora nunca lhe visse nada que demonstrasse ser mau cristão. Disse que o Réu se comunicava e tratava com todos os cristãos novos de Abrantes; mas nunca viu que a mulher do Réu fosse a casa dos mesmos cristãos novos.

- Domingos Dias, de 57 anos, natural de Valhascos, termo da vila do Sardoal e morador em Abrantes -  Como a testemunha anterior.

- António Machado, de 40 anos, natural e morador em Abrantes – Tem o Réu por bom cristão e temente a Deus.

- Vicente Dias Cabeças, de 45 anos, barbeiro, natural e morador em Abrantes – Tem o Réu por bom cristão e algumas vezes o ouviu dizer mal dos cristãos novos.

- Padre Vicente Fernandes Brígido, de 68 anos, Coadjutor da Igreja de S. João Baptista, natural e morador em Abrantes – Disse que o Réu se comporta como bom Cristão e temente a Deus. Que, em Abrantes, uns o tinham por cristão velho, outros por cristão novo, mas não sabe se é uma coisa ou outra, porque ele não é natural da vila.

- Padre António Fernandes Branco, de 67 anos, natural e morador em Abrantes – Depoimento idêntico ao anterior.

- Manuel Fernandes Castanho, de 37 anos, viúvo, natural e morador em Abrantes – Idem.

fls. 92 v img. 184 – 22-6-1658

- António Rodrigues Loureiro, de 53 anos, natural e morador em Abrantes – Disse que o Réu era bom cristão e de bom procedimento e que se prezava de ser cristão velho e tinha pouco trato com cristãos novos. Disse, porém, que, numa conversa que tivera em Lisboa com Manuel da Costa Zuzarte, este lhe dissera que o Réu tinha parte de cristão novo. Acrescentou que Manuel da Costa Zuzarte era homem importante de Portalegre e de uma certa idade.

- João Lopes Alfaiate, de 53 anos, natural de Marvão e morador em Abrantes – Tem o Réu por bom cristão e acha que é cristão velho. No tempo em que o Réu vivia em Portalegre, fizeram-se muitas prisões, mas o pai dele nunca foi preso. Em Abrantes, uns têm-no por cristão novo, outros por cristão velho; ele testemunha não tem opinião, pois não conheceu seus avós.

- Maria Sardinha, de 30 anos, mulher de Pedro da Costa, alfaiate, natural e morador em Abrantes – Tem o Réu por bom cristão e de bom procedimento.

fls. 96 img. 191 – 7-6-1656 – Testemunho do Comissário de Abrantes – P.e Francisco Nunes Correia, Prior da Igreja de S.ta Maria do Castelo

Em resposta a um pedido da Inquisição, o declarante averiguou que na finta geral que se fez pelos cristãos novos, foi fintado o Réu António Pires como cristão novo, mas não sabe se ele depois se livrou da finta. E que o Réu é tido geralmente na vila de Abrantes por cristão novo e por tal o têm os homens nobres e cristãos velhos da vila, mas ele testemunha não sabe ao certo disto.  E falando ele testemunha com pessoas de Portalegre, umas lhe diziam que era cristão novo, outras que não.

fls. 98 img. 195 – 4-4-1656 – Diligência sobre a qualidade

Interrogado Manuel Coelho, de mais de 40 anos, camareiro, familiar do S.to Ofício na Inquisição de Évora, natural e morador em Portalegre, disse que o Réu e sua mulher eram da “criação” dele. Conhece o pai do Réu, mas não conheceu, nem a mãe, nem os avós.  Disse que o Réu era tido em Portalegre por cristão velho, sem parte alguma de cristão novo.

Disse que, no dia anterior, na Estalagem do Choramigas, dissera Manuel Guerreiro, caminheiro de Portalegre que António Pires, o Meia Noite era cristão novo. A testemunha contrariou-o e o mesmo fizeram outros homens de Portalegre que estavam presentes. Disseram eles que Manuel Guerreiro era o homem mais mau e mais difamador que havia em Portalegre. Depois falou com Manuel Soares (Pr. n.º 10384), mercador da Rua Nova e este disse-lhe que o Réu tinha parte de cristão novo, embora aceitasse que ele testemunha defendesse as pessoas da sua terra.

Disse ainda que a mulher do Réu é de certeza cristã velha.

fls. 102 img. 203 – 4-5-1658 – Comissão da Inquisição de Lisboa ao L.do Manuel de Abreu, Reitor da Igreja de N.ª Sr.ª dos Mártires da vila do Crato, para interrogar testemunhas.

fls. 104 img. 207 – 30-5-1658 – Audição de testemunhas em Ribeira de Nisa

- Miguel Serra, de 70 anos, natural e morador em Ribeira de Nisa, termo de Portalegre – Conheceu o Réu e o pai dele, mas não o avô.  Também não conheceu a mãe do Réu. Disse que, tanto o Réu como o pai dele, ambos sertainhos,  sempre foram considerados cristãos novos, mas não sabe quanto tinham de cristãos novos.

- Brás Fernandes, de 70 anos, natural e morador em Ribeira de Nisa, termo de Portalegre – Conhece o Réu e seu pai e conheceu também sua mãe. Não sabe se eram ou não cristãos novos, mas ouviu, tanto em Nisa como em Portalegre o rumor de que o eram.

- Pedro Álvares, de 80 anos, natural e morador em Ribeira de Nisa, termo de Portalegre – Conhece o Réu e seu pai, mas não sua mãe.  Conheceu também o avô. Havia fama na freguesia de que Avô, filho e neto tinham parte de cristãos novos por serem parentes de Pedro Fernandes, sertainho ou de sua mulher, que tinham parte de cristãos novos.

- Miguel Lopes, de 77 anos, natural e morador na freguesia de N.ª Sr.ª da Esperança, termo da cidade de Portalegre – Conhece o Réu e seu pai e sempre os teve por cristãos novos por ser fama e rumor constantes na freguesia.

fls. 108 v img. 216 – 31-5-1658

- Maria Ribeira, de 80 anos, natural e moradora no Monte das Hortas, freguesia de Ribeira de Nisa – Conhece o Réu e seu pai. Que ambos sempre tiveram fama de serem cristãos novos.

-Maria Dias, de 70 anos , natural e morador em Ribeira de Nisa, termo de Portalegre – Conhece o Réu e seu pai. Ambos tiveram a fama de cristãos novos, mas não sabe a origem disso.

- Gregório Rodrigues, de 70 anos, natural e moradora no Monte das Hortas, freguesia de Ribeira de Nisa –Conhece o Réu e seu pai, que mora em Portalegre. Havia alguma fama de que eram cristãos novos, mas não sabe de onde provinha e também não conheceu o Avô do Réu.

-António Pires, o Montinho de Alcunha, de 80 anos – Conhece o Réu e seu pai, mas não conheceu os avós.  Que o pai do Réu era meio irmão de Pedro Fernandes sertainho. Que o Réu e seu Pai tinham fama de serem cristãos novos, mas não sabia de onde tinha surgido tal fama.

-Margarida Fernandes, de 70 anos, viúva de Estêvão Dias, espingardeiro, natural e morador na cidade de Portalegre – Só conhece o Réu e seu pai, bem como sua mãe Briatiz de Torres. Era fama na cidade que o pai e mãe do Réu tinham parte de cristãos novos, mas ela não sabe a origem.

- Francisco Álvares, Jordão de alcunha, de 75 anos, natural e morador na cidade de Portalegre – Conhece o Réu e seu pai, e também sua mãe, Isabel de Torres, falecida.  Sempre teve pai e filho por cristãos velhos, mas a mãe, Isabel de Torres, tinha fama de cristã nova.

- Isabel Brás, de 75 anos, viúva que ficou de Manuel sapateiro, natural e moradora na cidade de Portalegre – Não conheceu os avós do Réu, mas conhece-o a ele e seu pai e também conheceu sua mãe, Isabel de Torres.  Disse “que o dito Estêvão Pires meia noite e a dita sua mulher eram cristãos novos e esta fama e rumor publicamente corriam em sua vizinhança e a dita Isabel de Torres, mulher de Estêvão Pires meia noite disso se prezava muito e festejava, e o que dito tem era pública fama corrente em sua vizinhança e cidade, das pessoas que os conheciam, o que ela testemunha tudo sabe por ser sua vizinha muito tempo, mas que não sabe donde esta fama pública nasceu nem teve seu princípio e mais não disse deste artigo”.

fls. 117 img. 233 – 1-6-1658

-António Dias Barrento, de 78 anos, lavrador, homem nobre, natural e morador na cidade de Portalegre – Não conheceu os avôs do Réu, conhece-o a  ele e a seus pais. Sempre teve pai e filho por cristãos velhos, mas a mãe do Réu tinha pública fama de ter parte de cristã nova.

- Beatriz Fernandes, viúva que ficou de Bartolomeu Luis, de 70 anos, natural e moradora na cidade de Portalegre – Conhece o Réu e seus pais e também conheceu a avó paterna, Maria Gonçalves, mas não conheceu o marido desta, Estêvão Pires, sertainho.  Que pai e filho eram tidos por cristãos velhos na vizinhança, mas que sua mãe Isabel de Torres era “tida, havida, conhecida e reputada” por cristã nova e ela testemunha por tal a tinha e conhecia. Que esta fama lhe nasceu por ser parenta dos “Coxos” da cidade de Portalegre, os quais todos eram tidos por cristãos novos.

fls. 121 img. 241 – 3-6-1658 – Relatório do Padre Manuel de Abreu

fls. 124 img. 247 – 27-9-1658 – Visto dos Inquisidores

Determinam medidas para esclarecer as expressões: “Estêvão Pires sertainho tinha parte de c.n. por ser parente de Pedro Fernandes sertainho ou de sua mulher” e “Pedro Fernandes, avô materno do Réu se dizia era filho de Branca Dias que fora casada duas vezes, a 1.ª vez com um homem de Fronteira por alcunha o Quatorzeno, de quem teve filhos e a 2.ª com outro homem natural da Ribeira de Marvão c.v. de quem houve ao dito Pedro Fernandes, avô materno do Réu.

fls. 126 img. 251 – 10-10-1658 – Comissão da Inquisição de Lisboa à Inquisição de Évora para averiguações

fls. 128 img. 255 – 14-10-1658 – A Inquisição de Évora comete as averiguações ao P.e Manuel de Abreu, morador na vila do Crato, substituído depois pelo Cónego Manuel Ribeiro Morato.

fls. 130 img. 259 – 31-10-1658 – Audição das testemunhas

- Gregório Rodrigues Serra, de 70 anos, natural e morador em Ribeira de Nisa – Disse não ter conhecido Estêvão Pires sertainho. Conheceu Pedro Fernandes sertainho e sua mulher Brites Caldeira  que vieram para Ribeira de Nisa sem estarem casados pela Igreja  e depois se casaram e tiveram muitos filhos, e vieram do Crato. Sempre ouviu dizer que este era parente do Estêvão, mas não sabe como ou em que grau.  Também sempre ouviu dizer que o Pedro Fernandes tinha algo de c.n. mas não sabe dizer como, ou quanto.  Ainda hoje corre que António Fernandes sertainho, filho do dito Pedro, tem algo de cristão novo.

- Joana Marques, de 65 anos, viúva de Diogo Lopes, natural e moradora em Ribeira de Nisa - – Disse não ter conhecido Estêvão Pires sertainho. Conheceu Pedro Fernandes sertainho e sua mulher Brites Caldeira. Não sabe de onde era ele, mas acha que sua mulher era do Crato. Não sabe se este era ou não parente do Estêvão, porque não conheceu este.  Não sabe se Pedro Fernandes tinha algo de c.n. mas o que ouviu dizer foi que sua mulher tinha parte de c.n.

- Pedro Dias, alfaiate, de 70 anos, natural da Aldeia da Alagoa, e morador há mais de 40 anos em Ribeira de Nisa – Não conheceu Estêvão Pires sertainho, mas apenas conhece o filho Estêvão Pires Meia noite, que dizem ser meio irmão de Pedro Fernandes sertainho, de Ribeira de Nisa.  Pedro Fernandes era da Sertã e sua mulher Brites Caldeira era da vila do Crato. Ele e a mulher sempre tiveram a fama de serem cristãos novos.  E entende que também o é Estêvão Pires Meia Noite que ele acha ser meio irmão do Pedro Fernandes.

fls. 137 v img. 274 – 2-11-1658

Miguel Serra, de 70 anos, natural e morador em Ribeira de Nisa – Não conheceu Estêvão Pires sertainho, mas apenas o filho, Estêvão Pires, Meia Noite.  Sabe que este último chama sobrinhos aos filhos de Pedro Fernandes sertainho, mas não sabe ao certo o parentesco deles. Não sabe que Pedro Fernandes sertainho tenha parte de cristão novo, mas que sua mulher Brites Caldeira, sim, tem parte de Nação.

fls. 139 v img. 278 – 5-11-1658 –

- Tomé Fernandes Mergulhão, de 75 anos, natural e morador na cidade de Portalegre – Não conheceu Estêvão Pires sertainho nem Pedro Fernandes sertainho, mas apenas António Fernandes sertainho que supõe ser filho deste último.  Não sabe se são c.n. ou c.v.

- Brites Fernandes, de 55 anos, viúva de Francisco Mendes Dourado, natural e moradora em Portalegre, na Corredoura de Cima – Disse conhecer bem Pedro Fernandes sertainho e sua mulher Brites Caldeira, ele da Ribeira de Nisa, segundo julga e ela da vila do Crato.  Conhece-os porque uma sua irmã, de nome Catarina Prires, esteve casada com Bartolomeu Fernandes sertainho, filho do Pedro.  Nunca ouviu dizer que o Pedro ou sua mulher Brites tivessem parte de cristãos novos.

fls. 142 v img. 284 – 6-11-1658

- Diogo Pires Serra, lavrador, de 71 anos, natural e morador em Portalegre, mas viveu algum tempo em Ribeira de Nisa—Não conheceu a Estêvão Pires sertainho, mas conheceu muito bem Pedro Fernandes Sertainho, natural da Sertã, casado com Brites Caldeira, natural do Crato. A razão do conhecimento é que ele testemunha casou em 1613 com sua mulher Isabel de Almeida, da Ribeira de Nisa e ali ficaram a viver 25 ou 30 anos. Sabe que Estêvão Pires o Meia Noite é parente de António Fernandes sertainho, filho do Pedro, mas não sabe qual o parentesco.  Tanto os filhos do Pedro Fernandes sertainho como o Estêvão Pires Sertainho têm fama de ter parte de raça de cristãos novos, mas ele testemunha não sabe de que modo.

- Pedro Fernandes, de alcunha o Frade, de 70 anos, natural e residente em Ribeira de Nisa -  Só conheceu Estêvão Pires que tem por alcunha o Meia Noite e não conheceu o seu pai. Conheceu bem Pedro Fernandes sertainho, casado com Brites Caldeira, ela segundo pensa natural de Portalegre.  Sabe por ouvir dizer que o Pedro Fernandes Sertainho seria meio irmão do Estêvão Pires Meia Noite. Se têm ou não parte de cristãos novos não sabe, apenas ouvia dizer que os sertainhos tinham parte de cristãos novos.

- Pedro Aires, de 80 anos, natural e residente em Ribeira de Nisa – Conheceu Estêvão Pires sertainho e depois Estêvão Pires, o meia Noite e sabe que este procedia do primeiro, mas não sabe se era pai ou padrasto.  Conheceu Pedro Fernandes sertainho, que era de facto da Sertã, casado com fulana Caldeira, que era do Crato e viveram até à morte em Ribeira de Nisa, onde ainda vive um filho deles, António Fernandes sertainho. Ouviu dizer que o Pedro e o Estêvão Pires sertainho eram parentes mas não sabe de que modo e por que via.  Nunca ouviu dizer que o Pedro Fernandes sertainho tivesse parte de cristão novo, mas sempre ouviu dizer que sua mulher, a Caldeira tinha algo da Nação dos cristãos novos.

O inquiridor quis saber se o parentesco entre o Estêvão Pires sertainho e o Pero Fernandes sertainho era por parte da cristãnovice ou por parte da cristãvelhice, mas nenhuma testemunha esclareceu isso.

-Brás Fernandes, de 60 anos, trabalhador de enxada, natural e morador em Ribeira de Nisa – Não conheceu Estêvão Pires sertainho mas apenas a Estêvão Pires o Meia Noite e este há cerca de 25 anos. Conheceu Pedro Fernandes sertainho e mulher fulana Caldeira, mas não sabe de onde eram naturais, por serem muito mais velhos. Que eram parentes com o Estêvão Pires o Meia noite, ouviu dizer, mas não sabe de que modo e por que via. Nunca ouviu dizer que o Pedro Fernandes sertainho ou sua mulher tivessem parte de cristãos novos. Mas sempre ouviu dizer que Estêvão Pires o Meia Noite tinha parte da Nação dos cristãos novos, embora não saiba por que modo e por que via.

fls. 150 v img. 300 – 8-11-1658

- Manuel Rodrigues Belo, de 100 anos pouco mais ou menos, ermitão da Igreja de S. Tiago de Cahiola – Disse que havia em Ribeira de Nisa uns três sertainhos, mas ele só se lembra de Pedro Fernandes sertainho e não se lembra do nome dos outros dois. Sempre ouviu dizer que o Pedro Fernandes sertainho tinha parte de cristão novo, mas não sabe quanto. E que também sua mulher tinha parte de cristã nova, mas não sabe de que modo.  Ouviu também dizer a Pedro Fernandes sertainho que ele havia de arranjar um documento provando que era cristão velho.

A certas testemunhas foram pagos 100 réis pelo dia que haviam perdido para deporem.

fls. 154 img. 307 – 10-10-1658 – Comissão da Inquisição de Lisboa à Inquisição de Évora para interrogar testemunhas

fls. 156 img. 311 – 14-10-1658 – A Inquisição de Évora comete a diligência ao Cónego da Sé de Elvas, Manuel Ribeiro Morato, Comissário do Santo Ofício.

fls. 160 img. 319 – sem data – Audição das testemunhas

- Diogo Rodrigues, de 70 anos, natural de Nisa e morador em Portalegre – Disse conhecer muito bem o Réu e seus pais, que sempre moraram na Rua de Santo André extramuros da cidade de Portalegre. Conheceu também os avós maternos do Réu, Pedro Fernandes, curtidor e mulher Isabel de Torres, e que ele tinha por alcunha o Quatorzeno.  A Branca Dias (mãe do Pedro Fernandes, bisavó do Réu) não conheceu e nada sabe dos pais de Pedro Fernandes. Mas sempre ouviu dizer que Pedro Fernandes, avô materno do Réu, tinha fama de cristão novo.  Não sabe que parentes tem o Réu na cidade.

- Joana Chambela, de 80 anos, mulher de Manuel Dias Esquerdo que há muitos anos de ausentou da cidade de Portalegre -  Testemunho idêntico ao anterior. Acrescentou: “(…) o dito Pedro Fernandes curtidor e de alcunha o quatorzeno teve ela testemunha sempre por cristão novo e como tal foi sempre tido e havido, e comummente reputado (…)

fls. 165 v img. 330 – 21-10-1658

- António Freire, o Gordo de alcunha, de 55 anos, curtidor, natural e morador na cidade de Portalegre – Como os anteriores, mas já não conheceu de pessoa a Pedro Fernandes, curtidor, mas apenas de nele ouvir falar, e sempre como tendo parte de cristão novo.

-Catarina Martins, de 75 anos, viúva que ficou de António Fernandes Pegão, natural  e moradora na cidade de Portalegre – Testemunho idêntico ao de Joana Chambela. Acrescentou que Pedro Fernandes, curtidor, tinha duas filhas, Branca Vaz e Isabel de Torres, mãe do Réu. Como parentes de Pedro Fernandes conhece os “Coxos” que são cristãos novos inteiros, mas não sabe qual o parentesco.

fls. 170 img. 339 – 22-10-1658

- Ana Martins, de 80 anos, viúva de António Brás, por alcunha Barba de Ferro, natural e moradora em Portalegre, na Rua dos Pelomens- Disse que Isabel de Torres mãe do Réu se criou em casa de Martim Gonçalves, cristão novo que a casou a ela e a sua irmã. Não conheceu a Pedro Fernandes, curtidor, nem a sua mulher. Conheceu só as duas filhas que ficaram órfãs e foram acolhidas por Martim Gonçalves (Pr. n.º 9827, de Évora) e eram chamadas as “quatorzenas”. Que elas sempre se “lograram” por parentes dos “coxos”, isto é de Martim Gonçalves. Lembra-se de ouvir as duas moças  chamar primas às mulheres da família dos “Coxos”, que eram cristãs novas inteiras.

- Pedro Fernandes Garro, de 60 anos, avaliador do Conselho da Cidade de Portalegre, onde nasceu e mora – Já não conheceu Pedro Fernandes, curtidor e sua mulher Isabel de Torres. Ele testemunha criou-se em Albuquerque do Reino de Castela, para onde os seus familiares tinham ido homiziados; só regressou a Portalegre aos 23 anos mais ou menos.  Só sabe que chamavam a Isabel de Torres, mãe do Réu, quatorzena.  Ela e sua irmã sempre tiveram fama de cristãs novas; aliás “logravam-se” por parentes dos “Coxos” , que são uma geração de cristãos novos existentes em Portalegre.

-Cónego Francisco Teles, de 78 anos, natural e morador em Portalegre- Conheceu os pais do Réu, mas não os avós; à mãe Isabel de Torres não a conhecia pelo nome mas pelas alcunhas de Patáqua e Quatorzena. Que ela sempre foi tida e havida por cristã nova e era parenta muito chegada aos “Coxos”, que eram cristãos novos inteiros.  Narrou ainda um facto que o tinha escandalizado. Tendo ele contratado com o Réu a limpeza do retábulo do altar mor, foi com ele ver o trabalho feito; e então o Réu disse-lhe que toda a pintura do retábulo estava boa; mas que “de toda o que mais lhe contentava era Moisés e Elias, de que ele testemunha se escandalizou”.

- Brás Pereira, de 70 anos, familiar do S.to Ofício, natural e morador em Portalegre – Só conheceu o Réu e seu pai, não conheceu os avós, nem sequer a sua mãe. Sabe no entanto que o Réu sempre foi reputado por cristão novo.  “E que querendo António Pires, o Meia Noite, tirar uma confirmação nesta cidade de como era cristão velho, disse a mulher (Luísa Mendes – Proc. n.º 7035, de Évora) que foi de Álvaro Gomes Ávila (Proc. n.º 5586, de Évora) que é cristã nova inteira, filha do “Coxo”, a qual esteve presa pelo Santo Ofício , donde saiu penitenciada: “Eu não sei que este homem anda aqui, fazendo-se cristão velho, quando ele é meu parente…”.E ele testemunha o teve sempre por parente da sobredita Coxa, mulher que foi de Álvaro Gomes Ávila”.

Nota: Outros penitenciados da família dos "Coxos" foram Mateus Rodrigues (Proc. n.º 2873, de Évora, irmão da Luísa Mendes, filhos ambos de Fernão Rodrigues, o Coxo e de Madalena Mendes e Diogo Gomes Ávila (Proc. n.º 4068, de Évora), filho de Álvaro Gomes Ávila e de Luísa Mendes.

fls. 182 img. 363 – 20-10-1658 – O Cónego Manuel Teles certifica o conteúdo dos documentos que procurou na cidade de Portalegre:

28 de Abril de 1584 – Baptismo de Isabel, filha de Pedro Fernandes, curtidor e de sua mulher Isabel de Torres

21 de Setembro de 1568 – Casamento de Gaspar Fernandes com Branca Dias

26 de Abril de 1574 – Casamento de Luis Afonso, criado do L.do Estêvão Lopes com Branca Dias

23 de Outubro de 1575 – Casamento de António Fernandes com Branca Dias

Não é identificada a "Branca Dias" que é parente do Réu.

fls. 186 img. 371 – Carta do Cónego Manuel Ribeiro Morato  narrando as dificuldades que teve para levar a cabo a comissão

fls. 188 img. 375 – 4-4-1658 – Comissão da Inquisição de Lisboa à Inquisição de Évora para inquirir testemunhas.

fls. 190 img. 379 – 4-5-1658 – A Inquisição de Évora comete a diligência ao Cónego Manuel Ribeiro Morato

fls. 192 img. 393 – 23-5-1658 – Audição de testemunhas

- Cónego Arsénio Dias Merceano, de 74 anos, natural e morador em Portalegre – Conhece o Réu e seu pai, conheceu a mãe mas não lhe sabe o nome. Não conheceu os avós. Sempre teve o Réu por cristão novo por parte de sua mãe, que tinha sido criada pelos "Coxos", seus parentes, cristãos novos inteiros.

- Diogo Nunes da Cabaça, de 78 anos, natural e morador em Portalegre – Conheceu o Réu e seus pais, sabe bem o nome da mãe.  Não conheceu os avós maternos. Disse que Isabel de Torres, mãe do Réu e sua irmã Brites Vaz, ficaram órfãs muito cedo e foram criadas uma por Martim Gonçalves e outra por Fernão Rodrigues, o Coxo, conhecidos como cristãos novos.  Pressupõe que estes eram parentes delas e assim terá o Réu parte de cristão novo.

fls. 199 v img. 398 – 24-5-1658

- André Cordeiro, de 69 anos, natural e morador em Portalegre – Conheceu o Réu e seus pais, não soube bem o nome da mãe (disse fulana de Torres). Não conheceu porém os avós maternos.  O pai Estêvão Pires tinha já fama de cristão novo, mas não sabe porquê e por que via. Além disso, a mãe do Réu era parente dos “Coxos” cristãos novos inteiros.

fls. 203 img. 405 – 25-5-1658

- Rui Pais de Andrade, de 78 anos, homem nobre da cidade de Portalegre – Conheceu o Réu e seu pai, mas não a mãe. Não conheceu os avós maternos. Acha que a acusação de o Réu ser cristão novo veio da inveja dos cristãos novos de Abrantes.

- Bernardo Dias, de 86 anos, tecelão de panos, natural e morador em Portalegre – Conheceu bem o Réu e seus pais.  Sabe que a mãe dele era “quatorzena” por pertencer a essa família. Segundo a testemunha, o avô materno deveria ser um Pero Gracia, que ele testemunha conheceu e foi enforcado por ladrão na cidade. Conheceu a avó materna, mas não se lembra do nome. Sabe que era senhora bem parecida e que morava na Rua dos Pelomens, extramuros. O dito avô materno era criado de um fidalgo chamado D. Duarte. A avó tinha também a alcunha de quatorzena. Acha que o pai era cristão velho legítimo, mas a mãe, como todos os quatorzenos tinha parte de cristã nova, sendo parente dos “Coxos”, cristãos novos inteiros: aliás, tratavam-se por primas.

fls. 209 v img. 418 – 27-5-1658

- Francisco Rodrigues de Apeles, de 62 anos, homem nobre da cidade de Portalegre – Conhecia bem os pais do Réu, embora da mãe só saiba a alcunha de quatorzena. Não conheceu os avós maternos. Sempre teve o pai do Réu por cristão velho, mas sempre considerou que a mãe tinha parte de cristã nova.

- Manuel Fernandes, Serrano de alcunha, de 90 anos, natural e morador na cidade - – Conhecia bem os pais do Réu, embora da mãe só saiba a alcunha de quatorzena. Tem uma ideia dos avós maternos, mas não se lembra dos nomes nem da profissão que tinham. Disse que, na ausência dele, ouviu chamar “judeu” a Estêvão Pires Meia Noite, mas não sabe a razão. Sabe que a mãe do Réu tinha parte de cristã nova,  por ser dos quatorzenos.

fls. 215 img. 429 – 28-5-1658

- Francisco Álvares, de 50 anos – Conhece bem o Réu e seu pai e conhecia bem sua mãe, Isabel de Torres. Não tem notícia dos avós maternos do Réu. Conhece a irmã da mãe do Réu que ainda é viva, casada com António Gonçalves, tecelão. Ficaram órfãs muito cedo e uma delas foi criada na casa de Martim Gonçalves e outra na de Fernão Rodrigues, o Coxo, ambos cristãos novos.  Sempre considerou Estêvão Pires o Meia Noite como cristão velho, mas a mulher dele como tendo parte de cristã nova, por ser dos quatorzenos, que são cristãos novos e parentes dos “Coxos”.

- Brás da Mota, de 53 anos  - Conhece bem o Réu e seu pai e conhecia bem sua mãe, Isabel de Torres. Não tem notícia dos avós maternos do Réu. Sempre considerou Estêvão Pires o Meia Noite como cristão velho, mas a mulher dele como tendo parte de cristã nova, por ser dos quatorzenos, que são cristãos novos e parentes dos “Coxos”.

-fls. 221 v img. 442 – 29-5-1658

-P.e Domingos Gomes Peres, de 75 anos, Prior da Igreja de S. Martinho da cidade de Portalegre – Conhece o Réu e seu pai e também sua mãe, embora a refira como fulana de Torres, mas indica a alcunha de quatorzena. Não conhece nem teve notícia dos avós maternos do Réu.  Sempre ouviu dizer que Estêvão Pires o Meia Noite tinha alguma coisa de cristão novo, mas nunca soube a razão. De sua mulher, é fama muito larga de que tem parte de cristã nova.

fls. 224 v img. 448 – 30-5-1658

- P.e Manuel Pires Morato, de 64 anos, Cura na Sé da cidade de Portalegre –Conhece muito bem o Réu e seus progenitores, tanto seu pai como sua mãe.  Não conhece nem teve notícia dos avós maternos. Disse que considerava Estêvão Pires o Meia Noite como legítimo cristão velho, mas que a mulher deste era reputada como tendo parte de cristã nova.

fls. 228 img. 455 – 1-6-1658

- António Freire, o Magro, de 64 anos, morador em Portalegre - Conhece o Réu e seu pai e também sua mãe, embora a refira como fulana de Torres, mas indica a alcunha de quatorzena.  Não conhece nem teve notícia dos avós maternos. Disse que considerava Estêvão Pires o Meia Noite como legítimo cristão velho, mas que a mulher deste era reputada como tendo parte de cristã nova.

- Simão Fernandes Freire, de 73 anos, natural e morador em Portalegre - Conhece o Réu e seu pai e também sua mãe, embora não se lembre do nome dela mas apenas da alcunha de quatorzena.  Em pequeno, conheceu ainda o avô materno do Réu, de nome Pedro Fernandes, o quatorzeno; e a mulher também, mas não está lembrado de como se chamava.  Perguntado se o Réu e seus pais eram cristãos novos ou cristãos velhos, disse que Estevão Pires  o Meia Noite era certamente cristão velho; e que a mãe também o era pois a bisavó Branca Dias casara duas vezes, a primeira com um cristão novo e a segunda com um cristão velho e fora deste que tivera a Isabel de Torres e sua irmã. 

fls. 240 img. 479 – sem data – Comissão da Inquisição de Lisboa ao L.do Bento Gueifão, Vigário da Vila da Sertã, para interrogar testemunhas

fls. 244 img 487 – 28-4-1658 – Audição das testemunhas

- António Manuel, viúvo, lavrador, de 85 anos, morador em Casal da Nogueira, termo da vila da Sertã – Não conhece nem o Réu, nem seu pai.

- Francisco Moniz, solteiro, de 61 anos, dos homens principais da vila da Sertã – Estranhou a prisão do Réu porque ele se jactava de ser cristão velho.

- António de Casal, viúvo, de 68 anos, residente na Sertã – Nada sabe do Réu, nem de seu pai.

- P.e Manuel Gonçalves de Andrade, de 72 anos, clérigo de Missa, morador na Sertã – Nada sabe do Réu, nem de seu pai.

- António Nunes de Andrade, de 54 anos, escrivão da Câmara da Sertã, cavaleiro fidalgo – conhece o Réu. Disse que ele se jactava de ser sertainho e de ser cristão velho. Muitas vezes lhe ouviu dizer mal dos judeus e dos cristãos novos.

- João da Mota Gomes, homem nobre dos principais da vila, onde exerceu os ofícios nobres da república – Conhece o Réu, mas não seu pai ou outros familiares. Não tem informação que ele seja cristão novo, apenas sabe que ele se jactava de ser cristão velho.

- Brás Luis, de 68 anos, residente na Sertã – Nada sabe sobre o Réu.

fls. 250 img. 499 – 2-5-1658

- Pedro Lopes Estrada,  de 40 anos, morador em Pampinhal, freguesia de Cernache do Bonjardim – Disse que há 4 ou 5 anos, tratou-se de casar uma filha do Réu com o filho de um seu irmão, João Lopes, do Casal da Roda. Seu irmão foi informar-se a Portalegre e disse-lhe um Pedro Fernandes Colaço que não se deixasse enganar que ele era um fino judeu; o casamento ficou sem efeito.

- António Alves, de 80 anos, viúvo, carpinteiro, morador na vila da Sertã – Nada sabe sobre o Réu.

- António Marques, viúvo, de 73 anos, vereador na Sertã – Não conhece o Réu, só o viu uma vez.

- Amador Lopes, de 73 anos. morador no lugar da Roda, freguesia do Castelo, termo da Sertã – Disse o mesmo que seu irmão Pedro Lopes Estrada, acima.

fls. 254 img. 507 – 24-3-1657 – Requerimento do Promotor para a publicação da prova da justiça. Admoestação antes da publicação. Publicação da prova da justiça. São as primeiras 7 denúncias. Ouvida a leitura, disse o Réu que era tudo falso e que queria vir com contraditas e para isso queria estar com Procurador.

fls. 258 img. 515 – 26-3-1657 – Estância com o Procurador L.do António de Magalhães

fls. 259 img. 517 – Traslado devolvido pelo Procurador

fls. 261 v img. 522 – 26-3-1657 - Arguição de contraditas – O Réu diz em geral que são seus inimigos todos os cristãos novos de Abrantes, e especialmente menciona depois,  Manuel Soares, João Francês (Pr. n.º 12215), Baltasar Rodrigues Chaves, Henrique Rodrigues Lopes, Henrique Rodrigues Coelho, Filipe Tomás, Francisca de Valboa e seu marido.

fls. 263 v img. 426 – 4-4-1657 – Nomeação de testemunhas

fls. 265 v img. 530 – 10-4-1657 – Pediu para estar de novo com o Procurador. Esteve com ele no dia seguinte.

fls. 267 img. 533 – 18-7-1657 – Carta de Francisco Nunes Correia sobre a execução das comissões.

fls. 269 img. 537 – 10-4-1657 – Arguição de 2.ªs contraditas contra os cristãos novos da Golegã, nomeando Francisco de Sequeira e Jorge Henriques. Alega o Réu que é cristão velho.

fls. 270 img. 539 -11-4-1657 – Nomeação de testemunhas

fls. 271 img. 541 – 12-4-1657 – Despacho de recebimento das contraditas. Recebidas apenas as que respeitavam em geral as cristãos novos de Abrantes e em especial as que contraditavam as testemunhas da acusação.

fls. 272 img. 543. – 10-7-1657 – O L.do Francisco Nunes Correia, Prior da Conventual Igreja de S.ta Maria do Castelo, Vigário Geral da vila de Abrantes e Comissário do S.to Ofício recebe a comissão da Inquisição de Lisboa para interrogar testemunhas às contraditas.

fls. 274 img.545 – 2-6-1657 – Comissão da Inquisição de Lisboa ao L.do Francisco Nunes Correia, Prior da Conventual Igreja de S.ta Maria do Castelo, Vigário Geral da vila de Abrantes e Comissário do S.to Ofício para interrogar testemunhas às contraditas.

fls. 277 img. 553 – sem data – Audição das testemunhas

- Vicente Dias Cabeças, de 42 anos, barbeiro, morador em Abrantes – Não sabe que o Réu tivesse diferenças ou dúvidas com alguém.

- Jorge Ferreira, tosador, de 45 anos, morador em Abrantes - Não sabe que o Réu tivesse diferenças ou dúvidas com alguém.  Sabe no entanto que o Réu dizia muito mal de toda a gente de Nação. E também ouviu dizer a Filipe Tomás que o Réu tinha más entranhas.

- Manuel  Ferreira, de 30 anos, viúvo, tosador, morador em Abrantes – Disse que o Réu teve dúvidas com Henrique Rodrigues Coelho, mas que depois voltaram a falar normalmente; e que agora já não se lembra da causa donde surgiram as dúvidas.  Mais nada sabia dos casos para que fora apontado como testemunha.

- Jerónimo Dias, de 56 anos, natural e morador na vila de Abrantes – Sabia que o Réu tivera palavras de pouca consideração para com Filipe Tomás, mas depois voltaram a correr e a falar como dantes.  Nada sabia dos outros casos para que fora apontado como testemunha.

- P.e João Lopes Nunes, sacerdote, de 47 anos, natural e morador na vila de Abrantes – Disse que o Réu, na sua loja, dizia muito mal dos cristãos novos, mas não sabe se eles são inimigos do Réu.

- Manuel Rodrigues Sardinha, de 44 anos, natural e morador em Abrantes - – Não sabia que o Réu tivesse diferenças ou dúvidas com alguém.  Sobre o caso para que era indicado como testemunha, nada soube dizer.

- Manuel de Crasto, de 50 anos, alfaiate, natural e morador em Abrantes – Disse não saber que o Réu tivesse dúvidas ou diferenças com alguém.  Nada sabe da contenda que o Réu teve com João Francês sobre o aluguer de casas.

- Amadeu Rodrigues, de 27 anos, natural da Sertã e morador em Abrantes – Disse que o Réu tiveram em tempos dúvidas de pequena consideração com Filipe Tomás, mas depois voltaram a falar normalmente.   E que nada sabia dos casos para que fora indicado como testemunha.

- Domingos Dias, de 56 anos, alfaiate, natural de Valhascos e morador em Abrantes – Disse que não sabia que o Réu tivesse dúvidas ou diferenças com pessoa alguma.  Disse nada saber sobre o artigo nono das contraditas, somente ouviu dizer que “Vicente Caldeira andava amigado com a mulher de Henrique Rodrigues Lopes.”  Sobre o 12.º artigo, disse nada saber.

fls. 283 v img. 566 – 12-7-1657

- P.e António Fernandes Branco, de 66 anos, sacerdote na vila de Abrantes – Nada soube dizer.

- Maria Mendes, de 60 anos, viúva de Manuel Rodrigues Sardinha,  e mãe de outro Manuel Rodrigues Sardinha, moradora em Abrantes – Nada soube dizer

fls. 285 img. 569 – 16-7-1657

- Francisco Lopes,  luveiro, de 30 anos, morador em Abrantes – Nada soube dizer.

fls. 288 img. 475 – 27-7-1657 – Relatório da comissão que se segue

fls. 290 img. 579 – 22-6-1657 – Comissão da Inquisição de Lisboa ao L.do Diogo Monteiro de Sampaio, Vigário da Igreja Matriz da Vila da Golegã e Comissário do Santo Ofício.

fls. 292 img. 583 – 30-6-1657 – Recebida a Comissão, iniciam-se os interrogatórios.

- António Subtil, de 47 anos, Comissário do S.to Ofício  morador na vila da Golegã, e da Governança dela -  Apenas sabe da inimizade que o Réu tinha a todos os cristãos novos.

- Lourenço de Guimarães, de 48 anos, familiar do S.to Ofício, morador na vila da Golegã e da governança dela – Sabe apenas que, na Feira de S. Martinho, por vezes o Réu vinha ter com ele para assegurar que não lhe tiravam a tenda que lhe tinha sido designada.

- António Carneiro Souto Maior, de 50 anos, homem nobre, Capitão de Infantaria e da governança da vila da Golegã – Nada soube dizer.

fls. 296 img. 591 – 1-3-1658 - Requerimento do Promotor para mais publicação. Admoestação antes da publicação. Publicação de mais prova da justiça – é o 8.º testemunho de Diogo Álvares. Ouvida a leitura, o Réu disse que era tudo falso e que queria estar com o Procurador.

fls. 298 img. 595 – 22-3-1658 – Estância com o Procurador L.do António de Magalhães

fls. 299 img. 597 – Traslado devolvido pelo Procurador. Este oferece as contraditas anteriormente apresentadas como defesa.

fls. 299 v img. 598 – 28-3-1658 – Despacho recebendo algumas contraditas que respeitam ao 8.º testemunho.

fls. 300 img. 599 – 13-4-1658 - O L.do Francisco Nunes Correia, Prior da Conventual Igreja de S.ta Maria do Castelo, Vigário Geral da vila de Abrantes e Comissário do S.to Ofício recebe a comissão da Inquisição de Lisboa para interrogar testemunhas às contraditas.

fls. 301 img. 601 – 4-4-1658 - Comissão da Inquisição de Lisboa ao L.do Francisco Nunes Correia, Prior da Conventual Igreja de S.ta Maria do Castelo, Vigário Geral da vila de Abrantes e Comissário do S.to Ofício para interrogar testemunhas às contraditas.

fls. 303 img. 605 – 20-4-1658 – Audição das testemunhas

- Álvaro de Sousa Pereira, de 45 anos, escrivão de almotaçaria em Abrantes – Disse que, tendo Baltasar Rodrigues Chaves vendido ao Réu a sua loja com fazendas, depois a quis tomar de novo para a vender a Henrique Rodrigues Lopes e Pedro Vaz e sobre o assunto tinha demanda contra eles.

- Manuel de Crasto, de 50 anos, alfaiate, morador em Abrantes – Nada sabe do caso referido pelo Réu.

- Manuel Ferreira, viúvo, de 31 anos, morador em Abrantes – Disse que sabia que Vicente Caldeira entrava em casa de Henrique Rodrigues Lopes, atravessando uns quintais, mas não sabe de quem são tais quintais. E mais não sabia.

- Domingos Dias, de 57 anos, natural de Valhascos, termo da vila do Sardoal e morador em Abrantes -  Nada disse de concreto.

- Jorge Ferreira Frade, de 45 anos, morador em Abrantes – Nada sabe do que figura na contradita décima.

fls. 308 img. 615 – 15-9-1658 – Assento da Mesa

“(…) pareceu a todos os votos, que das testemunhas que o Réu nomeou para prova de sua defesa, e das mais que se perguntaram ex officio para averiguar a limpeza de seu sangue e geração se prova legitimamente  ter o Réu parte de x.n. e estar tido e havido por tal per via paterna e materna nos lugares de seu nascimento e habitação e que a causa do Réu se devia despachar em final como de pessoa que tem parte de x.n., mas que, antes de se executar, este assento seja com os autos levado ao Conselho Geral na forma do Regimento (…)

fls. 309 img. 617 – 22-11-1658 – Assento da Mesa do Conselho Geral

“(…) e assentou-se que é bem julgado pelos Inquisidores, Ordinário e Deputados em determinarem que o Réu deve ser havido por homem que tem parte de Nação por via de pai e mãe e que como contra tal se deve proceder em sua causa. Mandam que assim se cumpra.”

fls. 310 img. 619 – 28-11-1658 – Notificação ao Réu do Assento anterior. O Réu disse que “nunca em tal conta se tivera, nem sabia que por via alguma tivesse parte de nação dos cristãos novos(…)

fls. 311 img. 621 – 2-12-1658 – Processo concluso

fls. 312 img. 623 – 2-12-1658 – Assento da Mesa da Inquisição

Foram vistos 2.ª vez na Mesa do S.to Ofício em 2 de Dezembro de 1658 estes autos, e culpas de António Pires, de alcunha o Meia Noite, que tem parte de cristão novo (…) e pareceu a todos os votos que ele pela prova da justiça não estava legitimamente convicto no crime de heresia e apostasia de judaísmo por que foi preso e acusado visto deporem contra o Réu de declaração de judaísmo em forma sete testemunhas e uma de fautoria, e todas sem qualidade, ainda que seu crédito não está diminuído por não provar em suas contraditas coisa considerável e ao Inquisidor Rodrigo de Miranda Henriques e deputados Francisco de Miranda Henriques, Estêvão da Cunha  e Martim Afonso de Melo  que, vista a qualidade da prova que há contra o Réu, e estarem nos cárceres desta Inquisição, muitas pessoas presas da dita vila de Abrantes, onde há muitos anos é morador, das quais estão notificadas e relaxadas Ana Rodrigues (Pr. 11829, degredo para o Brasil), Francisco Vaz de Leão (Pr. 9216, relaxado), Manuel Gomes Vieira (Pr. 10202, abjuração), Francisca de Balboa (Pr. n.º 1305 ou 1306, os dois com este nome, ambos findos com abjuração), Natália Nunes (Pr. 4393, abjuração) e Brites Mendes (Pr. 11823, abjuração), não parecia conveniente esperdiçarsse (desperdiçar-se) a dita prova, em que a justiça ficaria muito prejudicada; e que assim, não alterando este seu processo, devia ficar reservado no cárcere; e aos Inquisidores Álvaro Soares de Castro, Francisco Barreto, e ao Deputado Bispo de Targa, que assistiu pelo Ordinário de sua comissão e Inquisidor aposentado Cristóvão de Andrade Freire e Deputado Antão de Faria da Silva, que o Réu não devia ficar reservado, por haver mais de dois anos e meio que está preso e não ser natural da dita vila de Abrantes, nem ter parentes presos e que, antes de outro despacho, fosse o Réu posto a tormento, e nele tivesse dois tractos expertos, podendo sofrer a juízo do médico e do cirurgião e dos Inquisidores, e que, satisfeito a este assento, se torne o processo a ver em Mesa para se despachar a final; e a todos que, antes de se executar, seja com os autos levado ao Conselho Geral na forma do Regimento.”

Nota: Este Assento ficou sem efeito, por não ter havido decisão do Conselho Geral sobre ele.

fls. 314 img. 627 – 14-5-1629 – O Réu foi à Mesa pedir para estar com Procurador. No impedimento do anterior, foi mandado estar com o L.do Manuel de Lemos.

fls. 315 img. 629 – 14-5-1629 – Juramento do Procurador. Estância com o Procurador.

fls. 316 img. 631 – Arguição de 3.ªs contraditas

Arguiu contraditas contra Diogo Dias Tavares e seus sobrinhos, contra Jorge Pinto e Francisco Vaz de Leão, contra João Rodrigues Pisco, contra Pedro Vaz.

fls. 317 v img. 634 – 26-5-1659 – Nomeia testemunhas às contraditas

fls. 319 img. 637 – 27-5-1659 – Requerimento do Promotor pedindo mais publicação. Admoestação antes da publicação. Publicação de mais prova da justiça – são as denúncias de Luis de Castro e de Francisco Vaz Campos. Ouvida a leitura, disse o Réu que era tudo falso e queria estar com o seu Procurador.

fls. 321 img. 641 – 4-6-1659 – Estância com o procurador

fls. 322 img. 643 – Traslado devolvido pelo procurador. Pergunta-se ao Promotor qual o lugar dos delitos ultimamente publicados. É-lhe respondido que foi um em Avis, outro na Golegã.

fls. 323 img. 645 – Arguição de 4.ªs contraditas, contra Rodrigo de Sequeira, filho de Gaspar Vaz de Sequeira e Diogo Lopes de Leão, médico.

fls. 324 img. 647 – 4-6-1659 - Nomeação de testemunhas às contraditas

fls. 325 img. 649 – 5-6-1659 – Despacho sobre as 3.ªs e 4.ª contraditas – Recebidas as 3.ªs mas não as 4.ªs ex causa.

fls. 327 img. 653 – 8-7-1659 – Nota da conclusão das comissões.

fls. 329 img. 657 – 27-6-1659 – O L.do Manuel Vaz Abadeço, Vigário perpétuo da Conventual Igreja de S. João Baptista de Abrantes, Comissário do S.to Ofício, recebe a comissão da Inquisição de Lisboa para interrogar testemunhas às contraditas.

fls. 330 img. 659 – 10-6-1659- Comissão da Inquisição de Lisboa ao L.do Manuel Vaz Abadeço, Vigário perpétuo da Conventual Igreja de S. João Baptista de Abrantes, Comissário do S.to Ofício, para interrogar testemunhas às contraditas.

fls. 334 img. 667 – sem data – Audição das testemunhas

- Amaro Rodrigues, de 26 anos, natural e morador em Abrantes – Sabe que o Réu é inimigo de Filipe Tomás e que se chamam um ao outro “cães judeus”.  Disse que “na feira de Santa Iria que se faz na vila de Tomar no mês de Outubro, sabe ele testemunha que o Réu António Pires Meia Noite teve dúvidas com Jorge Rodrigues, irmão de Diogo Dias Tavares sobre quem havia de ficar em um posto debaixo de uns alpendres, de que nasceu puxarem pelas espadas e terem dúvidas e jogaram as cutiladas se gente não se metera de permeio”. Sabe disto porque ia de caixeiro de Jorge Rodrigues na mesma feira.

- Miguel da Cunha, de 52 anos, natural e morador em Abrantes – Confirmou a discussão havida na Feira de Punhete de N.ª Sr.ª dos Mártires, referida nas contraditas, em que o caixeiro do Réu chamou “judeu” a Simão Álvares, mas disse que depois disso, todos se falavam normalmente.

- Jorge Ferreira, de 45 anos, natural do Fundão e morador em Abrantes – Sabe que o Réu e Filipe Tomás se não dão bem. Disse que os contraditados não gostavam do Réu por ele se jactar de ser cristão velho e de vender mais que eles nas feiras.

fls. 337 img. 673 – 29-6-1659

- Manuel de Crasto, de 52 anos, alfaiate, natural e morador em Abrantes – Disse que o Réu se queixava muitas vezes de Filipe Tomás e de Jorge Pinto, seus vizinhos, dizendo que eram seus inimigos. Nada sabe do caso onde foi indicado como testemunha.

fls. 338 img. 675 – 2-7-1659

- Fernão Freire de Macedo, filho de Manuel Freire de Macedo, de 30 anos, Capitão morador em Abrantes – Não sabe que o Réu tenha inimigos e nada sabe do caso onde foi indicado como testemunha.

fls. 339 img. 677 – 6-7-1659

- Manuel Ferreira, de 31 anos, natural e morador em Abrantes – Sabe que o réu tinha a inimizade de outros mercadores como ele, por ter crescido mais que eles: estão neste caso, Henrique Rodrigues Lopes, Henrique Rodrigues Coelho e Pedro Vaz Vaquinha. Relatou o incidente acima narrado por Amaro Rodrigues.

fls. 340 img. 679 – 7-7-1659

- Maria Gonçalves, de 40 anos, viúva de Bartolomeu Delgado, natural e moradora em Abrantes – Não sabe que o réu tinha inimigos e nada sabe do caso onde foi indicado como testemunha.

fls. 342 img. 683 – 30-10-1659 – O mesmo L.do Manuel Vaz Abadeço recebe nova comissão.

fls. 343 img. 685 – 8-10-1659 – A Inquisição de Lisboa envia nova comissão ao mesmo L.do Manuel Vaz Abadeço

fls. 345 img. 689 – 30-10-1659 – Audição das testemunhas

- Manuel Rodrigues Sardinha, de 46 anos, alfaiate, morador em Abrantes – Disse não saber que o Réu tivesse inimigos e nada sabia também do caso para o qual fora indicado como testemunha.

fls. 348 img. 695 – 15-12-1659 - O mesmo L.do Manuel Vaz Abadeço recebe nova comissão.

fls. 349 img. 697 – 3-12-1659 – A Inquisição de Lisboa envia nova comissão ao mesmo L.do Manuel Vaz Abadeço para ser interrogado Pedro da Costa, alfaiate

fls. 351 img. 701 – 15-12-1659 – O L.do Manuel Vaz Abadeço e o Padre António Camelo Delgado, certificam que não foi possível ouvir Pedro da Costa, por andar homiziado. Contactada sua mulher, disse ela que ele andou pelas  partes do Alentejo e na Páscoa passada teve notícia de que ele fora para o Porto, mas que, desde esse tempo, não tivera carta dele.

fls. 352 img. 703 – 1-7-1660 – O Réu pediu para estar com o Procurador

fls. 352 v img 704 – 1-7-1660 – Estância com o Procurador, L.do Manuel de Lemos

fls. 353 img. 705 – Arguição das 5.ªs contraditas

O procurador redigiu oito artigos de contraditas de que foram aceites no despacho a seguir transcrito.

fls. 354 v img. 708 –3-7-1660 -  Nomeação de testemunhas

fls. 356 v img. 712 –6-7-1660 - Despacho sobre as contraditas. Foram recebidos  “o 3.º artigo por contraditar nele  os testemunhos de Filipe Tomás, e Maria Henriques, sua mulher, testemunhas da justiça nele recusadas, o 4.º, por Francisco de Siqueira, testemunha da justiça enquanto genro de Joana Manuel nele recusada, e o 6.º por Manuel Vaz de Leão, enquanto sobrinho de Francisco Vaz de Leão nele recusado,  o 7.º por Diogo Álvares, nele recusado, o 8.º por informação somente e se ler a despacho final (…)”

fls. 357 img. 713 –29-7-1660 – O L.do Manuel Vaz Abadeço recebe mais uma comissão.

fls. 358 img. 715 – 8-7-1659 – A Inquisição de Lisboa envia nova comissão ao L.do Manuel Vaz Abadeço

fls. 361 img. 721 – 30-7-1660 – Audição das testemunhas

- Simão de Matos, de 37 anos, natural e morador em Abrantes – Não se lembra que o Réu tivesse brigas. Nada sabia do caso para o qual fora indicado como testemunha.

- Domingos Dias, alfaiate, de 70 anos, natural e morador em Abrantes – Ouviu a mulher do Réu queixar-se de Pedro Vaz Vaquinhas, mas já não se lembra do que ela lhe disse. Nada sabia do caso para o qual fora indicado como testemunha.

- Francisco Lopes, luveiro, de 45 anos, natural e morador em Abrantes –  Sabe que o Réu teve diferenças com Filipe Tomás. Sabe também que o Réu tratava a Mor Francesa (Pr. n.º 641, de  Lisboa), a João da Costa (Pr. n.º 7336 e 7336-1) e a Filipe Tomás e também aos outros cristãos novos mercadores de Abrantes,  como cães judeus, mas apenas quando eles não estavam presentes, pois quando ali estavam, falava normalmente com eles.  Nada soube dizer sobre os casos para os quais foi indicado como testemunha.

- Sebastião Lopes, o Pata Roxa, de 59 anos, natural e morador em Abrantes – Acha que Filipe Tomás foi o único com quem o Réu teve diferenças. Disse que Manuel Vaz de Leão é sobrinho de Francisco Vaz de Leão e tinha muito respeito a esse seu tio, mas não sabia que o Réu tivesse posto contraditas ao referido Francisco Vaz de Leão.  Sabe que Diogo Álvares, morador em Lisboa, é primo de Pedro Vaz, de Henrique Rodrigues Lopes (Pr. n.º 10649 e 10649-1), de Simão Álvares, que foram moradores na vila de Abrantes, mas não sabe se o dito Diogo Álvares é inimigo do Réu.

- Manuel Rodrigues Delgado, de 56 anos, Alfaiate, natural e morador em Abrantes- Sabe que o Réu tinha diferenças e pelejas de palavras com Henrique Rodrigues Lopes e Simão Álvares, por causa da concorrência entre as lojas de uns e outros e se tratavam de cães judeus.  Quanto ao resto, como no depoimento anterior.

fls. 364 img. 727 – 2-8-1660

- Manuel Ferreira, de 35 anos, viúvo, natural e morador em Abrantes – Sabe que, por causa da competição nos negócios, o Réu não se dava bem com  Pedro Vaz, Henrique Rodrigues Lopes, Simão Álvares, Filipe Tomás e Henrique Rodrigues Coelho, e chamavam-se uns aos outros cães e judeus. Nada soube dizer sobre os casos para os quais foi indicado como testemunha.

- Amaro Rodrigues, de 27 anos, natural da vila da Cortiçada e morador em Abrantes   Disse que só sabe que o Réu tem pelejas de palavras com Filipe Tomás. Nada sabia do caso para o qual fora indicado como testemunha.

O P.e António Camelo Delgado, encarregado da Comissão certifica que Jerónimo Dias é falecido, que ouviu dizer que André Fernandes brebé é cristão novo, que Manuel Cordeiro reside em Lisboa onde está casado, e que Pedro da Costa está ausente da vila há mais de dois anos e que Vicente Dias está doente na cama.

fls. 367 img. 733 – 20-8-1660 – Interrogatório na Inquisição de Lisboa, de Manuel Cordeiro, de 40 anos, casado com Catarina Dias, residente em Lisboa.

Não sabe que o Réu tenha brigas ou inimizades mas apenas sabe que ele tinha por costume insultar os cristãos novos chamando-os cães judeus. Sabe que lhe queriam mal Henrique Rodrigues Lopes, Simão Álvares e Manuel Soares, que foram reconciliados pela Inquisição, mas não sabe que fossem inimigos. Nada mais sabe de concreto.

fls. 369 img. 737 – 20-8-1660 – Assento da Mesa da Inquisição

Foram vistos 2.ª vez na Mesa do Santo Ofício (…) depois de se lhe dar notícia do Assento do Conselho Geral de 22 de Novembro de 1658 pelo qual foi determinado que tem parte de cristão novo, por via paterna e materna, sendo primeiro chamado, ouvido e admoestado.  E pareceu a todos os votos, excepto os deputados P.e Mestre Fr. António da Encarnação e João de Castilho, que o Réu não estava convicto no crime de heresia, apostasia e judaísmo, por que foi preso e acusado, porque depõem contra ele das ditas culpas de declaração em forma só nove testemunhas e Filipe Tomás, que é a primeira, diz que o Réu significara receios das prisões de algumas pessoas pelo Santo Ofício e que dissera, não comia raia;  nenhuma tem com o Réu parentesco, antes se diminui muito consideravelmente o seu crédito com o que resulta das suas contraditas enquanto alega e prova que a gente da Nação dos cristãos novos de Abrantes lhe tinha ódio e inveja e que assim se mostrava no modo como falavam dele, e em particular algumas das testemunhas da justiça, além do que, não parece verosímil que, sendo o Réu reputado por cristão velho, naquela vila e desejando ele conservar esta reputação, se houvesse de declarar por crente na Lei de Moisés e principalmente depois de se haverem principiado as prisões na mesma Vila pelo S.to Ofício, mas que em razão dos urgentes indícios que resultam da prova da justiça, de o Réu viver apartado da nossa Santa Fé Católica e ter crença na Lei de Moisés, e fazer seus ritos e cerimónias e a comunicar com pessoas de sua Nação, antes de outro despacho fosse posto a tormento e nele tivesse todo o que pudesse sofrer a juízo do médico e cirurgião e arbítrio dos Inquisidores e que, satisfeito a este voto, se torne o processo a ver em Mesa, para ser despachado a final”.

Segue-se o voto dos dois deputados dissidentes:  “(…) visto ter o Réu contra si a prova referida, e serem todas as testemunhas de bom crédito, e não provarem as suas contraditas coisa particular contra elas, ou contra alguma, estava em termos de ser havido por convicto nas ditas culpas de Judaísmo, e que, como herege apóstata de nossa Santa Fé Católica, negativo e convicto, impenitente e pertinaz, devia ser entregue e relaxado à justiça secular (…)”

fls. 371 img. 741 – 31-8-1660 – Assento da Mesa do Conselho Geral

Assentou-se que seja relaxado à justiça secular. 

Tem as assinaturas de Manuel de Magalhães de Menezes, Luis Álvares da Rocha, Pantaleão Rodrigues Pacheco, Fr. Pedro de Magalhães, Diogo de Sousa e Álvaro Soares de Castro.

fls. 372 img. 745 – 4-10-1660 - Notificação de 15 dias antes do Auto da Fé -  Regimento, liv. II, tit. XV, n.º 1

fls. 373 img. 747 – 6-10-1660 – O Réu pede Procurador

fls. 373 v img. 748 – 7-10-1660 – O Réu passa procuração ao L.do Domingos Vieira do Souto

fls. 374 img. 749 – 7-10-1660 – Juramento do Procurador

fls. 375 img. 751 – 7-10-1660 – Estância com o Procurador

fls. 376 img. 753 – 7-10-1660 – Pelo seu Procurador, o Réu pede que lhe sejam indicadas todas as localidades onde lhe foram dadas as culpas pelas testemunhas.  É-lhe respondido que a 1.ª, 2.ª 3.ª e 6.ª lhe são dadas na vila de Abrantes, a 4.ª em Golegã, a 5.ª em Punhete (Constância), a 7.ª na Sertã, a 8.ª em Estremoz, a 9.º na Feira das Virtudes. na vila de Avis.

Argui então uma contradita extemporânea contra Diogo Gomes Ávila e sua mulher de Estremoz.

fls. 378 img. - 757 – 7-10-1660 – Nomeia testemunhas

fls. 379 img. 759 – 7-10-1660 – Despacho não recebendo a última contradita. No mesmo dia foi o despacho publicado ao Réu.

fls. 380 img. 761 – 12-10-1660 – Pede de novo procurador

fls. 380 v img. 762 – 12-10-1660 – Estância com o procurador

fls. 381 img. 763 – 12-10-1660 – Através do seu procurador, proclama a sua inocência e atribui a sua condenação a uma conjura dos seus inimigos.

fls. 381 img. 763 – 13-10-1660 – Despacho: “Visto como estando ultimamente com o seu Procurador o Réu António Pires Meia Noite para de novo lhe formar suas contraditas, não veio com elas, o lançamos e havemos por lançado das com que pudera vir, e visto o objecto da causa, não há lugar para deferir ao requerimento que faz.”

fls. 383 img. 767 – 15-10-1660 – Auto de citação de mãos atadas na sexta-feira antes do Auto - Regimento, liv. II, tit. XV, n.º V. Ficou com ele o P.e António Leite e depois veio o P.e Manuel Pereira, ambos da Companhia de Jesus, para lhe dar conforto espiritual.

fls. 384 img 769 – Sentença.  Foi publicada no Auto da Fé que se celebrou em Lisboa no dia 17 de Outubro de 1660.

fls. 387 img. 775- Conta de custas: 23$295 réis.

 

TEXTOS CONSULTADOS

 

Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva, História da Inquisição Portuguesa - 1536-1821, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2013

António Joaquim Moreira, Listas dos Autos da Fé da Inquisição de Lisboa – Cod. 863 da BNP

Online: http://purl.pt/15393

 

João Lúcio de Azevedo, História dos Cristãos Novos Portugueses, Porto, 1921

Online: www.archive.org

 

António José Saraiva, The Marrano Factory: the portuguese Inquisition and its New Christians, 1536-1765, translated, revised and augmented by H.P. Salomon and I.S.D. Sassoon. - Leiden Boston Koln : Brill, 2001. - 402 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 90-04-12080-7

 

Notícias recônditas do modo de proceder a Inquisição

http://arlindo-correia.com/140113.html