2-5-2008

Outras páginas sobre Campia neste site, aqui e aqui                  

 

Campia, na história

 

 

A origem dos povos de Campia perde-se na história.

A paróquia aparece já nas Inquirições de D. Afonso III, em 1258, incluindo nessa altura Carregal e Destriz. Por sua vez, Cambarinho pertencia à freguesia de Cambra, sendo o seu nome, com toda a evidência, um diminutivo de Cambar, nome que então tinha a freguesia.  Como veremos, esta mesma situação perdura no Cadastro mandado fazer por D. João III, em 1527. Transcrevo a seguir a parte das Inquirições de 1258, que se refere a Campia, com a tradução que delas fiz:

  

De Cambarino – Johannes Martini de Cambarino parrochia Sancti Juliani de Cambar juratus et interrogatus de patronatu ecclesie ejusdem dixit, quod milites de Cambar presentant eidem ecclesie.

Martinus Suariz de Cambarino dixit similiter. Petrus Petri similiter. Alfonsus Garsee de Sancta Columba dixit similiter. Gunsalvus Stephani de Curugeira dixit similiter, Gunsalvus Gunsalvi de Sancta Columba dixit similiter.

Idem Joahnes Martini juratus dixit, quod Cambarinus fuit de militibus, et pectant de eo Regi vocem et calumpniam tantum. Et Nuno Petri de Pino conparavit in Cambarino quinque casalia, et testavit eas tempore Regis Sancii fratris istius Regis Sancte Cruci, et modo homines Sancte Crucis de Cambarino non pectant Regi nisi tres calumnias tantum per forum Sancte Crucis.

Martinus Suariz de Cambarino dixit similiter. Petrus Petri dixit similiter. Petrus Martini dixit similiter.

 

 

De Canelas. – Pelagius Taurus juratus dixit, quod in Canelas habet Rex unum casale forarium de jugata, et moratur in eo Joanio et Dominicus Gunsalvi suus gener; et modo Donna Maria et Laurencius Menendi de Campia prelatus habent ipsam hereditatem.

Martinus Petri de Chaos dixit, quod audivit dicere multociens, quod Regina Donna Donza dedit Aldoncie sue criantule et Menendo Menendi de Viseo, dicto Bogorra, istam hereditatem; et Menendus Bogorra vendidit istam hereditatem Menendo Anaya.

Joanio de Canelas dixit similiter; et addit, quod sunt.iiij.or casalia.

Donnus Duram de Travazoos dixit, quod in Canelas habebat Rex tria casalia regalenga, et audivit dicere, quod Regina Donna Donza dedit Donne Doncie criantule sue et Menendo Bogorra ipsa tria casalia, et Menendus Bogorra vendidit ipsa tria casalia Menendo Anaya, et modo filii et nepotes de Menendo Anaya habent et possident  ipsa tria casalia et non faciunt de eis forum Regi; et  addit, quod Bertolomeus filius de ipso Donno Duram tenet duo casalia de istis, et in alio moratur Dominicus Gunsalvi gener de Joanio.

 

…………………………………………………………………….

 

De parrochia de Campia – Martinus Petri de Cercosa parrochia Sancti Michaelis de Campia juratus et interrogatus de patronatu ecclesie de Campia dixit, quod filii de Petro Petri de Cambar et de Laurencio Cerveyra et de Petro Roderici de Bove Alvo presentant eidem ecclesie.

Johannes Gunsalvi dixit similiter. Duran Gunsalvi dixit similiter. Et alii [dixerunt] similiter. Johannes Petri de Revordino juratus dixit similiter.

Idem Martinus Petri juratus et interrogatus, dixit, quod villa de Cercosa fuit de militibus per avolengam, et de quinque  casalibus, que habet ibi Sanctus Johannes de Tarouca, et de uno, quod ibi habet ecclesia de Pineiro, pectant Regi vocem et calumpniam, et vadunt in hostem et anuduvam, et dixit, quod de alia hereditate de Cercosa pectant Regi vocem et calumpniam.

Garsea Petri dixit similiter. Johannes Gunsalvi dixit similiter. Duran Gunsalvi juratus dixit similiter. Et multi alii dixerunt similiter.

Garsea Petri de Cercosa juratus et interrogatus dixit, quod pater suus Petrus Johannis conparavit unum casale in villa de Cercosa de uno milite tempore Domini Regis Alfonsi patris istius Regis, et promisit dare et dedit de ipso casali annuatim incensoriam Sancte Cruci de quinque taligas de pane et de uno capone et de .X ovis, ratione quod Sancta Crux defenderet  eum de foro Regis, et modo ipse Garsea Petri nullum forum facit Regi, nisi quod pectat calumpniam per forum Sancte Crucis.

Martinus Petri dixit similiter; et addit, quod Johannes Dominici de Paredes habet ibi aliud casale, et defendit se per forum Sancte Crucis, sicut  istud aliud casale predictum. Johannes Gunsalvi dixit similiter, Duran Gunsalvi dixit similiter. Et alii [dixerunt] similiter.

 

De Revordino – Johannes Petri juratus et interrogatus dixit, quod villa de Revordino fuit de militibus per avolengam, et Sancta Crux habit ibi tria casalia duo de testamento de alcayde Cerveyra et unum de Petro Fernandi Chouparel. Interrogatus de tempore, quo Sancta Crux habuit ista casalia, dixit, quod habuit illud, quod fuit de Petro Chouparel, de tempore Regis Sancii fratris istius Regis, et de tempore aliorum duorum casalium non recordatur. Item, dixit, quod Hospitale habet ibi unum casale de testamento ; de tempore non recordatur.

Michael Petri dixit similiter. Petrus Johannis dixit similiter. Et alii dixerunt similiter.

 

 

 

De Campia – Petrus Johannis juratus et interrogatus dixit, quod de villa de Campia, que fuit de militibus per avolengam, pectant Regi vocem et calumpniam tantum, tamen Sancta Crux habet ibi tria casalia, et habet unum de testamento de Petro Fouparel de tempore Regis Sancii fratris istius Regis, et de tempore aliorum duorum non recordatur.

Menendus Martini dixit similiter. Martinus Michaelis dixit similiter. Petrus Michaelis dixit similiter. Johannes Menendi dixit similiter.

 

De Serores – Johannes Martini juratus et interrogatus dixit, quod de villa de Serores, que est de Stephano Spinel, pectant Regi vocem et calumpniam tantum.

Petrus Michaelis dixit similiter. Petrus Menendi dixit similiter.

 

De Carregal – Gunsalvus Petri juratus et interrogatus dixit, quod in Carregal habet Sancta Crux duo casalia, et ecclesia Sancte Marie de Pineyro habit ibi unum casale, et de casali Sancte Marie pectant Regi vocem et calumpniam et vadunt in hostem et anuduvam.

 

Cambarinho -  João Martins de Cambarinho, Paróquia de São Julião de Cambra, depois de ajuramentado, foi interrogado sobre a pertença da Igreja daquela Paróquia e respondeu que cavaleiros de Cambra apresentavam aquela mesma Igreja.

Martinho Soares de Cambarinho disse o mesmo. Pedro de Pedro disse o mesmo. Afonso Garcia de Santa Comba disse o mesmo. Gonçalo Estêvão de Corujeira disse o mesmo. Gonçalo Gonçalves de Santa Comba disse o mesmo.

O mesmo João Martins, depois de prestar juramento, disse que Cambarinho pertenceu  a cavaleiros e por ele pagam ao Rei apenas a voz e a coima [1]. E Nuno do Pedro de Pinho  comprou em Cambarinho cinco casais, e deles fez testamento no tempo do Rei Sancho, irmão deste Rei, a Santa Cruz, e assim os homens de Santa Cruz de Cambarinho não pagam ao Rei senão três coimas [2] apenas pelo foro de Santa Cruz.

Martinho Soares de Cambarinho disse o mesmo. Pedro de Pedro disse o mesmo. Pedro Martins disse o mesmo.

 

 

Canelas – Pelágio Touro, depois de ajuramentado, disse que o Rei tem em Canelas um casal foreiro de jugada [3], no qual moram João e seu genro Domingos Gonçalves; e agora Dona Maria e Lourenço Mendes de Campia prelado, têm a mesma herança [4].

Martinho de Pedro de Caos disse que ouviu dizer muitas vezes, que a Rainha Dona Donça deu a Aldoncia sua aia, e a Mendo Mendes de Viseu, de alcunha Bogorra, esta herança; e Mendo Bogorra vendeu esta herança a Mendo Anaia.

João de Canelas disse o mesmo; e acrescentou que são quatro casais.

Dom Durão de Travassós disse que em Canelas o Rei tinha três casais de propriedade régia e ouviu dizer que a Rainha Dona Donça deu a Dona Doncia sua aia e a Mendo Bogorra, os mesmos três casais, e Mendo Bogorra vendeu os mesmos três casais a Mendo Anaia, e agora os filhos e netos de Mendo Anaia têm e possuem os mesmos três casais, e não dão por eles foro ao Rei; e acrescentou que Bartolomeu filho do mesmo Dom Durão tem dois casais destes e no outro mora Domingos Gonçalves, genro de João.

 

 

………………………………………………………………..

 

Paróquia de Campia – Martinho de Pedro de Cercosa, paróquia de S. Miguel de Campia, depois de prestar juramento, interrogado sobre a pertença da igreja de Campia, disse que os filhos de Pedro de Pedro de Cambra e de Lourenço Cerveira e de Pedro Rodrigues de Boi Alvo apresentam a mesma igreja.

João Gonçalves disse o mesmo. Durão Gonçalves disse o mesmo. E outros disseram o mesmo. João de Pedro de Rebordinho, tendo prestado juramento, disse o mesmo.

Também Martinho de Pedro, tendo prestado juramento e sendo interrogado, disse que a povoação de Cercosa foi de cavaleiros por herança e que, dos cinco casais que ali tem S. João de Tarouca  e de um, que ali tem a Igreja de Pinheiro, pagam ao Rei a voz e a coima, e têm obrigação de prestar serviço militar [5] e trabalho obrigatório [6], e disse que, de outras heranças de Cercosa, pagam ao Rei a voz e a coima.

Garcia de Pedro disse o mesmo. João Gonçalves disse o mesmo. Durão Gonçalves, tendo prestado juramento, disse o mesmo. E muitos outros disseram o mesmo.

Garcia de Pedro de Cercosa, tendo prestado juramento e sido interrogado, disse que seu pai Pedro João comprou um casal na povoação de Cercosa a um militar no tempo do Senhor Rei Afonso pai deste Rei, e prometeu dar e deu pelo mesmo casal anualmente para o incenso de Santa Cruz, cinco taleigas de pão, um capão e dez ovos, razão por que Santa Cruz o protege do foro do Rei, e deste modo, Garcia de Pedro nenhum foro paga ao Rei, a não ser a coima que paga pelo foro de Santa Cruz.

Martinho de Pedro disse o mesmo; e acrescentou que João Domingos de Paredes tem aqui um outro casal, e protege-se do foro de Santa Cruz do mesmo modo que este casal referido anteriormente. João Gonçalves disse o mesmo. Durão Gonçalves disse o mesmo. E  outros disseram o mesmo.  

 

Rebordinho – João de Pedro tendo prestado juramento e sido interrogado disse que a povoação de Rebordinho foi de cavaleiros por herança, e Santa Cruz tem ali três casais, dois por testamento do Alcaide de Cerveira e um de Pedro Fernando Chouparel. Interrogado sobre a data em que Santa Cruz entrou na posse desses casais, disse que teve aquele, que fora de Pedro Chouparel, no tempo do Rei Sancho, irmão deste Rei, e que não se lembra em que altura possuiu os outros dois casais. O mesmo disse que o Hospital tem ali um casal recebido por testamento; sobre a época em que foi, não se recorda.

Miguel de Pedro disse o mesmo. Pedro João disse o mesmo. Martinho de Pedro disse o mesmo. E outros disseram o mesmo.

 

Campia – Pedro João tendo prestado juramento e sido interrogado disse que pela povoação de Campia, que foi de cavaleiros por herança, pagam ao Rei apenas a voz e a coima, todavia Santa Cruz tem ali três casais, sendo um do testamento de Pedro Chouparel, da época do Rei Sancho, irmão deste Rei, e de quando recebeu os outros dois, não se recorda.

Mendo Martins disse o mesmo. Martinho Miguel disse o mesmo. Pedro Miguel disse o mesmo. João Mendes disse o mesmo.

 

Selores – João Martins tendo prestado juramento e sido interrogado disse que, pela povoação de Selores, que é de Estêvão Spinel, apenas pagam ao Rei a voz e a coima.

Pedro Miguel disse o mesmo. Pedro Mendes disse o mesmo.

 

Carregal – Gonçalo de Pedro tendo prestado juramento e sido interrogado disse que Santa Cruz tem no Carregal dois casais e a igreja de Santa Maria de Pinheiro tem ali um casal e pelo casal de Santa Maria, pagam ao Rei a voz e a coima e têm de prestar serviço militar e trabalho obrigatório.

 

 

[1] Vocem et calumpniam -  Voz e coima eram multas criminais, que, a certa altura, tinham quantitativos pré-fixos.  Dicionário da História de Portugal (DHP), VI, 343.

[2] Sendo o tributo de três coimas, estas deveriam ter um quantitativo fixado previamente.

[3] Jugada - Imposto que se pagava pelos cultivos de trigo, milho, vinho e linho.  O tributo relacionava-se com o jugo de bois com que o lavrador cultivava a terra. Em geral, era de um moio de cereais (trigo ou milho) por cada junta de bois. Do vinho e linho, pagava-se um oitavo.  A jugada era um dos impostos mais importantes e durou até ao liberalismo. DHP, III, 415.

[4] Avolenga - Avoenga era o direito pelo qual os parentes próximos de quem pretendia vender ou empenhar bens de raiz herdados, tinham preferência na transacção, pagando o justo preço. DHP, I, 261. Porém, dada a frequência com que a palavra latina aparece nas Inquirições, pareceu-me difícil que se tratasse do exercício do direito de avoenga, pelo que preferi traduzi-lo por herança.

[5] Hoste - Inicialmente o serviço militar era geral e obrigatório, podendo eventualmente a pessoa fazer-se substituir por outro. Mais tarde, apareceram as dispensas e também começou a poder-se remir a dinheiro. DHP, III, 226.

[6] Anúduva - Trabalho colectivo obrigatório, geralmente na construção e reparação de castelos e obras de defesa. Com o decorrer do tempo, passou a poder ser resgatado por uma quantia em dinheiro. DHP, I, 161.

 

 

O Cadastro de 1527, na quase totalidade dos concelhos, não indica as freguesias. O concelho de Lafões é excepção: lá vêm discriminadas as povoações pelas 25 freguesias do concelho, a que se juntam as vilas de S. Pedro do Sul e de Vouzela e os seus termos.

Estes os dados que constam do Cadastro:

 

 

Cadastro da população do Reino em 1527

 

Fregisya de Campia

 

 

 

 

nos bemfeytos

em cargall

em destrius

em çolores

em alvytalhe

no Rabordinho

em campia

em corcosa

na povoa dalvjtalhe

 

moradores

 

 

8

4

8

2

2

9

7

15

2

 

 

 

 

Fregisya de Cambra

 

Em cambarynho                        4

 

 As povoações da freguesia em 1689

 

O "Promptuário das terras de Portugal", de 1689 indica já praticamente todas as actuais povoações:

Lugares: Igreja, Campea, Cambarinho, Rebordinho, Cylores, Alvitelhe, Crasto, Cercosa, Fiaes, Decide, Vales

Póvoas: Louza e Seixa.

Como se vê, Cambarinho fora já desanexada de Cambra e estava constituída a freguesia autónoma de Destriz.

A freguesia de Campia é indicada como pertencendo ao Concelho da Alafões, pela parte da Vila de Vouzella, e à Provedoria e Comarca de Viseu.

 

Campia nas Memórias Paroquiais

 

Um documento muito interessante para a história de Campia é o relatório de 1758, com que o Vigário da freguesia de Campia, José Correa de Lacerda de Vasconcellos, e Almeida, respondeu ao questionário enviado pelo Marquês de Pombal a todas as Paróquias do País, que já reproduzi aqui. É um bom retrato da morfologia do lugar e da vida rural.  Também Maria do Carmo Correia citou com abundância este relatório no seu livro, cuja leitura vivamente recomendo. Só é pena que não tenha conseguido identificar o emigrante brasileiro que na altura, enviou quatro mil cruzados para se fazerem pontes de pedra na Lousa, no Malhadouro e no Porto da Várzea.

 Eis os dados que o Vigário refere sobre a população de Campia em 1758:

 

249 fogos

 

Habitantes: 869 maiores, 155 menores, Total 1024

 

Ao discriminar os fogos pelas povoações, porém, chega já a outro resultado ligeiramente diferente: 

 

 

Fogos

 

Campia

Cambarinho

Fiais

Igreja

Seixa

Cercosa

Rebordinho

Rebordinho de Além

Selores

Alvitelhe

Crasto

Póvoa de Fiais

Povoa de Valverde

Póvoa das Vales

Póvoa da Decide

Póvoa da Lousa

 

TOTAL

 26

 25

 13

   7

   4

 61

 25

 25

 11

 21

 13

   3

   2

   5

   5

 15

 

261

 

 

Pensamos que Campia continuou a pertencer ao concelho de Vouzela ou Lafões até ao decreto de 6 de Novembro de 1836. Isto apesar de o Padre Carvalho da Costa colocar Campia em 1708 no concelho de S. João do Monte, juntamente  com as freguesias de S. João do Monte, Arca, Varzielas, Alcofra, Destriz, Reigoso, S. Vicente e Souto. É difícil confirmar esta divisão administrativa, pois Oliveira Freire em 1739, apenas atribui uma freguesia a S. João do Monte (omitindo o Mosteirinho)  e 37 a Lafões.

O recenseamento de 1801 e os mapas eleitorais até 1836 todos colocam Campia no concelho de Lafões ou Vouzela.

O já referido Decreto de 6 de Novembro de 1836, publicado no Diário do Governo n.º 283, de 29-11-1836, pag. 1321, suprimiu 477 dos 828 concelhos existentes. Entre os concelhos suprimidos na altura, estão os de Oliveira de Frades e Trapa, na região. Ficaram na zona os concelhos de

 

S. Pedro do Sul, com 19 freguesias e 2938 fogos

Sul, com 7 freguesias e 1023 fogos

Vouzela, com 17 freguesias e 3089 fogos

S. João do Monte, com 5 freguesias e 632 fogos

 

As freguesias do concelho de Vouzela eram :  Vouzela , Fataunços ou Folgosa, Paços de Vilharigues, Ventosa , Queirã,  Fornelo do Monte, Arcozelo, Cambra, Campia, Carvalhal de Vermilhas, Destriz, Pinheiro de Lafões, Reigoso, Ribeiradio, Sejães, Souto, Oliveira de Frades.

Porém, o Decreto de 7 de Outubro de 1837, publicado no Diário do Governo n.º 241, de 12 do mesmo mês,  veio restaurar o concelho de Oliveira de Frades, que antes tinha uma única freguesia, mas então ficou com estas treze:

Arcozelo, Cambra, Campia, Carvalhal de Vermilhas, Destriz, Pinheiro, Reigoso, Ribeiradio, Sejães, Souto, S. Vicente, S. João da Serra e Oliveira de Frades.

 

Ficaram então assim os concelhos da zona:

 

S. Pedro do Sul com 19 freguesias e 2978 fogos

Vouzela com 7 freguesias e 1768 fogos

Oliveira de Frades com 13 freguesias e 2175 fogos

S. João do Monte com 5 freguesias e 702 fogos

 

Na reforma da divisão administrativa de 1855, promulgada pelo Decreto de 24 de Outubro de 1855, publicado no Diário do Governo n.º 273, de 19 de Novembro de 1855, mais alterações foram introduzidas:

- O concelho de S. João do Monte foi extinto, dele passando para Oliveira de Frades as freguesias de Alcofra, Arca e Varzielas.

- O Concelho de Sul foi também extinto, passando as suas freguesias:

        - Pepim, Reriz e Gafanhão para Castro Daire;

        - Sul, Covas do Rio, Covelo de Paivô, S. Martinho das Moitas para S. Pedro do Sul

- Figueiredo das Donas e S. Miguel do Mato  passaram de S. Pedro do Sul para Vouzela.

- Bodiosa passou de Viseu para Vouzela

Por curiosidade, o Diário do Governo foi publicado com um erro que atribuía as freguesias de Alcofra, Arca e Varzielas ao concelho de  Vouzela, tendo sido rectificado por uma errata publicada no Diário do Governo n.º 275, de 21 de Novembro de 1855.

Ficaram agora S. Pedro do Sul com 23 freguesias, Oliveira de Frades com 16 e Vouzela com 9.

 

Por Decreto de 4 de Janeiro de 1871, publicado no Diário do Governo n.º 27, de 3 de Fevereiro do mesmo ano, a freguesia de Bodiosa foi desanexada de Vouzela e passou para o concelho de Viseu.

Finalmente, a pedido das populações, o Decreto de 2 de Novembro de 1871, publicado no Diário do Governo n.º 251, de 6 do mesmo mês, transferiu as freguesias de Alcofra, Cambra, Campia e Carvalhal de Vermilhas do concelho de Oliveira de Frades para o de Vouzela.

Campia pertenceu assim ao concelho de Oliveira de Frades desde 1836 até fins de 1871.

No censo de 1890, Campia tinha 401 fogos e 1642 habitantes, o concelho de Vouzela,  3 471 fogos e 13 724 habitantes.

 

Do Diccionario chorographico de Américo Costa 1929 - 1949:

 

Campia  é composta dos seguintes lugares:

Albitelhe, Cambarinho, Cercosa, Crasto, Decide, Igreja, Fiais, Lousa, Póvoa de Fiais, Rebordinho, Seixa, Selores e Vales

E das quintas:

Malhadouro, Vale Cova e Vale Verde

 

Estatísticas da actualidade:

 

 

Campia

 

Área – 39,3 km2

População – 1656  (2001)

Núcleos familiares – 475  (2001)

Edifícios – 778  (2001)

 

Vouzela

 

Área: 193,7 km2

11 816 residentes  (2002)

3 533 núcleos familiares  (2001)

6210 edifícios (2001)

 

 

 

Lápide afixada na Capela de Nossa Senhora das Neves, em Cambarinho

 

                          INDULTA PER

                    PETUA HUIC SACELLO A

                PIO VI P. M. CONCESSA

       ALTARE PRIVILIG. PRO DOM. DOMUS

    ET PRO OMNIB. CONSANG. ET AFIN. EIUS

   FAMILIÆ DESCENDENT. DUAS INDULG. PLEN.

SINGULIS ANNIS AB OMINB. LUCRANDAS PRIM.

   IN DIE FEST. ALTERAM IN DIE SEPTEM DOLORUM

    SEPTEM ANNOS, ET TOTIDEM QUADRAGENA

     REMISSIONIS IN FESTIS VIRGINIS. DIES DUCENTI

          VERÆ PŒNIT. DEVOTE RECITANTIBUS LI

           TANIAS VIRG. SINGULIS VICIBUS.

             DAT. R. APUD. S.P.SUB AN. PISC.

                          MDCCLXXIX

 

Indultos perpétuos concedidos por Pio VI Pontífice Máximo a este sarcófago:

- Privilégio de altar para o Senhor da casa e para todos os descendentes da sua família, consanguíneos e afins,

- Duas indulgências plenárias em cada ano, de que todos podem beneficiar, a primeira nos dias festivos, outra no dia das sete dores por sete anos, e para além disso, quarenta indulgências para cada um nas festas da Virgem. Duzentos dias de verdadeira penitência, recitando de cada vez devotamente as ladainhas da Virgem.

Dado em Roma, junto de S. Pedro, sob o anel do Pescador. 1779

 

 

Não tenho a pretensão de fazer uma descrição etnográfica de Campia. Mas não resisto a transcrever alguns vocábulos utilizados na terra:

 

Taleiga – uma carga que se leva nos braços ou à cabeça

Doeiro ( a) – rapaz ou rapariga que guarda o gado no monte

Pois canté! Quem dera!

Neja – mas não

Aqueibar-se – abrigar-se do frio ou num qualquer  lugar, ou com roupa

Azangar – passar a poldra

Imprasto - Emplastro, quem é chato e não sabe fazer nada

Canastro – Espigueiro

Chamiças – pequenos ramos para queimar

Prantar - Pôr, colocar

Fentos – fetos

Sanchas – míscaros

Pútega – fruto que nasce nas raízes do mato nos montes

Sardanita – lagartixa

Seitoira – foice

Piqueta - refeição extra dos trabalhadores agrícolas, a meio da manhã

 

 

TEXTOS CONSULTADOS

 

 

Portugaliæ Monumenta Historica: a sæculo octavo post Christum usque ad quintumdecimum, iussu Academiæ Scientiarum Olisiponensis edita, 1856 - 1961 - Inquisitiones.

 

Maria do Carmo Correia, Campia: História e alma de uma aldeia beirã, Câmara Municipal de Vouzela, 2005

 

Américo Costa (1894-1837), Diccionario chorographico de Portugal continental e insular : hydrographico, historico, orographico, biographico, archeologico, heraldico, etymologico, Porto, Livraria Civilização, 1929-1949, 12 vols.

 

Dicionário de história de Portugal, dirigido por Joel Serrrão, Livraria Figueirinhas, Porto, 1981- , 9 vols.

 

João Maria Tello de Magalhães Collaço, Cadastro da população do reino (1527): Actas das Comarcas damtre Tejo e Odiana e da Beira, Lisboa, 1919

 

Vicente Ribeiro Meirelles, Promptuário das Terras de Portugal, com declaração das Comarcas a que tocão, 1689, Manuscrito da Livraria n.º 2298, MF n.º 0349, Torre do Tombo.

 

Padre António Carvalho da Costa (1650 – 1715), Corografia portugueza e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal, 3 vols., Lisboa, na Off. de Valentim da Costa Deslandes, 1706-1712.

Online: http://purl.pt/434

Online: http://books.google.com

  

Baptista de Lima, prefácio de António Baião, Terras Portuguesas, 8 vols., em 4 tomos, Tip. Camões, Póvoa de Varzim, 1932-1940.

 

ATLAS - Cartografia Histórica, concepção e coordenação de Prof. Doutor Luis Nuno Espinha da Silveira

Online: http://www.fcsh.unl.pt/atlas2005/

 

História das freguesias e concelhos de Portugal, coord. de José Hermano Saraiva, texto Hélder Bastos e outros, fot. Jaime Machado e outros, grev. Luís Lopes, QuidNovi, Matosinhos, 2004, 20 vols.

 

Campia na Torre do Tombo, neste site, aqui.